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Gênero e autodeterminação 🏳️‍⚧️

Gênero 
e autodeterminação





Por Sergio Viula 


Fazia tempo que eu queria falar sobre o que eu vou dizer nesse vídeo. Ontem, eu tive uma conversa com um amigo meu que aumentou o meu desejo de falar sobre isso e também me trouxe algumas perspectivas a mais.

Assista e se gostar, compartilhe.

https://youtu.be/rFtNUaIvK98?si=IYdx0nPERo1FG3sz


❤️⚧️❤️

Dia Internacional do Orgulho LGBT: Importantes apontamentos

Por Sergio Viula







DIA 28 DE JUNHO é o Dia Internacional ORGULHO LGBT! E temos muito do que nos orgulhar! A maioria de nós sobreviveu a uma infância e adolescência onde era cada um por si e todos contra nós. Se você foi criança antes da década de 1990, arrisco-me a dizer que você não tinha referências positivas que representassem a sua individualidade enquanto pessoa sexodiversa na TV, no rádio ou nas publições impressas. Às vezes, eu me pego pensando: Quem dera eu pudesse ter assistido algo como Heartstopper quando eu tinha 12 anos, por exemplo. Se você ainda não ouviu falar nessa série da Netflix, ela foi inspirada nessa HQ aqui: https://amp-mg.jusbrasil.com.br/noticias/3125198/brasil-registra-54-crimes-virtuais-por-minuto


Teaser official da série na Netflix



Família, escola, igreja e trabalho

A família, ambiente onde devíamos ter sido acolhidos e incentivados ao pleno desenvolvimento de nossas habilidades e de nossos afetos, foi justamente onde encontramos mais incompreensão e repressão. Se nos enfiamos no armário - muitos de nós por décadas -, foi justamente por causa de algum interdito estabelecido por nossos pais ou outras figuras de autoridade contra a diversidade sexual. Esses episódios provavelmente aconteceram diante da TV ou ao redor da mesa de jantar. O cúmulo da violência emocional já é bastante conhecido; trata-se da verbalização de frases como "prefiro um filho viciado, bandido ou até morto a um filho gay." Muitas pessoas LGBT nunca se recuperam das feridas emocionais causadas pelas atitudes de quem deveria protegê-las e orientá-las no pleno desenvolvimento de suas identidades. Ao contrário disso, as famílias muitas vezes pressionam a pessoa LGBT para que se "converta" em heterossexual (e cisgênera no caso das pessoas trans).


A escola, ambiente onde deveríamos ter sido incentivados para o pleno desenvolvimento de nossas habilidades cognitivas e psicossociais, ouvimos os primeiros xingamentos e piadas de mau gosto por parte de estranhos sobre nosso jeito de agir e de falar. Muitas vezes, até mesmo nossos gostos pessoais por cores, brinquedos, jogos, grupos musicais e outras formas de entretenimento são criticados impiedosamente. Esse tipo de censura torna-se um dos mais sórdios estímulos à autorrepressão e à autocondenação por parte das pessoas LGBT por causa da LGBTfobia externa que acaba sendo internalizada por meio dessas interações destrutivas.


A igreja, ambiente onde deveríamos supostamente ser acolhidos como filhos e filhas amadas de algum deus, convivendo fraternalmente uns dos outros, é o lugar onde ouvimos as piores recriminações. E elas vêm do lugar que simboliza autoridade máxima em termos de doutrina - o púlpito. Mas, não apenas dali. Os estudos bíblicos em pequenos grupos, os cultos realizados em casas de "irmãos", os cochichos das bilhardeiras e bilhardeiros de plantão - todos esses dispositivos de controle são usados para manter a sexodiversidade dentro de uma caixa preta que não pode ser acessada sem que alguma degraça nos sobrevenha. Curiosamente, essa mesma igreja é o lugar menos seguro para crianças e adolescentes justamente por causa do assédio sexual que estes sofrem (muitas vezes, calados) por parte de pastores, diáconos, líderes de mocidade, organizadores de acampamentos, etc. Se esses lugares já são perigosos para a criança ou adolescente heterossexual cisgênero, imagine para a criança ou adolescente LGBT! Ninguém perde coisa alguma ficando longe dessa fábrica de neuroses.


Finalmente, o trabalho - esse ambiente onde deveríamos aplicar nossas habilidades, conhecimentos e experiência, preferencialmente numa atmosfera de cooperação, visando à manutenção e à expansão da empresa que nos contratou. Não é bem isso que encontramos ali, todavia. O bullying "corporativo", geralmente, disfarçado de piada, gracejo ou mesmo de supervalorização das experiências heterossexuais no campo erótico-afetivo, romântico e familiar é um dispostivo de repressão utilizado contra as pessoas sexodiversas. Em outras palavras, quem é heterossexual e cisgênero pode falar das férias com a namorada ou namorado sem qualquer constrangimento,  ou comentar sobre os filhos sem qualquer recriminação, mas nós, LGBT, somos tacitamente coagidos a não falar sobre nosso final de semana com nosso namorado ou namorada homoafetivo(a).  Se falarmos, devemos estar preparados para o que virá depois, uma vez que provavelmente não teremos mais sossego depois disso. Observe que a maioria dos funcionários heterossexuais de qualquer empresa tem um porta-retrato com seu amor em cima da mesa, mas pergunte a si mesmo(a) o seguinte: Quantos LGBT fazem o mesmo tranquilamente? Garanto que são muito poucos ainda. Você pode estar dizendo a si mesmo(a) que se isso lhe acontecesse, você raclamaria com um chefe. Mas, que chefe? A maioria deles faz participa ou finge que não vê o jogo de seus "subordinados" LGBTfóbicos.


Qual será o resultado disso tudo?

O resultado de toda essa pressão social e de muitas outras é a neurose do armário. Com isso, refiro-me à repressão e camuflagem que a pessoa LGBT acaba fazendo contra si mesma para tentar tansitar pela sociedade LGBTfóbica sem ser apontada o tempo todo como uma desviada ou pervertida. 

Mas, não pense que é confortável viver no armário para evitar confrontos. De modo algum, pois não existe um único ser humano que se reprima com sucesso por muito tempo, se é que consegue se reprimir de fato por qualquer átimo. O que acontece geralmente é que a pessoa enfiada no armário acaba recorrendo à vida dupla. Isto é, ela age como  se fosse heterossexual e cisgênera, inclusive casando-se ou namorando alguém do outro sexo, mas dá vazão ao seu real desejo em escapadelas que estão longe de ser satisfatórias. Pelo contrário, essa duplicidade cobra um preço emocional altíssimo. 

Experiências sexuais vividas às escondidas exigem um arsenal de mentiras e disfarces capaz de deixar cicratizes profundas em qualquer psiquê. Entre as pessoas que já viveram assim por algum tempo e depois saíram do armário, muitas deram um novo e belo rumo à própria vida. Porém, muitas pessoas já morreram ou ainda morrerão nessa gangorra emocional, jamais tendo experimentado o sabor da liberdade de ser e de agir de acordo com sua própria vontade sem as máscaras auto-impostas na esperança de evitar a dor da rejeição. Sair do armário pode doer, mas é uma vez só. Viver no armário é arrastar uma dor muito maior pelo resto da vida. 


Felizmente, é cada vez mais comum que as pessoas saiam do armário o mais cedo possível. É importante que se diga que essa "coisa" de sair do armário só se faz necessária porque a sociedade parte do princípio de que, via de regra, todo mundo é heterossexual e cisgênero. O nome disso é hetero-cisnormatividade. E nada poderia estar mais longe da verdade. Na realidade, a heterossexualidade exclusiva é uma ponta do espectro das nuances que caracterizam a sexualidade humana assim como a homossexualidade é outra. A maioria das pessoas está em algum lugar entre as duas. Mas, por causa do reiterado reforço dessa hetero-cisnormatividade imposta por meio de vários mecanismos e dispositivos psicossociais presentes em nossa cultura, a maioria das pesssoas LGBT precisa dizer em algum momento quem elas são e como se sentem. Sair do armário é libertador, mas também é um ato político e pedagógico ao mesmo tempo.


