A Origem do Ser Humano nas Mitologias do Mundo
A Origem do Ser Humano nas Mitologias do Mundo
Um panorama com fontes para aprofundamento

Todas as sociedades humanas criaram narrativas para explicar a origem da vida, do mundo e de si mesmas. Esses mitos de origem moldaram identidades, valores, leis e visões sobre a natureza, a morte e o sagrado.
Hoje, graças ao método científico, sabemos que o universo tem cerca de 13,8 bilhões de anos, a Terra cerca de 4,5 bilhões, e que os seres humanos modernos surgiram na África há aproximadamente 300 mil anos, compartilhando ancestrais com outros primatas. A evolução biológica, comprovada por fósseis, genética e geologia, descreve nossa origem real.
Isso não diminui a beleza poética das mitologias — elas revelam a criatividade humana, nossa relação com a natureza e os valores que sociedades antigas consideravam essenciais. O que se precisa manter em mente é que nenhuma delas deve servir de pretexto para controlar nossas vidas cotidianas, relações e afetos.
Este texto apresenta mitos de criação de diferentes povos, contextualiza seus descendentes históricos e comenta brevemente como cada cultura lidava com diversidade sexual e de gênero, quando a academia oferece dados confiáveis.
Ao final, convido você a ir além dos mitos e explorar o fascinante caminho da ciência.
AMÉRICAS
Povos indígenas do Brasil (Tupi-Guarani e outras etnias)
Crença: seres humanos criados da terra, da argila ou da natureza; presença de deidades criadoras como Tupã em algumas tradições.
Diversidade sexual e de gênero: Registros etnográficos indicam que vários povos indígenas nas Américas, incluindo no Brasil, possuíam papéis sociais não binários e reconhecimento de pessoas com identidades diversas, embora variando muito entre etnias. A imposição europeia cristã mudou grande parte disso.
Povos descendentes: Guarani, Yanomami, Tikuna, Pataxó, Xavante, Kaingang, entre muitos outros.
Fontes e links com mais informações:
Guarani mythology — Wikipedia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_guarani
Povos Indígenas do Brasil — Instituto Socioambiental
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Ticuna
Povos Andinos e Mesoamericanos
(Incas, Maias, Astecas, Mapuche, Quechua, Aymara, Zapoteca, Mixteca, Olmeca etc.)
Crença: humanos criados de barro, milho ou ossos de gerações anteriores; divindades criadoras como Viracocha (Andes) e seres do Popol Vuh (Maias).
Diversidade sexual e de gênero: Há registros de reconhecimento de papéis de gênero alternativos entre povos mesoamericanos; porém, houve variações e períodos repressivos devido a mudança política e religiosa.
Povos descendentes: Quechua, Aymara, povos maia e nahua (mexicanos), Mapuche etc.
Povos extintos/assimilados: Olmecas e outras culturas por conquista, epidemias e assimilação.
Fontes e links com mais informações:
Popol Vuh (inglês)
https://www.mesoweb.com/publications/Christenson/PopolVuh.pdf
Viracocha — Encyclopaedia Britannica (inglês)
https://www.britannica.com/topic/Viracocha
Povos Indígenas da América do Norte
(Navajo, Iroqueses/Haudenosaunee, Hopi, Lakota, Inuit, Anishinaabe, entre muitos outros)
Crença: criação por emergência de mundos subterrâneos, da terra ou de animais ancestrais; mito da Mulher do Céu entre iroqueses.
Diversidade sexual e de gênero: Diversidade amplamente registrada: pessoas Two-Spirit eram aceitas em muitas tribos antes da colonização, com funções sociais e espirituais específicas.
Povos descendentes: Nações indígenas nos EUA, Canadá e Alasca.
Fontes e links com mais informações:
Navajo emergence myth — College of Western Idaho (inglês)
https://cwi.pressbooks.pub/americanliterature/chapter/navajo-emergence-myth/
Navajo emergence myth — College of Western Idaho (inglês)
https://cwi.pressbooks.pub/americanliterature/chapter/navajo-emergence-myth/
EUROPA
Povos ancestrais europeus
(Gregos, romanos, celtas, nórdicos, eslavos, bálticos)
Crença: humanos moldados de barro ou madeira e animados por sopro divino; mitos de eras sucessivas; Ask e Embla nos nórdicos.
Diversidade sexual e de gênero: Grécia antiga tinha maior tolerância (com limites sociais e hierárquicos); povos nórdicos e celtas reconheciam papéis sociais flexíveis em certos ritos e mitos, mas também havia normas patriarcais fortes.
Descendentes: gregos modernos, povos celtas atuais, escandinavos, eslavos, lituanos/letões etc.
Fontes e links com mais informações:
A criação do homem nos mitos das origens — artigo acadêmico (PDF)
Mitologia grega — visão geral em português
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega
Mitos: um pé na fantasia, outro na compreensão do mundo — artigo em português
Mitologia grega e outras mitologias antigas — visão comparativa (grega, nórdica etc.)
ÁFRICA
Povos Africanos
(Egito Antigo, Iorubá, Dogon, Akan, Zulu, Berberes, Khoisan e outros)
Crença: humanos de barro, sementes ou essência vital dada por divindades; forte ancestralidade espiritual.
Diversidade sexual e de gênero: Documentação varia. Há registros de papéis de gênero não binários em sociedades africanas pré-coloniais; hostilidade contemporânea frequentemente deriva de moralidade trazida pelo colonialismo cristão ou islâmico.
Descendentes: povos iorubás, akan, zulu, berberes, bantos, egípcios modernos etc.
