Conectividade Digital Como Resistência: A Luta da Comunidade LGBTI em um Mundo Digitalmente Dividido

 


Conectividade Digital Como Resistência:

A Luta da Comunidade LGBTI em um Mundo Digitalmente Dividido



Por Sergio Viula


A internet transformou a maneira como a comunidade LGBTI se conecta, se organiza e luta pelos seus direitos. No entanto, essa revolução digital também enfrenta desafios profundos, especialmente em países onde a diversidade de gênero e sexualidade é criminalizada ou vista como uma ameaça. A divisão digital não é apenas uma questão de infraestrutura e acesso à internet; é também uma questão de sobrevivência para muitas pessoas LGBTI ao redor do mundo.

A Conectividade Como Um Risco em Países Repressores

Atualmente, ao menos 64 países criminalizam relações entre pessoas do mesmo sexo, sendo que em 11 deles a pena pode ser a morte. Em muitos desses locais, postar conteúdo pró-LGBTI nas redes sociais pode resultar em prisão, tortura ou execução.

Em 2021, o ativista gay Mohamed Adam Omar foi assassinado no Iêmen depois de ter sido exposto em redes sociais por grupos extremistas. No Egito, a influenciadora Sarah Hegazi foi presa e torturada por ter levantado uma bandeira do arco-íris em um show da banda Mashrou' Leila, um ato que foi interpretado como "propaganda homossexual" pelo governo. Em Uganda, as autoridades frequentemente monitoram redes sociais para prender pessoas LGBTI sob acusações de "desvio moral".

A Resistência Digital e os Avanços na Inclusão

Apesar desses desafios, a conectividade tem sido uma ferramenta poderosa para resistência e emancipação. Nos últimos anos, vários países avançaram na proteção dos direitos LGBTI, muitas vezes impulsionados pelo ativismo online e pela capacidade de mobilização digital.

Índia: Desde a despenalização da homossexualidade em 2018, a internet tem sido um espaço de educação e apoio para a comunidade queer do país. Canais no YouTube e plataformas como o Instagram ajudaram a normalizar discussões sobre gênero e sexualidade.

Taiwan: Foi o primeiro país da Ásia a legalizar o casamento igualitário, e a mobilização online teve um papel essencial. Campanhas nas redes sociais e petições digitais ajudaram a pressionar o governo e conscientizar a população sobre a questão.

Brasil: Embora enfrente desafios políticos e sociais, o Brasil tem visto um crescimento na influência de criadores de conteúdo LGBTI, que utilizam plataformas digitais para denunciar violências, compartilhar informações e oferecer apoio emocional.

Casos Reais Onde a Inclusão Digital Fez a Diferença

Em vários lugares do mundo, a conectividade digital tem sido crucial para salvar vidas e proporcionar suporte para pessoas marginalizadas.

Chechênia: Em 2017, o jornalista russo Elena Milashina revelou, por meio de investigações online, a existência de campos de concentração para homens gays na região. Graças à pressão internacional gerada nas redes, ativistas conseguiram ajudar vítimas a fugir do país.

Irã: Em 2022, um jovem gay chamado Alireza Fazeli Monfared foi brutalmente assassinado por seus próprios familiares depois que sua orientação sexual foi exposta por meio de uma carta do governo. O caso gerou revolta internacional e demonstrou a importância de plataformas seguras para que pessoas LGBTI possam se expressar sem medo.

Nigéria: Com leis severas contra a homossexualidade, ativistas nigerianos criaram redes subterrâneas por meio de aplicativos de mensagens criptografadas para oferecer abrigo seguro a pessoas LGBTI perseguidas.

Conectividade Segura: Um Direito Fundamental

Embora a inclusão digital traga esperança, também precisamos discutir a segurança. Em países repressores, pessoas LGBTI correm risco ao se exporem online.

Por isso, várias organizações têm investido em treinamentos de segurança digital, uso de VPNs e plataformas anônimas para garantir que informações sensíveis não sejam rastreadas por governos hostis.

Organizações como a ILGA World e a The Engine Room têm desempenhado um papel fundamental ao fornecer suporte e educação digital para pessoas e grupos vulneráveis.

O Futuro da Conectividade para a Comunidade LGBTI

Ainda há muito a ser feito para garantir um ambiente digital seguro e acessível para todas as pessoas LGBTI. Governos progressistas devem pressionar por políticas que protejam a liberdade de expressão online, enquanto empresas de tecnologia precisam garantir que plataformas sejam inclusivas e seguras.

A internet é um campo de batalha onde opressão e resistência coexistem. Em um mundo onde o acesso digital pode ser uma questão de vida ou morte, é essencial continuar lutando por um futuro onde todas as pessoas possam se expressar livremente e se conectar sem medo.

E você, como pode contribuir para um ambiente digital mais seguro e inclusivo para pessoas LGBTI ao redor do mundo? Compartilhe sua opinião nos comentários!


Acesse o relatório da ILGA (inglês ou espanhol):

Inglês:

ACCESSING CONNECTION: Bridging the Digital Divide for LGBTI Communities Worldwide

https://ilga.org/wp-content/uploads/2024/02/Accessing_connection_bridging_LGBTI_digital_divide.pdf


Espanhol:

ACCEDER A LA CONEXIÓN: errando la brecha digital de las comunidades LGBTI en el mundo

https://ilga.org/wp-content/uploads/2024/02/Acceder_conexion_cerrando_brecha_digital_LGBTI.pdf

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