Dentre as pessoas que logo cedo se assumiram e colocaram a cara no sol, algumas foram acolhidas sem maiores problemas. Porém, a maioria teve que travar alguma batalha dentro da própria casa. Nos casos mais graves, as pessoas LGBT podem sofrer represálias e até serem expulsas de casa. Mas, a maioria conseguiu refazer a vida e se estabelecer sozinha. Essas pessoas contruíram seus próprios lares e estabeleceram novas e significativas amizades tanto com outras pessoas LGBT como com pessoas heterossexuais e cisgêneras esclarecidas.


Em paralelo a todos esses enfrentamentos no plano individual, nós, LGBT, ainda travamos verdadeiras batalhas no plano coletivo. Já travamos muitas lutas para fazer valer nossos direitos mais fundamentais; direitos esses que só foram garantidos ao custo de muito esforço e graças a aliados nas mais diversas esferas de poder.


Para conhecer melhor a história da diversidade sexual e das identidades de gênero no Brasil desde o período colonial até a contemporaneidade, recomendo sem moderação o livro Devassos no Paraíso, de João Silvério Trevisan. Não existe nada igual em português ou em qualquer outra língua a respeito da história LGBT do lado de baixo do equador.



Adquira o seu com a Companhia das Letras:
https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9788547000653/devassos-no-paraiso-4-edicao-revista-e-ampliada




Como começou o Movimento LGBT?


Falando especificamente sobre a origem do Movimento LGBT moderno, algumas iniciativas heróicas e muito relevantes foram feitas na Europa, mas a luta por direitos ganhou força sem precedentes a partir do ano de 1969 com a Revolta de Stonewall, em Nova York, Estados Unidos. Esse levante aconteceu no dia 28 de junho; por isso, comemoramos o Dia Internacional do Orgulho LGBT nessa data.

No Brasil, especificamente, o Movimento LGBT, como concebido no período moderno foi deflagrado durante a Ditadura Militar (1964 a 1985). Duas publicações foram essenciais para esse despertamento: o jornal Lampião da Esquina (1978 a 1981) e o jornal ChanacomChana (1981 a 1987). O primeiro focava mais nos gays e nas travestis, enquanto o segundo era voltado para as demandas lésbicas, sendo vendido no Ferro's Bar em São Paulo. 

Apesar ter seu público majoritariamente entre lésbicas, o Ferro's Bar tentou reprimir a circulação do jornal - o que resultou num ato político promovido pelas lésbicas que deu origem ao que ficou conhecido como o Stonewall brasileiro (https://amp-mg.jusbrasil.com.br/noticias/3125198/brasil-registra-54-crimes-virtuais-por-minuto). A proibição da comercialização do periódico foi suspensa e o dia 19 de agosto ficou conhecido como o Dia do Orgulho Lésbico em São Paulo. Posteriormente, sendo adotado em todo o Brasil, nos Estados Unidos e em alguns países da Europa.



Fonte: 
https://jornal.usp.br/tv-usp/na-ditadura-midias-alternativas-quebraram-tabus-sobre-lgbts/




Conquistas da comunidade LGBT no Brasil:



1. criminalização da LGBTfobia;

2. reconhecimento social da identidade de gênero;

3. fim do tratamento das identidades trans como patologias;

4. fim dos tratamentos de “cura gay” por parte dos profissionais de saúde mental;

5. casamento civil igualitário;

6. permissão para casais homoafetivos adotarem crianças;

7. permissão para que crianças intersexo não tenham o sexo definido em suas certidões de nascimento;

8. procedimentos para a transição de gênero realizados pelo SUS.



Ainda há muito o que se fazer. Porém, essas vitórias para os direitos das pessoas LGBT, que nada mais são do que DIREITOS HUMANOS aplicados a indivíduos sexodiversos e que por muito tempo viveram sem quaisquer garantias civis, são fundamentais e profundamente emblemáticas. Cada uma dessas conquistas deve ser motivo de orgulho para toda a comunidade LGBT e seus aliados.


Apesar dos avanços, o Brasil ainda é o país que mais mata pessoas LGBT no mundo, muitas vezes com requintes de crueldade. O site Homofobia Mata, criado por Eduardo Michels, que durante 10 anos fez a melhor pesquisa sobre violência LGBTfóbica do Brasil, tem registros detalhados desses crimes até o ano em que ele se 'aposentou' da pesquisa: algum momento entre 2018-2019. Confira.


Mas, quando pensamos em outros países, temos, por um lado, motivos para celebração e, por outro lado, motivos para lamentação e luta. Entre os casos que nos alegram, podemos citar países progressistas e inclusivos como a Holanda, o Canadá, a Noruega. Só para citar três. Existem mais, é claro. Entre os casos que nos entristecem profundamente e que devem nos inspirar a lutar pelo fim da LGBTfobia em todo o mundo, encontram-se os países mais terrivelmente fundamentalistas e implacavelmente LGBTfóbicos, como a Arábia Saudita, o Qatar, o Irã, entre outros.


Atualmente, 69 países ainda condenam cidadãos LGBT por sua orientação sexual ou identidade de gênero. Até há pouco tempo, eram 71, mas Angola, Moçambique e Butão, que condenavam a sexodiversidade, baniram as leis absurdas. Que os demais sigam esse bom e justo exemplo.








Não basta descriminalizar a sexodiversidade


É preciso manter em mente que não basta não prender ou não condenar pessoas LGBT ao cárecere ou à morte. É preciso garantir seus direitos fundamentais em todos os países - direitos como os que já foram conquistados no Brasil e citados anteriormente nesse artigo.


Ainda existem muitas pessoas LGBT confinadas em campos de refugiados para não perderem suas vidas em suas próprias comunidades ou pelas mãos de seus prórpios parentes LGBTfóbicos. Um lamentável exemplo de campo de refugiados que atualmente conta com um grande número de pessoas LGBT é o campo de Kakuma no Quênia. Locais como esse deveriam proteger essas pessoas e proporcionar-lhe transição segura para locais onde elas pudessem morar, trabalhar e atingir sua autorrealização sem risco de morte, mas isso não está acontecendo e as autoridades internacionais parecem não se importar ao ponto de agir.


Por tudo isso e muitas outras coisas não mencionadas aqui por falta de espaço, é preciso celebrar o Dia do Orgulho LGBT com muita alegria e com muito orgulho próprio, fortalecendo a resistência contra a LGBTfobia que ainda grassa em certos ambientes. 

É preciso que as organizações que se colocam como representantes do Movimento LGBT organizado trabalhem de fato para combater essas injutiças, inclusive movendo processos contra pessoas ou instituições que façam demonstrações públicas de LGBTfobia, como foi o caso da cantora gospel Bruna Karla, que fez declarações extremamente homofóbicas numa entrevista veiculada pela Internet ao se referir a um "amigo" seu que é gay e que estava organizando seu casamento há alguns meses. Gente que faz esse tipo de discurso LGBTfóbico, especialmente em veículos de comunicação com amplo alcance, incluindo aqui as redes sociais, tem que ser processada. E os recursos obtidos com esses processos devem ser investidos em programas ou projetos que visem ao esclarecimento da população em geral e à capacitação de pessoas LGBT, especificamente, para profissionalização e inclusão no mercado de trabalho, a fim de que atinjam autonomia financeira.



LGBTfobia governamental



Damares e Jair Bolsonaro:
Dois inimigos declarados da comunidade LGBT

É notória a prevaricação do governo federal, capitaneada por Jair Bolsonaro e sua trupe de incompententes e desonestos. Estes devem ser alvo de reiteradas ações no Judiciário a fim de obrigá-los a cumprirem suas obrigações no que tange à comunidade LGBT. Tolerância zero para com fascistas e outros desse tipo. O mesmo deve ser aplicado a qualquer governo em nível estadual ou municipal.



O Estado não é vaca leiteira. O Estado corresponde ao conjunto de instituições no campo político e administrativo que organiza o espaço de um povo ou nação. 



