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Por Sergio Viula Lendo e comentando o documento Fiducia Supplicans que versa sobre bênçãos para casais irregulares e casais gays. Assista ou apenas ouça como um podcast. Não vai ser uma conversa rápida. 👀 https://youtu.be/ArFz1s6PzvM ❤️🏳️‍🌈❤️

MOSES e Reversão Sexual (posts reunidos)

Clicando nesse link, você acessará textos que falam sobre o MOSES (Movimento pela Sexualidade Sadia) e "reversão sexual" aqui no bloghttp://glsgls.blogspot.com/search?q=moses


Veja também essa entrevista da revista A Capa reverberada no site do Grupo Gay da Bahia:
http://www.ggb.org.br/sergio%20viula%20entrevista.html




Assista também os seguintes videos:





Veja abaixo entrevistas e posts de outras fontes:


Grupo MGM de Juiz de Fora-MG:



“Falo que já fui pastor só se for preciso”


Data: Wednesday, October 10 @ 16:58:50 BRT


Tópico: Da redação

10.10.07 – Ele é ex-pastor da Igreja Batista e um dos fundadores do Moses (Movimento pela Sexualidade Sadia), principal grupo evangélico de “conversão” de gays no Brasil. Atualmente, Sérgio Viula, 38 anos, é homossexual assumido. Em entrevista exclusiva ao Portal Gay de Minas, ele abre o jogo e fala porque abandonou a Igreja. “Distribuíamos panfletos, com a sigla GLS na capa. Dentro, lia-se: Graça, Luz e Salvação”.
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A história de Sérgio


O professor de inglês e estudante de filosofia da UERJ, Sérgio Viula (foto), teve sua primeira experiência homossexual no início da adolescência. Desde então, as coisas aconteceram muito rápido em sua vida. “Com apenas 12 anos, conheci rapaz, com quem mantive um relacionamento secreto até os 14. Aos 16, me converti à Igreja, ou seja, abracei e me apaixonei por uma crença. Aos 18, conheci minha futura esposa e, aos 20, me casei com ela. Tornei-me missionário com 21 anos”, conta.


Sérgio recebeu treinamento especial e atuou no Nordeste, na missão evangélica internacional “Operação Mobilização”. Quando voltou, se envolveu logo no pastorado. “Estudei no Seminário Teológico Betel, onde fiz duas pós e de onde saí pastor batista. Eu era sustentado pela Igreja. Quando tinha 23 anos, o Moses nasceu”.




O Moses


Sérgio foi um dos fundadores do Moses, o Movimento pela Sexualidade Sadia, junto com João Luiz Santolin e Liane França. “O João Luiz se assumia gay convertido. Eu, por outro lado, nunca assumi minha homossexualidade naquela época”, conta.

O movimento era baseado na filosofia da Exodus Internacional, uma entidade americana que atua como “agregadora” de ONGs anti-gays de todo o mundo e tem representação no Brasil. A Exodus prega “freedom from homosexuality through the power of Jesus Christ” (“libertação da homossexualidade através do poder de Jesus Cristo”).


Os integrantes do Moses se diziam ativistas do que chamavam de “evangelização”. “Hoje, chamo aquilo de proselitismo. Mas, na época, montamos o movimento acreditando sinceramente na ‘cura’ dos gays”, conta Sérgio.

A primeira ação do Moses, na Parada Gay do Rio de Janeiro, foi noticiada até pelo jornal O Globo. Entre as ações praticadas pelo grupo, estavam a difusão de literatura anti-gay, a realização de seminários e palestras em Igrejas, atos públicos e entrevistas na mídia, geralmente em extintos programas sensacionalistas, como Ratinho e Márcia Goldschimidt. “Eu era um crente sincero. Fiz um pouco de tudo na Igreja. Era capaz de morrer por aquela causa. Vim várias vezes ao Miss Brasil Gay, em Juiz de Fora, para evangelizar. Distribuíamos panfletos, com a sigla GLS na capa. Dentro, lia-se: Graça, Luz e Salvação”, conta Sérgio. O objetivo era difundir a idéia da evangelização de gays e treinar novas lideranças para o movimento. As principais justificativas das ações do Moses eram:


- o homossexualismo é pecado, e vai contra os preceitos bíblicos de relação sexual e família;


- o homossexualismo é comportamento adquirido é pode ser abandonado;


-o homossexual tem que viver em abstinência, senão será condenado por Jesus.




