Jordhan Lessa: Após 07 de outubro 2018
Jordhan Lessa - foto de vídeo no FB
*Após 07 de outubro 2018*
(Eleição que colocou Bolsonaro na presidência do país)
Hoje pela manhã fui pra rua, senti o ar pesado, vi sorrisos amarelos, saudações de bom dia entre os dentes, daquelas que não são verdadeiras e escondem ou tentam esconder, algo que está muito errado.
De repente minhas pernas pareciam não me obedecer, estavam pesadas como se tentassem impedir meu caminhar. Parei, respirei e tentei entender o que sentia.
Percebi meu corpo curvado pelo peso de um passado que voltou vivo com todas as suas dores.
Depois de ontem minhas cicatrizes foram abertas, sangra a minha alma e me sinto refém outra vez.
Incrível como o passado nunca passa quando está impresso na carne e na mente...
Me vi de novo dormindo no banco das praças Serzedelo Correia, 1° de Maio e Cinelândia.
Senti o pavor de não ser mais livre e estar encarcerado, sem delitos.
Lágrimas brotaram quando a mente trouxe de volta a sensação do corpo esvaindo e eu indo embora naquela maca onde tomei choques.
Lembrei do meu corpo vulnerável da mesma forma que esteve nos meus 16 anos e que agora a violência que sofri será justificada em nome de... passaram 34 anos e tudo ainda é muito igual.
Me senti sozinho e jogado na sarjeta, da mesma forma que senti quando deixei de ter família.
Me dói, tudo dói e a dor é, por vezes, maior do que acho que posso suportar.
Jamais pensei reviver essas dores...
E agora, o que fazer?
Já doeu e não sucumbi, está doendo e não sei se aguento de novo, mas se não aguentar estarei dando a eles o gostinho de não me verem mais por aí e se isso acontecer, me pergunto de que serviu lutar tanto até aqui?
Minhas pernas continuam pesadas e meu caminhar se tornou lento, mas vai passar, por que mesmo devagar é preciso continuar.
Sou de luta, não sei ser diferente, sobrevivi até aqui e não vou deixar que me tirem os dias que me restam!
É isso, precisamos nos unir, mas unir de verdade, nos respeitando e entendendo que somos todos diferentes e são nossas diferenças que nos tornam tão iguais.
Chega de "fogo amigo" está na hora de crescermos e entender que nunca foi fácil, mas juntos é possível!
Não sei como será após o dia 07 de outubro e nem quando o ano acabar, mas sei que nossas vidas importam e precisamos cuidar de nós, nunca foi fácil e antes de nós muitos outros sentiram esse mesmo medo, mas não desistiram para nos permitir estarmos aqui e em nome dessas pessoas temos que continuar para que os que estão por vir não precisem sentir mais esse medo de não chegar ao fim do dia.
VAMOS EM FRENTE!!!
*Por Jordhan Lessa*
Homem trans, 51 anos, ativista e sobrevivente
Hoje pela manhã fui pra rua, senti o ar pesado, vi sorrisos amarelos, saudações de bom dia entre os dentes, daquelas que não são verdadeiras e escondem ou tentam esconder, algo que está muito errado.
De repente minhas pernas pareciam não me obedecer, estavam pesadas como se tentassem impedir meu caminhar. Parei, respirei e tentei entender o que sentia.
Percebi meu corpo curvado pelo peso de um passado que voltou vivo com todas as suas dores.
Depois de ontem minhas cicatrizes foram abertas, sangra a minha alma e me sinto refém outra vez.
Incrível como o passado nunca passa quando está impresso na carne e na mente...
Me vi de novo dormindo no banco das praças Serzedelo Correia, 1° de Maio e Cinelândia.
Senti o pavor de não ser mais livre e estar encarcerado, sem delitos.
Lágrimas brotaram quando a mente trouxe de volta a sensação do corpo esvaindo e eu indo embora naquela maca onde tomei choques.
Lembrei do meu corpo vulnerável da mesma forma que esteve nos meus 16 anos e que agora a violência que sofri será justificada em nome de... passaram 34 anos e tudo ainda é muito igual.
Me senti sozinho e jogado na sarjeta, da mesma forma que senti quando deixei de ter família.
Me dói, tudo dói e a dor é, por vezes, maior do que acho que posso suportar.
Jamais pensei reviver essas dores...
E agora, o que fazer?
Já doeu e não sucumbi, está doendo e não sei se aguento de novo, mas se não aguentar estarei dando a eles o gostinho de não me verem mais por aí e se isso acontecer, me pergunto de que serviu lutar tanto até aqui?
Minhas pernas continuam pesadas e meu caminhar se tornou lento, mas vai passar, por que mesmo devagar é preciso continuar.
Sou de luta, não sei ser diferente, sobrevivi até aqui e não vou deixar que me tirem os dias que me restam!
É isso, precisamos nos unir, mas unir de verdade, nos respeitando e entendendo que somos todos diferentes e são nossas diferenças que nos tornam tão iguais.
Chega de "fogo amigo" está na hora de crescermos e entender que nunca foi fácil, mas juntos é possível!
Não sei como será após o dia 07 de outubro e nem quando o ano acabar, mas sei que nossas vidas importam e precisamos cuidar de nós, nunca foi fácil e antes de nós muitos outros sentiram esse mesmo medo, mas não desistiram para nos permitir estarmos aqui e em nome dessas pessoas temos que continuar para que os que estão por vir não precisem sentir mais esse medo de não chegar ao fim do dia.
VAMOS EM FRENTE!!!
*Por Jordhan Lessa*
Homem trans, 51 anos, ativista e sobrevivente
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