Como surge a água que pode originar a vida

Estrela em formação expele milhares de litros de água

Fenómeno pode fazer parte do processo normal do crescimento das estrelas



16/06/2011
Escrito originalmente em português de Portugal, não do Brasil.






A 750 anos-luz da Terra está a nascer uma estrela que dispara milhares de litros de água por segundo para o espaço. Envolta em gases e pó, a proto-estrela, que não tem mais do que cem mil anos, encontra-se na constelação Perseus e é da mesma classe do nosso Sol, o que sugere que este tenha tido um comportamento parecido durante a sua formação.

Através de dois enormes jactos – um em cada pólo – esta nova estrela lança o equivalente a cem milhões de vezes o caudal do rio Amazonas.

O trabalho de investigação, a publicar na revista «Astronomy & Astrophysics», foi dirigido por Lars Kristensen, astrónomo da Universidade de Leiden (Holanda). O cientista explica que “a velocidade a que a água é expelida alcança os 200 mil quilómetros por hora, ou seja, é 80 vezes mais rápida do que as balas disparadas por uma metralhadora”.

Para captar as marcas características do oxigénio e do hidrogénio (os componente da água), a equipa utilizou os instrumentos de infra-vermelhos que se encontram a bordo do Observatório Espacial Herschel. Uma vez localizadas essas classes de átomos, os investigadores seguiram-lhe o rasto até à estrela onde se formaram.

A primeira conclusão dos astrónomos é que a água se formou mesmo na estrela, a temperaturas de poucos milhares de graus. Essa água encontrou depois temperaturas mais elevadas (100 mil graus), estando, assim, no estado gasoso.

Quando esses gases chegaram a camadas externas mais frias da nuvem de material que rodeia a proto-estrela (e que se encontra a cinco mil vezes a distância que separa a Terra do Sol) foi criada uma “frente de choque” e os gases condensaram-se, ou seja, passaram para o estado líquido.

Esta descoberta é importante, consideram os investigadores, pois sugere que este fenómeno faz parte do processo normal do crescimento das estrelas. “Só agora começamos a perceber que todas as estrelas como o Sol passaram, provavelmente, por uma fase de muita energia quando eram jovens. É nesse momento da sua vida que expulsam muito material a grande velocidade. Agora sabemos que parte desse material é água”, diz Kristensen. Essa água poderá ajudar a “semear” os ingredientes necessários para a vida.


---------------------------------------------
COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO


A acentuação gráfica do texto segue o padrão da língua portuguesa conforme utilizada na terra-mãe. ^^

Agora, falando sobre essa descoberta, a gente tem que tirar o chapéu para essa galera inteligente, estudiosa, disciplinada e que renuncia muitos dos nossos pequenos prazeres para descobrirem coisas fantásticas como essa do surgimento da água a partir de uma nova estrela.

Se não fosse a curiosidade e a paixão pelo saber desses seres humanos menos (ou nada) dominados pela mentalidade mítica das religiões e crenças no sobrenatural, provavelmente não saberíamos a maior parte das coisas que sabemos hoje. Fica aqui minha singela homenagem aos cientistas. ^^

Ainda existe muita gente (eu também já pensei assim) que acredita que exista uma entidade sobrenatural, a quem chamam de deus ou de deuses, controlando o universo. Não tem problema. Ninguém é obrigado a pensar da mesma maneira. Todavia, atualizando a metáfora do velho barbudo sentado num trono, eu diria que essa divindade - em termos atuais - faz lembrar um adolescente que criou o próprio jogo de video game e agora passa seu eternamente entediante tempo livre jogando com os personagens. Há, porém, cada vez mais evidência de que o universo não é controlado por forças externas a ele mesmo.

Graças aos avanços do conhecimento a que chamamos científico, sabemos que as coisas originam-se (constantemente) a partir do comportamento da matéria, conforme as condições intrínsecas e extrínsicas a essa mesma matéria. Até a água que deixa o cidadão comum intrigado tem sua origem no processo de formação de estrelas como explicado no artigo acima. E como a existência de água é condição básica para a formação da vida como a conhecemos, devemos mais às estrelas do que imaginávamos. ^^

Como qualquer outro ser vivo, surgimos, completamos nosso ciclo biológico e desaparecemos. Sentido, propósito, valor são coisas que desenvolvemos a partir da experiência e da razão. Nada disso é dado. Nada disso já estava aí; são ideias nossas. Aliás, pode-se dizer de modo esquemático que a evolução biológica nos torna humanóides; a cultura nos ensina a sermos humanos; e a razão instrumentalizada pelo amor é o que nos torna humanistas. Não há humanismo sem alguma dose de amor. A moral - esse simulacro de amor e de justiça - pode nos tornar ainda mais desumanos, especialmente quando colocamos certas noções de bem e de mal acima do amor ao ser humano. Porém, quando realmente amamos, agimos para além do dever, porque se há uma coisa que possa ser chamada de bem em si mesma, essa coisa é o amor. E quem, mais do que nós, precisa de amor para viver feliz e com saúde. Sim, nós, seres que não apenas surgimos, completamos nosso ciclo e desaparecemos, mas que também sabemos que o fazemos, ou seja, estamos conscientes disso, somos a espécie que mais desesperadamente precisa de amor para viver bem!

Por isso, não basta existir, é preciso construir a si mesmo. E que objetivo poderia ser mais nobre do que além de nos tornamos humanóides pela biologia, depois humanos pela cultura, nós tornarmos humanistas pelo amor?

Não é aos deuses que devemos nosso amor, mas aos homens, aqueles que compartilham conosco a glória e a mesma miséria de ser. Ainda que não seja possível amar a todos do mesmo jeito, precisamos fazer aquele nobre exercício de nos colocarmos no lugar do outro. Isso pode nos dar uma perspectiva totalmente nova do que significa ser livre, inclusive das muletas da moral. O amor se basta. O amor é benfazejo e contra ele não há lei.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Humorista 'Picolina' é encontrada morta dentro de casa em Fortaleza

Zeus e Ganimedes: A paixão entre um deus e um príncipe de Tróia

A homossexualidade no Egito antigo