Diversidade sexual e de gênero nas cultura pré-colombianas
Diversidade de gênero e sexualidade nas culturas pré-colombianas: legados e desafios contemporâneos
Por Sergio Viula
Muito antes da chegada dos europeus, os povos da Mesoamérica e dos Andes reconheciam e celebravam a diversidade de gênero e sexualidade. Entre Nahua, Astecas, Zapotecas, Incas, Aimará, Quéchuas e Maias, encontramos exemplos de identidades e práticas que desafiavam normas rígidas e que ocupavam papéis importantes nas sociedades antigas. Hoje, esses legados convivem com desafios contemporâneos no reconhecimento e garantia dos direitos LGBT+.
Muxe – o “terceiro gênero” zapoteca (México)

Os Zapotecas, de Oaxaca, reconhecem há séculos os muxes: pessoas designadas como homens ao nascer, mas que vivem com identidade feminina ou não-binária. Tradicionalmente aceites como parte da comunidade, os muxes ocupam papéis sociais e espirituais importantes e são vistos como sendo de um gênero distinto.
No México atual, os direitos LGBT+ têm avançado significativamente. Desde 2023, o casamento entre pessoas do mesmo sexo é legal em todos os 32 estados mexicanos. Além disso, o país tem reconhecido legalmente identidades de gênero não-binárias em documentos oficiais, como certidões de nascimento e carteiras de identidade. No entanto, apesar desses avanços legislativos, desafios persistem. Uma pesquisa de 2025 revelou que um terço dos mexicanos presenciou atos de violência ou discriminação contra pessoas LGBT+, e 85% consideram essa violência um problema importante ou muito importante. A discriminação institucional e societal ainda é uma realidade para muitas famílias diversas, especialmente no que diz respeito à adoção e reconhecimento legal de filhos em famílias formadas por casais do mesmo sexo.
Quariwarmi – sacerdotes do “gênero duplo” (Andes)

Entre os Incas, existiam os quariwarmi, xamãs que reuniam elementos masculinos e femininos. Vestiam roupas “misturadas”, participavam de rituais ligados ao deus Chuqui Illa (deus do relâmpago) e simbolizavam equilíbrio cósmico. Os espanhóis consideravam essas práticas “pecaminosas”, mas os nativos as associavam ao prazer, ao poder e à religiosidade, respeitando profundamente esses sacerdotes.

Em relação aos países andinos, como Peru, Bolívia e Equador, os direitos LGBT+ têm avançado de forma desigual. No Peru, por exemplo, a homossexualidade foi descriminalizada em 1993, mas não há reconhecimento legal de uniões entre pessoas do mesmo sexo. Na Bolívia, o casamento entre pessoas do mesmo sexo não é reconhecido, mas há leis que proíbem a discriminação com base na orientação sexual. No Equador, o casamento entre pessoas do mesmo sexo foi legalizado em 2019, representando um avanço significativo na região.
Mitologia Maia e sexualidade fluida (América Central)

A mitologia maia inclui deuses com transformações de gênero, seres andróginos e entidades com sexualidade fluida. Alguns rituais envolviam relações sexuais entre sacerdotes e jovens iniciados, associadas ao aprendizado espiritual, evidenciando a ligação entre sexualidade e conhecimento sagrado.
Nos países da América Central com herança maia, como Guatemala, Honduras e Belize, os direitos LGBT+ variam consideravelmente. Na Guatemala, a homossexualidade é legal, mas não há reconhecimento de uniões entre pessoas do mesmo sexo, e a discriminação social é prevalente. Em Honduras, a homossexualidade também é legal, mas não há leis que proíbam a discriminação com base na orientação sexual, e a violência contra pessoas LGBT+ é uma preocupação crescente. Belize descriminalizou a homossexualidade em 2016, mas ainda não há reconhecimento legal de uniões entre pessoas do mesmo sexo, e a discriminação social persiste.
A luta continua
Esses exemplos nos lembram que a diversidade de gênero e sexualidade sempre existiu e teve valor social, cultural e espiritual. Reconhecer essas histórias é uma forma de celebrar a pluralidade humana e afirmar que ser quem somos é uma tradição tão antiga quanto a própria civilização. No entanto, é fundamental que continuemos a lutar pela plena igualdade de direitos e pelo respeito às identidades e expressões de gênero em todas as sociedades.










Comentários
Postar um comentário
Deixe suas impressões sobre este post aqui. Fique à vontade para dizer o que pensar. Todos os comentários serão lidos, respondidos e publicados, exceto quando estimularem preconceito ou fizerem pouco caso do sofrimento humano.