Diversidade de gênero e sexualidade nas culturas celtas, nórdicas e sámi
Diversidade de gênero e sexualidade nas culturas celtas, nórdicas e sámi
Por Sergio Viula
Muito antes da influência do cristianismo e das normas heteronormativas modernas, diversas culturas europeias reconheceram e celebraram a diversidade de gênero e sexualidade. Entre celtas, nórdicos e sámi, indivíduos que hoje poderíamos chamar de queer desempenhavam papéis sociais, espirituais e mágicos essenciais, mostrando que ser quem somos sempre teve valor e respeito em muitas tradições antigas.
Celtas

Fontes gregas e romanas, como Diodoro da Sicília, descreviam os celtas como abertamente sexodiversos. Entre os gauleses, o amor entre homens era comum, inclusive em contextos militares. Havia respeito por mulheres guerreiras e pessoas com papéis sociais não conformes — a mitologia celta inclui figuras andróginas e transformadoras, como o Deus Lugh. Os druidas podiam exercer funções mágicas e espirituais que transcendiam o binarismo de gênero, mostrando que a espiritualidade estava acima de papéis rígidos de masculinidade e feminilidade.

Sociedade nórdica

Na sociedade nórdica, homens que assumiam o papel “passivo” sexualmente (ergi) eram punidos, mas o sexo entre homens em si não era criminalizado. Deuses como Loki e Odin apresentavam características queer: Loki se transformava em mulher e até em égua, dando à luz a Sleipnir, enquanto Odin praticava seiðr, magia tradicionalmente associada às mulheres e aos espíritos. A cultura valorizava o poder mágico e espiritual acima de papéis rígidos de gênero.

Sámi (Lapônia)


Os povos indígenas do norte da Escandinávia e da Rússia, conhecidos como sámi, tinham tradições xamânicas milenares. Seus xamãs, chamados noaidi, podiam ter identidade de gênero fluida. Com a imposição do cristianismo, essas práticas foram perseguidas e acusadas de “bruxaria”, mas a memória da diversidade de gênero e espiritualidade continua viva.
Essas culturas nos lembram que a diversidade de gênero e sexualidade sempre existiu e teve valor social, espiritual e cultural. Celebrar essas histórias é reconhecer que ser quem somos é legítimo, ancestral e um ato de resistência contra normas opressoras. A riqueza das tradições celtas, nórdicas e sámi reafirma que a diversidade é parte essencial da história humana.


Atualmente, a situação das pessoas LGBTQIA+ entre os povos celtas, nórdicos e sámi apresenta avanços e desafios. Nos países nórdicos, como Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia e Islândia, há leis que garantem casamento entre pessoas do mesmo sexo, reconhecimento de identidade de gênero e proteção contra discriminação, mas ainda existem resistências e discursos de ódio, especialmente em áreas rurais. Entre os sámi, cresce a visibilidade da comunidade queer com iniciativas como o Sápmi Pride e grupos de ativistas indígenas, reafirmando identidades e tradições culturais. Na Irlanda, país com legado celta, o casamento igualitário foi legalizado em 2015, mas a luta por proteção contra crimes de ódio e inclusão plena de pessoas trans e intersex continua. Apesar dos desafios, a resistência e a afirmação dessas identidades seguem fortes, mostrando que a diversidade de gênero e sexualidade continua viva e essencial nessas culturas.










Comentários
Postar um comentário
Deixe suas impressões sobre este post aqui. Fique à vontade para dizer o que pensar. Todos os comentários serão lidos, respondidos e publicados, exceto quando estimularem preconceito ou fizerem pouco caso do sofrimento humano.