Sem-teto: Invasores brasileiros oferecem abrigo contra violência anti-gay

Da Agência Reuters via PVDA
Tradução Sergio Viula

Reuters: http://www.reuters.com/article/us-brazil-lgbt-idUSKBN13X2EC

PVDA: http://www.vallartadaily.com/living/lgbt/brazilian-squatters-offer-shelter-anti-gay-violence/

Invasores brasileiros oferecem abrigo contra violência anti-gay

Uma bandeira gay multi-colorida pendurada num canto de uma sala vazia num prédio em estilo art deco de São Paulo que já foi sede da agência de seguro social do Brasil.



A comunidade lésbica, gay, bissexual e transgênero (LGBT), que foi convidada a morar no prédio que o movimento dos sem-teto ocupou, passam seu tempo num edifício em São Paulo, Brasil. [OBS: A notícia é de 03 de novembro de 2016 e foi publicada pela agência Reuters.]

A sala tornou-se o lar de diversos membros da comunidade de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros que procuram refúgio contra a discriminação e crimes de ódio contra as pessoas LGBT.

Eles foram convidados a se juntarem aos 300 ocupantes que estão vivendo no prédio há vários meses numa ocupação organizada pelo movimento Frente Luta pela Moradia (FLM), um grupo ativista que promove os direitos de algo em torno de 400 mil pessoas sem moradia decente em São Paulo.

“A ocupação é um espaço onde podemos nos sentir seguros", disse Rodrigo um homem gay alto e de cabeça raspada que acaricia a barba negra enquanto fala. “No movimento LGBT, só queremos viver nossas vidas e isso significa não termos que ter medo de quem anda atrás de nós.”

O Brasil tem um dos índices mais altos de crimes de ódio contra LGBT, apesar da reputação de tolerância sexual. O país reconheceu o casamento igualitário em 2013 e hospeda um dos maiores festivais do orgulho gay do mundo.

Grupos de direitos humanos, incluindo a Anistia Internacional, dizem que a violência homofóbica no Brasil é endêmica, onde 326 assassinatos contra a comunidade foram executados em 2014.

Alguns pastores evangélicos, que estão se tornando cada vez mais populares no Brasil, têm adotado uma retórica predominantemente homofóbica.

Luciana Jesus Silva, uma mulher bissexual e organizadora da ocupação, pediu ao FLM para oferecer espaço às pessoas LGBT quando ela soube que um de seus amigos gays tinha sido hospitalizado depois de sofrer um ataque motivado por ódio e ser expulso de casa pela própria mãe, que dizia que ele era obra do diabo.

“Nós que somos os mais marginalizados e reprimidos pela sociedade temos que nos unir", disse Silva, 45, mãe de quatro filhos.

Mais de duas dúzias de pessoas se juntaram à ocupação, e muitas outras ainda poderão vir.

A ocupação de vários prédios na área central de São Paulo já dura meses por causa de uma lei brasileira que dificulta o despejo de ocupantes. A Frente pela Luta por Moradia oferece às famílias uma alternativa às favelas dominadas pela violência que grassa nas metrópoles.

Rodrigo descansa sobre um colchão com Wam, 24, e Teflon, 19, cujos turbantes coloridos e roupas alegremente estampadas contrastam com monótono apartamento abandonado.

Eles improvisaram um palco para desfile de modas. Ele faz uma pose, com seus braços languidamente esticados como as asas de uma garça, tendo as pernas cruzadas. Maquiagem e roupas são um ato de provocação para algumas pessoas LGBT.

Jorge, 31, ensina desenho para crianças num apartamento vago. Gaby, 18, faz o jantar numa enorme panela comunitária a partir da qual os moradores são servidos. Com móveis escassos no apartamento, alguns comem de pé ou sentados no chão.

À noite, Rodrigo e seus amigos vão para o Largo do Arouche no centro de São Paulo, um ponto de encontro para a comunidade LGBT.

Gaby aplica maquiagem num quarto com pouca luz antes de sair. Rodrigo, Teflon e Fernando colocam salto alto e roupões esvoaçantes. A aparência deles faz cabeças girarem nas ruas manchadas por graffiti.

A pequena praça, marcada por um poste de luz adornado com uma bandeira do orgulho gay, é um lugar para se fazer amigos, compartilhar experiências e discutir direitos gays.

“Não é minha culpa se eu tenho que viver numa sociedade com coração e mente vazios", lamenta Fernanda, uma mulher trans negra de 20 anos de idade.

Ela diz que sua aparência torna o emprego algo praticamente impossível.

“É mais difícil ser trans do que ser gay porque se você é gay, você ainda pode manter uma aparência masculina", diz ela. Minha aparência é minha própria criação.”

(A reportagem foi feita por Nacho Doce; escrita por por Daniel Flynn; editada por Jim Finkle para a agência Reteurs)


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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO

O caso publicado pela Reuters diz respeito a São Paulo, mas a realidade da pobreza LGBT provocada ou agravada por discriminação e perseguição é endêmica no país. O Rio de Janeiro já tem números preliminares sobre LGBT e pobreza no Estado.

SAIBA MAIS SOBRE LGBT E POBREZA NO RIO JANEIRO: https://www.micro-rainbow.org/wp-content/uploads/20141204-report-port.pdf

Esse relatório foi produzido pela organização internacional Micro Rainbow em parceria com o órgão governamental Rio sem Homofobia.

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