CAOS NO RIO: UM DESASTRE PLANEJADO
CAOS NO RIO: UM DESASTRE PLANEJADO
Um dia depois do caos criado pelo governador Valadares do Rio num rompante desastrado, mas provavelmente calculado, respiramos apreensivos... aqueles que não pagaram com a própria vida pela irresponsabilidade dele.

Por Sergio Viula
Hoje é um dia triste para o Rio de Janeiro, depois de tudo que aconteceu ontem: tantas mortes na cidade, pessoas tendo que parar de trabalhar cedo, o metrô colapsando e ônibus que não chegavam a pegar passageiros nos pontos finais. Muitas pessoas tiveram problemas. Felizmente tive a opção de trabalhar de casa e não me arrisquei — falei com a minha chefia e informei que trabalharia remotamente. Posteriormente a empresa suspendeu as aulas para quem não podia trabalhar de casa. Trabalhei normalmente com minhas turmas da noite; não vale a pena se arriscar por nada, nesta cidade, do jeito que a coisa estava.
O risco diário já é grande e a gente pouco pode fazer diante disso. Saímos quando precisamos, apesar do perigo, mas o que houve foi algo deflagrado como uma guerra: guerra de gente armada contra gente desarmada — polícia e traficante, com coletes, helicópteros, drones — e a população vulnerável no meio, sendo atingida sem motivo.
Se há algo de maravilhoso no Rio, não é exclusivo daqui — praia há em muitos lugares; o planeta é maioritariamente água; montanhas existem por toda parte. Pão de Açúcar é bonito, o Cristo é imponente, mas nada disso garante a minha vida, não coloca comida na mesa, não garante saúde nem segurança. Cidade verdadeiramente maravilhosa é cidade com segurança, saúde, moradia decente e saneamento básico em larga escala, não esse monte de casas empilhadas com gente morando mal, sem infraestrutura, e uma população jogada pela rua.
O governo estadual não fez o que deveria em um mandato e meio; houve quem sequer assumiu de fato quando o anterior foi deposto e depois se reelegeu, sem resultados. É o mesmo grupinho que defende arma liberada — mas arma liberada não é arma na mão do cidadão comum; é arma na mão do bandido. Não quero arma nem de graça, mas é claro que arma nas favelas não aparece do nada. Como tantos fuzis, drones e até armamento das Forças Armadas chegaram às áreas controladas por criminosos? Temos Polícia Rodoviária Federal, polícia militar, polícia civil, guarda municipal — como tudo isso passa despercebido? Por outro lado, se eu sair com uma faca na bolsa corro o risco de ser parado e preso sem ter cometido crime algum — carregar um objeto pode ser tratado como portar arma branca. Há conivência.
Na segunda-feira foi o último dia de prazo para Bolsonaro tentar se defender contra sua prisão iminente — fracasso, como sempre, porque é difícil defender o que foi feito. Na mesma semana, o presidente dos Estados Unidos abraçou Lula, desejou feliz aniversário e disse que foi muito agradável conversar com ele, chamando-o de homem vigoroso e respeitável. Bolsonaristas ficaram irritados porque esperavam que Trump jogasse no time deles; para Trump, Bolsonaro já é página virada. Também vem aí a COP30, que tem colocado o Brasil nas manchetes mundiais de forma positiva — não como um país avacalhado.
Não tenho nada contra farofa — gosto até de farofa com feijão —, o que critico é o ridículo comportamento de certos políticos. No meio disso, Cláudio Castro tentou se apresentar como super-herói que iria livrar o Rio da criminalidade — claramente uma encenação para desestabilizar o governo federal e jogar lama. O governo federal ofereceu apoio e já havia convidado governadores para ações articuladas; quem rejeitou o plano foram governadores bolsonaristas como Tarcísio, Caiado, Cláudio Castro e outros. Preferiram manter a narrativa política a permitir que o governo federal atuasse e recebesse crédito. Agora fazem esse espetáculo e tentam colocar a culpa no governo federal.
