O que realmente querem os inventores e defensores dessa excrescência chamada "ideologia de gênero"
O Papa veste Prada
por Leticia Lanz
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Arquivo Transgênero
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A expressão “ideologia de gênero” começou a circular a partir da segunda metade da década de 1990, mais especificamente a partir do ano de 1995 e, mais especificamente ainda, a partir do IV Congresso Mundial da ONU sobre os Direitos da Mulher, realizado em Pequim nesse mesmo ano.
Desde o início, tratou-se de uma expressão inteiramente espúria, sem qualquer alcance ou significado científico, sendo totalmente estranha à terminologia empregada na importante área interdisciplinar de pesquisa acadêmica conhecida como de “Estudos de Gênero”.
Que fique bem claro que os criadores e defensores dessa tal de ideologia de gênero não são os pesquisadores e estudiosos de gênero, pessoas a quem os verdadeiros criadores, maliciosa e espertamente, querem atribuir a criação e defesa desse termo. Os pesquisadores e estudiosos de gênero NÃO INVENTARAM NEM DEFENDEM DE MANEIRA ALGUMA essa excrescência teórica e prática. Gênero é uma coisa, ideologia de gênero é outra completamente diferente e, por sinal, inteiramente "sem noção". Gênero diz respeito à atribuição de papéis, comportamentos e atitudes sociais aos indivíduos em função da sua genitália de macho ou de fêmea, fenômeno presente em todas as culturas, das mais primitivas às mais evoluídas, com largo espectro de narrativas e estudos científicos que comprovam a existência desse fenômeno. "Ideologia de gênero", por seu turno, diz respeito a um elenco de suposições falsas e mentirosas, baseadas exclusivamente em mitos e crenças religiosas sem nenhum fundamento, que foi posto em circulação por nítida má-fé dos seus "inventores", desejosos de estancar o avanço dos direitos humanos no mundo contemporâneo, especialmente os direitos da mulher e da população LGBT.
Em 1995, o então cardeal Joseph Ratzinger, nomeado papa Bento XVI pelo colégio dos cardeais em 2005, intelectual altamente conservador e retrógrado, era o todo-poderoso titular da congregação para a doutrina da fé, a mais poderosa das nove congregações que constituem a cúria romana, sucessora da poderosíssima Sacra Congregação do Santo Ofício que, por sua vez, tinha sucedido a Suprema e Sacra Congregação da Inquisição, responsável pelos tribunais da inquisição que levaram milhares de mulheres para as fogueiras, no início da Renascença.
Uma breve história desse grande embuste intelectual, nos remete a uma imensa "armação" dos setores mais ortodoxos e conservadores da igreja católica que, em nome de barrarem o fluxo dos direitos humanos conquistados pela mulher ao longo de todo o século XX, mas especialmente no seu último quartil, resolveram produzir esse arranjo conceitual de fortíssimo apelo moral para as camadas menos preparadas da população, a que deram o nome de "ideologia de gênero".
Reza a lenda que essa expressão foi cunhada pelo cardeal Ratzinger em pessoa, revoltado com os nítidos avanços planetários da mulher na sociedade contemporânea, claramente evidenciadas na Conferência da ONU em Pequim, mas que também buscava desesperadamente um "mote moral", uma "cortina de fumaça" capaz de desviar a atenção do público mundial das terríveis mazelas institucionais que se abatiam e ainda se abatem sobre o catolicismo romano.
Em 2013, Ratzinger, o papa que usava sapatos "Prada", foi o primeiro pontífice a renunciar ao trono de São Pedro em 600 anos, em meio a gravíssimos casos de corrupção, fraudes financeiras e escândalos sexuais de pedofilia. Até hoje essas contravenções continuam abalando a cúpula do catolicismo romano, a despeito do perfil nitidamente populista do sucessor de Bento XVI, Francisco I, trunfo com o qual a cúria romana tenta desviar a atenção do público para questões pseudo-morais, de modo a abafar os escândalos que, na sua maioria, seguem sem a ação enérgica da igreja católica para sua devida apuração, punição e prevenção de futuras ocorrências.
Mas a estratégia “ideologia de gênero” parece ter funcionado de modo altamente eficaz. A ideia – estapafúrdia, esdrúxula e sem nenhum fundamento – de que as pessoas são homens ou mulheres porque foram feitas assim pelo Criador, sem nenhuma interferência da sociedade, acabou “colando” pelo mundo afora, servindo de sustentação para discursos altamente misóginos e lgbtfóbicos, de políticos e religiosos altamente reacionários.
Uma das versões mais difundidas desse discurso insiste na tese completamente falsa e nonsense de que a ideologia de gênero “visa” convencer nossas crianças e jovens de que eles podem escolher ter o “sexo” que quiserem, na hora que desejarem.
