Pensamento de Sergio Viula


Por Sergio Viula


Um beijo carinhoso para Paula Santos e Andressa Ruela, que me inspiraram com seus comentários inteligentes e cheios de empatia sobre um tema que não atinge nenhum de nós três pessoalmente, mas nos toca profundamente por ser uma questão de justiça social. Além disso, os princípios subjacentes às ideias expostas por elas aqui valem para qualquer tema, não sendo reféns de nenhum assunto em particular.

O mais desalentador não é ver que há pessoas contra coisas que nem sequer compreendem. O pior é perceber que essas mesmas pessoas desejam se “blindar” contra qualquer possibilidade de rever suas opiniões infundadas.

Perde completamente a razão quem, sem compreender o que está em foco, expede um veredito, qualquer que seja. Tanto faz se aprova ou reprova aquilo que nem entende. O que importa é que não entende o que aprova ou reprova.

Isso nos confronta com a triste realidade de que há muita gente com medo de pensar, de encarar o argumento contrário ao seu modo de ver o mundo, de colocar à prova as razões que parecem sustentar sua visão. Em outras palavras, há quem não saiba e não queira aprender a pensar com profundidade. A maioria acredita que pensa, e esse é um risco que eu também corro. Tenho que ser muito honesto comigo mesmo para evitar cair na armadilha do "eu já sei tudo o que há para saber sobre isso."

Maneiras comuns de se blindar contra a perigosa arte de pensar, investigar e aprender:

  1. Rotular o proponente;
  2. Dizer “não concordo” e achar que isso encerra o assunto;
  3. Recusar tudo o que não combina com os limites estreitos de seu próprio "mundo".

Essas atitudes são maneiras de aparentar ter muito a dizer, mas, na realidade, nada ou quase nada é realmente dito. Ou pior: diz-se o suficiente para que ninguém leve a sério aquele que fala enquanto não crescer. Não digo isso à toa, mas com tristeza. Uma tristeza que não paralisa, mas que resulta da constatação de que, no campo da capacidade intelectual e emocional, como em tudo o mais na natureza, boa parte do que está disponível e potencialmente útil acaba sendo ignorada ou desperdiçada: sementes que nunca serão árvores, ovos que jamais se transformarão em pássaros ou outros seres ovíparos.

Aliás, tudo isso vai muito além da discussão sobre a regulamentação da prostituição, que foi o tópico inicial do debate. Isso tem a ver com as atitudes que cultivamos em relação a nós mesmos, aos outros e à vida. Nosso desenvolvimento pessoal depende muito mais da disposição de pensar fora das caixinhas em que fomos colocados desde o nascimento do que da fidelidade a convicções irrefletidas.

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