Tunísia: Um inferno para muçulmanos gays

Por Sergio Viula


A Tunísia é um país africano, situado entre a Argélia e a Líbia. Ocupando um lugar de destaque no comércio com a Europa e com o Oriente Médio, a tradição comercial desse povo perfaz algo em torno de três mil anos. 

Apesar de ser um país mais liberal do que outros países muçulmanos, pelo menos sob alguns aspectos, a Tunísia é um verdadeiro inferno para pessoas homossexuais.




Sua capital, a cidade de Tunis, foi conquistada pelos árabes no século VII, tendo sido parcialmente controlada pela França de 1881 até 1956, período em que foi considerada um protetorado da francês, mas sem relação de dependência direta. Nas últimas quase três décadas, porém, a Tunísia experimentou grande desenvolvimento econômico.

Considerada mais liberal que outros países muçulmanos, a Tunísia ainda pune homossexuais com até três anos de cadeia. Por isso, cidadãos homossexuais se sentem obrigados a esconder sua sexualidade da família e dos amigos heterossexuais, apenas se assumindo francamente em seus círculos de amigos homossexuais.

Antes da Revolução Tunisiana (2010-2011), falar sobre homossexualidade no país era impensável. Hoje, a organização LGBT Shams está lutando para derrubar o artigo 230 do código penal, que data de 1913. Esse artigo determina que os homossexuais sejam presos por até três anos apenas por serem gays. Segundo os ativistas de Direitos Humanos, essa lei é inconstitucional e contraria as convenções sobre Diretos Humanos assinados pela Tunísia.

Apesar de toda a intolerância ainda existente, o aumento da discussão sobre os direitos LGBT naquele país já é considerado um grande passo para a mudança almejada pela comunidade sexodiversa tunisiana.

Porém, no ano de 2018, o governo tunisiano desferiu um dos  golpes mais baixos contra os homens gays tunisianos. Ele determinou que esses indivíduos fossem submetidos a  "exame anal". Se "confirmada" sua homossexualidade, eles eram presos. 

Tal violação de toda a noção de Direitos Humanos não ficou sem resposta. Além de toda a pressão internacional contra essa forma de tortura, já no ano seguinte (2019), Munir Baatur, o primeiro presidenciável abertamente gay e defensor dos direitos LGBT+ no mundo árabe, se candidatou ao mais alto posto do poder Executivo no país. A mera candidatura dele já é uma vitória para a visibilidade LGBT e para a colocação de suas demandas perante a sociedade tunisiana.

Saiba mais sobre Munir Baatur e sua candidatura aqui: 
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/07/22/internacional/1563832483_210214.html


África do Sul

Enquanto a Tunísia ainda se debate em torno de temas relacionados à inclusão de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros, a África do Sul, país meridional do mesmo continente, é reconhecido por sua tradição de inclusão desde a eleição de Mandela e da promulgação de sua Constituição em decorrência de sua independência do Reino Unido. A África do Sul se tornou independente em 1961.

Por lá, uma mesquita chamada Mesquita Aberta (Open Mosque) causou burburinho em 2014, quando o teólogo muçulmano Taj Hargey, inaugurou o templo com a clara intenção de receber todas as pessoas, independentemente de seu gênero (masculino ou feminino) ou de sua orientação sexual. A mesquita é totalmente receptiva a homossexuais. 

Irã

No Irã, o Mulá Tarah, líder religoso que se assumiu gay publicamente, depois de realizar vários casamentos entre pessoas do mesmo sexo em secreto, teve que sair do país devido à intolerância vigente. 

O Irã é conhecido por executar homossexuais em praça pública e promover outras formas de perseguição à comunidade gay em seu território. 

A caminho do Canadá, Tarah conversou com outros homossexuais na Turquia, outro país muçulmano com mais liberdade que a média, e recebeu até uma convite para ser o celebrante do casamento entre dois homens muçulmanos que vivem naquele país.

O sonho de Tarah é poder ser aceito em sua terra-natal exatamente como ele é: Muçulmano, mulá e homossexual. A BBC fez uma rápida matéria sobre ele. 

O deboche homofóbico perde

Como se vê, ao contrário do que homofóbicos debochados possam dizer, a comunidade LGBT existe e resiste nesses países ou regiões carregadas de ódio, inclusive aquele tipo de ódio alimentado por pretextos religiosos homofóbicos. 

Como todo ser humano, o cidadão LGBT tem que ter seu direito de emigrar e imigrar respeitado, especialmente quando se trata de salvar sua vida e/ou de sua família, não importando o país onde deseje se instalar. 

Contudo, o que se ouve da maioria dessas pessoas é que elas gostariam que sua sociedade de origem mudasse. A maioria não queria deixar sua terra e seus compatriotas para trás. Para que isso mude algum dia, essas pessoas fazem seu ativismo, ainda que seja a partir de outro local - geralmente, mais seguro.

Tiro pela culatra e o arco-íris cada vez maior

Curiosamente, o ódio contra o cidadão LGBT por parte de governos e sociedades em vários desses países muçulmanos está criando, seja por meio do desterro ou da emigração, verdadeiras comunidades inclusivas, onde muçulmanos LGBT das mais variadas origens podem adorar e se socializar com outras pessoas da mesma fé. 

Mesquitas inclusivas vão sendo formadas aqui e ali. Ao mesmo tempo que teólogos e outros pensadores vão formando um arcabouço teológico islâmico depurado de preconceitos impostos por imperialistas puritanos e vitorianos durante séculos. Preconceitos esses que passaram a se refletir nas crenças e práticas cotidianas daqueles que moram em regiões dominadas por essa mentalidade homofóbica.

Confira: https://www.xn--foradoarmrio-kbb.com/2019/05/muculmanos-lgbtq-junaid-jahangir.html

É muito provável que todo esse movimento migratório, assim como o contato com sociedades mais plurais, acabe promovendo mudanças significativas entre os mesmos povos de onde esses cidadãos LGBT tiveram que evadir-se um dia.

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