Relatório da ANTRA: Brasil continua sendo o país que mais mata pessoas travestis e transexuais
Por Sergio Viula
O Dia da Visibilidade Trans, que é comemorado todo dia 29 de janeiro, deveria ser um dia para falarmos sobre as conquistas já efetivadas e os desafios que ainda se colocam diante da comunidade transgênera brasileira.
Infelizmente, não é o caso. O que mais tem se destacado nessa data nos últimos anos é a violência letal sofrida por pessoas travestis e transexuais no Brasil.
Não que as pessoas transgêneras não estejam conquistando (a duras penas) espaços negados às mesmas há pouquíssimo tempo. Todos já vimos pessoas travestis e transexuais estudando, pesquisando e lecionando nas universidades, atuando na mídia, fazendo sucesso em canais do YouTube, trabalhando em repartições públicas, etc. O número ainda é pequeno, mas é fato que elas e eles estão aí. Digo elas e eles, porque me refiro às mulheres travestis e transexuais e aos homens trans, logicamente.
O Dia 29 de janeiro, portanto, foi pensando para dar visibilidade às pessoas transgêneras, mas acabou se tornando também um dia de lamento e profunda comoção, pelo menos para os serers humanos que conseguem exercer a virtuosa capacidade da empatia.
E por quê?
Porque nesse dia, a ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) publica os resultados finais de sua pesquisa sobre violência transfóbica letal no Brasil. E somente pessoas extremamente apodrecidas por dentro seriam capazes de ignorar esse assunto propositadamente ou demerecê-lo cinicamente.
O Relatório da ANTRA
Divulgado nesta quarta-feira 29, o relatório revela que o Brasil continua sendo o país que mais mata travestis e transexuais no mundo, seguido pelo México (65 mortes) e pelos Estados Unidos (31 mortes).
Observem que o Brasil matou 90% mais que o segundo colocado nesse macabro ranking de 2019.
Outra coisa que chama atenção é que o Brasil caiu de uma posição que já era horrível para uma que é treze pontos percentuais pior no tocante à segurança das pessoas LGBT. Isto quer dizer que no ranking de países seguros para a população LGBT, o país despencou do 55º lugar em 2018 para o 68º em 2019.
Ainda segundo o relatório, São Paulo foi o estado que mais matou travestis e transexuais em 2019. Foram 21 assassinatos - o que representa um aumento de 50% dos casos em relação a 2018, quando o número de mortes era de 14 indivíduos travestis ou transexuais.
Empatados em segundo lugar nesse terrível ranking de violência letal contra pessoas transgêneras, estão o Ceará e a Bahia (com 40 casos cada) e em terceiro lugar vem o Rio de Janeiro, que teve 37 pessoas travestis e transexuais assassinadas no mesmo período.
Cerca de 24% menor que o número encontrado pelo relatório do ano de 2018 (163 mortes), o relatório do ano passado, que foi divulgado hoje, contabiliza 124 assassinatos de pessoas trans, sendo 121 travestis e mulheres transexuais e três homens trans.
De acordo com o gráfico acima, produzido por Bruna Benevides, nota-se uma queda no número de assassinatos desde 2017, ano em que esse número atingiu seu ápice.
A média, porém, entre 2008 e 2019 foi de 118 crimes por ano - o que é simplesmente inadimissível e precisa ser combatido por meio de políticas públicas por parte do Estado e mobilização por parte da sociedade civil.
Estancando o fluxo de violência já em casa
Nada é mais urgente do a conscientização de pais e outros familiares de pessoas trans e travestis sobre o direito de seus filhos e/ou parentes se expressarem de acordo com o gênero com o qual se identificam e serem tratados pelo nome de sua escolha.
O epicentro de toda essa violência que explode nas ruas é, na maioria esmagadora das vezes, a família. Uma rápida olhada nos perfis dos familiares da maioria das pessoas transexuais e travestis revela que a incompreensão da família e a violência doméstica são geralmente insufladas por crenças religiosas transfóbicas.
Pessoas trans e travestis amadas e respeitadas como tais no seio familiar dificilmente ficarão expostas a maior parte das situações de vulnerabilidade socioeconômica que acabam por colocá-las de frente com seus agressores e assassinos.
