Povos do Ártico: Diversidade LGBT+ Invisibilizada pela História

Povos do Ártico: Diversidade LGBT+ Invisibilizada pela História

Por Sergio Viula

Povos do ártico e um dos seus tipos de residências


A história LGBT+ entre os povos indígenas do Ártico — incluindo os inuit (antigamente chamados de "esquimós") — é marcada por uma rica diversidade de expressões de gênero e sexualidade, muitas vezes silenciada pela colonização europeia e pela imposição das normas cristãs ocidentais.

Entre os inuit, iñupiat, yupik e outros grupos da região circumpolar (Canadá, Alasca, Groenlândia, Sibéria), havia concepções muito mais fluidas sobre gênero e sexualidade do que aquelas impostas pela colonização.
 
Diversidade de Gênero e Sexualidade

O mito de Uumarnituq e Aakulujjuusi



O que hoje chamamos de transgeneridade ou gênero fluido era, para muitos desses povos, parte natural da vida. Há registros históricos de aceitação de casamentos entre pessoas do mesmo sexo, além de narrativas míticas e espirituais que reconheciam a multiplicidade de identidades.

Um exemplo marcante é o mito de Uumarnituq e Aakulujjuusi, entre os povos Netsilik e Iglulik (inuit). Segundo a tradição, os primeiros humanos eram dois homens. Milagrosamente, Uumarnituq engravidou. Para que ele pudesse dar à luz, Aakulujjuusi entoou um canto mágico, transformando-o em mulher. Dessa forma, os povos da região teriam se originado.


O mito de Sedna
 

Outro mito importante é o de Sedna, a mulher que rejeitou todos os pretendentes masculinos e foi punida pelo próprio pai, sendo atirada ao mar. Ali, transformou-se na poderosa deusa das profundezas.

Essas narrativas mostram que as ideias de gênero e sexualidade sempre foram plurais — bem antes de qualquer influência ocidental.
 
Ativismo e Resistência Hoje


Região onde habitam os chamados povos do Ártico



Com a colonização, a espiritualidade e a sexualidade indígenas foram criminalizadas ou ridicularizadas. Ainda assim, as vozes LGBTQIA+ entre os povos do Ártico têm ressurgido com força.

Hoje, jovens inuit LGBTQIA+ se organizam em redes de apoio e ativismo, especialmente no Canadá e Alasca. Documentários, pesquisas acadêmicas e projetos artísticos têm dado visibilidade a essa diversidade antes silenciada.
 
Para quem quiser saber mais (em inglês)


Jovem Inuit


  • Two-Spirit People: Native American Gender Identity, Sexuality, and Spirituality – Sabine Lang, Sue-Ellen Jacobs, Wesley Thomas
→ Embora focado em nações nativas dos EUA, traz paralelos importantes com outros povos indígenas da América do Norte.

  • Will Roscoe – Antropologia e Gênero → Estudos sobre a diversidade de gênero em povos indígenas americanos, incluindo o extremo norte.

  • Living Out: Gay and Lesbian Autobiographies → Relatos de indígenas queer de regiões árticas e subárticas.

  • Native Youth Sexual Health Network → ONG que trata da sexualidade indígena de forma interseccional. Site: www.nativeyouthsexualhealth.com

  • Documentário: Two Soft Things, Two Hard Things (2016) → Mostra como os inuit LGBT+ de Iqaluit (Canadá) lidam com sexualidade e espiritualidade no contexto pós-colonial.

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