A latifundiária lésbica que buscou uma esposa no século 19

Suranne Jones atuando como Anne Lister em "Gentleman Jack." (foto: Matt Squire)

A latifundiária lésbica que buscou uma esposa no século 19

Uma nova série da HBO, a ser inagurada hoje (22/04/19), explora a notável história de Anne Lister, baseada em seus extensos diários íntimos.

Com informações por Brigit Katz
para o SMITHSONIAN.COM em 19 de abri de 2019
Traduzido e adaptado por Sergio Viula
Fonte: https://www.smithsonianmag.com/arts-culture/19th-century-lesbian-landowner-who-set-out-find-wife-180971995/



Em 10 de fevereiro, duas mulheres de West Yorkshire, England, renderam-se a um pudim de ameixas para celebrarem seu primeiro aniversário de casamento secreto. Um ano antes, Anne Lister e Ann Walker decidiram morar juntas, trocando alianças e tomando a comunhão numa paróquia próxima. A união delas não era legalmente reconhecida, mas elas se consideravam plenamente casadas. E naquele dia em 1835, Lister escreveu em seu diário, como geralmente fazia: "Que possamos viver muitos outros aniversários como esse!"

Agora, 200 anos depois, Lister é o tema de “Gentleman Jack,” uma nova série que estréia hoje, 22 de abril de 2019 na HBO e na BBC. Escrita e co-dirigida por Sally Wainwright, a série “Gentleman Jack” retrata a vida de Lister e o mundo em que ela vivia no auge da Revolução Industrial.

Veja na HBO:  https://www.hbo.com/gentleman-jack

Lister começou a escrever seus diários em 1806. Ela preencheu milhares de páginas com milhões de palavras, cerca de 1/6 delas codificadas em símbolos e letras combinados que descreviam seus relacionamentos com mulheres. Graças a eruditos modernos, que se dedicaram a decifrar esses códigos, Lister emergiu de seus diários com uma mulher notavelmente confiante e exuberante que se recusava a se submeter às normas que regiam o comportamento de jovens donzelas ricas. Ela contrariou códigos de vestimentas "femininas", administrou suas propriedades e abriu caminho para dentro da indústria de carvão - campo de negócio dominado por "machos". Lister foi uma extraordinária dama de aço que só amava mulheres.

Um retrato de Anne Lister por Joshua Horner

Cerca do ano 1830 (Wikicommons, domínio público)

Contudo, Lister não estava imune às confusões e dificuldades que advinham de ser uma mulher lésbica no início do século 19 - um tempo em que a noção de relacionamentos afetivo-sexuais entre mulheres era tão marginal que não chegava a constar na legislação que proibia a homossexualidade. Lister se referia a sua lesbiandade como sua "esquisitice", e tomou cuidado para encobrir seus registros sobre sua sexualidade em seus diários através de códigos. Nada obstante, Lister foi objeto de fofoca em seus círculos sociais, e alvo de assédio nas ruas. "Um homem a seguiu até o banco e tentou colocar sua mãos sob sua saia para descobrir se ela era um homem ou uma mulher", diz Whitbread, a autora e co-diretora da série, "mas ela se virou para ele e ergueu seu guarda-chuva".

Lister sabia que não podia se casar com um homem, mesmo que isso lhe custasse sua reputação. Então, ela fez as pazes com sua verdadeira natureza. "Ela acreditava que tinha sido feita à imagem de Deus e que era daquele jeito porque aquilo era inato dentro dela", explica a pesquisadora Anne Choma, consultora líder para a série “Gentleman Jack” e autora de Gentleman Jack: The Real Anne Lister, um livro que dá suporte à série. “Ela costumava orar e agradecer a Deus por ser quem ela era.” (Livro: https://www.penguinrandomhouse.ca/books/610435/gentleman-jack-movie-tie-in-by-anne-choma-foreword-by-sally-wainwright/9780143134565)

Sua propriedade, Shibden Hall, ainda existe hoje e é administrada pelo Conselho de Calderdale. A série foi filmada lá - no mesmo solo em qeu Lister trabalhou, amou e escreveu em seus diários.

Mais aqui: https://museums.calderdale.gov.uk/visit/shibden-hall