Setembro: mês da pessoa com deficiência – inclusão, sucesso e sexualidade

Setembro: mês da pessoa com deficiência – inclusão, sucesso e sexualidade


Pedro Fernandes é Peter em Dona de Mim 

Por Sergio Viula


Setembro é o mês da pessoa com deficiência. Você sabia disso? Pois é, e acho que esse é um ótimo momento para refletirmos sobre o tema sem cair no tom piegas ou tristonho que muita gente ainda espera quando o assunto é deficiência.

Pessoas com deficiência podem ser extremamente eficientes — e estão aí inúmeros exemplos para provar isso.

Começo pelo meu amigo de longa data, Pedro Fernandes, hoje ator da novela Dona de Mim, da Globo, onde faz o maior sucesso. Pedro é cadeirante, tem alguma dificuldade na fala em função da deficiência física, mas é extremamente inteligente, positivo e determinado. Em vez de ficar lamentando, foi atrás do sucesso e conquistou seu espaço.

Mas Pedro não está sozinho. A lista de pessoas com deficiência que se destacam na cultura, no esporte e na comunicação é grande:

  • Herbert Vianna, músico dos Paralamas do Sucesso, que ficou paraplégico após um acidente aéreo.
  • Fernando Fernandes, ex-BBB, apresentador e atleta, também paraplégico, que não parou depois do acidente de carro.
  • Jairo Marques, jornalista da Folha de S.Paulo, cadeirante desde criança.
  • Otávio Mesquita, apresentador, que tem deficiência auditiva parcial.
  • Lara Ozobom, atriz surda, atuante no teatro e na TV.
  • Clodoaldo Silva, nadador paralímpico com paralisia cerebral, um verdadeiro fenômeno nas piscinas.
  • João Carlos Martins, pianista e escritor, que reinventou sua relação com a música após perder movimentos das mãos.
  • Dorina Nowill, educadora e escritora, referência histórica na luta pelos direitos das pessoas com deficiência visual.

E há muitos outros exemplos, mostrando que talento, inteligência e capacidade não têm nada a ver com ausência de deficiência.


Deficiência e sexualidade: um direito humano

Um ponto essencial quando falamos em deficiência é a sexualidade. Muita gente não sabe, mas um dos direitos reafirmados pela Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006), ratificada pelo Brasil, é justamente o direito à sexualidade, ao amor e à vida em família.

E aqui está uma contradição: se por um lado a lei garante, por outro a família muitas vezes é o maior obstáculo para que pessoas com deficiência — especialmente físicas e motoras — exerçam sua sexualidade. Pais e mães, muitas vezes, tratam o filho ou a filha como “eternos dependentes”, sem enxergar que ali existe uma pessoa com desejos, necessidades afetivas e direito de viver relacionamentos. Quando essa pessoa ainda é LGBT, o peso dobra: o preconceito se soma, e o controle familiar tende a ser ainda mais rígido.

Não raro, quem é deficiente ouve dentro de casa frases do tipo: “Sexo não é para você”, “Ninguém vai querer namorar com você” ou até “É melhor nem pensar nisso”. São mensagens que ferem, limitam e, pior, tentam negar algo que é natural a qualquer ser humano.


O narcisismo do mundo — não só dos gays

Algumas pessoas com deficiência dizem: “No mundo gay ninguém quer quem tem deficiência, porque é tudo narcisismo”. Mas a verdade é que o mundo inteiro é narcisista, não só os gays. A diferença é que, no meio LGBT, isso pode aparecer de forma mais evidente.

Se já é difícil para muitas mulheres com deficiência arrumarem um marido, ou para homens com deficiência arrumarem uma esposa, imagine a soma dos fatores para quem também é gay, lésbica, bi ou trans. O preconceito se acumula.


Prazer além dos limites

Mas aqui vai um ponto fundamental: a deficiência física não impede a vida sexual. Ela pode ser, sim, deliciosa.

Há muitas formas de sentir prazer e se envolver sexualmente. Nem todas as deficiências se enquadram do mesmo jeito — por exemplo, uma deficiência mental grave que impede a pessoa de tomar decisões conscientes está fora dessa conversa. Mas quem pode escolher, se proteger e decidir como viver sua sexualidade, pode e deve exercê-la plenamente.

Vale lembrar: em relações hétero, pode haver preocupação com gravidez; em relações homoafetivas, não. Já em relações trans, a gravidez também pode entrar em cena — por exemplo, um homem trans pode engravidar. Cada caso precisa ser entendido com respeito e informação, sem tabus.


Ame-se acima de tudo

Muitos homens e mulheres com deficiência têm parceiros fixos, namoram, casam e constroem famílias. Outros estão solteiros e em busca, às vezes até de forma meio desesperada — mas isso também acontece com quem não tem deficiência.

O segredo está no amor-próprio. Ame-se acima de tudo. Dê-se a oportunidade de conhecer pessoas. Se alguém não quiser você, siga em frente. Não adianta perder tempo chorando por quem não te deseja. A vida é curta demais. Valorize quem te quer bem, porque essas pessoas existem — e podem te dar muito amor, prazer e cumplicidade.

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