É possível que também existam pessoas, inclusive LGBT, apenas funcionando como "cabides de emprego" em organizações vinculadas ao poder público. Em vez de trabalharem de fato para a inclusão e o bem-estar social de pessoas LGBT, esses servidores ou ocupantes de cargos comissionados só fazem isso mesmo: ocupam um cargo, quando deveriam realizar de fato o ofício confiado a elas. Em outras palavras, garantem seus salários, mas não cumprem suas obrigações. Refiro-me, especialmente, a organizações que são financiadas com dinheiro público, tais como coordenadorias e secretarias municipais e estaduais, bem como suas semelhantes na esfera federal. Esses órgãos geralmente estabelecidos por meio de lei ou decreto deveriam servir ao propósito de garantir os direitos das pessoas LGBT no âmbito do Estado, mas o que vemos muitas vezes é o contrário: Os responsáveis por seu funcionamento não cumprem seu papel - o que constitui crime de prevaricação (quando apenas deixam de fazer o que devem) ou peculato (quando se beneficiam pessoalmente dos poderes que seus cargos lhe conferem).  Devem ser advertidos - para começo de conversa - e processados se não fizeram os devidos ajustes de conduta, sendo eventualmente substituídos por quem tenha a competência e o compromisso de fazer o que o cargo determina.


A luta continua


Como se vê, temos muitos motivos pelos quais nos orgulharmos, mas também muitas lutas que precisamos continuar travando. E precisamos fazer isso sem nos descuidarmos de nossa própria vida. Afinal, temos pouco tempo para viver. Quem chegar aos 90 ou mais, ainda terá vivido pouco. Imaginem quem viver até os 40 anos de idade. E, cá para nós, a gente nunca sabe se vai estar o primeiro ou no segundo grupo. Por isso, não podemos adiar nossa autorrealização em nome de ideologias, partidos, organizações ou figuras políticas quaisquer que sejam elas. A vida passa rápido e logo seremos apenas mais um CPF cancelado, como diz aquele fascista do qual nos livraremos em outubro pelos meios democráticos mais legítimos - as eleições.


Uma imagem vale mais que mil palavras.




Então, lute, proteste, celebre! Porém, acima de tudo, VIVA sua vida da melhor maneira possível, respeitando a sua própria individualidade como ser fundado e atravessado pela diferença. Afinal, nem as impressões digitais dos meus dois polegares são idênticas - quanto menos esses mais 9 bilhões de indivíduos que respiram o oxigênio desse lindo planeta.

Empodere-se com leituras que abordem os interesses de nossa comunidade. Na Internet, você pode encontrar muita coisa boa em texto, podcast e vídeo. Não dê IBOPE para os detratores. Fortaleça nossos concidadãos LGBT e os canais que valorizam a nossa subjetividade e a nossa comunidade. 

Uma boa lista de livros autorados por pessoas LGBT ou que entendem bem a nossa realidade, mesmo não sendo LGBT necessariamente. pode ser acessada aqui no site da Companhia das Letras:

https://www.companhiadasletras.com.br/evento/leiacomorgulho

Eu mesmo comprei uma penca de livros esse mês por aqui. 

Também recomendo muitíssimo o livro de Letícia Lanz, O Corpo da Roupa, que só pode ser adquirido por aqui: O CORPO DA ROUPA (https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-827981469-livro-o-corpo-da-roupa-leticia-lanz-2-edico-original-_JM) . Ela também escreveu A CONSTRUÇÃO DE MIM MESMA (https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-827981469-livro-o-corpo-da-roupa-leticia-lanz-2-edico-original-_JM). Li esse também e recomendo. O primeiro é uma obra fantástica sobre gênero e o segundo é autobiográfico e tocante. Letícia Lanz é uma pessoa trans com excelente formação e entende muito bem do que está falando.

Tem SORTEIO DE LIVRO  no meu INSTAGRAM! Começa hoje, domingo, 26/06/22, e termina na terça-feira, dia 28/06/22, quando farei uma live às 22h para anunciar os vencedores. Serão dois livros. Saiba mais nesse meu vídeo aqui no Instagram: 
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LEIA MAIS LIVROS COM TEMÁTICA LGBT. 🌈
Deixo aqui um link para os meus livros (ebook no Amazon):
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Parada LGBT de São Paulo 2022


Orgulhe-se de suas cores não apenas durante uma das mais de 270 paradas do orgulho LGBT que acontecerão esse ano no Brasil. Afinal, todo dia é uma nova oportunidade para ser e fazer a diferença no mundo! Viva seu dia-a-dia bem out and proud! (Não entendeu, joga no Google). 😂😂😂😂

Corpus Christi: Vestra frui corporum (Aproveitai vossos corpos)

Por Sergio Viula





O feriado é de Corpus Christi, mas muita gente nem sabe do que se trata o feriado. De fato, Corpus Christi é simplesmente a celebração da hóstia - um biscoitinho de trigo que supostamente se tranforma ao longo do rito da missa celebrada por um sacerdote em comunhão (acordo, obediência e submissão) ao Papa da Igreja Católica Apóstolica Romana.

Reza o catecismo que a presença de Cristo passa a estar em todas as partes do biscoito de trigo assim que este é consagrado pelo sacerdote. Também diz o catecismo, logo em seguida, que a adoração ao pão e vinho eucarísticos é adoração ao próprio Cristo. 

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Catecismo oficial da Igreja Católica (http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p2s2cap1_1210-1419_po.html), sua segunda parte (a celebração do mistério cristão), segunda seção (os sete sacramentos da Igreja): 

1377. A presença eucarística de Cristo começa no momento da consagração e dura enquanto as espécies eucarísticas subsistirem. Cristo está presente todo em cada uma das espécies e todo em cada uma das suas partes, de maneira que a fracção do pão não divide Cristo (210).

1378. O culto da Eucaristia. Na liturgia da Missa, nós exprimimos a nossa fé na presença real de Cristo sob as espécies do pão e do vinho, entre outras maneiras, ajoelhando ou inclinando-nos profundamente em sinal de adoração do Senhor. «A Igreja Católica sempre prestou e continua a prestar este culto de adoração que é devido ao sacramento da Eucaristia, não só durante a missa, mas também fora da sua celebração: conservando com o maior cuidado as hóstias consagradas, apresentando-as aos fiéis para que solenemente as venerem, e levando-as em procissão» (211).

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Se você não sabia, agora sabe por que as procissões de Corpus Christi levam a hóstia diante do povo enquanto este canta louvores à Eucaristia (pão e vinho = carne e sangue de Cristo) ao longo do caminho.

Mas não escrevo esse post para catequizar ou questionar o catecismo apenas por esporte. Não mesmo. O que eu desejo fazer é uma crítica de cunho muito mais relevante.

Eu me pergunto como a Igreja Católica, principalmente, e suas outras irmãs (Ortodoxas, Protestantes, etc.), a reboque, podem celebrar tão apaixonadamente um corpo abstrato, representado por um biscoito magicamente modificado pelo sacerdote e negar corpos visíveis a olho nu, esses mesmos que se colocam ou adorariam se colocar no mundo de modos melhor sintonizados suas percepções mais honestas de si mesmos? Como querer impor textos escritos por sacerdotes ignorantes sobre a maior parte das coisas que sabemos e fazemos hoje só porque esses modos de ser e de fazer não condizem com seu obtuso modo de ver as coisas? 

Como pode o clero e seus repetidores afirmar a transformação de um biscoito de trigo e um gole de vinho em carne e sangue de Cristo, enquanto desrespeitam o direito de cada corpo que anda, pensa, respira, ama, goza e padece de ser o que desejar ou o que simplesmente souber ser. 

Em tempos (felizmente) idos, a Igreja Católica podia afirmar a transubstanciação sem qualquer constrangimento, apesar de ninguém sentir gosto de carne ou sangue na boca ao tomar os elementos da eucaristia, exceto por alguns excêntricos com algum nível de neurose mais agudo, como os chamaos místicos. Era fácil afirmar a transubstanciação e escapar do escrutínio, uma vez que não havia microscópios e estudos sobre tecido celular. E muito menos ainda sobre cromossomos e sua organização no que hoje denominamos DNA. 