No site da organização (atualmente fora do ar), era possível encontrar os “passos para quem quer deixar o comportamento sexual”, além de testemunhos de quem havia se “curado” do homossexualismo.


Sobre os gays que aderiam aos Moses, Sérgio explica que eram, em sua maioria, provenientes de famílias religiosas e tradicionalistas. “Essas pessoas vinham para o movimento com o pressuposto de vergonha e culpa, o que o Moses agravava para poder vender o perdão divino. Segundo eles, o perdão divino só chega através da fé, que por sua vez é recebida mediante uma ligação com a Igreja, e esta vai novamente pregar a culpa na pessoa. É um ciclo vicioso”, afirma ele.

Sérgio afirma que não acompanha muito o andamento do Moses atualmente. “Pelo que sei, o movimento ainda existe, mas está desarticulado”, diz.




A Farsa


Após alguns anos de atividades no Moses, Sérgio passou a se decepcionar com o movimento. “Comecei a perceber que tudo não passava de uma grande farsa quando vi que vários homens que davam seus testemunhos transavam entre si, dentro do próprio Moses. Era tudo uma grande hipocrisia. Vi que, não importava o que acontecesse, eles continuariam mentindo”, conta.

Atração


Além das desilusões com a conduta do Moses, Sérgio foi percebendo que sentia desejos muito fortes por outros homens, e que, mesmo com as atividades do movimento, a atração não passaria. “A gota d’água foi em 2000, quando fiquei com um cara, e foi maravilhoso. Percebi que estava fazendo besteira, dando murro em ponta de faca. Senti que era hora de abrir o jogo. Falei com minha mulher, me separei e abandonei o Moses e a minha profissão no Seminário”. Ele conta que a reação dos outros integrantes do movimento não foi das mais amistosas. “O pessoal do Moses queria orar comigo como se eu fosse um pecador potencial. Depois, passaram a me enxergar como um inimigo”.


Abalo Emocional


Após essa primeira decisão, Sérgio passou por um período de forte abalo emocional. “Sentia-me sozinho, em depressão”, diz. Resultado: nos dois anos seguintes, ele voltou com sua mulher e retomou suas atividades na Igreja, sem, no entanto, retornar ao Moses. “Eu estava precisando de ajuda, e os pastores queriam me restaurar. Acreditava sinceramente que Deus poderia fazer alguma coisa por mim, mas aos poucos minha fé foi passando. Tudo não passava de um grande processo emocional, de catarse. Mas aquele ‘dopping’ não duraria para sempre. Então, finalmente percebi que minha felicidade emocional não cabia mais na caixinha da Igreja”, conta.




A grande virada


Em 2002, Sérgio Viula decidiu de uma vez por todas cortar relações com a Igreja, e passou então a ser visto como um inimigo potencial o Moses. “Tinham medo que eu contasse os segredos do movimento”. Desde então, os outros integrantes da organização passaram a negar a participação de Sérgio no movimento. “Começaram a desmentir que eu tivesse participado da fundação do grupo. Mas tenho matérias e documentos que provam minha participação como fundador e como membro do Conselho de Referência do movimento”, revela.




Uma nova vida


Ao finalmente “sair do armário”, Sérgio passou a ter mais paz de espírito em sua vida. “Eu não era mais inimigo de mim mesmo, tinha mais tranqüilidade nas minhas relações interpessoais. Não tinha que defender mais nenhuma causa em que não acreditava”. Hoje, ele conta que possui um sentimento misturado. “Arrependo-me por não ter visto antes o que eu vejo hoje claramente; mas sei que não veria isso tudo se não tivesse passado por tudo que passei”.




Família

Sérgio tem dois filhos – uma menina de 15 anos e um menino de 12. “Eles sabem da minha homossexualidade. E me aceitaram sem grilos, mesmo tendo princípios cristãos”, revela. Ele diz ainda que sua saída de casa foi tranqüila. “Saí de casa sem levar nada, mas, em troca, ganhei um grande presente: minha liberdade. Dei todo o amparo necessário à minha família e à minha ex-mulher, de quem eu gostava muito: divórcio legal, pensão correta e tudo mais”, diz.


Religiosidade e Bíblia


Sérgio atualmente é ateu. Sua visão sobre religião, hoje, é bem diferente da época quando atuava no Moses. “Agora vejo que religião é um grupo social que se reúne em torno de um mito. Esse mito explica o que o homem não entende ou que não quer enxergar. Deus é esse mito, como qualquer mito olímpico, africano ou inca. Ele foi eleito rei do Universo pelo grupo que passou a dominar o mundo em uma determinada época. Essa crença é, portanto, mítica”, explica. Ele fala ainda que, como profundo conhecer do livro sagrado, sabe como poucos rebater às justificativas baseadas em preceitos bíblicos. “As pessoas que me criticam hoje não têm coragem de debater a Bíblia comigo”, afirma.

