TESTEMUNHAS DE JEOVÁ E SEXODIVERSIDADE
Por Sergio Viula
Fundada por Charles Taze Russell em XXXXX, a religião conhecida como Testemunhas de Jeová é uma das mais totalitárias do mundo. Confundida por muitos com as igrejas evangélicas, a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, ligada ao Corpo Governante contava com mais de oito milhões e duzentos mil membros. No Brasil, são pouco mais que 700 mil seguidores e 11.562 Salões do Reino das Testemunhas de Jeová (seus templos) no mundo todo. Esses números são de 2014, ultima contagem publicada até o momento desse artigo.
Entre suas crenças mais conhecidas e repudiadas estão a de não doar e nem receber sangue sob hipótese alguma e a de não participar da vida cívica do país em que estejam inseridas. Porem, muitas outras crenças são estranhas à maioria das comunidades ditas cristãs. As Testemunhas de Jeová não se consideram ‘evangélicas’ quando termo é aplicado a igrejas protestantes mais recentes e pentecostais, mas gostam de se denominar cristãs, apesar de discordarem de uma série de dogmas adotados pelo mainstream do cristianismo histórico. Alguns exemplos são:
- Creem que somente 144 mil escolhidos por Cristo viverão no céu e pensam que estes sejam eleitos desde Adão até a volta de Cristo, sendo muitos deles Testemunhas de Jeová;
- Só participam da ‘ceia’ (pão e vinho) os que se sentem eleitos entre esses 144 mil, e só na páscoa. O problema é que o pão e o vinho consumidos ultrapassam em muito esse número. Conclusão: muita gente está blasfemando por não ser um dos escolhidos ou tem mais gente se sentindo escolhida do que Deus mesmo havia previsto;
- Não creem em inferno eterno;
- Enquanto o julgamento não acontece, as almas deixam de existir. Elas só serão ressuscitadas junto com o corpo para o julgamento.
- Não creem na imortalidade da alma, pois os ímpios deixarão de existir completamente depois de julgados;
- Creem na ressurreição dos justos para viverem na terra e não no céu;
- Os sodomitas nem sequer ressuscitarão para juízo. São aniquilados pela morte sem segundo tempo.
É esse sétimo ponto que me interessa discutir nesse momento.
A Sociedade Torre de Vigia orienta os Salões do Reino das Testemunhas de Jeová a ‘desassociarem’ qualquer pessoa que se assuma gay. Eles gostam de usar a palavra sodomita, fazendo referência à população da cidade de Sodoma, onde Ló, sobrinho de Abraão, morou com sua família ante que ela fosse supostamente destruída pelo juízo divino.
Uma vez que uma pessoa se assuma homossexual ou se encontre em relacionamento homoafetivo, ela é sumariamente desassociada, isto é, excluída, excomungada. Isso pode parecer coisa besta, mas não é. Para quem não crê que a Sociedade Torre de Vigia seja o Profeta de Deus na terra, é fácil sacudir os ombros para o que eles pensam e seguir com a vida numa boa, mas não é isso o que acontece com pessoas doutrinadas nessa seita.
O esquema é montado de tal maneira que cada indivíduo, bem como sua família, seja absolutamente comandado pelas lideranças. Se você acha que as igrejas evangélicas fazem isso com maestria, você não conhece as Testemunhas de Jeová o suficiente. Elas são hiperbolicamente piores do que qualquer igreja neopentecostal.
Depois de excluído, a pessoa homossexual e testemunha de Jeová ficará absolutamente isolada. Ninguém lhe dirigirá a palavra, seja no Salão do Reino ou em casa. Qualquer comunicação da família com ele se fará, quando muito, por bilhetes pregados na geladeira ou em algum outro ponto estratégico da casa.
Esse homem ou mulher homossexual acredita que será realmente aniquilado por Jeová. Não terá sequer um julgamento, se bem que tal julgamento seria apenas pró-forma, mesmo que houvesse, pois ele/ela já está condenado. Associado ao isolamento completo e perpétuo, essa crença na aniquilação sumária gera insuportáveis desejos suicidas. E essa é uma das razões pelas quais a taxa de suicídio entre as Testemunhas de Jeová é altíssima. A seita é tão ‘perfeccionista’, totalitária e segregadora que adoece a mente de seus seguidores como poucas outras poderiam fazer.
Imagine os pais de um bebê tendo que escolher entre a obediência incondicional ao que dizem que Jeová espera deles e uma transfusão que é a única chance de salvar seu filho.
Imagine uma família que ama seu filho ou sua filha desassociados por serem homossexuais, mas sabe que se demonstrar qualquer afeto atrairá o juízo de Jeová e poderá ser igualmente desassociada pela organização – o que corresponde a ser julgada pelo próprio Jeová.
Imagine um jovem que se consuma de autodesprezo motivado pelo ensino dessa seita, só porque ama alguém do mesmo sexo. Ele poderá até deixar de amar aquele outro rapaz um dia, mas nunca amará uma moça, exatamente como acontece com qualquer jovem heterossexual, que pode amar uma menina hoje e outra amanhã, mas nunca amará outro homem.