Passou a ser constrangedor para os crentes na mística eucarística afirmar que o pão se torna verdadeiramente carne e o vinho verdadeiramente sangue de Cristo. Para evitar orelhas em pé e olhares céticos, as construções frásicas foram modificadas no catecismo, mas sem qualquer retratação oficial. E se alguém pensa que a Igreja cedeu de fato, basta ver qual será o destino do frei ou freira que disser que o pão e o vinho são apenas símbolos do sacrifício de Cristo: o fiel passa a ser considerado um herege calvinista ou luterano num passe de mágica.

Enquanto afirma um corpo que não existe, a Igreja teima em negar outros que se impõem. Igrejas, de um modo geral, não se relacionam bem com os corpos humanos, sejam eles vistos sob os conhecimentos construídos a partir da biologia isoladamente - o que é insuficiente, diga-se de passagem - ou sob o foco da plasticidade que permite que nossos corpos se (re)constituam em meio às (e a partir das) experiências bio-psicossociais vivenciadas.

Inegavelmente, todo corpo é construído. Todo corpo tem uma base genética que pode ser vista como ponto de partida, mas nunca como ponto de chegada necessário ou como destino irrevogável. Não morremos os mesmos que nascemos. Ninguém! Nossos corpos se modificam. São condicionados, treinados, submetidos a todo o tipo de restrição construída discursivamente e por meio de dispositivos que já operam sobre nós desde período pré-natal sem qualquer possibilidade de consentimento ou objeção da nossa parte.

Nossos corpos são fantásticos! Muita gente se ressente de não ter um corpo que se encaixe num determinado padrão. Ressalto que os padrões mudam de acordo com o tempo e o local. Culturas variam e assim também variam os padrões ditados para os corpos que circulam nos ambientes dominados por uma determinada cultura. Isso afeta as noções de forma, peso, cor, altura, largura, idade (real ou aparente) dos corpos. A indumentária e o modo como nossos corpos se comportam em cada ambiente e ocasião também variam. Quase tudo ao nosso redor cria e reforça artificialmente noções de gênero, que, pela massificação das regras, passam a parecer naturais, mas que foram estabelecidas através de várias relações de força cristalizando hierarquias que, por sua vez, perpetuam ou incrementam todo tipo de injustiça e violência - das mais simbólicas às mais cruentas.

Hoje mesmo, estava ouvindo a Lorelay Fox falar sobre os posicionamentos transfóbicos da escritora J.K. Rowling, criadora do cativante universo de Harry Potter. É impressionante que alguém com o nível cultural e com a capacidade criativa de J.K. Rowling venha a se prestar à desprezível função de perpetuar preconceitos baseados em noções equivocadas sobre identidade gênero e de tudo o que decorre de visões biologizantes, especialmente quando se trata de pessoas transgêneras, ou seja, aquelas que tiveram seu gênero atribuído desde o nascimento meramente com base em sua genitália, mas que transicionaram do gênero atribuído por terceiros para o gênero com o qual elas, individual e pessoalmente, se identificam.

Para fins de esclarecimento, pensemos no que significa ser uma pessoa cisgênera e no que significa ser uma pessoa transgênera. Basicamente falando, podemos definir cisgênero e transgênero assim:

Uma pessoa cisgênera é aquela cuja identidade de gênero corresponde ao gênero que lhe foi atribuído no nascimento.

Uma pessoa transgênera é aquela cuja identidade de gênero difere do que tipicamente se atribui ao seu sexo de nascimento.

E qual é a consequência do reconhecimento dessas subjetividades e dos diversos corpos que delas decorrem? Múltiplas! E muitas delas belíssimas! Existem coisas não tão glamourosas, especialmente quando pensamos nas relações de opressão estabelecidas a partir da equivocada noção de que a cisgeneridade é a norma. Refiro-me a regras e padrões ditados com base em noções equivocadas de gênero e de natureza geralmente ditados por interpretações paupérrimas sobre a experiência dessa multiplicidade de corpos e subjetividades que chamamos de "O Ser Humano", como se este fosse apenas uma coisa e nada mais.

Por isso, quero lembrar em letras garrafais lidas em voz retumbante que...

 

Há mulheres com vagina e há mulheres com pênis!

Há homens com pênis e há homens com vagina!

Há mulheres que menstruam e que deixarão de menstruar um dia (algumas há muito tempo)!

Há mulheres que nunca menstruaram e que jamais menstruarão!

Há homens que nunca menstruaram e que nunca menstruarão!

Há homens que menstruam e que deixarão de menstruar um dia (alguns há muito tempo)!

Há mulheres que produziram seios espontaneamente.

Há mulheres que removeram seus seios e há mulheres que construíram seios.

Há homens que jamais produziram seios espontaneamente.

Há homens que removeram seios espontaneamente produzidos.

Há mulheres cujos seios podem ou não amamentar. 

Há mulheres cujos seios nunca poderão amamentar.

Há homens sem seios que, portanto, nunca amamentarão.

Há homens cujos seios podem ou não amamentar. 

O útero não define quem é mulher: Histerectomia não basta para se desconstruir uma mulher.

A próstata não define quem é homem: Prostatectomia não basta para se desconstruir um  homem.

Há mulheres que podem parir e mulheres que não podem.

Há mulheres que podem engravidar outras mulheres e até homens.

Há homens que podem fecundar e homens que não.

Há homens que podem engravidar de outros homens ou até de outras mulheres.

Há casais formados por uma mulher cis e outra trans, um homem cis e outro trans, duas mulheres cis, dois homens cis, duas mulheres trans, dois homens trans e até com mais de dois parceiros e/ou parceiras.

Eu poderia seguir com essa fantástica lista, mas penso que esses dados sejam suficientes para fazer muita gente pensar. Mas só pensa quem quer pensar. Nada poderá ajudar a pensar aquele(a) que se recusa a fazê-lo seja lá em nome do que ou de quem. 


Ah, e se a mulher trans ou o homens trans não for "a sua praia"? 

Não esquenta a cabeça. Tem praia pra todo mundo. Procure a sua e respeite a dos outros. ;)



Você consegue ver quem é a mulher e quem é o homem aqui,
mas que diferença faz em qual dos dois corpos estão o(s) pênis e/ou a(s) vagina(s)?


Sexo não determina e não pode mesmo determinar o gênero de ninguém. Gênero é uma construção psicossocial, não biológica, mesmo quando leva em consideração o corpo e suas possíveis transformações. Gênero pode ser construído, desconstruído e até eliminado da experiência humana como o conhecemos hoje. Podemos viver num mundo sem qualquer noção de gênero. Isso é absolutamente possível, ainda que nos pareça muito difícil devido aos constrangimentos discursivos aos quais também fomos submetidos desde antes do nosso nascimento. 

E se alguém ainda quiser dar aquela cartada mais do que ultrapassada de que não haveria procriação sem sexo (sexo entendido como ato sexual ou a combinação de espermatozoide e óvulo), quero lembrar aos digníssimos dinossauros que nem para procriação o ato sexual, é mais necessário. E já está à porta o dia em que nem o binômio espermatozoide/óvulo será necessário para gerar novos indivíduos. Quem viver, verá! 

Concluindo, um corpo não TEM QUE ser coisa alguma, mas ele PODE ser qualquer coisa! Sua plasticidade é impressionante. E se há uma coisa que faz bem ao corpo, seja ele qual for, é a autorrealização. Para além da boa alimentação, do equilíbrio entre movimento e descanso, do amor próprio e do amor recíproco em relações com um ou mais corpos, nossos corpos são, ao mesmo tempo, fonte e meio de satisfação própria e de satisfação para outro(s) corpo(s) que se relacione(m) harmoniosamente com ele.

Por isso, a frase no título desse post: "Vestra frui corporum!" 

Em latim, essa frase significa "Aproveitai vossos corpos". Porque, se você não tomar cuidado, ele será explorado por terceiros em relações de poder as mais diversas (família, igreja, escola, trabalho, etc.), mas não usufruído por você mesmo e por aquele(a)/aqueles(as) com os(as) quais você estabeleça deliciosas relações de reciprocidade, não necessária ou exclusivamente sexuais.

Vestra frui corporum!


