ONU: Brasil acompanha países islâmicos em votação contra direitos das mulheres e direitos LGBT

Dois jovens homossexuais enforcados em praça pública no Irã. 
O pretexto usado por esses canalhas para tamanha violação dos
direitos básicos dos seres humanos pode ser encontrada nessa postagem 
da International Society for Human Rights (ISHR) [em inglês]: 

http://www.ishr.org/countries/islamic-republic-of-iran/homophobia/homosexuality-in-iranian-criminal-law/


Por Sergio Viula

Há pouco menos de dois meses, o Irã afirmou ter o direito de executar homossexuais em público por "valores morais".

Não é difícil perceber quão esdrúxula é a ideia de que valores cuja moralidade é absolutamente questionável estejam acima da vida humana, inclusive de gente honesta e trabalhadora e que só quer viver sua própria vida em paz.

Esse tipo de ideia é a própria base dos sistemas autoritários, que não hesitam em violar os mais básicos direitos humanos em nome de tradições que só se mantém hegemônicas por força da lei e da espada.

Quem disse tal disparate sobre "valores morais" como justificativa para execuções de cunho homofóbico foi o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, com a pretensão de naturalizar o enforcamento de homossexuais em praça pública naquele país.

Adulador de Trump, presidente dos EUA, Bolsonaro não economiza demonstrações públicas de oposição ao Irã. Uma das mais escandalosas foi ter criado prolongado a permanência de navios no porto de Parananguá por impedir seu abastecimento [de combustível] no final de julho deste ano.

Fonte: https://oglobo.globo.com/mundo/navio-iraniano-deixa-porto-de-paranagua-apos-impasse-com-petrobras-23839678   

Contudo, a demagogia interesseira para com o presidente de tom alaranjado, Donald Trump, não inclui qualquer pronunciamento contra as graves violações perpetradas contra os direitos humanos de pessoas homossexuais no Irã, principalmente de homens gays.

E não é porque isso poderia incomodar seu 'patrão' yankee. Pelo contrário, os EUA, seja por mero estratagema político ou por genuínas convicções sobre os direitos desses homossexuais iranianos, já se manifestaram contra a homofobia estatal daquele país - o que significa que Bolsonaro poderia ter aproveitado a carona e se manifestado contra tais crueldades também, mas não foi isso que ele fez. Bolsonaro nunca criticou o Irã, seu desafeto de ocasião, por causa desses crimes contra a humanidade.

Fonte: https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2019/02/20/interna_internacional,1032236/eua-planejam-campanha-para-denunciar-abusos-contra-gays-no-ira.shtml  

Em 2008, uma postagem da WikiLeaks britânica revelou que o regime dos mulás (doutores em religião islâmica) do Irã havia executado “entre 4.000 e 6.000 gays e lésbicas” desde a Revolução Islâmica de 1979 - tempo suficientemente longo para que as lideranças mundiais já tivessem feito alguma coisa a respeito.

Atualmente, não existem quaisquer desculpas aceitáveis para que qualquer país signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos se cale sobre isso.

Em 2016, o Jerusalem Post reportou o que seria a primeira execução de um adolescente gay [confirmada] dentro do Irã. É muito provável que outras mortes tenham acontecido antes, ainda que não protocoladas como foi o caso dessa'.

O adolescente era Hassan Afshar, de 19 anos. Ele foi enforcado na prisão de Arak, na Província de Markazi, no Irã, em 18 de julho de 2016, depois de ter sido condenado pelo crime de ter praticado “sexo anal forçado entre homens e homens” no início de 2015.

Condenações desse tipo são geralmente obtidas por meio de tortura. O parceiro alega ter sido forçado para não ser morto e o outro vai para a forca por ter praticado sexo com outro homem com ares de estupro - o que geralmente é falso.

Em 2011, o regime iraniano executou três cidadãos do sexo masculino depois de declará-los culpados do que eles consideram crimes relacionados à homossexualidade.

É imprescindível que se diga que, no Irã, crianças de até nove anos podem ser sentenciadas à morte, enquanto adolescentes gays são enforcados publicamente com o fim de aterrorizar e intimidar outras pessoas. O que a organização terrorista Estado Islâmico faz à margem da lei, o Irã, que é uma república teocrática islâmica, faz amparado por leis estabelecidas para 'legitimar' práticas indefensáveis contra a vida de seus cidadãos por parte do próprio Estado que deveria protegê-los.

Não bastasse o silêncio de Bolsonaro, apesar do barulho de Trump contra essas execuções, o Brasil também está agindo proativamente contra os direitos de mulheres e de LGBT desde sua posse como presidente. Isso se revela principalmente pelo fato de que o Brasil de Bolsonaro tem acompanhado esses mesmos países islâmicos tanto quanto a Rússia em várias votações sobre direitos sexuais e das mulheres na ONU, sempre para subtrair liberdades.

Fonte: https://oglobo.globo.com/mundo/brasil-acompanha-paises-islamicos-em-votacoes-sobre-direitos-das-mulheres-sexuais-na-onu-23800730   

Felizmente, todas essas propostas anti-direitos-humanos foram derrubadas pela maioria dos 47 países membros do Conselho.

Entretanto, é importante que se diga que a omissão em condenar violações aos direitos humanos em países como Irã, Síria e Sudão não é novidade. Os governos Lula, Dilma e Temer também se abstiveram da nobre tarefa de se posicionar contra essas agressões. Porém, só o governo Bolsonaro tem agido proativamente para facilitar a manutenção e/ou ampliação dessas violências. Quando não, o atual governo age para enfraquecê-las.

Outra violadora contumaz dos direitos humanos, especialmente das mulheres e de pessoas LGBT, a Arábia Saudita tem se tornado a nova 'namoradinha' de Bolsonaro, que tem se aproximado calorosamente desses ditadores teocratas.


Bolsonaro se encontra com príncipe da Arábia Saudita durante o G-20 em Osaka, Japão. 
O princípe saudita é suspeito em investigação de assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, 
cometido em outubro do ano passado na embaixada da Arábia Saudita em Istambul.



Eleições na ONU

O Brasil concorrerá a reeleição para essa cadeira no Conselho de Direitos Humanos da ONU em outubro deste ano. Em sua candidatura o governo Bolsonaro retirou menções à desigualdade, LGBTs, tortura e gênero, ao passo que citou nove vezes a “promoção da família”.


Falando sobre as propostas do Brasil no Conselho de Direitos Humanos da ONU, Bolsonaro disse que o país vai lutar para abolir a chamada “ideologia de gênero”. O político defendeu os termos ‘pai’ e ‘mãe’ e completou, “todo o mundo nasceu do homem e da mulher”.

“Nossa bandeira lá será, logicamente, voltada para a família e (a de) abortar de vez a questão da ideologia de gênero”, salientou em transmissão ao vivo nas redes sociais.

A pressão da bancada evangélica é citada como decisiva para a postura ultraconservadora.

É preciso levar a sério a ameaça que essas bancadas religiosas representam para a manutenção e consolidação da laicidade do Estado e a efetivação dos direitos fundamentais da pessoa humana.

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