Mídia


Em 2004, Sérgio foi tema da matéria “Libertando-se do Armário”, publicada na revista Época. A entrevista foi motivada pelo projeto de lei proposto pelo então deputado carioca Édino Fonseca (PSC), que previa utilização do dinheiro do estado para o tratamento de gays que desejassem se “reverter”. Uma das principais argumentações do deputado era a atuação do Moses, que, segundo ele, provava que a tal “reversão” era possível. O projeto, é claro, foi reprovado. A entrevista completa pode ser acessada aqui.




Relacionamento


Sérgio, atualmente homossexual assumidíssimo, mantém um relacionamento estável com outro homem. “Somos comprometidos e fazemos planos para o nosso futuro”. Sobre sua sexualidade, ele conta que não sabe se, em algum momento, chegou a se considerar totalmente heterossexual. “Mas me senti próximo disso quando me casei. O que faltava na minha vida, pensei que o casamento fosse completar, o que não aconteceu. Gostava da minha mulher, transava com ela, mas depois sonhava com homens. Ou seja, também não podia me considerar bissexual”, explica.


ONGs gays


Sérgio deixa bem claro que não é militante gay, mas faz questão de se manter politicamente consciente “Não participo de nenhuma ONG, mas acho muito importante o movimento gay organizado, para defender direitos, conscientizar a sociedade sobre a diversidade e dar orientação aos jovens gays”, finaliza.


Antes e agora


Sérgio Viula acreditava sinceramente que o homossexualISMO era um pecado, um comportamento adquirido. Hoje, ele diz que enxerga a homossexualIDADE como uma das muitas possibilidades da sexualidade humana, que é flexível, e não precisa ser modificada. “Hoje, sou gay, sou feliz e tenho orgulho do que sou. Digo que sou gay de boa; falo que já fui pastor só se for preciso. Esse é o lado obscuro da minha história”. Atualmente Sérgio mantém um blog super bacana, onde aborda temas do universo gay. Vale a pena dar uma conferida. O endereço é www.glsgls.blogspot.com.
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Por Nicole Leão

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Entrevista para o site MUZA:

sábado, 24 de janeiro de 2009



Exclusivo: Entrevista com Sérgio Viula sobre "ex-gay" (Sérgio Viula é gay assumido e já foi fundador de um grupo especializado em "curar" gays)


Postado por Valmique às 17:22


O entrevistado: Sérgio Viula


Há uma semana a novela “A Favorita”, exibida pela Rede Globo, chegou ao fim. E uma de suas polêmicas na reta-final foi o personagem Orlandinho, interpretado pelo ator Iran Malfitano, que divulgou de forma, no mínimo equivocada, a figura do “ex-gay”. Tanto, que a própria emissora exibiu uma matéria em seu programa Fantástico sobre se é possível ou não existir o “ex-gay”. Clique aqui para ver a matéria.


E quando o assunto do "ex-gay" parecia “encerrado” na mídia, na úlitma semana, um cantor italiano chamou a atenção por fazer uma música sobre um ex-gay baseado em sua própria experiência.


Para elucidar a questão o MUZA BLOG traz uma entrevista exclusiva com Sérgio Viula*, um dos entrevistados na matéria exibida pelo Fantástico. Sérgio é gay assumido, vive um relacionamento estável com outro homem há aproximadamente dois anos, e é responsável pelo blog “Fora do Armário”, com voltados para assuntos gays. Entretanto, Viula também já foi pastor evangélico e um dos fundadores do Grupo MOSES (Movimento pela sexualidade sadia), também evangélico, especializado em recuperação dos gays.


Confira abaixo a entrevista na íntegra, na qual compartilha sua experiência de vida e visão de mundo, sobretudo sobre a homossexualidade e a relação homossexualidade e religiosidade. E claro, deixa sua opinião sobre o personagem Orlandinho e responde o que diria a alguém que se auto-denomina “ex-gay”:


Como foi para você, em sua vida, assumir sua homossexualidade?