ASSISTA A ESSE VÍDEO FEITO POR LORELAY FOX:

https://youtu.be/7qzs4N_7u6s

Como mudar seu nome e gênero na certidão de nascimento



Você sabia que desde 06 de abril de 2018, você que é transexual pode fazer retificação de gênero no cartório de registro civil, ou seja, mudar seu gênero e nome diretamente em sua certidão de nascimento, sem processo judicial e sem necessidade de cirurgia de redesignação?

A decisão foi tomada pelo STF em abril e o procedimento já está normatizado pela Corregedoria Nacional de Justiça, CNJ, desde 29 de junho deste ano.

Não deixe para depois. O procedimento nos cartórios é mais simples do que você imagina.

Toda pessoa maior de 18 anos poderá requerer a averbação do prenome e do gênero, a fim de adequá-los à identidade autopercebida, conforme informa a CNJ.

Documentação necessária


É preciso apresentar, obrigatoriamente, documentos pessoais; comprovante de endereço; certidões negativas criminais e certidões cíveis estaduais e federais do local de residência dos últimos cinco anos. A pessoa deve apresentar ainda certidão de tabelionatos de protestos do local de residência dos últimos cinco anos e certidões da justiça eleitoral, da justiça do trabalho e da justiça militar (se for o caso).

Se for desejo da pessoa (não é obrigatório), ela pode juntar laudo médico que ateste a transexualidade/travestilidade; parecer psicológico que ateste a transexualidade/travestilidade e laudo médico que ateste a realização de cirurgia de redesignação de sexo.

Ainda segundo a regulamentação, ações em andamento ou débitos pendentes não impedem a realização da alteração pretendida. Esta, uma vez realizada, será comunicada aos órgãos competentes pelo ofício do Registro Civil das Pessoas Naturais (RCPN) onde o requerimento foi formalizado. Isto quer dizer que o requerente poderá alterar todos os seus documentos a partir de então.

De acordo com o juiz auxiliar da Corregedoria Nacional de Justiça Márcio Evangelista, a normatização da CNJ confere padronização nacional e segurança jurídica ao assunto.

Esse normativo da Corregedoria Nacional de Justiça está alinhado à decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4275-DF, que reconheceu a possibilidade de transgêneros alterarem o registro civil sem mudança de sexo ou mesmo de autorização judicial.

Querido(a) amigo(a) transexual ou travesti, não passe mais constrangimento por se expressar de um modo no dia a dia e ser identificado de outro modo em sua documentação. Procure o cartório de registro de pessoas naturais e realize a retificação do seu gênero e nome na sua certidão de nascimento. É muito mais do que um simples nome social.

Mas, atenção: Uma vez retificados o nome e o gênero na certidão de nascimento, a pessoa não poderá mais alterá-los no cartório, sendo necessária uma ação judicial e ficando a cargo da justiça autorizar o não uma nova modificação.

Parabéns ao STF e ao CNJ por promoverem justiça na garantia de direitos para as pessoas transexuais e travestis. E parabéns, principalmente, às pessoas trans e travestis, juntamente com seus aliados, que nunca desistiram de lutar por esse direito.

PROFISSÃO REPÓRTER: TRANSGÊNEROS (01/08/18)

Por Sergio Viula


Caco Barcellos e sua equipe fizeram um trabalho muito interessante de acompanhamento da vida de crianças e adultos trans. Vale muito a pena ver esse episódio do programa. E fica aqui o reconhecimento do excelente trabalho que a emissora faz quando aborda esse e outros temas da diversidade em comparação com a superficialidade com que tratam esses temas outras tantas emissoras da TV aberta, com uma exceção aqui (para aplausos também) ao Conexão Repórter, do Roberto Cabrini, que trabalha com muita seriedade, ética e sensibilidade também.




Assistam o Profissão Repórter sobre pessoas transgêneras aqui:
https://globoplay.globo.com/v/6915514/programa/


OBS: Se o aparecer uma mensagem, tipo "conteúdo exclusivo para assinantes", basta entrar com sua identificação no Facebook. Haverá uma tecla azul com a inscrição "Facebook". Clicar nela e você terá acesso total.



E para ver a apresentação da quadrilha de dança junina do Ceará que teve uma rainha trans e homenageou Dandara, acesse essa matéria do G1. A apresentação é de arrepiar. 
https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/quadrilha-junina-homenageia-dandara-travesti-torturada-e-assassinada-no-ceara.ghtml

O que realmente querem os inventores e defensores dessa excrescência chamada "ideologia de gênero"

O Papa veste Prada


O que realmente querem os inventores e defensores dessa excrescência chamada "ideologia de gênero"


por Leticia Lanz
https://www.facebook.com/leticialanz

Arquivo Transgênero
http://leticialanz.blogspot.com.br/2017/12/o-que-realmente-querem-os-defensores.html


A expressão “ideologia de gênero” começou a circular a partir da segunda metade da década de 1990, mais especificamente a partir do ano de 1995 e, mais especificamente ainda, a partir do IV Congresso Mundial da ONU sobre os Direitos da Mulher, realizado em Pequim nesse mesmo ano.

Desde o início, tratou-se de uma expressão inteiramente espúria, sem qualquer alcance ou significado científico, sendo totalmente estranha à terminologia empregada na importante área interdisciplinar de pesquisa acadêmica conhecida como de “Estudos de Gênero”.

Que fique bem claro que os criadores e defensores dessa tal de ideologia de gênero não são os pesquisadores e estudiosos de gênero, pessoas a quem os verdadeiros criadores, maliciosa e espertamente, querem atribuir a criação e defesa desse termo. Os pesquisadores e estudiosos de gênero NÃO INVENTARAM NEM DEFENDEM DE MANEIRA ALGUMA essa excrescência teórica e prática. Gênero é uma coisa, ideologia de gênero é outra completamente diferente e, por sinal, inteiramente "sem noção". Gênero diz respeito à atribuição de papéis, comportamentos e atitudes sociais aos indivíduos em função da sua genitália de macho ou de fêmea, fenômeno presente em todas as culturas, das mais primitivas às mais evoluídas, com largo espectro de narrativas e estudos científicos que comprovam a existência desse fenômeno. "Ideologia de gênero", por seu turno, diz respeito a um elenco de suposições falsas e mentirosas, baseadas exclusivamente em mitos e crenças religiosas sem nenhum fundamento, que foi posto em circulação por nítida má-fé dos seus "inventores", desejosos de estancar o avanço dos direitos humanos no mundo contemporâneo, especialmente os direitos da mulher e da população LGBT.

Em 1995, o então cardeal Joseph Ratzinger, nomeado papa Bento XVI pelo colégio dos cardeais em 2005, intelectual altamente conservador e retrógrado, era o todo-poderoso titular da congregação para a doutrina da fé, a mais poderosa das nove congregações que constituem a cúria romana, sucessora da poderosíssima Sacra Congregação do Santo Ofício que, por sua vez, tinha sucedido a Suprema e Sacra Congregação da Inquisição, responsável pelos tribunais da inquisição que levaram milhares de mulheres para as fogueiras, no início da Renascença.

Uma breve história desse grande embuste intelectual, nos remete a uma imensa "armação" dos setores mais ortodoxos e conservadores da igreja católica que, em nome de barrarem o fluxo dos direitos humanos conquistados pela mulher ao longo de todo o século XX, mas especialmente no seu último quartil, resolveram produzir esse arranjo conceitual de fortíssimo apelo moral para as camadas menos preparadas da população, a que deram o nome de "ideologia de gênero".

Reza a lenda que essa expressão foi cunhada pelo cardeal Ratzinger em pessoa, revoltado com os nítidos avanços planetários da mulher na sociedade contemporânea, claramente evidenciadas na Conferência da ONU em Pequim, mas que também buscava desesperadamente um "mote moral", uma "cortina de fumaça" capaz de desviar a atenção do público mundial das terríveis mazelas institucionais que se abatiam e ainda se abatem sobre o catolicismo romano.

Em 2013, Ratzinger, o papa que usava sapatos "Prada", foi o primeiro pontífice a renunciar ao trono de São Pedro em 600 anos, em meio a gravíssimos casos de corrupção, fraudes financeiras e escândalos sexuais de pedofilia. Até hoje essas contravenções continuam abalando a cúpula do catolicismo romano, a despeito do perfil nitidamente populista do sucessor de Bento XVI, Francisco I, trunfo com o qual a cúria romana tenta desviar a atenção do público para questões pseudo-morais, de modo a abafar os escândalos que, na sua maioria, seguem sem a ação enérgica da igreja católica para sua devida apuração, punição e prevenção de futuras ocorrências.

