Bispo italiano afirma: negar amor e intimidade a pessoas LGBTQ+ é “simplesmente errado”

Por Sergio Viula
Um sopro de ar fresco atravessou a rigidez doutrinária da Igreja Católica. Em entrevista ao portal DirittoDiCronaca.it, o bispo italiano Francesco Savino, de Cassano all’Jonio, declarou que pessoas em relacionamentos homoafetivos não devem ser privadas do direito ao amor e à intimidade sexual. Para ele, negar esse direito “é simplesmente errado”.
A fala tem peso. Savino, conhecido em sua região como “Dom Ciccio”, foi nomeado pelo Papa Francisco e sempre transitou com firmeza no campo do diálogo com fiéis LGBTQ+. Segundo o Catholic Herald, ele afirmou que a Igreja precisa “restaurar a dignidade de todos, especialmente daqueles a quem ela mesma tem negado essa dignidade.”
Savino vem colocando essa visão em prática. Durante uma missa celebrada recentemente na Igreja do Gesù, em Roma, para peregrinos LGBTQ+ do Jubileu da Esperança 2025, ele reforçou que o amor de Deus é único, irrepetível e incondicional. Um recado cristalino para quem tenta restringir espiritualidade por orientação sexual.
O contraste com a doutrina oficial
As declarações do bispo batem de frente com a posição tradicional da Igreja, que ainda define atos homossexuais como “intrinsecamente desordenados” e exige castidade de pessoas que sentem atração pelo mesmo sexo. A discrepância entre teologia e humanidade continua sendo um dos pontos mais dolorosos na relação da Igreja com fiéis LGBTQ+.
E o novo papa?
A chegada do Papa Leão XIV ao trono de Pedro reacendeu dúvidas sobre o rumo das questões LGBTQ+ no Vaticano. Apesar de visto como moderado, ele já criticou representações positivas de famílias homoafetivas na mídia, chamando-as de contrárias ao evangelho.
Ainda assim, uma sinalização importante veio do cardeal Víctor Manuel Fernández, responsável pela doutrina. Segundo ele, as bênçãos para casais do mesmo sexo continuarão, conforme autorizado por Francisco. Fernández afirmou que Leão XIV não deve retroceder: “A declaração permanecerá.”
É uma contradição viva: bênçãos permitidas, casamento negado; acolhimento parcial, igualdade distante.
Por que as falas de Savino importam
Em um cenário em que lideranças religiosas frequentemente reforçam exclusão, um bispo afirmar publicamente que é errado negar amor, intimidade e dignidade a pessoas LGBTQ+ não é pouca coisa. São rachaduras na muralha institucional — e rachaduras deixam entrar luz.
Para muitas pessoas LGBTQ+ católicas que vivem fé e identidade como um campo minado, declarações como a de Savino funcionam como um convite para respirar de novo.
O mundo real está avançando. A Igreja, com passos lentos e tensões internas, parece ouvir ecos desse avanço. E quando um bispo lembra que amar e ser amado é um direito, ele não apenas desafia uma doutrina. Ele alinha o altar com a realidade.
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