Assumir minha homossexualidade foi um processo longo. Fui criado para rejeitar a orientação homossexual. Meus familiares sempre foram muito tradicionais e religiosos ao mesmo tempo. Ter vivenciado grande parte de minha vida na igreja só fez complicar as coisas. Quando finalmente decidi assumir publicamente minha homossexualidade foi doloroso. Muita gente não entendeu, rejeitou, perseguiu. Mas nenhuma dor dura pra sempre. Eu decidi manter minha decisão e seguir em frente. Alguns compreenderam e aceitaram. Outros ainda têm uma ou outra dificuldade com o assunto, mas meu relacionamento com meus pais melhorou muito nos últimos meses.


Você é evangélico e já chegou a ser pastor. Como você lidava/lida com sua homossexualidade e a religião que você segue? Considerando que a religião evangélica considera a homossexualidade um pecado.


O Fantástico cometeu um erro. Eles não deixaram claro que eu FUI evangélico e pastor. Não sou mais crente. Minha renúncia a religiosidade antecedeu minha decisão de assumir a homossexualidade. Foram duas coisas distintas, mas que aconteceram muito próximas. Muita gente confunde as coisas e pensa que gay não pode ser religioso ou que religioso não pode ser gay. Eu tenho vários amigos gays que freqüentam igrejas que os aceitam como são. Há outros que ficam enrustidos nas igrejas mais tradicionais. Eu não tenho nenhuma filiação religiosa atualmente. É preciso que fique claro: sou ateu. Poderia ser crente e gay. Fui convidado para ser pastor de uma igreja inclusiva. Mas, não tenho qualquer motivação para atuar como pastor hoje. É preciso acreditar muito sinceramente ou ser um hipócrita muito talentoso para ser pastor. Eu era daqueles que acreditavam muito sinceramente, mas a Bíblia não resiste à menor análise crítica genuinamente isenta. Só existem duas pessoas que acreditam na Bíblia: aquelas que não a conhecem bem e aquelas que fazem vista grossa para suas incontáveis contradições e doutrinas absurdas ou absolutamente incompatíveis com o bom senso (falando minimamente). À medida que ia conhecendo mais profundamente o texto bíblico, a teologia, a história da formação da Bíblia, dentre outros assuntos correlatos, ia vendo as discrepâncias. A mesma sinceridade que me levou a crer na Bíblia não pode se calar diante das evidências contra ela contidas nela mesma.


Você já participou do Grupo evangélico MOSES (Movimento pela sexualidade sadia,) especializado em recuperação dos gays. O que fez você participar do grupo? Como era o funcionamento dele?


Eu fui um dos três fundadores do MOSES, depois vieram muitos outros colaboradores, e quando o MOSES finalmente ganhou estatuto de pessoa jurídica, eu passei a fazer parte do Conselho de Referência junto com outros pastores. Entretanto, minha participação excedia o raio de ação do Conselho de Referêcia. Atuei pregando, escrevendo artigos, folhetos, organizando eventos de "evangelismo" a homossexuais (inclusive na Parada Gay do Rio), fazendo aconselhamento. Minha primeira igreja contribuía mensalmente para o sustento do MOSES. Fui o primeiro a levar um ônibus cheio de gente da minha igreja para evangelizar com a equipe do MOSES no Miss Brazil Gay de Juiz de Fora. E por aí vai.


Como você decidiu sair do Grupo MOSES? Como você avalia essa experiência hoje?


Saí por uma questão de racionalidade, honestidade e coerência. Racionalidade, porque não fazia sentido tentar modificar a orientação sexual de ninguém. Honestidade, porque eu mesmo não estava vendo modificação genuína na minha vida. O que havia era simplesmente repressão e não "reorientação" sexual. Coerência, porque depois de ver tanta gente que passou pelo MOSES permanecendo na mesma situação ou em situações mais complicadas do que antes, seria totalmente incoerente continuar afirmando o que eu acreditava e mantinha como verdade até então, ou seja, que Jesus transforma homossexuais em heterossexuais. Enquanto acreditei nisso, fui veemente. Quando percebi que não passava de um engano, fui mais veemente ainda em contrariar tudo o que havia dito até então. Não podia simplesmente sair calado e indiferente a tudo o que eu mesmo havia ajudado a construir. Eu me sentia impelido a esclacer que razões me levaram a tomar essa decisão. O que cada um fizesse daí em diante já não seria problema meu. O recado havia sido dado. Por isso, procurei a liderança do MOSES, do seminário onde lecionava, da igreja onde era membro e do jornal para o qual escrevia, e pedi desligamento. Deixei claro qual era o motivo.


