Os evangélicos demonstram um estranho fascínio sobre casos de "ex-homossexuais". Que fique claro que o prefixo "ex" aí não passa de uma ficção. Pessoas consagradíssimas pelas igrejas e pastores evangélicos querendo ser "provas vivas" de que a homossexualidade pode ser revertida acabam demonstrando o contrário, ou seja, que a homossexualidade é tão irreversível quanto a heterossexualidade. E por quê deveria ser diferente? Ambas são manifestações da afetividade humana com o mesmo status de legitimidade, apenas com objetos de desejo diferentes. Mas, não esqueçamos da bissexualidade - essa fascinante possibilidade de amar sem fronteiras... ;)
Entretanto, a questão dos propalados "ex-gays" persiste. Este mês, uma revista evangélica chamada Eclésia publicou uma entrevista com Lanna Holder, uma pernambucana que dizia ter sido "libertada do homossexualismo" (termo que os crentes continuam usando, apesar de equivocado). Ela fez muito sucesso como pregadora em igrejas lotadas e com gente apresentando todo o tipo de manifestações supostamente espirituais durante suas pregações. Pois bem, depois de muito tempo na igreja, "liberta" (segundo ela mesma), pregando (agenda cheia), casada com outro crente, mãe de um menino, a tal missionária Lanna Holder envolveu-se com outra mulher. Esta também era da igreja, casada e exercendo um ministério.
Foi um escândalo para a igreja e pastores. Ela deixou de ministrar, foi lançada no esquecimento, e separou-se. Depois de um tempo vivendo longe dos púlpitos, sem projeção, problemas financeiros acumulados pela suspensão das ofertas (como ela mesma diz na entrevista), etc. etc. etc., Lanna Holder decidiu voltar para a igreja e "servir ao Senhor". Já está pregando de novo.
Na entrevista, não vi traços daquele triunfalismo barato que caracterizava a pregadora antes. Parece que os "hematomas" emocionais causados pela "queda" ainda estão bastante doloridos. No entanto, ela demonstra ainda acreditar na possibilidade de transformação de homossexuais em ex-gays mediante a pregação da Bíblia. Pior, ela sempre cita a homossexualidade associada ao adultério, prostituição e vícios. Contudo, não afirmou em nenhum momento que é "ex-homossexual" como fazia antes...
Não é difícil entender por quê ela voltou para a igreja depois de ir tão longe: sentimentos de culpa, medo, saudosismo, necessidade de segurança financeira, entre outros.
A matéria da Eclésia não me impressionou de modo algum. O que encontrei foi o que já conhecia: "ex-gays" são pura lenda urbana. O que me admira é que, a despeito de todas as evidências contra esse mito do "ex-gay", os crentes continuem aglomerando-se em torno dos que pregam tal coisa. Agora, a pergunta que não quer calar: Se são heterossexuais, por quê se interessar por esse assunto? Se são gays, por que perder tempo com isso, já que não passa de falácia? Um coisa eu garanto: lagarta que virou borboleta, morre borboleta, nunca volta a ser lagarta... kkkk E é bom que fique claro que não estou dizendo que alguém "vire gay". Lagartas são borboletas em estado embrionário. De uma lagarta nunca sairá uma ameba, por exemplo. Quando o indivíduo é gay, é só uma questão de tempo até que ele alce vôo... ;)
(Meu comentário refere-se à edição de Eclésia - Ano 12 - Edição 130 - Janeiro/2009)