Transgeneridade: Leticia Lanz critica a decisão da OMS

Apresentando Letícia Lanz (contracapa do livro O CORPO DA ROUPA)


Via Letícia Lanz pelo Facebook
https://www.facebook.com/leticialanz
(19/06/19 - um dia depois do anúncio da OMS)



Antes de sair por aí comemorando, o gueto transgênero deveria se debruçar sobre essa proposta de “desinclusão” das transidentidades do rol de doenças mentais do CID (classificação internacional de doenças). A rigor, não está havendo nenhuma despatologização como, também a rigor, a nova classificação até piora a concepção que se tem da condição transgênera.

A introdução, na nova lista de patologias da Organização Mundial de Saúde, dessa coisa obtusa e monstruosa chamada “incongruência de gênero” está deixando eufóricos entidades e pessoas “fundamentalistas de gênero”, que defendem o binarismo de gênero, isto é, o “essencialismo” n “congruência” absoluta que deve existir entre os corpos biológicos do macho e da fêmea à atribuição de gênero, respectivamente de homem e mulher, dada aos pela sociedade a cada indivíduo ao nascer.

Mas, para nós que acreditamos na falta de sentido do binarismo de gênero homem/mulher e até mesmo na desnecessidade de gênero no mundo contemporâneo, trata-se de uma derrota terrível.

Espertamente, os “especialistas” conservadores e retrógrados da OMS simplesmente deslocaram de seção as manifestações de transgeneridade. Atualmente elas são classificadas no F-64 do CID-10 (transexualismo, travestismo, travestismo fetichista, etc). Na lista do CID-11 elas vão para uma nova seção criada pelos experts, chamada de qualquer coisa como “doenças relacionadas à sexualidade”.

Ou seja, se até aqui as transidentidades são consideradas doenças mentais, a partir de agora elas passam a ser consideradas doenças “sexuais” (sexualmente transmissíveis? Kkkk!). Se o corpo físico, especialmente a genitália de macho ou de fêmea, “não combina” com o gênero preceituado pela sociedade, o indivíduo é doente e necessita de tratamento, especialmente de cirurgia de reaparelhamento genital.

Basta pensar um pouquinho para ver que a desgraça não somente é a mesma como é até pior. Ao reforçar esse binarismo de gênero que representa a tal “congruência”, a OMS se alinha ao que há de mais obscurantista e reacionário em termos de gênero. Começando pelo papa chico “brególio”, que diz que família é homem (genético, claro), mulher (genética, claro) e filhos, e terminando com os “biblidiotas” que até espumam para dizer que Deus já nos fez “homem” e mulher.

Basta pensar um pouquinho e ver que a OMS, em vez de revogar o caráter patológico da transgeneridade, reforça, ratifica e dá fôlego ao discurso fundamentalista da “escola sem partido” e da famigerada “ideologia de gênero”.

Finalmente, se quisesse “consertar” as coisas, dentro dos limites impostos pelo mundo antiprogressista e conservador em que estamos vivendo, que então criasse um capítulo relacionado a gênero, em vez de enfiar as árduas questões de gênero dentro de uma seção que trata de doenças e disfunções relacionadas ao sexo.

Definitivamente, a transgeneridade não é nem doença nem disfunção sexual. (Letícia Lanz)


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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO

Recomendo muito o livro de Letícia Lanz, O Corpo da Roupa.
https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-827981469-livro-o-corpo-da-roupa-leticia-lanz-2-edico-original-_JM



Sobre essa tentativa de censura que é o "escola sem partido", veja essa decisão da justiça do Paraná que bloqueou o avanço desse arremedo em Curitiba:


Gazeta do Povo: Liminar inédita no país suspende o Escola Sem Partido em Curitiba
https://www.xn--foradoarmrio-kbb.com/2018/06/gazeta-do-povo-liminar-inedita-no-pais.html

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