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Linguagem neutra não-binária (trecho de uma live)

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 Por Sergio Viula Esse é um trecho de uma live feita com @Sviula a convite de @carolina_carolino no perfil das @carolinas_da_borborema no Instagram em 07/04/24. Esse é apenas um trecho da nossa conversa e se refere ao uso da linguagem neutra não-binária. A live completa pode ser vista aqui: https://www.instagram.com/reel/C5en-hhvjuq . Nessa live, além de linguagem não binária, discutimos a falsamente chamada "cura gay", o Movimento LGBT+ no Brasil, temas relacionados à orientação sexual e identidades de gênero.  O trecho abaixo é apenas um recorte da live, mas considero que seja muito interessante e relevante para as diversas discussões sobre linguagem neutra na atualidade. Confira e siga o perfil dos participantes no Instagram. Carolina Carolino e Sergio Viula 07/04/24 Instagram: @carolinas_da_borborema

10 divindades indianas que desafiam a hetero-cisnormatividade

Por séculos, a literatura e a mitologia hindus falou sobre personagens que desafiam o binarismo (masculino-feminino ou macho-fêmea que veio a caracterizar fortemente as sociedades ocidentais, influenciando a própria Índia posteriormente, graças ao domínio imperialista da Inglaterra. Os desafiantes são deuses ou descendentes divinos dos deuses que povoam narrativas milenares, portanto muito mais antigas do que a cultura judaico-cristã-islâmica que se espalhou pelo ocidente e pelo oriente em tempos mais recentes.


Com informações de JACOB OGLES
Originalmente, publicado pelo site The Advocate
Versão adaptada por Sergio Viula






1. Shiva e Parvati

Deus supremo do Shaivismo, Shiva tem sido representado em sua última personificação como masculino, mas desde a era Cuchana, ele foi descrito em sua forma Ardhanarishvara como um composto andrógino de Shiva e de sua esposa, Parvoti. Essa forma foi originada quando Parvoti, desejando compartilhar das experiências de Shiva, pediu que as formas de ambos fossem literalmente unidas. Muito frequentemente, o Ardhanarishvara é representado com a forma feminina de Parvoti à esquerda e com os atributos masculinos de Shiva à direita (figura central na gravura acima).




 2. Vishnu/Mohini

A principal deidade da religião hindu é o protetor do mundo, Vishnu. Ele é claramente descrito no hinduísmo como sendo de gênero fluido. Essa deidade hindu muitas vezes assume o avatar feminino Mohini. Vishnu (deus) inclusive procriou com Shiva (deus) na forma de Mohini (o avatar feminino de Shiva), resultando no nascimento de Ayyappan, adorada por milhões que peregrinam até seu santuário na Índia. A avatar Mohini é descrita como uma encantadora que enlouquece os amantes.




3. Krishna

Encarnação de Vishnu, a popular deidade Krishna (macho) também assumiu a forma de Mohini para se casar com Aravan (macho) e satisfazer um dos últimos pedidos do herói, de acordo com o Mahabharata. Depois da morte de Aravan, Krishna permaneceu na forma de viúva do herói por um significativo período de luto.




4. Shikhandi

Esse guerreiro que batalhou na guerra de Kurukshetra, de acordo com a maioria das narrativas do Mahabharata, era fêmea de nascimento, mas mudou de gênero mais tarde em vida. Nascida como Amba (fêmea) e posteriormente chamada Shikhandini (macho), ela foi criada como homem pelo rei Drupada, seu pai. O rei fez com que ela casasse com a princesa de Dasharna, mas sob protestos da noiva, Shikhandini fugiu para a floresta, onde conheceu Yaksha e mudou de gênero, agora tomando o nome de Shikhandi. Ele continuou sendo homem até sua morte na batalha de Mahabharata.




