Transexual Luiz Fernando conversa com os leitores do Fora do Armário

Luiz Fernando Prado Uchoa

Por Sergio Viula
Com Luiz Fernando Prado Uchoa


Luiz Fernando Prado Uchoa, 32 anos, nascido em São Paulo, capital, residindo em Guarulhos atualmente, é um homem transexual que marca presença nas redes sociais divulgando temas de interesse da comunidade transexual e de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros de um modo geral.


O Blog Fora do Armário traz a seguinte entrevista com Luiz Fernando, que está se formando agora e anda às voltas com seu TCC (trabalho de conclusão de curso). Nosso desejo é que esse bate-papo inspire muitas pessoas transgêneras ou não.

Luiz Fernando no FB: https://www.facebook.com/sergio.viula


Luiz Fernando falando sobre registro civil e nome social para pessoas trans.


F.A.: Conte-nos como foi sua infância e adolescência, Fernando, especialmente no que se refere à transexualidade?

Luiz Fernando: Vivia dentro de um corpo e uma socialização que não era a minha. Em minha infância sempre brinquei com lousinha, caderno e livros, pois sempre desejei ser professor e com o passar do tempo passei a ter Barbies e outras bonecas para me aproximar de outras meninas, mas em todas as brincadeiras desejava o tempo todo ser o pai da família.

Na adolescência, meu primeiro beijo foi horrível acabei vomitando sobre a pessoa que beijei. A a primeira transa foi meio que tardia e me senti horrível como se alguém tivesse tentando me machucar.

Vivenciei por um tempo, a experiência de ser lido como lésbica masculinizada para me sentir homem em algum instante de minha trajetória, só que isso me frustrava, e muito. Nunca desejei o corpo feminino e a vivência social desse gênero. Sonhava com a possibilidade de uma masculinidade até que descobri a transmasculinidade em sites, vídeos e livros e descobri que não era só eu que habitava em um corpo estranho e que lutava para ser homem apesar de todas as barreiras.

F.A.: Quando foi que você começou a fazer a transição e quais foram as reações dos familiares e amigos a esse respeito?

Luiz Fernando: Comecei o processo aos 28 anos devido ao meu desconhecimento sobre o processo de transição. Inicialmente, perdi muitos amigos e emprego devido a essa etapa da minha vida. Em relação aos familiares, muitos estranham até hoje, e isso para mim é irrelevante. E que apesar de tudo, minha mãe me apoia no que consegue, mesmo que, às vezes, confunda pronomes e me chame pelo antigo nome.


Luiz Fernando falando na Av. Paulista - ativista empenhado.


F.A.: Você está se formando e isso o coloca no seleto mundo das pessoas transexuais com ensino superior no Brasil, qual foi a carreira que você escolheu e qual é o assunto do seu TCC (monografia)?

Luiz Fernando: Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo. Transmasculinidades.

F.A.: Por que você escolheu esse tema para o seu trabalho de conclusão de curso?

Luiz Fernando: Para trazer às pessoas heterossexuais cisgêneras e também lésbicas, gays e bissexuais cis a realidade dos homens trans brasileiros, entendendo quais são suas demandas sociais e anseios pessoais através de um livro-reportagem que abordará como funciona o processo transexualizador, vários perfis de homens trans, o que existem de leis para este segmento e quais políticas públicas existem ou não.

Luiz Fernando, Laerte e João W. Nery: pessoas trans são lindas!


F.A.: Você começou uma "vaquinha online" para quitar despesas com sua graduação. Poderia nos falar mais sobre isso? De que maneira, as pessoas podem ajudar e a que se destina o dinheiro arrecadado exatamente?

Luiz Fernando: Comecei uma “vaquinha online” para quitar os débitos das mensalidades da universidade em que estudo devido a ter ficado um ano desempregado. Por isso, impossível seguir arcando com os pagamentos do curso. As pessoas podem ajudar clicando nos seguintes links:

https://www.catarse.me/pt/quitacao_de_dividas_do_ultimo_ano_de_graduacao_9728 
ou 
https://www.vakinha.com.br/vaquinha/pagar-o-ultimo-ano-de-graduacao

F.A.: Falando um pouco mais sobre intimidades, como vai a vida afetiva? Está namorando, está casado ou está solteiríssimo?

Luiz Fernando: Estou solteiro devido à transfobia existente no meio homossexual em que um pênis é mais valorizado do que a pessoa em si. Mas, nesse momento prefiro estar só para reconstruir a minha autoestima.

F.A.: Hummm... interessante. É bom fazer lembrar ao nosso público que um homem transexual pode ser heterossexual (gosta de mulheres), homossexual (gosta de homens) ou bissexual (gosta de um ou do outro). Identidade de gênero é uma coisa e orientação sexual é outras, seja homem transexual ou homem cisgênero. O mesmo valendo para as mulheres.

Como você vê a situação das pessoas trans no Brasil hoje, especialmente em termos de políticas públicas?

Luiz Fernando: Hove alguns avanços com a criação do programa transcidadania em SP, o uso do nome social no Exame Nacional do Ensino Médio, minisséries com Orange is the new black dando um papel de destaque para Laverne Cox, e a visibilidade de Buck Angel em espaços para falar sobre transmasculinidade, algumas travestis, mulheres transexuais e homens trans presentes na vida acadêmica. Mas, essa é a realidade de poucas pessoas do segmento de travestis, mulheres transexuais e homens trans. Temos de ter politicas públicas que assegurem e garantam o acesso à educação e ao trabalho para este grupo que, infelizmente, é tão marginalizado e vítima de preconceito e violência dentro e fora do meio LGB cis.

F.A.: Quais seriam as prioridades do movimento trans atualmente?

Luiz Fernando: Ao meu ver é garantir saúde, além do processo transexualizador ofertado em algumas capitais, e acesso ao mercado de trabalho e a educação em todos os níveis, sendo assegurando o respeito à identidade de gênero de travestis, mulheres transexuais e homens trans.


Luiz Fernando (foto de perfil no FB no momento dessa publicação)


F.A.: Que palavra você deixaria para a comunidade trans?


Luiz Fernando: Lutem para serem quem são, apesar dos obstáculos existentes. Viver em um armário é ruim demais em um tempo de vida tão curto que temos nesse planeta.

F.A.: E para a comunidade LGB cisgênera?

Luiz Fernando: Se unam às travestis, mulheres transexuais e homens trans na luta por um mundo sem preconceito. Pois, se não nos unirmos, nada irá mudar.

F.A.: E para as pessoas cisgêneras que não são LGBT?

Luiz Fernando: Somos todos humanos que merecemos amar, ser quem somos independente de padrões impostos e criados para nos moldar. Masculinidade e feminilidade nunca estão relacionadas a orientação sexual e identidade de gênero. Seja, quem você é sem rótulos e, se os tiver, nunca os imponha a ninguém.

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