O jogo que fazem mexe com o sangue do povo — sangue derramado de muita gente inocente. Pude ter sido atingido também; vivo nesta cidade, não em Amsterdã. O Rio tem, em parte, o governo que merece por tê-lo eleito, mas não posso me limitar a dizer “bem feito”. É preciso torcer para que isso seja desfeito — e só há um jeito: não eleger esses mesmos políticos nas próximas eleições, seja para governador, prefeito, senador, deputado ou qualquer cargo.
O que ocorre é um jogo político de bolsonaristas que querem desestabilizar um governo que odeiam. Esse governo hoje tem visibilidade internacional, fecha contratos e atrai investimentos; medidas como a tarifa de Trump não tiveram efeito devastador porque o governo agiu pontualmente. Enquanto tentam jogar lama, quem está estirado no chão, em fotos emblemáticas, não é a família de Cláudio Castro nem a de Bolsonaro — é o corpo de gente pobre que trabalha todo dia para ganhar o pão.
Quanto ao bandido que reagiu armado e morreu, não sinto pena — se entregasse provavelmente estaria vivo e responderia pelos seus atos no processo legal. Minha preocupação é com o povo que trabalha, estuda, é idoso, aposentado, desempregado, mas não rouba ninguém e está tentando sobreviver. Empresas fecham e saem do Rio porque não dá para trabalhar aqui; quem tem algum dinheiro já pensa em se mudar e só volta de vez em quando para visitar família — o que também é arriscado. Vi casos de pessoas que morreram em deslocamentos para visitar parentes, como uma jovem que veio no Dia das Mães e foi atingida por uma bala na Linha Vermelha.
A população fala muito no Comando Vermelho, mas há o Terceiro Comando Puro, milícias e outros grupos menos noticiados. O Rio virou paraíso para bandidos de outros estados que se escondem nas favelas daqui — e isso levou a prisões. Fiquei feliz com o resultado de algumas prisões e com a morte de quem atirava contra a polícia; não lamento esses. No entanto, entristece-me profundamente saber que houve mortes dentro de casa: uma senhora de mais de 60 anos levou um tiro na cabeça e morreu no colo do irmão; crianças foram atingidas.
Algumas declarações mostram o nível da situação — Flávio Bolsonaro disse que gostaria que Trump jogasse uma bomba nas favelas. Trump não pode fazer isso, mas Cláudio Castro promete “fazer de outro jeito” e “acabar com a festa”. A festa não acaba enquanto governos como o de Cláudio Castro permanecerem. Há registros em jornal de envolvidos, inclusive políticos, fornecendo armas para favelas — dois homens de camisa do Flamengo foram presos por isso. A inteligência de segurança pública do Rio está nas mãos de Cláudio Castro; parece que ele não tem controle. É preciso abrir os olhos: trata-se de mais uma manobra bolsonarista, articulada com famílias que podem dever à justiça, para distrair, mas ao custo de sangue inocente.
O governo federal ofereceu apoio e foi contraditado por declarações públicas de Cláudio Castro, que disse inicialmente que não havia recebido ajuda e depois foi desmentido pelo ministro Lewandowski, afirmando-se que houve má interpretação do que foi dito. O nível de canalhice é alto.
Registrei esta mensagem porque não me contive em ficar calado; tudo isso me atinge também. Apesar de eu estar vivo, não moro na favela; mesmo assim sou afetado: não trabalho fora, não saio, não posso fazer muita coisa. Atualmente moro em outro endereço, pago aluguel por causa da violência. Só não saio da cidade porque ainda não posso. Se já estivesse aposentado, com renda garantida, teria saído. O ramo onde trabalho não tem mercado na roça; infelizmente preciso ficar em cidade grande. Se fosse diferente, preferiria morar no interior.
Desejo a todos um dia de paz e segurança. Não se arrisquem por nada, a menos que não haja outro jeito — apenas saia de casa se for imprescindível, por exemplo, para procurar abrigo em local mais seguro temporariamente.










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