5. Bahuchara Mata

Bahuchara Mata estava viajando com suas irmãs e foi ameaçada pelo saqueador Bapiya. Depois que ela e suas irmãs extirparam seus próprios seios, o saqueador Bapiya foi amaldiçoado com impotência até que ele mesmo começasse a se vestir e agir como uma mulher. Só então, a maldição seria removida. Hoje, a deusa hindu adorada como a originadora e padroeira das hijras (mulheres trans e intersexuais de Bangladesh) é Bahuchara Mata, considerada como pertencendo ao "terceiro gênero" na fé hindu”




 6. Rama

Outras narrativa de origem das hijras vem de Ramayana, e fala de Rama reunindo seus súditos na floresta antes de sua aventura aos 14 anos. Ele mandou que os homens e as mulheres que o acompanhavam retornassem às suas próprias casas em Ayodhya, mas quando Rama voltou de sua jornada épica, ele descobriu que alguns não voltaram do local de seu discurso e que se haviam se fundido em um só corpo, tornando-se intersexuais. Foi Rama que conferiu às hijras a habilidade de conceder certas bênçãos, dando início à tradição conhecida como badhai.





7. The Khajuraho Temples

Esse templo medieval inclui representações de pessoas se relacionando sexualmente - uma demonstração da importância dos atos sexuais dentro da fé hindu. Esculpidas em pedra, existe uma série de representações de sexo entre homems e mulheres, algumas vezes em grupo. Em outras, existem várias mulheres envolvidas em relações com um único homem. Mas também existem imagens de homens fazendo sexo uns com os outros e praticando penetração anal.



8. Agni

O deus do fogo, da criatividade e da riqueza é representado na fé hindu como sendo casado com a deusa Svaha e com o deus da lua, Soma. Os pesquisadores Connor e Sparks relatam que Agni recebeu o sêmen de Soma oralmente. O erudito britânico Phil Hine diz que Agni fez sexo oral em Shiva também, resultando no nascimento de Skanda, o deus da guerra.






9. Mitra e Varuna

Esses filhos de Aditi da literatura Védica são frequentemente representados como ícones de afeição fraterna e amizade íntima entre homens, de acordo com a Associação Gay e Lésbica Vaishnava (Gay and Lesbian Vaishnava Association). Textos antigos do Brâmana de fato descrevem as duas fases alternadas da lua caracterizadas por relações do mesmo sexo. Nas noites de lua nova, o deus Mitra injeta seu sêmen no deus Varuna para começar o ciclo da lua. E nas de lua cheia, o favor é devolvido com cada deus fazendo o papel oposto.




10. Budha Graha

Além de desempenhar um papel fundamental na astrologia hindu como sendo um dos planetas, especificamente Mercúrio, Budha Graha também representava um tremendo golpe no paradigma de papéis de gênero milênios antes das discussões atuais. Criado como filho de Sage Brihaspati e de Tara, Budha Graha, na verdade, foi produto de um adultério entre Tara e o deus da lua, Chandra. Sage Brihaspati, irou-se com a revelação durante a gravidez de Tara e amaldiçoou a criança dizendo que ela não seria nem macho nem fêmea. Depois disso, estabeleceu-se a tradição de que o marido da mãe de uma criança seria considerado o pai desta.

São mais de 10

Essas 10 divindades não são as únicas que desafiam as noções binárias de gênero, as quais, ignorando todas as variações que se impõem através da realidade, querem engessar tanto as noções de masculinidade e feminilidade como os papéis culturalmente distribuídos aos indivíduos a partir do sexo atribuído em seu nascimento. Existem pelo menos outras nove (o texto original falava de 19 delas), mas essas 10 são suficientes para termos uma boa ideia de como se lidava com as noções de masculino e feminino e com o sexo entre pessoas de sexos diferentes ou do mesmo sexo milênios antes da era chamada cristã.

E hoje?

E foi por causa das imposições imperialistas britânicas que misturavam o cristianismo às políticas de invasão e dominação que a Índia levou tanto tempo para reconhecer as trasngeneridade como digna da garantia de direitos e a homoafetividade como não sendo uma prática criminosa. As decisões aconteceram, respectivamente, em 16 de abril de 2014, quando a 10 divindades indianas que desafiam a hetero-cisnormatividade e em 06 de setembro deste ano (2019), quando a Suprema Corte descriminalizou a homossexualidade, considerada uma ofensa punível pela lei durante 160 anos, ou seja, desde a era 'colonial'. A comunidade LGBT indiana, estimada em 104 milhões de pessoas, celebrou efusivamente a descriminalização do amor. 

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