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Linguagem neutra não-binária (trecho de uma live)

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 Por Sergio Viula Esse é um trecho de uma live feita com @Sviula a convite de @carolina_carolino no perfil das @carolinas_da_borborema no Instagram em 07/04/24. Esse é apenas um trecho da nossa conversa e se refere ao uso da linguagem neutra não-binária. A live completa pode ser vista aqui: https://www.instagram.com/reel/C5en-hhvjuq . Nessa live, além de linguagem não binária, discutimos a falsamente chamada "cura gay", o Movimento LGBT+ no Brasil, temas relacionados à orientação sexual e identidades de gênero.  O trecho abaixo é apenas um recorte da live, mas considero que seja muito interessante e relevante para as diversas discussões sobre linguagem neutra na atualidade. Confira e siga o perfil dos participantes no Instagram. Carolina Carolino e Sergio Viula 07/04/24 Instagram: @carolinas_da_borborema

Adventistas e Sexodiversidade




Por Sergio Viula
Originalmente publicado no AASA


Um rápido panorama do adventismo

No Brasil são 1.561.071 membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) em 2010 sob a coordenação de sete Uniões que administram as Associações e Missões. As instituições da IASD do Brasil e de sete países latino-americanos formam a Divisão Sul Americana, com sede em Brasília, Distrito Federal.

O adventismo chegou no Brasil em 1884 através de publicações que chegaram pelo porto de Itajaí com destino à cidade de Brusque no interior de Santa Catarina. Em maio de 1893 chegou o primeiro missionário adventista, Alberto B. Stauffer que introduziu formalmente através da colportagem (venda direta de livros) os primeiros contatos com a população. Em abril de 1895 foi realizado o primeiro batismo em Piracicaba, SP, sendo Guilherme Stein Jr o primeiro converso. A primeira Igreja Adventista do Sétimo Dia em solo nacional foi estabelecida na região de Gaspar em Santa Catarina, em 1895, seguida por congregações no Rio de Janeiro e em Santa Maria de Jetibá e no Espírito Santo, todas no mesmo ano.

Com a fundação da gráfica adventista em 1905 em Taquari, RS (atual Casa Publicadora Brasileira, localizada em Tatuí-SP), o trabalho se estabeleceu entre os brasileiros e se expandiu em todos os estados. A primeira escola adventista no Brasil surgiu em 1896 na cidade de Curitiba. Em 2005 somam-se 393 escolas de ensino fundamental e 118 do ensino médio com o total de 111.453 alunos e seis instituições de Ensino Superior (IES) com mais de cinco mil alunos que tem no Centro Universitário Adventista de São Paulo, sua matriz educacional. O UNASP, como é conhecida esta IES, surgiu em 1915, no Capão Redondo, SP e hoje conta com três campi: na cidade de São Paulo, em Engenheiro Coelho, e Hortolândia.

O erro profético que deu origem ao Adventismo do Sétimo Dia

Os adventistas surgem no mundo a partir de um erro gravíssimo de Guilherme Miller, um pastor batista do estado de Nova Iorque. Ele gostava de estudar as profecias bíblicas e chegou a conclusão de que as palavras registradas em Daniel 8.14 se referiam à vinda de Cristo para “purificar o santuário”. Depois, calculando que cada um dos 2.300 dias representava um ano, tomou como ponto de partida a carta de regresso de Esdras e seus compatriotas a Jerusalém e 457 a.C., e chegou à conclusão de que Cristo voltaria à terra em 1843. Ele fez esses cálculos em 1818, ou seja, 25 anos antes do que ele acreditava que seria o ano da volta de Cristo.

Miller pregou ardorosamente que a volta de Cristo se daria em 1843. O resultado foi que milhares de crentes decidiram se preparar para o “fim do mundo” doando suas lavouras (as pessoas ainda estavam muito concentradas no meio rural). Ele chegou a determinar o dia: 21 de março de l843.
Quando o dia tão esperado chegou, nada acontece. Miller, então, decidiu revisar seus cálculos, concluindo que havia errado em um ano. A data certa devia ser no dia 21 de março de l844. O dia chegou, e nada. Novamente, ele estabeleceu uma nova data: dia 22 de outubro de mesmo ano. E, é claro, falhou de novo.