Mas a estratégia “ideologia de gênero” parece ter funcionado de modo altamente eficaz. A ideia – estapafúrdia, esdrúxula e sem nenhum fundamento – de que as pessoas são homens ou mulheres porque foram feitas assim pelo Criador, sem nenhuma interferência da sociedade, acabou “colando” pelo mundo afora, servindo de sustentação para discursos altamente misóginos e lgbtfóbicos, de políticos e religiosos altamente reacionários.

Uma das versões mais difundidas desse discurso insiste na tese completamente falsa e nonsense de que a ideologia de gênero “visa” convencer nossas crianças e jovens de que eles podem escolher ter o “sexo” que quiserem, na hora que desejarem.

Além de falacioso, trata-se de um discurso auto-contraditório com o que diz o próprio discurso desses “ideólogos de gênero” já que afirmam que o sexo, para eles algo idêntico a gênero, é definido pelo Criador antes mesmo da pessoa nascer e não pode ser de forma alguma alterado. Ora, se não pode ser alterado, como afirmam, não existe nenhuma possibilidade de uma criança ou jovem ser “convencidos” de que podem mudar o seu “sexo” a qualquer momento.

Se sexo, que esses “ideólogos” de gênero entendem como sinônimo de gênero, não pode ser alterado por ter sido obra do Criador, porque é que eles se empenham tanto em combater os Estudos de Gênero? Por que perdem tanto tempo tentando defender o que, segundo eles mesmos, não carece de defesa, por ser inexoravelmente imutável, uma vez que resulta da “vontade soberana do Criador”?

Ora, se resulta da vontade do Criador e é “imexível” por definição (deles) não haverá discurso que convença um menino que ele pode ser menina quando bem lhe aprouver – ou vice versa.

Evidentemente, ao se empenharem tanto em negar validade e combater o extenso conhecimento científico, reunido de várias áreas de pesquisa, presentemente acumulado na área dos Estudos de Gênero, esses políticos e religiosos fundamentalistas estão revelando que não fazem tanta fé, como dizem, na tal “vontade do Criador”.

Pelo contrário, estão tremendo de medo que as multidões descubram o quanto as pessoas têm sido ludibriadas e manipuladas por crenças absurdas, ilógicas e disparatadas. Estão se borrando nas calças de que especialmente a massa de mulheres descubra que não deve nenhum tipo de reverência ou obediência ao homem, porque não há nenhuma hierarquia entre os sexos, como eles defendem, alegando que o homem foi feito à imagem do Criador e a mulher é apenas um exemplar mal-feito a partir de uma de suas costelas. Temem que as multidões descubram que sexo é uma coisa e gênero é uma coisa completamente diferente de sexo. Que as pessoas nascem com sexo, mas não nascem com gênero. Que sexo é herdado biologicamente, enquanto gênero é aprendido culturalmente. Que sexo está no domínio da natureza enquanto gênero está no domínio da linguagem. Que as pessoas nascem machos ou fêmeas, isto é, com pênis ou com vagina, mas que a simples posse de um desses órgãos não assegura que a pessoa irá se enquadrar como homem ou como mulher na sociedade. Que é possível, sim, alguém nascer macho e não querer ou não conseguir se expressar como homem, nem se adaptar aos papéis sociais de homem estabelecidos pela sociedade.

Mas o principal alvo dos “ideólogos” de gênero é a mulher, ou melhor, a jornada, plenamente exitosa, de libertação da mulher. Não é a toa que os ataques aos Estudos de Gênero se iniciaram exatamente num Congresso da ONU em que estavam sendo apresentados os notáveis avanços da mulher mundo afora, junto com suas reivindicações por mais espaço na sociedade, um espaço que lhes é de direito e que sempre lhe foi negado historicamente pelo homem, especialmente o homem representado por instituições tipicamente misóginas como a igreja católica apostólica romana.

O que os “ideólogos” de gênero querem é “revogar” e “apagar” os espaços ocupados pela mulher que, na sua teoria de obediência e subalternidade ao homem determinada, segundo eles, pelo próprio Criador, elas jamais deveriam ter ocupado. Não é a toa que os aliados de primeira hora do cardeal Ratzinger vieram de seitas evangélicas fundamentalistas neopentecostais que defendem a obediência e a subordinação irrestritas da mulher ao homem, com base em preceitos bíblicos.

Se o discurso anti-gênero “pegou” pelo mundo afora foi única e exclusivamente por causa do profundo temor que o homem ocidental contemporâneo tem de “perder” o seu status de ser superior na hierarquia da criação (como se já não o tivesse perdido, há muito tempo...). Daí o discurso vir acompanhado de uma suposta “defesa” da família tradicional, composta por homem, mulher e filhos, que o próprio homem se encarregou de detonar, simplesmente desaparecendo da cena familiar, deixando que a maioria das mulheres cuidasse sozinha dos lares que eles sistematicamente abandonaram e menosprezaram.

O fato é que esses inventores da ideologia de gênero não têm moral para defender o seu suposto discurso moralizante. O objetivo nítido e evidente desses fundamentalistas misóginos é fazer o mundo acreditar que gênero é uma ideologia, uma ficção criada por pesquisadores e estudiosos que eles rotulam de devassos, doentes e depravados. Que a mulher deve ficar no seu lugar de mulher, ou seja, debaixo da sola do sapato do homem. Essa é a mensagem real; o resto é mero enfeite.

Basta olhar o perfil não-divulgado, mas amplamente conhecido, do papa afastado Bento XVI, considerado o criador da “ideologia de gênero” num momento de extremo desespero político da igreja católica, com graves denúncias de roubos e rombos financeiros na sua alta cúpula e estarrecedores processos públicos de pedofilia lhe sendo imputados em todo o mundo. Precisa dizer mais alguma coisa?



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Leia mais de Letícia Lanz:



Você sabe o que é a Ideologia da Desigualdade de Gênero?
http://leticialanz.blogspot.com.br/2016/11/voce-sabe-o-que-e-ideologia-da.html


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Judith Butler escreve sobre sua teoria de gênero e o ataque sofrido no Brasil
http://leticialanz.blogspot.com.br/2017/11/judith-butler-escreve-sobre-sua-teoria.html


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A arrogância e o desespero dos religiosos conservadores, representantes do patriarcado-machista, por trás da "ideologia de gênero"
http://leticialanz.blogspot.com.br/2017/03/a-arrogancia-e-o-desespero-dos.html


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Devaneios bíblicos dos igrejeiros em defesa da sociedade patriarcal-machista
http://leticialanz.blogspot.com.br/2016/12/devaneios-biblicos-dos-igrejeiros-em.html

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É preciso analisar gênero fora da visão masculina de mundo
http://leticialanz.blogspot.com.br/2017/01/e-preciso-analisar-genero-fora-da-visao.html


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A guerra ao gênero que está sendo travada no mundo atual
http://leticialanz.blogspot.com.br/2016/12/a-guerra-ao-genero-que-esta-sendo.html

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Bê-a-bá de gênero
http://leticialanz.blogspot.com.br/2016/10/be-ba-de-genero.html


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Leia também essa formidável obra escrita por Letícia Lanz:






COMPRE AQUI: 
http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-827981469-livro-o-corpo-da-roupa-de-leticia-lanz-_JM

Cidadania TRANS no 14º Seminário LGBT do Congresso Nacional



Cidadania TRANS é o tema principal da 14º Seminário LGBT do Congresso Nacional

O evento acontece no dia 13 de junho (terça-feira), no Auditório Nereu Ramos, no Anexo 2 da Câmara dos Deputados

A importância de cada vida humana, mas especialmente daquelas sobre as quais pesam o preconceito, a violência, a negação da sociedade em quase todos os campos, incluindo o mercado de trabalho e o acesso à educação, são alguns dos vários aspectos a ser abordados no 14º Seminário LGBT do Congresso Nacional. Em 2017, o evento terá como tema “TRANSição Cidadã – Nossas vidas importam”. Como em todos os anos, o seminário é aberto ao público e acontece das 9h às 18h no Auditório Nereu Ramos, no dia 13 de junho (terça-feira), no Anexo 2 da Câmara dos Deputados, em Brasília (DF).

