
HIV, responsabilidade e o papel de cada um
Um homem heterossexual, soropositivo, foi preso após contaminar duas mulheres com HIV. O processo não discute a culpa, mas a tipificação do crime: enquanto uma das mulheres defende a condenação por tentativa de homicídio doloso, a defesa quer enquadrá-lo por transmissão de doença grave, o que pode render até oito anos de prisão.
Fiquei chocado com a reportagem, especialmente porque, em outros países, casos semelhantes já resultaram em condenações. Mas isso me fez refletir sobre algo maior: responsabilidade. Com ou sem HIV, toda relação sexual deve ser protegida. Preservativo não é opcional, é regra. Se ele pode ser acusado de tentativa de homicídio por sugerir sexo sem camisinha, ela também errou ao aceitar. Responsabilidade é de ambos.
Uma das mulheres é casada e afirma manter relações com o marido usando preservativo. Se ele vier a se infectar, também poderá processá-la? Pela mesma lógica, isso não seria uma forma de tentativa de homicídio culposo?
Outro ponto: quem ainda acha que HIV tem “cara”? Com os avanços da medicina, muitos portadores estão mais saudáveis do que muita gente soronegativa. A aparência não denuncia mais nada. Sexo, seja com parceiro fixo, ficante ou em grupo, exige camisinha. Sempre.
O homem em questão também foi contaminado por alguém que provavelmente sabia que era soropositiva. Ela também deveria ser processada? E quem a contaminou? Onde essa escala de culpabilização termina? Vamos criminalizar também quem transmite outras ISTs?
Portadores de HIV têm direito a uma vida sexual ativa. Não fizeram voto de castidade nem perderam o desejo. O que todos – com ou sem HIV – devem fazer é transar com camisinha. Simples assim.
O que me preocupa é que casos como esse possam aumentar o estigma, tornando a vida de quem vive com HIV ainda mais difícil. Ninguém está totalmente livre do vírus. Hoje eu sou soronegativo, mas, se não fosse, não gostaria de ser tratado com o preconceito que vejo por aí. Tem gente que nunca respeitou os outros, mas quer ser respeitado quando se vê na mesma situação.
Cresçamos. Camisinha é responsabilidade individual. Não dá para esperar que o outro decida por você. Se a proposta for sexo sem preservativo, a resposta é não. Sem camisinha, sem sexo. Fim de papo.
Espero que esse homem tenha aprendido a lição e possa reconstruir sua vida. E que as mulheres envolvidas também reflitam sobre as próprias escolhas, assumam suas partes na história e sigam em frente com mais consciência.

Comentários
Postar um comentário
Deixe suas impressões sobre este post aqui. Fique à vontade para dizer o que pensar. Todos os comentários serão lidos, respondidos e publicados, exceto quando estimularem preconceito ou fizerem pouco caso do sofrimento humano.