Imagine um jovem bissexual. As complicações podem ser ainda maiores. A confusão mental, idem.
Imagine um/uma travesti ou um/uma transexual. Esses indivíduos não ‘viram’ transgêneros no momento em que trocam a roupa que lhes designaram desde o nascimento. Eles são transgêneros desde que se conhecem por gente. Sofrem por anos até conseguirem dizer aos outros aquilo que sempre sentiram sobre si mesmos. Mas, se isso já pode ser melindroso (não deveria, mas geralmente é) numa família não dominada por essas crenças obtusas, imagine numa família de testemunhas de Jeová!
Animação sinistra incitando crianças contra famílias homoafetivas
Em 2016, as Testemunhas de Jeová foram expostas a um vídeo de animação produzido pela Sociedade Torre de Vigia, no qual uma garotinha via um coleguinha de turma dizer que tinha dois pais. Ela chega em casa e comenta com mãe, que é Testemunha de Jeová, que prontamente parte para a doutrinação religiosa homofóbica da criança. Ela deixa claro que aqueles dois, os pais do coleguinha da filha, não herdariam o reino de Jeová.
A animação é toda construída em linguagem aparentmente doce, mas seu conteúdo é totalmente discriminatório.
Esse cartoon foi lançado nos EUA pelas TJ.
No vídeo, a criança é encorajada a "se toranr amiga de Jeová" opondo-se à homoparentalidade. E para piorar, a mãe encerra seu discurso dizendo à filha que ela deve dizer ao seu coleguinha que Jeová não aprova o "estilo de vida" dos pais dele. O vídeo faz discurso de ódio açucarado por técnicas de disfarce bem conhecidas de religiões que, como camaleões, tentam permanecer incotacadas através da camuflagem, mas isso não muda a natureza nociva e os impactos prejudiciais desses preconceitos nos espaços de convivência social.
Pessoas LGBT que foram expulsas ou abandonaram as Testemunhas de Jeová.
Já existem organizações de pessoas ex-testemunhas de Jeová. Também existem organizações de pessoas LGBT ex-testemunhas de Jeová. Geralmente, elas se propõem a ajudar as pessoas a superarem a crise de consciência gerada pela doutrinação da Sociedade Torre de Vigia. Isso não quer dizer que elas não acreditem mais no ensino como um todo. Não sejamos ingênuos em pensar que ex-TJ = ateu. Não é assim. Elas podem não pertencer mais àquele domínio, mas isso não significa que tenham se livrado completamente da crença. Algumas há que migram para outras religiões, mas isso é raro.
Esses dias, eu estava teclando com um rapaz que foi testemunha de Jeová. Ele viu uma entrevista minha no site da UOL e me procurou para me fazer algumas perguntas. Ele mesmo me contou o seguinte :
“Eu me batizei como Testemunha de Jeová em 2011, mas me afastei um ano e meio depois por ter sido duramente criticado, colocado para escanteio, e ter sido taxado de anticristo e apóstata por aqueles que se diziam meus irmãos, mas que não aceitavam o fato de uma pessoa interpretar os ‘princípios bíblicos’ de uma maneira que não fosse igual à deles. Eu sofri muito com isso e logo depois conheci um rapaz por quem me apaixonei. E foi nessa época que resolvi assumir que sou homossexual que passei a me questionar sobre a existência de Deus, especialmente porque uma das minhas tias, evangélica fervorosa, me chamou de amaldiçoado, visto que, segundo ela eu conheci a verdade da Bíblia e não a vivi mais.”
Em seguida, esse rapaz me disse que não tem mais problemas com a fé, visto que ainda acredita em Deus, mas sua história com as Testemunhas de Jeová o conduziu a sete tentativas de suicídio. Ele continua:
“Quanto à Bíblia, eu ainda creio em parte nela. Acredito que muita coisa ali foi mudada, e que junto ao preconceito e o patriarcalismo tão amplamente pregado por essas religiões, tem causado tanta coisa ruim que vemos aí. Para mim, o problema não é Deus; são essas malditas religiões!”
Bem, tenho que concordar (por razões diferentes) que o problema não é deus. Que problema ele causaria sozinho? Nenhum. Não pode fazer bem nem mal, causar dor ou prazer. Ele é apenas uma ideia que sem manipuladores (pregadores, crentes de toda a espécie, etc) não seria mais impressionante que qualquer deus asteca atualmente. Mas as religiões são as agências que manipulam as massas através dessa ideia (deus) e provocam todo tipo de males no mundo. Isso, porém, não significa que um mundo sem religião seria um mundo automaticamente livre de todos os males. Não. O ser humano é criativo demais para deixar de provocar dores porque uma ideia e suas agências simplesmente faliram.
Meu conselho às pessoas LGBT é o seguinte: sai dela, povo meu.
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Por Sergio Viula
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