Entre os convidados do seminário, lideranças de entidades de defesa pelos direitos de pessoas transexuais e travestis, e também de gays, lésbicas e bissexuais, como o Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (Ibrat), a Forum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (Fonatrans), Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Fórum Nacional de Educação, Associação Brasileira de Famílias Homoafetivas (ABRAFH), Rede Afro LGBT, Universidade de Brasília (UnB), Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), além do Conselho Federal de Psicologia e Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

O seminário terá como atividade cultural uma exposição de arte produzida por e sobre pessoas trans. A arte é o meio catalisador que reúne as expressões e representações mais visíveis do universo gay, lésbico, transexual e de indivíduos que não se enquadram nos padrões da nossa sociedade.

A exposição “É tudo nosso” é um pequeno recorte da produção de artistas do Distrito Federal e de outros estados que com seus trabalhos chamam atenção para os direitos básicos que são negados às minorias. A mostra, que tem curadoria de Clauder Diniz, transita entre o erotismo, a denúncia, o ativismo, o afeto e a poesia, e poderá ser vista na Casa da Cultura da América Latina, em Brasilia, entre os dias 13 e 28 de junho.

São 18 artistas, como Christus Nóbrega, Alair Gomes, António Obá, Odinaldo Costa, João Henrique, Léo Tavares e Rosa Luz, com trabalhos em fotografia, vídeo-performance, pinturas, arte eletrônica e desenho.

Toda a sociedade é convidada a participar deste momento de luta pela plena inclusão da população LGBT na comunidade de direitos, independentemente de orientação sexual e identidade de gênero.

Mais informações: (61) 3215-5646/9978


XIV Seminário LGBT do Congresso Nacional – TRANSição Cidadã: Nossas Vidas Importam!

Data: 13 de junho de 2017 no Auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados

9h - Mesa Solene de Abertura

Mestre de Cerimônias: Rosa Luz

Presidentes das Comissões

Parlamentares Requerentes do Seminário

Lideranças Sociais LGBT

Ângela Pires Terto - Campanha Livres & Iguais - ONU Brasil

9h15 - Apresentação do Hino Nacional:  Valeria Houston

Saudação dos parlamentares e lideranças que compõe a mesa de abertura

11h: 1ª Rodada

Transição cidadã em tempos de crise

Crises econômica, institucional, ambiental; transformações na política, recrudescimento do conservadorismo em nível mundial; terceirização, ameaças aos direitos trabalhistas, reformas constitucionais; desmonte do Estado de proteção social e os impactos na cidadania LGBT.

- Andrey Lemos - Mediador

Presidente nacional da União Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – UNALGBT.

- Thais Paz

Coletivo LGBT Sem Terra -  MST.

- Marina Reidel

 Coordenação LGBT do Ministério dos Direitos Humanos.

- Dom Maurício

Bispo da Diocese Anglicana de Brasília.

- Sandra Sposito

Conselho Federal de Psicologia – CFP.

14h30: 2ª Rodada

Nossas vidas importam!

Violência LGBTfóbica com enfoque em transfobia, lesbofobia, feminicídio e racismo; violência institucional; crimes de ódio; vulnerabilidade dos corpos LGBT.

- Marcelo Caetano – Mediador

Professor na Faculdade de Direito da Universidade de Brasília - UnB.

- Silvia Cavalleire

União Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – UNALGBT.

- Evelyn Silva

Associação Lésbica de Brasília - COTURNO DE VÊNUS.

Eliane Dias

Rede Nacional de Negras e Negros LGBT - Afro LGBT.

- Valdenízia Peixoto

Professora do Departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília -  UnB.

- Guilherme Almeida

Professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ.

17 horas: 3ª Rodada

Vai ter gênero, sim! Caminhos para superação da propaganda fundamentalista da “ideologia de gênero” a partir da afirmação da cidadania LGBT; o lugar da escola e da família nesse desafio; propostas de políticas que garantam direito à identidade, à educação, ao trabalho, à saúde, à cultura, à segurança, à representação.

- Cristal Lopez – Mediadora

Cantora e ativista LGBT

- Ludymilla Santiago Dias

Fórum Nacional de Travestis e Transexuais -  FONATRANS.

- Professora Alexya Salvador

Associação Brasileira de Famílias Homoafetivas – ABRAFH.

- Adriana Sales

Associação Nacional de Travestis e Transexuais – ANTRA.

- Representante do Fórum Nacional de Educação

-  Alcemir Freire

Gerente de diversidade da Fundação de Desenvolvimento da Criança e do Adolescente/PB – FUNDAC.

- Theo Silveira

Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT.

- Jaqueline Gomes

Conselho Federal de Psicologia.



National Geographic coloca uma garota trans na capa

Com informações de Jennifer Gerson Uffalussy (YAHOO)
Traduzido e adaptado por Sergio Viula

Foto: Cortesia da National Geographic


A CAPA DIZ O SEGUINTE:

Edição Especial

Revolução de Gênero

"A melhor coisa sobre ser uma garota é que agora eu naõ tenho que fingir ser um garoto."

Janeiro 2017




A edição de janeiro de 2017 da revista National Geographic é de um completo ineditismo nestes 128 anos de história da publicação: Pela primeira vez, a capa apresenta uma pessoa trans.

A edição especial, intitulada “Gender Revolution” apresenta entrevistas com mais de 80 jovens transgêneros ou com gênero fluido ao redor do globo.

E o mais notável de tudo - a pessoa que teve a honra de ser a capa é uma garota transgênero de 9 anos, Avery Jackson, moradora da cidade de Kansas em Missouri.

A capa reproduz as palavras de Avery: "A melhor coisa sobre ser uma garota é que agora eu não tenho que fingir ser um garoto."

Avery ganhou notoriedade nacional nos EUA por causa de um diário em vídeo que ela criou e publicou para ajudar aqueles que não compreendem o que significa ser uma garota trans a captarem esses sentidos. 

Infelizmente, muitas pessoas jovens trans ainda lutam contra o estigma que persiste e frequentemente leva à discriminação e à violência. Setenta e cinco por cento dos jovens trans relatam que se sentem inseguros na escola, de acordo com o Centro Nacional para a Igualdade Transgênero (National Center for Transgender Equality). Numa pesquisa nacional sobre discriminação contra pessoas trans, 78 por cento dos estudantes reportaram assédio, 35 por cento disseram que foram fisicamente agredidos, e 12 por cento reportaram violência sexual.

Além disso, 90 por cento dos estudantes transgêneros reportaram ter ouvido comentários negativos nas escolas sobre sua expressão de gênero, e outros 39 por cento dos alunos reportaram terem ouvido professores e outros membros da esquipe escolar fazendo tais comentários.

Esses tipos de sentimentos ameaçadores podem ter consequências trágicas. De acordo com Centros para Prevenção e Controle de Doenças (em inglês, CDC), 25 por cento de todos os jovens transgênero relataram terem tentado o suicídio. Por causa disso, o CDC recomenda que as escolas proíbam reiteradamente o bullying, o assédio, a violência contra todos os alunos, que identifiquem "locais seguros", onde os alunos LGBT possam receber apoio de seus professores e administradores escolares, que encorajem agremiações estudantis organizadas e dirigidas por alunos para promoverem um ambiente seguro e acolhedor, e que facilitem o acesso à serviços voltados para a comunidade, tais como serviços de assistência social, psicológica e de saúde para a juventude LGBT.

Estima-se que 2 a 5% de todos os americanos sejam indivíduos transgêneros.



A revista National Geographic explica as razões para esse número especial aqui (em inglês), mas na verdade... nem precisava. Parabéns aos editores da revista pela iniciativa!!! 

POR QUE ESSA EDIÇÃO?
http://www.nationalgeographic.com/magazine/2017/01/gender-issue-reader-comments-faq/


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Atualização em 23/12/16

Desprezíveis "trolls" estão assediando chocantemente a menina Avery Jackson, 9 anos, e sua mãe desde que ela apareceu na capa da National Geographic (notícia acima).

