Zohran Mamdani: O Prefeito Que Promete Fazer de Nova York Um Refúgio LGBTQIA+
Zohran Mamdani: O Prefeito Que Promete Fazer de Nova York Um Refúgio LGBTQIA+

Por Sergio Viula
Nova York elegeu Zohran Mamdani como seu próximo prefeito — e, junto com ele, um histórico sólido de defesa dos direitos LGBTQIA+. Em tempos de retrocessos coordenados contra pessoas trans nos Estados Unidos, a vitória de Mamdani sinaliza que a maior cidade do país quer avançar, não recuar. E seu currículo até aqui mostra que essa não é promessa vazia.
Um aliado desde o primeiro dia
Mamdani, democrata, assumiu sua cadeira na Assembleia de Nova York em 2021, representando partes de Queens. O primeiro ato político de sua carreira já mostrou a que veio: ele lutou pela revogação da lei anti-loitering conhecida como “Walking While Trans” — um dispositivo historicamente usado para perseguir mulheres trans, sobretudo negras e latinas, mesmo quando não estavam envolvidas em qualquer atividade ilegal.
A medida passou, e o então governador Andrew Cuomo assinou o fim desse mecanismo policial discriminatório. Um marco real, concreto e urgente.
Na mesma sessão, Mamdani foi coautor do Gender Recognition Act, que modernizou os processos de retificação de gênero em documentos oficiais e introduziu a opção de gênero “X”. A lei foi aprovada e sancionada em 2021, garantindo dignidade e reconhecimento a milhares de pessoas trans e não binárias.
Escudo contra a perseguição conservadora
Com legislaturas conservadoras atacando cuidados de afirmação de gênero em vários estados, Mamdani apoiou o Shield Law, que impede autoridades de Nova York de cooperarem com investigações de outros estados sobre esse tipo de cuidado — desde que os procedimentos sejam legais em território nova-iorquino. A proteção também se estende ao aborto.
A mensagem é clara: em Nova York, ninguém será criminalizado por existir ou por cuidar de sua saúde.
Proposição 1: ampliando proteções constitucionais
Em 2024, Mamdani foi uma das vozes mais fortes a favor da Proposição 1, que buscava incluir na constituição estadual proteções contra discriminações envolvendo idade, deficiência, gravidez, identidade de gênero e orientação sexual.
Ele resumiu assim o problema:
“Nossa constituição protege apenas raça, credo, cor e religião — deixando idosos, pessoas com deficiência, pessoas grávidas e nossos vizinhos LGBTQIA+ para trás.”
A proposta foi aprovada pelos eleitores. Um avanço monumental — e necessário.
Um plano LGBTQIA+ para a cidade inteira
Durante a campanha de 2025, Mamdani apresentou um plano robusto para a população LGBTQIA+ caso fosse eleito prefeito:
- US$ 65 milhões para ampliar e proteger cuidados de afirmação de gênero;
- Criação do Office of LGBTQIA+ Affairs, uma estrutura permanente de políticas públicas;
- Transformar Nova York em uma cidade santuário para pessoas LGBTQIA+ ameaçadas por legislações hostis.
Em suas redes, Mamdani alertou que até instituições privadas novaiorquinas já vêm cedendo à retórica anti-trans de Trump — e afirmou que sua administração não permitirá esse retrocesso. Ele também reforçou que LGBTQIA+ nova-iorquines enfrentam níveis mais altos de desemprego, insegurança econômica e falta de moradia, áreas que sua gestão promete enfrentar de forma direta.
Memória, política e resistência
Em outubro, sua campanha lançou um vídeo evocando a história da ativista trans Sylvia Rivera, ícone da libertação queer nova-iorquina. No anúncio, Mamdani declarou:
“Trump tem usado o poder que possui para atacar aqueles com o menor poder. Nova York não ficará parada enquanto pessoas trans são atacadas.”
E prometeu mobilizar centenas de advogados para enfrentar ofensivas anti-trans em nível federal.
Enquanto parte do Partido Democrata se distancia do tema, Mamdani segue na direção oposta.
Polêmicas e conversas difíceis
O prefeito eleito também enfrentou críticas por encontros com figuras acusadas de posições anti-LGBTQ+, como a política ugandense Rebecca Kadaga e o imam Siraj Wahhaj. Mamdani disse que não teria se encontrado com Kadaga se soubesse de suas posições, e sua equipe rebateu o ex-governador Cuomo, afirmando que ele parecia mais interessado em fotos do que em propostas concretas para a comunidade LGBTQIA+.
Em outro gesto de confronto direto com seu passado, Mamdani foi à Fox News pedir desculpas por comentários de 2020 chamando o NYPD de “racista” e “anti-queer”. Disse que já havia pedido desculpas pessoalmente a muitos oficiais, mas queria fazê-lo publicamente — ao mesmo tempo em que reafirmou sua solidariedade às pessoas negras e muçulmanas vítimas de violência e vigilância policial.
Política também é alegria
Na reta final da campanha, Mamdani fez uma visita surpresa ao histórico Papi Juice, festa queer celebrada no Brooklyn. Às 1h da madrugada, falando do DJ booth, ele declarou:
“Em uma cidade onde tanta coisa é luta, é importante ter espaço para alegria.”
A frase resume o espírito do novo prefeito: políticas públicas, sim — mas também pertencimento, cultura, vida.
Por que isso importa
Em uma era marcada por retrocessos violentos contra a população LGBTQIA+ — especialmente contra pessoas trans —, a eleição de Zohran Mamdani indica que a maior metrópole do país quer liderar pelo exemplo. Seu histórico legislativo mostra consistência, coragem e compromisso.
Nova York já foi farol do movimento LGBTQIA+ no passado.
Com Mamdani no comando, pode voltar a ser — e, talvez, mais do que nunca.










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