POLÔNIA E LGBT+: UMA HISTÓRIA DE RESTRIÇÕES, RESISTÊNCIA E CONQUISTAS

POLÔNIA E LGBT+: UMA HISTÓRIA DE RESTRIÇÕES, RESISTÊNCIA E CONQUISTAS

Por Sergio Viula


A população LGBT+ da Polônia têm uma longa história de resistência

A trajetória das pessoas LGBTQ+ na Polônia é marcada por silêncios, repressões e resistências, mas também por conquistas importantes ao longo dos séculos.


Dos povos eslavos à imposição cristã



Na era pré-cristã, os povos eslavos viviam com mais liberdade em relação à sexualidade. Tudo mudou em 966, quando o duque Mieszko I adotou o cristianismo e abriu as portas para a influência da Igreja Católica. Desde então, a moral religiosa e a violência de Estado andaram de mãos dadas, marginalizando pessoas sexodiversas e impondo leis e costumes repressivos.


O Renascimento e a clandestinidade



Durante o Renascimento, nobres poloneses mantinham relações homoafetivas às escondidas. Apesar disso, as leis contra a sodomia continuavam ativas, variando conforme a região. Antes da independência da Polônia, três grandes impérios dominavam o território:

  • Império Russo: criminalizava rigidamente atos homoeróticos.
  • Prússia (Alemanha): usava o temido §175 para perseguir homossexuais.
  • Império Austro-Húngaro: também penalizava relações homoafetivas masculinas.
  • A independência e a Segunda Guerra


Com a independência em 1918, sob liderança de Józef Piłsudski, a Polônia descriminalizou a homossexualidade em 1932 — uma conquista notável para a época. Mas a homofobia social persistiu, especialmente nas grandes cidades como Varsóvia.


Homossexuais eram marcados com um triângulo rosa no campos de concentração nazistas


Durante a Segunda Guerra Mundial, homossexuais foram presos, torturados e assassinados pelos nazistas. O triângulo rosa que os identificava nos campos de concentração se tornou um símbolo da dor e da resistência LGBTQ+.


O período comunista e a Operação Hyacinth



Após a guerra, a Polônia ficou sob regime comunista (1945–1989). Em 1985, o governo lançou a Operação Hyacinth, que coletou dados pessoais de milhares de homossexuais, alimentando chantagens e vigilância estatal. A Netflix produziu um filme sobre esse episódio sombrio da história polonesa.


A Polônia de hoje: desafios e vozes de resistência



Polônia: Varsóvia celebra o mês do orgulho com um grande desfile (Euro News)


Atualmente, as relações homoafetivas são legais na Polônia, mas o país ainda enfrenta forte oposição de setores ultraconservadores. Organizações como a Kampania Przeciw Homofobii (KPH) lideram a luta pelos direitos LGBTQ+.


Ativistas poloneses têm sido vozes poderosas contra a repressão:



  • Bart Staszewski: “O governo está tentando apagar a nossa existência da esfera pública. Mas nós não vamos desaparecer.”
  • Margot (Małgorzata Szutowicz): “A verdadeira violência é viver num país onde o ódio é patrocinado pelo Estado.”
  • Krzysztof Śmiszek: “Não há democracia verdadeira onde os direitos das minorias são negociáveis.”

Conquistas LGBTQ+ na Polônia em ordem cronológica


Legenda: LGBT são pessoas
Pessoas idosas LGBT+ foram extremamente afetadas pela pandemia de COVID


1932 – Polônia descriminaliza relações homossexuais.

2023 – Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECHR) determina que a Polônia deve reconhecer legalmente uniões homoafetivas.

2023 – Decisões judiciais facilitam a mudança de gênero legal para pessoas trans, sem necessidade de processar os pais.

2024 – Governo aprova rascunho de lei para incluir orientação sexual e identidade de gênero em leis de crime de ódio.

2025 – Revogação das “zonas livres de LGBT” em todo o país, que eram áreas onde qualquer menção à temas relacionados à diversidade sexual era proibida.

2025 – Novo governo propõe lei para reconhecer uniões civis entre pessoas do mesmo sexo.

2025 – Polônia sobe no ranking Rainbow Map da ILGA-Europe após fim das resoluções anti-LGBT.

A história LGBTQ+ na Polônia mostra que, mesmo diante de perseguições religiosas, ditaduras e extremismos, a resistência continua viva — e cada vez mais visível.

Comentários

Postagens mais visitadas