Evangélicos de direita lançaram uma campanha contra a revista - com a American Family Association convocando seus aliados a assediarem a editora da revista, Susan Goldberg, a quem eles rotularam de "abusadora" de crianças.

Desde que esse grupo lançou essa campanha difamatória e persecutória, uma onde de mensagens terríveis também foi direcionada à família de Jackson, cujos contatos pessoais foram vazados online por ativistas anti-transexuais.

A mãe dela, Debi Jackson, recebeu mensagens dizendo que ela devia ser "exterminada", assim como outras que a xingavam de "doente" e incentivando-a a cometer suicídio.

Em resposta às mensagens, Debi Jackson escreveu no Facebook:

"Obrigado a todos pelos comentários carregados de ódio e ameaças!"

"Estou guardando cada um para mostrar aos legisladores por que leis contra discriminação e crimes de ódio são necessárias. Vocês estão fazendo a obra de Deus. Sejam abençoados!"

Em resposta ao abuso e às críticas, a editora da National Geographic, Susan Goldberg, escreveu uma carta aberta. Esses foram alguns dos pontos que ela colocou na carta:

"Desde que eu compartilhei as fotos da capa de nossa edição especial sobre gênero no Instagram, Facebook e Twitter, dezenas de milhares de pessoas têm enviados suas opiniões, que vão desde expressões de orgulho e gratidão até a mais completa fúria. Alguns prometeram cancelar suas assinaturas."

"Esses comentários são uma pequena parte da profunda discussão que está em andamento a respeito de gênero agora mesmo."

"Nossa edição de janeiro foca principalmente sobre pessoas jovens e como os papéis de gênero funcionam ao redor do mundo. Para [a realização de] uma de nossas histórias, que também transformamos numa série de vídeos, estivemos em oito países e fotografamos 80 crianças de nove anos, as quais nos contaram de modo corajoso e honesto sobre como o gênero influenciou suas vidas".

"Uma delas era Avery. Ela decidiu viver como uma pessoa assumidamente transgênera desde a idade de cinco anos, e captou a complexidade da discussão sobre gênero."

"Hoje, nós não estamos apenas conversando sobre papéis de gênero para garotos e garotas - estamos falando sobre nosso envolvimento em compreender as pessoas num espectro de gênero.

"Esperamos que essas histórias sobre gênero despertem conversas profundas sobre quão longe fomos nesse assunto - e quando ainda há para avançarmos."

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Eu também espero. 
Sergio Viula

(Informações por PINK NEWS)
http://www.pinknews.co.uk/2016/12/23/anti-lgbt-trolls-are-sending-horrific-abuse-to-a-9-year-old-girl


Os homens que criaram Matrix tornaram-se as mulheres criadoras de Sense 8: As Irmãs Wachowski

Lilly e Lana Wachowski



Traduzido e adaptado por Sergio Viula
Texto original: People Movies
http://people.com/movies/lilly-lana-wachowski-how-transgender-siblings-supported-each-other/


Lilly Wachowski, 48, assumiu-se transgênero em 08 de março deste ano, dizendo que se sentia sortuda por "ter o apoio da minha família". Lana, a irmã de Lilly, que dirige filmes com ela, tais como a trilogia The Matrix, e séries como Sense 8, apresentada pela Neflix, também é uma mulher trans.

As duas sempre estiveram juntas em sua jornada para o sucesso em Hollywood e sempre se apoiaram mutuamente.

Como crianças, Lana e Lilly cresceram com suas duas irmãs em Chicago. Desde de cedo, a dupla desenvolveu uma afinidade por filmes, passando horas com seus pais no cinema.

Lana disse ao The New Yorker que foi na terceira série que ela se tornou consciente de seu gênero.

“Eu tenho uma memória de infância de que eu andava pela fila das garotas e, hesitando, eu sabia que minhas roupas não combinavam", disse Lana a respeito da escola católica que frequentava. "Mas, à medida que eu continuava, eu sentia que não pertencia à outra fila também, então eu apenas parava entre as duas. Eu ficava ali por um longo momento com todo mundo olhando para mim, incluindo a freira. Ela me dizia para entrar na fila. Eu estava paralisada - eu não podia me mexer. Eu acho que alguma parte inconsciente de mim compreendia que eu estava exatamente onde era meu lugar: no meio."

Depois da faculdade, Lana e Lilly começaram a construir um negócio enquanto ainda alimentavam seu amor pela escrita roteirista, como disseram elas ao The New Yorker. Depois de seus sucessos, primeiro com Assassins, e depois com Bound, a construção foi deixada para trás  – e Lana estava se sentindo cada vez menos como "Larry".

Foi no 'set' da segunda e da terceira parte da trilogia de The Matrix que a então recentemente separada Lana disse à família dela que era transgênero.

“Por anos, eu simplesmente não podia dizer as palavras "transgênero" ou "transexual", disse Lana ao The New Yorker. "Quando eu comecei a admitir isso para mim mesma, eu sabia que eventualmente teria que contar aos meus pais, ao meu irmão e às minhas irmãs. Esse fato injetava tal terror em mim que eu não dormia por dias. Eu desenvolvi um plano que funcionou com meu terapeuta. Levaria três anos. Talvez cinco. Uma semana seguindo o plano, minha mãe ligou."

“Meu maior medo era perder minha família. Uma vez que eles me aceitaram, tudo o mais foi moleza." - disse ela.

“Minha realidade é que eu tenho transicionado e continuarei transicionando por toda a minha vida, através do infinito que existe entre masculino e feminino como acontece no infinito entre o binarismo de zero e um" - disse ela. "Precisamos elevar o diálogo para além da simplicidade do binário. O binarismo é um falso ídolo."

Além do apoio de Lana, Lilly disse que ela se sente grata por ter "os meios para acessar médicos e terapeutas" que a ajudaram a "sobreviver ao processo".

Obviamente, o que Lilly deixa subentendido nessa fala é que há outras pessoas trans como ela que que não têm os recursos necessários para fazer o que sentem ser preciso. E isso nos depara com o desafio de criar meios para que esses recursos e processos se tornem acessíveis a todes, todas e todos que necessitem deles.

Mas por que vim falar das irmãs Wachowski agora?

A publicação desse post foi motivada pela dica de um aluno meu em sala de aula, enquanto discutíamos sobre filmes de cinema e aprendíamos a usar a voz passiva no passado. A produção cinematográfica era apenas o contexto/pretexto para a apresentação e prática daquela estrutura gramatical na língua inglesa, já ia esquecendo de dizer. Mas, como a língua é viva e os enunciados nos atravessam de maneiras inusitadas, as irmãs Wachowski foram chamadas a falar por um dos meus alunos mais brilhantes e comunicativos.

Eu mesmo não tinha lido nada sobre o assunto antes disso. Minha reação foi de extasiamento. Meus alunos perceberam. Foram contagiados com minha reação de surpresa misturada com admiração. A frase na minha testa era legível: Menos duas encaixotadas na heteronormatividade que dita gêneros e comportamentos. E isso no mesmo dia que via aquele povo ridículo do FOFOCANDO do SBT debochar do Tammy ao longo de uma fofoca que anunciava que ele teria se separado de sua mulher e emitido uma nota pública, que foi carinhosa e respeitosa, diga-se de passagem. O Tammy é um cavalheiro. Mas, aquela MALA Maravilha, não. Ela é podre! E todos os participantes daquela mesa dos infernos seguiram a piadinha transfóbica do Leão Lobo que não vou reproduzir aqui por respeito ao Tammy. Idiotas não deviam ter voz em meios de comunicação que são concessões públicas, muito menos eco da parte de quem percebe a estupidez deles com clareza.

Resumo da ópera: Decidi voltar à vaca fria na esperança de que aqueles que, como eu naquela aula, ainda não sabiam desse aspecto fantástico da vida dos antigos Irmãos Wachowski, agora mais do que nunca Irmãs Wachowski, aprendam mais sobre o tema da transgeneridade na experiência dessas duas mulheres fantásticas.

Seja VOCÊ. 


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