NÃO DEIXE DE LER
'Travesti não é banguça' e transfobia é crime
Conheça o site da ANTRA
https://antrabrasil.org/
O Dia da Visibilidade Trans, que é comemorado todo dia 29 de janeiro, deveria ser um dia para falarmos sobre as conquistas já efetivadas e os desafios que ainda se colocam diante da comunidade transgênera brasileira.
Infelizmente, não é o caso. O que mais tem se destacado nessa data nos últimos anos é a violência letal sofrida por pessoas travestis e transexuais no Brasil.
Não que as pessoas transgêneras não estejam conquistando (a duras penas) espaços negados às mesmas há pouquíssimo tempo. Todos já vimos pessoas travestis e transexuais estudando, pesquisando e lecionando nas universidades, atuando na mídia, fazendo sucesso em canais do YouTube, trabalhando em repartições públicas, etc. O número ainda é pequeno, mas é fato que elas e eles estão aí. Digo elas e eles, porque me refiro às mulheres travestis e transexuais e aos homens trans, logicamente.
O Dia 29 de janeiro, portanto, foi pensando para dar visibilidade às pessoas transgêneras, mas acabou se tornando também um dia de lamento e profunda comoção, pelo menos para os serers humanos que conseguem exercer a virtuosa capacidade da empatia.
E por quê?
Porque nesse dia, a ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) publica os resultados finais de sua pesquisa sobre violência transfóbica letal no Brasil. E somente pessoas extremamente apodrecidas por dentro seriam capazes de ignorar esse assunto propositadamente ou demerecê-lo cinicamente.
O Relatório da ANTRA
Divulgado nesta quarta-feira 29, o relatório revela que o Brasil continua sendo o país que mais mata travestis e transexuais no mundo, seguido pelo México (65 mortes) e pelos Estados Unidos (31 mortes).
Observem que o Brasil matou 90% mais que o segundo colocado nesse macabro ranking de 2019.
Outra coisa que chama atenção é que o Brasil caiu de uma posição que já era horrível para uma que é treze pontos percentuais pior no tocante à segurança das pessoas LGBT. Isto quer dizer que no ranking de países seguros para a população LGBT, o país despencou do 55º lugar em 2018 para o 68º em 2019.
Ainda segundo o relatório, São Paulo foi o estado que mais matou travestis e transexuais em 2019. Foram 21 assassinatos - o que representa um aumento de 50% dos casos em relação a 2018, quando o número de mortes era de 14 indivíduos travestis ou transexuais.
Empatados em segundo lugar nesse terrível ranking de violência letal contra pessoas transgêneras, estão o Ceará e a Bahia (com 40 casos cada) e em terceiro lugar vem o Rio de Janeiro, que teve 37 pessoas travestis e transexuais assassinadas no mesmo período.
Cerca de 24% menor que o número encontrado pelo relatório do ano de 2018 (163 mortes), o relatório do ano passado, que foi divulgado hoje, contabiliza 124 assassinatos de pessoas trans, sendo 121 travestis e mulheres transexuais e três homens trans.
De acordo com o gráfico acima, produzido por Bruna Benevides, nota-se uma queda no número de assassinatos desde 2017, ano em que esse número atingiu seu ápice.
A média, porém, entre 2008 e 2019 foi de 118 crimes por ano - o que é simplesmente inadimissível e precisa ser combatido por meio de políticas públicas por parte do Estado e mobilização por parte da sociedade civil.
Estancando o fluxo de violência já em casa
Nada é mais urgente do a conscientização de pais e outros familiares de pessoas trans e travestis sobre o direito de seus filhos e/ou parentes se expressarem de acordo com o gênero com o qual se identificam e serem tratados pelo nome de sua escolha.
O epicentro de toda essa violência que explode nas ruas é, na maioria esmagadora das vezes, a família. Uma rápida olhada nos perfis dos familiares da maioria das pessoas transexuais e travestis revela que a incompreensão da família e a violência doméstica são geralmente insufladas por crenças religiosas transfóbicas.
Pessoas trans e travestis amadas e respeitadas como tais no seio familiar dificilmente ficarão expostas a maior parte das situações de vulnerabilidade socioeconômica que acabam por colocá-las de frente com seus agressores e assassinos.
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'Travesti não é banguça' e transfobia é crime
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