A falha fundamental é pensar que um morto ressuscitou e esta no céu esperando a ordem de papai para voltar como uma diva rodeada de anjos e com “efeitos especiais” que fariam inveja a qualquer diretor de Hollywood. Não haverá volta de Cristo em data alguma. Ponto.

Apesar de arrependido e tendo confessado seu erro em tentar calcular a volta de seu mestre, Miller não pode compensar as milhares de pessoas que tiveram prejuízos irreparáveis por seguirem sua estupidez.
Esse momento de espera frustrada foi chamado de “dia da grande desilusão”. Acontece que Hiram Edson, um fervoroso discípulo e amigo pessoal de Miller, teve uma “revelação”. Nela compreendeu que Miller não estava equivocado em relação à data, mas sim em relação ao local. Disse que Cristo havia entrado no dia anterior no santuário celestial, não no santuário terreno, que seria o dos judeus e estava destruído, para fazer uma obra de purificação ali. Edson partilhou com outros membros de seu grupo as “boas-novas”. Outros dois grupos se uniram a essa nova revelação: um dirigido por Joseph Bates que dava ênfase a guarda do Sábado e outro dirigido por Hellen G. White, que dava ênfase aos dons do Espírito.

As revelações de Helen White colaboraram muito para a formação das doutrinas dos adventistas, e seus escritos prolíficos contribuíram grandemente para a expansão da Igreja. Ela e seu esposo disseminaram amplamente seus ensinos proféticos e doutrinários por meio de revistas e livros. Embora a Igreja adventista afirme que a Bíblia é sua autoridade doutrinária, ainda crê que Deus inspirou Helen White em sua interpretação das Escrituras e em seus conselhos, conforme se encontram em seus livros.
De suas obras, a que é considerada obra-prima foi o livro “o grande conflito”. Entre outras obras, as mais importantes são: Vida de Jesus, Patriarcas e Profetas, Veredas de Cristo, O desejado de Todas as Nações.

Os adventistas do sétimo dia já usaram através dos tempos os seguintes títulos: Igreja Cristã Adventista (1855); Adventistas do Sétimo dia (1860); União da Vida e Advento (1864);Igreja de Deus Adventista (1866); Igrejas de Deus Jesus Cristo Adventistas (1921); Igreja Adventista Reformada; Igreja Adventista da Promessa; Igreja Adventista do sétimo dia ( Atual). Existem outros grupos como Igreja Adventista da Promessa, Igreja Adventista do pacto, etc, porém o mais importante é a Igreja Adventista do Sétimo dia, porque a guarda do sábado como dia santo é doutrina fundamental para essa igreja.

ADVENTISTAS E SEXODIVERSIDADE

Evento em 23 de março de 2014

Em 23 de março de 2014, na Cidade do Cabo, África do Sul, a Igreja Adventista do Sétimo Dia noticiou em seu site oficial a realização de um painel de três adventistas do sétimo dia que, segundo o site, “viveram um estilo de vida homossexual”. Como acontece com outras igrejas fundamentalistas, a abordagem é sempre negativa, ou seja, o ‘homossexualismo’ (sic) é pecado e deve ser deixado, e geralmente existe uma história dramática de abuso sexual para enfatizar a ‘anormalidade’ do que eles chamam de ‘comportamento’. O site reproduz a fala de um dos oradores:“Estamos aqui para ouvir os crentes contar as histórias de como Deus os redimiu.”

E acrescenta: “Knott convidou os membros do painel a compartilhar suas experiências em vários estágios diferentes da vida. Woolsey disse que ele cresceu em um ‘bom lar adventista’, mas foi molestado quando criança por um amigo da família. A partir de então, ele se achou cada vez mais focado em relações do mesmo sexo.”

A maioria das pessoas gays, lésbicas, bissexuais ou transexuais nunca foi molestada. E muita gente que já foi molestada nunca se sentiu atraída por pessoas do mesmo sexo. É de uma desonestidade sem limites querer associar uma violência cruel como essa a afetividade e identidade de pessoas que amam e desejam construir suas vidas ao lado de quem amam como qualquer outro ser humano. Nenhuma violência pode ser pior para alguém que é LGBT do que essa heteronormatividade que as próprias igrejas trabalham incansavelmente para sustentar. Nenhum abuso é pior o do que esse, e ninguém vai se tornar heterossexual por causa dele.