Fontes e links com mais informações:
Mitologia Iorubá (estudos diversos)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Religi%C3%A3o_iorub%C3%A1
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/download/8653745/22655/
Revisão crítica sobre Dogon e Nommo
https://www.jstor.org/stable/40464436 (acesso por instituições)
https://periodicos.uff.br/gragoata/article/download/33260/19247/111505
https://www.afreaka.com.br/a-filosofia-dogon-e-a-origem-do-mundo/
Australian Museum note referenced above (metodologia comparativa)
https://australian.museum/learn/cultures/first-nations/first-peoples/ (inglês)
ÁSIA
Povos da Ásia
(Índia védica, China antiga, Japão, Coreia, Mongóis, povos siberianos etc.)
Crença: criação a partir do corpo cósmico, barro, ação de deuses como Nüwa (China) e narrativas védicas (Purusha).
Diversidade sexual e de gênero: Índia antiga reconhecia papéis de terceiro gênero (hijras são herdeiros dessa tradição). China e Japão variaram por período e classe; tradições xamânicas siberianas reconheciam gêneros fluidos em funções espirituais.
Descendentes: chineses, indianos, japoneses, coreanos, tibetanos, mongóis, povos do Sudeste Asiático e da Sibéria.
Fontes e links com mais informações:
Povos da Ásia
(Índia védica, China antiga, Japão, Coreia, Mongóis, povos siberianos etc.)
Crença: criação a partir do corpo cósmico, barro, ação de deuses como Nüwa (China) e narrativas védicas (Purusha).
Diversidade sexual e de gênero: Índia antiga reconhecia papéis de terceiro gênero (hijras são herdeiros dessa tradição). China e Japão variaram por período e classe; tradições xamânicas siberianas reconheciam gêneros fluidos em funções espirituais.
Descendentes: chineses, indianos, japoneses, coreanos, tibetanos, mongóis, povos do Sudeste Asiático e da Sibéria.
Fontes e links com mais informações:
Nüwa — Wikipédia (PT)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Nu_Kua
Nüwa — artigo em português
https://vamosestudar.com.br/a-lenda-de-nuwa-e-fuxi-criadores-da-humanidade-na-mitologia-chinesa/
OCEANIA
Povos da Oceania
(Aborígenes australianos, Maori, samoanos, tonganeses, papuas etc.)
Crença: criação no Dreamtime, seres ancestrais transformando o mundo; humanos da terra/argila; deuses como Tāne moldando a primeira mulher (Maori).
Diversidade sexual e de gênero: Polinésia tradicionalmente reconhecia māhū, fa'afafine, fakaleiti e outros papéis de gênero; colonização cristã reprimiu muitos. Povos aborígenes tinham papéis de gênero espirituais complexos variando por grupo.
Descendentes: incluem centenas de nações aborígenes australianas (como Yolngu, Arrernte, Noongar, Tiwi) e os povos polinésios contemporâneos, como Māori (Aotearoa/Nova Zelândia), Samoanos, Tonganeses, Havaianos e outros do Pacífico.
Fontes e links com mais informações:
Fontes e links com mais informações:
Rainbow Serpent — mito da Serpente Arco-Íris (mitologia aborígene australiana)
Māori tradição e cultura
ORIENTE MÉDIO
Sumérios, Acádios, Babilônios, Assírios, Hititas, Cananeus/Fenícios, Judaísmo, Cristianismo, Islã
Crença: humanos moldados do barro e animados pelo sopro divino; em textos mesopotâmicos, às vezes misturados com sangue de deuses sacrificados (por exemplo, Kingu no Enūma Eliš).
Diversidade sexual e de gênero: Mesopotâmia tinha registros de papéis sexuais e de gênero variados, incluindo sacerdotes gala; tradição judaica e abraâmica posterior consolidou normas heteropatriarcais. Complexidade histórica: períodos e locais variam amplamente.
Sumérios, Acádios, Babilônios, Assírios, Hititas, Cananeus/Fenícios, Judaísmo, Cristianismo, Islã
Crença: humanos moldados do barro e animados pelo sopro divino; em textos mesopotâmicos, às vezes misturados com sangue de deuses sacrificados (por exemplo, Kingu no Enūma Eliš).
Diversidade sexual e de gênero: Mesopotâmia tinha registros de papéis sexuais e de gênero variados, incluindo sacerdotes gala; tradição judaica e abraâmica posterior consolidou normas heteropatriarcais. Complexidade histórica: períodos e locais variam amplamente.
Descendentes: povos árabes, judeus, turcos, curdos, assírios modernos, armênios, iranianos.
Fontes e links com mais informações:
Fontes e links com mais informações:
Enūma Eliš (texto em português) — “Enuma Elish – O Épico Babilônico da Criação” na versão em português
História Mundial
Al‑Qur’ān (O Alcorão) — Tradução em português: https://quran.com/pt
Bíblia online
Conclusão
Essas histórias não correspondem à realidade — e não precisam. Elas revelam como povos antigos imaginavam o mundo e davam sentido à existência. O que precisamos realmente fazer é entender que a ciência nos trouxe luz sobre os verdadeiros fatos. Você pode se sentir encantado com os mitos, assim como pode se encantar com poesia ou matemática, mas vá além: estude um pouco de evolução, cosmologia, antropologia, genética, arqueologia. Essas ciências nos mostram que a humanidade é mais extraordinária do que qualquer mito e que a realidade é muito mais fantástica do que qualquer ficção.
E, acima de tudo, não admita qualquer interferência em sua vida com base em mitos e lendas, sejam elas gregas, vikings, africanas ou abraâmicas, como é o caso da Torá, da Bíblia e do Alcorão — muita desgraça já foi feita por se acreditar piamente nessas narrativas folclóricas elevadas, em alguns casos, ao suposto status de revelação ou inspiração divina. Diga não a essas tiranias.










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