Avalio essa experiência como uma iniciativa tola por parte de um jovem deslumbrado com o cristianismo e pouco prudente para avaliar o embuste no qual estava se metendo. Também credito muito disso tudo ao tipo de educação que recebi em casa e que foi reforçada na igreja católica (quando era pequeno) e na evangélica (a partir da adolescência).


O personagem Orlandinho, da novela A Favorita


O personagem Orlandinho, da novela A Favorita, na reta-final da novela foi associado a possível figura do "ex-gay". Tanto que muitos outros personagens se referiram a ele como "curado". Baseado em sua experiência no MOSES, como você percebe o personagem Orlandinho?


Eu vejo Orlandinho como mais uma estratégia da Rede Globo para criar polêmica. Fiquei enfastiado com tanta tagarelice daquelas amigas da Céu (interpretado pela atriz Deborah Secco) que ficavam o tempo todo suspirando por ele como se fosse o homem perfeito. Ninguém é perfeito: nem gay nem hétero. No final, o autor (João Emanuel Carneiro) deixou tudo na interrogação. Ninguém sabe mais se ele é gay mesmo, hétero de fato ou bissexual. Se for bissexual, isso talvez explique a atração dele pelo Haley (interpretado pelo ator Cauã Reymond) e pela Céu em diferentes momentos da novela.


Você acha que o personagem Orlandinho foi bem construído, desenvolvido? Acha que é uma boa representação da sexualidade?


Não. Acho que é caricato. Acho que é mais um personagem para fazer rir. Ele é totalmente estereotipado. Quando age como gay, faz a bichinha. Quando age com hétero, faz o machão. Ambos os extremos são meros estereótipos. Homossexuais e heterossexuais estão muito distantes de tudo isso. Pode haver um caso aqui ou outro ali que se encaixe no estereótipo, mas as pessoas, de um modo geral, continuam sendo incapazes de enxergar além do estereótipo ou mesmo através dele.


Baseado na experiência do MOSES, você acredita ser possível existir o "ex-gay"?


Ex-gay pra mim é lenda urbana. É mito. Pode haver o caso de algum bissexual muito mais tendente à heterossexualidade do que à homossexualidade que venha a ficar feliz com uma relação exclusivamente heterossexual. Se isso acontece, ele não pode dizer que é ex-gay. É apenas um bissexual que se sente muito satisfeito com alguém do outro sexo, ao ponto de não sentir falta angustiante de alguém do mesmo sexo. Agora, o homossexual de fato, ou o bissexual que tem desejo por mulher e homem em medidas semelhantes, ou que tende mais para o seu próprio gênero do que para outro, jamais ficarão satisfeitos e dificilmente serão fiéis numa relação exclusivamente heterossexual. Ex-gay é mito, repito.


Você participou de uma matéria exibida no programa Fantástico, da Rede Globo, sobre esse mesmo assunto. Na minha opinião ficou um embate antigo entre religião e ciênica, o que considerei desnecessário. Poderia inclusive ter entrevistado o autor da novela. O que você achou do resultado exibido na matéria?


O resultado me surpreendeu positivamente. Muita gente elogiou minha participação, apesar do Fantástico ter veiculado muito pouco da entrevista que foi feita. Acho que os religiosos tiveram tempo demais. Um pastor, um padre e um membro de igreja!!! Espero que um dia a televisão consiga encarar o assunto levantando uma série de aspectos, quais sejam: emocional, afetivo, biológico, cultural, histórico, social, civil, etc.


Você já foi casado e inclusive tem filhos. Como você avalia essa sua "experiência" heterossexual em relação a sua homossexualidade?


Fui casado por 14 anos e tive dois filhos. Encaro minha experiência heterossexual no casamento com relativa tranqüilidade. Por um lado, angustiava-me não poder dar curso à minha homoafetividade. Por outro lado, vejo a experiência de casar com uma mulher como fruto de um enorme condicionamento sem qualquer efeito sobre minha homoafetividade em si. Lógico que adorei ser pai. Mas muitos gays são pais sem terem casado com uma mulher. Outros são pais, casados com mulher, e enrustidos pelo resto da vida. Quando percebi que, apesar do meu relacionamento com minha ex-mulher, continuava angustiado por desejar uma relação homoafetiva, decidi dar a ela uma chance de refazer a vida ainda jovem e a mim, idem. Foi doloroso, mas foi muito melhor. Meus filhos são preciosos. Entendem tudo o que aconteceu. Compreendem meu estilo de vida atual, finalmente adequado à minha homoafetividade. Eu amo os dois (filhos) intensamente e sinto a mesma coisa da parte deles.


