Edy Star: pioneiro, desbundado e eternamente fora do armário
Edy Star: pioneiro, desbundado e eternamente fora do armário

A música brasileira perdeu em 24 de abril de 2025 um de seus artistas mais ousados e pioneiros: Edy Star. Baiano de Salvador, nascido Edivaldo Souza, Edy não apenas brilhou como cantor e performer — ele foi, para muitos, o primeiro artista gay assumido do Brasil, desafiando a moral da época com coragem e estilo.
Muito antes das pautas LGBTQIA+ ganharem espaço na grande mídia, Edy já colocava sua identidade no centro de sua arte. Com um visual andrógino, postura provocadora e uma atitude que misturava desbunde e resistência, ele mostrou que era possível ser quem se é — mesmo sob a sombra opressiva da ditadura militar.
Em 1974, Edy Star lançou o antológico álbum ...Sweet Edy..., um verdadeiro manifesto de liberdade. Apoiado por João Araújo, diretor da gravadora Som Livre, ele trouxe para seu disco canções inéditas de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Moraes Moreira, Jorge Mautner, Getúlio Côrtes e até da dupla Roberto e Erasmo Carlos, que escreveram a intensa "Claustrofobia" especialmente para ele.
Embora "Claustrofobia" nunca tenha sido gravada por seus autores, encontrou em Edy a interpretação perfeita — com versos que clamam por espaço, respiração e liberdade, um eco direto da urgência de ser e viver plenamente.
...Sweet Edy... não era apenas música; era atitude. Misturando tango, rock, latinidade e glam tropical, o álbum foi um grito colorido e irreverente em meio ao cinza dos anos de chumbo. Num tempo em que muitos artistas preferiam a segurança do silêncio, Edy Star dançava, cantava e desafiava padrões, com versos como "Para um bom entendido / Meia cantada basta".
É verdade que nem todas as canções eram obras-primas. Mas no caso de Edy, a música era só uma parte da revolução: o gesto, a presença e a coragem eram tão importantes quanto as notas. Seu disco se tornou símbolo de resistência e, décadas depois, ainda inspira novas gerações a celebrarem sua autenticidade.
Em 2017, Edy lançou seu segundo álbum solo, Cabaré Star, que, embora considerado mais interessante musicalmente, nunca carregaria a mesma aura histórica do primeiro.
O Brasil deve a Edy Star muito mais do que alguns hits ou performances memoráveis. Ele pavimentou, com brilho e ousadia, um caminho para que outros artistas LGBTQIA+ pudessem existir, criar e se expressar.

Num país que ainda luta para garantir o respeito e a dignidade de seus cidadãos LGBTQIA+, lembrar de Edy Star é celebrar a coragem, o deboche e o desbunde como formas legítimas de resistência.
Edy Star nunca se trancou em armário nenhum. E sua estrela continuará brilhando onde houver arte, orgulho e liberdade.











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