Além de falacioso, trata-se de um discurso auto-contraditório com o que diz o próprio discurso desses “ideólogos de gênero” já que afirmam que o sexo, para eles algo idêntico a gênero, é definido pelo Criador antes mesmo da pessoa nascer e não pode ser de forma alguma alterado. Ora, se não pode ser alterado, como afirmam, não existe nenhuma possibilidade de uma criança ou jovem ser “convencidos” de que podem mudar o seu “sexo” a qualquer momento.
Se sexo, que esses “ideólogos” de gênero entendem como sinônimo de gênero, não pode ser alterado por ter sido obra do Criador, porque é que eles se empenham tanto em combater os Estudos de Gênero? Por que perdem tanto tempo tentando defender o que, segundo eles mesmos, não carece de defesa, por ser inexoravelmente imutável, uma vez que resulta da “vontade soberana do Criador”?
Ora, se resulta da vontade do Criador e é “imexível” por definição (deles) não haverá discurso que convença um menino que ele pode ser menina quando bem lhe aprouver – ou vice versa.
Evidentemente, ao se empenharem tanto em negar validade e combater o extenso conhecimento científico, reunido de várias áreas de pesquisa, presentemente acumulado na área dos Estudos de Gênero, esses políticos e religiosos fundamentalistas estão revelando que não fazem tanta fé, como dizem, na tal “vontade do Criador”.
Pelo contrário, estão tremendo de medo que as multidões descubram o quanto as pessoas têm sido ludibriadas e manipuladas por crenças absurdas, ilógicas e disparatadas. Estão se borrando nas calças de que especialmente a massa de mulheres descubra que não deve nenhum tipo de reverência ou obediência ao homem, porque não há nenhuma hierarquia entre os sexos, como eles defendem, alegando que o homem foi feito à imagem do Criador e a mulher é apenas um exemplar mal-feito a partir de uma de suas costelas. Temem que as multidões descubram que sexo é uma coisa e gênero é uma coisa completamente diferente de sexo. Que as pessoas nascem com sexo, mas não nascem com gênero. Que sexo é herdado biologicamente, enquanto gênero é aprendido culturalmente. Que sexo está no domínio da natureza enquanto gênero está no domínio da linguagem. Que as pessoas nascem machos ou fêmeas, isto é, com pênis ou com vagina, mas que a simples posse de um desses órgãos não assegura que a pessoa irá se enquadrar como homem ou como mulher na sociedade. Que é possível, sim, alguém nascer macho e não querer ou não conseguir se expressar como homem, nem se adaptar aos papéis sociais de homem estabelecidos pela sociedade.
Mas o principal alvo dos “ideólogos” de gênero é a mulher, ou melhor, a jornada, plenamente exitosa, de libertação da mulher. Não é a toa que os ataques aos Estudos de Gênero se iniciaram exatamente num Congresso da ONU em que estavam sendo apresentados os notáveis avanços da mulher mundo afora, junto com suas reivindicações por mais espaço na sociedade, um espaço que lhes é de direito e que sempre lhe foi negado historicamente pelo homem, especialmente o homem representado por instituições tipicamente misóginas como a igreja católica apostólica romana.
O que os “ideólogos” de gênero querem é “revogar” e “apagar” os espaços ocupados pela mulher que, na sua teoria de obediência e subalternidade ao homem determinada, segundo eles, pelo próprio Criador, elas jamais deveriam ter ocupado. Não é a toa que os aliados de primeira hora do cardeal Ratzinger vieram de seitas evangélicas fundamentalistas neopentecostais que defendem a obediência e a subordinação irrestritas da mulher ao homem, com base em preceitos bíblicos.
Se o discurso anti-gênero “pegou” pelo mundo afora foi única e exclusivamente por causa do profundo temor que o homem ocidental contemporâneo tem de “perder” o seu status de ser superior na hierarquia da criação (como se já não o tivesse perdido, há muito tempo...). Daí o discurso vir acompanhado de uma suposta “defesa” da família tradicional, composta por homem, mulher e filhos, que o próprio homem se encarregou de detonar, simplesmente desaparecendo da cena familiar, deixando que a maioria das mulheres cuidasse sozinha dos lares que eles sistematicamente abandonaram e menosprezaram.
O fato é que esses inventores da ideologia de gênero não têm moral para defender o seu suposto discurso moralizante. O objetivo nítido e evidente desses fundamentalistas misóginos é fazer o mundo acreditar que gênero é uma ideologia, uma ficção criada por pesquisadores e estudiosos que eles rotulam de devassos, doentes e depravados. Que a mulher deve ficar no seu lugar de mulher, ou seja, debaixo da sola do sapato do homem. Essa é a mensagem real; o resto é mero enfeite.
Basta olhar o perfil não-divulgado, mas amplamente conhecido, do papa afastado Bento XVI, considerado o criador da “ideologia de gênero” num momento de extremo desespero político da igreja católica, com graves denúncias de roubos e rombos financeiros na sua alta cúpula e estarrecedores processos públicos de pedofilia lhe sendo imputados em todo o mundo. Precisa dizer mais alguma coisa?
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