O que você diria para alguém que lhe dissese "eu sou ex-gay" ou "eu não quero mais ser gay"?


Se me dissesse "eu sou ex-gay", eu poderia dizer (não necessariamente diria) que eu também já disse a mesma coisa um dia. Se a pessoa me dissesse "eu não quero mais ser gay", eu perguntaria "por quê?" e a partir das respostas procuraria avaliar o que a leva a se auto-rejeitar. Se a resposta fosse pressão social, medo da rejeição familiar, crenças religiosas, ou coisas parecidas, eu faria o possível para demonstrar que estas coisas não precisam ser encaradas assim. Há outras vias. O pensamento viciado em pensar a partir do preconceito pode ser reestruturado, tornando-se capaz de pensar a partir da liberdade e da responsabilidade pelo próprio destino.
 
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LANNA HOLDER (famosa missionária)
(Não fez parte do Moses, mas esposava ideias semelhantes. Veja o que aconteceu com ela)



Mais um capítulo da ficção evangélica conhecida como "ex-gays"


Os evangélicos demonstram um estranho fascínio sobre casos de "ex-homossexuais". Que fique claro que o prefixo "ex" aí não passa de uma ficção. Pessoas consagradíssimas pelas igrejas e pastores evangélicos querendo ser "provas vivas" de que a homossexualidade pode ser revertida acabam demonstrando o contrário, ou seja, que a homossexualidade é tão irreversível quanto a heterossexualidade. E por quê deveria ser diferente? Ambas são manifestações da afetividade humana com o mesmo status de legitimidade, apenas com objetos de desejo diferentes. Mas, não esqueçamos da bissexualidade - essa fascinante possibilidade de amar sem fronteiras... ;)



Entretanto, a questão dos propalados "ex-gays" persiste. Este mês, uma revista evangélica chamada Eclésia publicou uma entrevista com Lanna Holder, uma pernambucana que dizia ter sido "libertada do homossexualismo" (termo que os crentes continuam usando, apesar de equivocado). Ela fez muito sucesso como pregadora em igrejas lotadas e com gente apresentando todo o tipo de manifestações supostamente espirituais durante suas pregações. Pois bem, depois de muito tempo na igreja, "liberta" (segundo ela mesma), pregando (agenda cheia), casada com outro crente, mãe de um menino, a tal missionária Lanna Holder envolveu-se com outra mulher. Esta também era da igreja, casada e exercendo um ministério.


Foi um escândalo para a igreja e pastores. Ela deixou de ministrar, foi lançada no esquecimento, e separou-se. Depois de um tempo vivendo longe dos púlpitos, sem projeção, problemas financeiros acumulados pela suspensão das ofertas (como ela mesma diz na entrevista), etc. etc. etc., Lanna Holder decidiu voltar para a igreja e "servir ao Senhor". Já está pregando de novo.


Na entrevista, não vi traços daquele triunfalismo barato que caracterizava a pregadora antes. Parece que os "hematomas" emocionais causados pela "queda" ainda estão bastante doloridos. No entanto, ela demonstra ainda acreditar na possibilidade de transformação de homossexuais em ex-gays mediante a pregação da Bíblia. Pior, ela sempre cita a homossexualidade associada ao adultério, prostituição e vícios. Contudo, não afirmou em nenhum momento que é "ex-homossexual" como fazia antes...


Não é difícil entender por quê ela voltou para a igreja depois de ir tão longe: sentimentos de culpa, medo, saudosismo, necessidade de segurança financeira, entre outros.


A matéria da Eclésia não me impressionou de modo algum. O que encontrei foi o que já conhecia: "ex-gays" são pura lenda urbana. O que me admira é que, a despeito de todas as evidências contra esse mito do "ex-gay", os crentes continuem aglomerando-se em torno dos que pregam tal coisa. Agora, a pergunta que não quer calar: Se são heterossexuais, por quê se interessar por esse assunto? Se são gays, por que perder tempo com isso, já que não passa de falácia? Um coisa eu garanto: lagarta que virou borboleta, morre borboleta, nunca volta a ser lagarta... kkkk E é bom que fique claro que não estou dizendo que alguém "vire gay". Lagartas são borboletas em estado embrionário. De uma lagarta nunca sairá uma ameba, por exemplo. Quando o indivíduo é gay, é só uma questão de tempo até que ele alce vôo... ;)


(Meu comentário refere-se à edição de Eclésia - Ano 12 - Edição 130 - Janeiro/2009)

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