A HOMOFOBIA É UMA DOENÇA INFANTIL - Comentário por Jair a respeito do post sobre homofobia depois da Parada de Sampa


A HOMOFOBIA É UMA DOENÇA INFANTIL

Defendo a ideia de que o medo é irracional; o medo só pode existir quando um componente contrário à razão está presente. Essa falta de lógica que cria o medo, em geral, se deve ao fato de que o medroso ignora o porquê de seu temor e, mais que isso, desconhece também fatos a respeito do objeto, da coisa ou do acontecimento que gera essa apreensão, esse temor. Costumo, quando tenho oportunidade de cruzar com um desses temerosos, levá-lo à cabine durante o voo para que ele se familiarize, para que sinta o clima tranquilo, para que veja a operação dos tripulantes e perceba que ali tudo está normal, não existindo motivo para se ter medo. Ora, se os tripulantes não estão atemorizados, não há motivos para que outros estejam, não é mesmo? Em geral, essas “visitas” à cabine de comando diminuem a apreensão do visitante e reduzem suas razões para temer o voo, o avião, o desconhecido enfim. Ele acaba de “conhecer”, de “saber”, e é isso, justamente, que elimina o ignoto, o esconso, o misterioso e o medo.

Outro exemplo: tenho um amigo que tem verdadeiro pavor de galinhas. Sim, galinhas! Se perguntarmos por que ele tem medo das penosas, sua resposta será: “Não sei.” Ele não sabe. A galinha viva é um completo mistério para ele — só a viva, porque aquela congelada que compra no supermercado não lhe infunde o menor temor. Ele a saboreia como qualquer cidadão. Está claro que o medo que ele sente está calcado no mistério que a galinha representa para ele. Tenho certeza de que, se ele, vencendo o temor inicial, viesse a tocar, manipular, ter contato direto com o objeto de seu medo — que, afinal, é uma inofensiva ave doméstica —, ele o perderia. Deixaria de existir o componente desconhecido, misterioso, e o medo perderia a razão de ser.

Assim, nossos temores, pavores, aversões e apreensões são explicáveis pela existência de um componente de desconhecimento do objeto ou da razão de ser do medo. “Ter medo do escuro”, fobia tão comum entre nós, ilustra perfeitamente o que quero dizer.

Do grego, temos o termo “fobia”, nome genérico que se dá a todos esses sentimentos de insegurança que, por quaisquer pretextos e sob quaisquer nominações, nos acompanham pela vida. HOMOFOBIA é o nome que define a aversão que se sente pelos homossexuais. A homofobia, como o sarampo, é uma doença infantil: a todos acomete. Todos nós já fomos, somos ou seremos homofóbicos, infelizmente; a sociedade machista na qual vivemos nos induz a isso.

Também eu, confesso, já sofri dessa doença, embora, e felizmente, na sua manifestação mais branda: já fui homofóbico. A homofobia que nos ataca origina-se, como os demais temores e apreensões, de não termos intimidade, familiaridade, de desconhecermos essas pessoas que optaram por uma vida sexual alternativa, de não termos contato com elas.

Dito isso, quero contar que compareci à “Parada da Diversidade” de Florianópolis. Compareci e gostei. O ambiente de festa — uma espécie de carnaval misturado com passeata reivindicatória, temperada com muita alegria, entusiasmo e descontração — é contagiante. Toda a fauna representada pelas “drags”, “trans”, “sapatas”, “sapatilhas”, “bichas”, “homos”, “bis”, “travecos” e tantas outras denominações lá estava e não representava perigo, quer para indivíduos, organizações, instituições, Estado ou sociedade. Verifiquei in loco: não há razão para temê-los, não há razão para “fobia” de qualquer espécie. São pessoas tão normais e inofensivas quanto os “normais” héteros. Eles reivindicam direitos iguais, na forma de leis que lhes permitam adotar filhos e ter as proteções regulares de que gozam casais héteros. Eu a eles dou razão e os apoio integralmente. Deixei para sempre meus laivos de homofobia no asfalto pisado por cinquenta mil pessoas aos acordes de oito carros de som com milhares de watts e centenas de decibéis cada um. A “Parada” eliminou qualquer vestígio homofóbico de minha pessoa. Acabo de livrar-me de uma doença infantil que me acometia desde sempre.

Em tempo: não renunciei à minha condição. Continuo heterossexual convicto, juramentado e militante.

O texto acima foi enviado por Jair, marido de Brandina (essa doçura aqui da foto). Ele usou o nome dela. ;) Ele é esse moço pensativo mirando o horizonte lá no início do post. Vale a pena visitar o blog dele!



Ver perfil dele e blog em https://jairclopes.blogspot.com/

Comentários

  1. Quero apenas esclarecer que Brandina é minha mulher e que usei o email dela para enviar o texto "A homofobia é uma doença infantil" do qual sou autor. JAIR CORDEIRO LOPES. Peço desculpas pelo erro involuntário e convido-o a visitar meu blog: www.jairclopes.blogspot.com

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  2. Valeu, Jair! Adorei teu comentário e transformei em post, mesmo sem te consultar, porque esse comentário não podia ficar anexado a um simples link. Obrigado duas vezes: por enviar e depois por explicar a questão da identificação. Já está corrigido.

    Abração pra vc e pra tua esposa. :)

    Sergio Viula

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