Paternidade: um Misto de Alegria e Angústia
Paternidade: um Misto de Alegria e Angústia
A maioria das pessoas sonha em ser pai ou mãe. A indústria, o comércio e a mídia, querendo vender de tudo, estimulam o sonho, mas não revelam os riscos envolvidos na geração e manutenção de uma vida além da nossa e que, no entanto, torna-se nossa responsabilidade, em maior ou menor grau, pelo resto de nossas vidas.
Sempre digo que havendo gerado dois filhos, não consigo ver meu mundo sem eles. Porém, se não tivesse sido pai cedo, não o seria hoje. E se tivesse a mentalidade que tenho hoje, aos 20 anos, certamente não teria me arriscado nessas paragens. Contudo, eles estão aí, e foram amados desde que eram apenas zigotos (células-ovo). Ainda nem eram gente de fato, mas já eram amados na perspectiva dos bebês que iriam se tornar. Eram células com todo o potencial para se tornarem seres humanos, sem, todavia, oferecerem qualquer garantia concreta de que conseguiriam chegar a sê-lo. Tantas coisas podem acontecer durante a gestação que nascer com saúde já pode ser considerado um feito notável.
Depois de nove meses de cuidado, nutrição, amor e preparo, meus filhos chegaram ao lado ensolarado da vida. A menina, dois anos e nove meses antes do menino. Hoje ela tem 19 anos e ele está para completar 17 esse ano ainda. Contudo, em cerca de duas décadas, tive que enfrentar muitas batalhas para mantê-los vivos e saudáveis, como todo pai (ou mãe) responsável e amoroso faz com seus filhos. Quando tudo sai bem, a gente esquece, mas a verdade é que nenhum filho cresce saudável, educado e feliz por acaso; tem muito trabalho envolvido nisso e muito investimento financeiro também.
Agora, vivo uma nova etapa no desenvolvimento deles. Minha filha terminou o ensino médio, mas ainda não ingressou na faculdade. Talvez ano que vem. Querendo mais liberdade e autonomia financeira, ela decidiu começar a trabalhar. Achei ótimo! Afinal, uma jovem linda e inteligente como ela não pode passar o dia inteiro sem compromisso sem que isso prejudique seu desenvolvimento pessoal de alguma maneira.
Pois bem. Essa semana ela conquistou seu primeiro emprego. Só está aguardando o chamado para o treinamento. Fiquei muito feliz em ver que meu bebê cresceu mesmo. Quem ontem precisava de ajuda até para se alimentar e banhar, agora sabe cuidar de si mesma e já ingressa no mercado de trabalho, onde certamente vai encontrar oportunidades e desafios. Espero que isso sirva de estímulo para que ela busque coisas maiores e melhores.
Outra coisa que é muito especial para mim é ver como meu filho torce por ela. Ele ficou muito feliz quando viu que a irmã conquistou o que desejava, ainda que todo desejo seja transitório, porque agora que ela tem o que deseja, certamente vai desejar algo que ainda não tem – como acontece com todos esses seres desejantes que chamamos de humanos. E isso é o que nos mantém em movimento.
Devo muito desse sucesso na criação dos meus filhos aos meus pais que têm sido avós excepcionais e amigos sempre presentes.
Filho é isso: um misto de alegria e angústia para os pais, desde que estes realmente os amem. Sim, porque quando eles se saem bem na vida, a gente se alegra. Quando se saem mal, a gente sofre. A angústia é essa antecipação de que algo pode não sair tão bem quanto planejado. E para muita gente, infelizmente, as coisas já saíram mal antes mesmo do nascimento. Para outros, um acidente ou uma doença impuseram condições que tornaram ou tornarão a vida ainda mais difícil, quando não insuportável. Ter filho não pode ser projeto de felicidade própria. Ter filho não pode ser visto como condição para a realização de si mesmo. Ter filho é correr o risco de nunca mais ser dono da sua própria vida. E não adianta fazer planos, simpatias, rezas, orações, dar nomes numerologicamente calculados, etc. E mesmo dando todas as vacinas (o que é obrigação de todos os pais), a gente nunca pode garantir que os filhos estão realmente protegidos, porque há muito mais coisas fora do nosso controle do que coisas sob o nosso domínio – se é que há alguma, de fato.
Ser pai/mãe, no sentido mais pleno da palavra, é doar-se completamente sem esperar nada em troca.
No meu caso tenho sido muito afortunado. Uma boa mistura de talento e esforço próprio, cooperação de terceiros, e condições favoráveis ou contornáveis (nos casos em que as coisas não favoreciam) têm proporcionado bons resultados. Mas quem pode garantir vai ser sempre assim?
Como eu disse à minha avó antes de seu falecimento: Ter filho é viver preocupado e morrer sem sossego.
E ainda tem gente que gera sem assumir, pari sem amor, multiplica os dependentes sem ter sequer condições de sustentar dignamente a si mesmo. O nome e o sobrenome disso são, no mínimo, egoísmo irresponsável. Gente não é coisa descartável, especialmente quando carrega nosso DNA, mas se não puder amar seu próprio filho, é melhor que o entregue às autoridades competentes para que estas encontrem um lar digno para ele. Abandonar filho em lixeira, espancar a criança por rejeição, colocá-la no sinal para vender bala, vendê-la a exploradores de menores, isso é que não pode continuar acontecendo e o governo tem arrochar essa gente que expõe os pequenos a esse tipo de abuso. A sociedade pode colaborar denunciando sempre que testemunhar coisas assim. Proteger as crianças é um dever do Estado, mas a sociedade pode ser os olhos e os ouvidos deste.
Feliz a criança que for amada por quem não a gerou ao ponto de ser adotada e cuidada como filha. Os pais adotivos, porém, não esperem nada em troca, muito menos gratidão, porque toda a dinâmica característica da relação pai-filho vale para tanto para os biologicamente gerados como para os carinhosamente adotados: alegria e angústia. Boas surpresas, porém, acontecem com muita frequência. ;) E por isso, a paternidade pode proporcionar benefícios emocionais tanto a filhos quanto a pais – o que, felizmente, tem sido o meu caso.^^
Por Sergio Viula
Em 17 de julho de 2011
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