Artigo em 1 de novembro de 2013




Apesar de todo disfarce de gentileza que palavras bem ensaiadas para despistar o preconceito possam oferecer, Rafael Rossi em um artigo sobre casamento e homossexualidade para o site oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia diz:

“Torna-se perigoso quando a homossexualidade é usada como uma ideologia sexista para se propagar por todo o mundo, querendo fazer a cabeça dos outros para seguirem e quem se opor a essa ideologia torna-se um alvo a ser perseguido do jeito que os militantes repudiam a perseguição contra eles. A homossexualidade não é o ideal de Deus para a vida humana. Por isso, é contrário ao pensamento bíblico fazer apologia de uma condição que não foi estipulada por Deus no inicio da criação do mundo e nem mesmo autorizada pela Bíblia.”

Um momento, quem disse que os homossexuais e o movimento LGBT pretendem propagar uma ideologia sexista? É justamente contra o sexismo que gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros vêm lutando há anos.

“A homossexualidade não é o ideal de Deus para a vida humana”, diz ele, e “por isso, é contrário ao pensamento bíblico fazer apologia de uma condição que não foi estipulada por Deus no inicio da criação do mundo e nem mesmo autorizada pela Bíblia.”

Existe coisa mais retrógrada? Por outro lado, como esperar de gente que quer controlar tudo na vida alheia, da dieta diária ao dia de descanso, que houvesse menos neurose no campo da sexualidade?
O autor do artigo continua:

“Homossexualidade e os princípios bíblicos são incompatíveis. Toda a pessoa que busca apoio e auxílio na Igreja Adventista do Sétimo Dia é bem acolhida. Deixamos claro a todos os que nos procuram que orientamos aos membros que sigam fielmente os preceitos bíblicos e que confiem em Deus para uma mudança de vida espiritualmente. Acreditamos que Deus é quem converte as pessoas e que pode efetuar uma mudança significativa, mas esta decisão é individual.”

Em outras palavras, você é bem-vindo desde que esteja disposto a se submeter aos ‘tratamentos’ da igreja para a mudança de seu desejo, identidade, afetividade, etc. É tipo: Igreja Adventista não é lugar de gente gay, lésbica, bissexual ou transgênero, mas se eles vierem e quiserem ser como nós, os “normais”, “santos”, “puros”, temos como dar um jeito em sua “perversão”.

Uma postura, porém, que eu quero destacar como correta, e que outras igrejas deveriam seguir é a que ele coloca no final do artigo:

“Com relação ao casamento homossexual, não estimulamos e nem aprovamos, mas não buscamos qualquer recurso jurídico junto às autoridades governamentais para impedir que leis específicas para estes grupos sejam criadas. Tampouco, por outro lado, fazemos movimentos para que estas leis existam.”

É isso aí. Vocês podem crer e agir como desejarem em relação à doutrinas de vocês em suas comunidades, mas não podem impedir que o Estado contemple a todos nas garantias jurídicas que todos os cidadãos e cada um deles, individualmente, merecem desfrutar.

Agora, vale lembrar os dados no início do artigo. Com tantas escolas de ensino fundamental e médio, assim como centros universitários, imaginem o estrago que os adventistas fazem na cabeça de crianças, adolescentes e jovens em todos esses espaços sob o comando da igreja. Isso sem falar na pseudociência que eles adoram divulgar: criacionismo, homeopatia, etc.

E para quem quiser ler mais sobre por que toda essa teologia anti-gay é furada, seja ela adventista, pentecostal, reformada, etc., sugiro a leitura de Em Busca de Mim Mesmo. O livro também será útil para quem já passou por esses procedimentos e ministérios de “conversão gay” ou quem ainda tem dúvidas sobre se deveria experimentar tais procedimentos ou não. Esse livro nasceu de minha experiência e observações enquanto atuava em um desses ministérios de “cura gay”. O conteúdo tem sido bem recebido tanto por pessoas LGBT como por pessoas heterossexuais. Fica a dica, então.

Atenção: Você não precisa de religião para viver bem e feliz. Pelo contrário, pertencer a uma religião como essa pode levá-lo à depressão, ansiedade e baixíssima autoestima. Cuidado, porque religiãopode fazer mal a sua saúde, especialmente a sua saúde mental. 


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Leia também: Em Busca de Mim Mesmo

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