Mostrando postagens com marcador justiça garante tratamento para as pessoas trans. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador justiça garante tratamento para as pessoas trans. Mostrar todas as postagens

Vitória na Justiça: Suspensa norma do CFM que restringia tratamentos para jovens trans 🦋

Vitória na Justiça: Suspensa norma do CFM que restringia tratamentos para jovens trans

Decisão histórica protege o direito de adolescentes trans ao cuidado médico digno e baseado em evidências, não em preconceitos




A Justiça Federal no Acre suspendeu, em caráter liminar, uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que impunha severas restrições ao atendimento de pessoas trans, especialmente crianças e adolescentes. A medida, agora sem efeito, proibia o uso de bloqueadores de puberdade e aumentava a idade mínima para cirurgias de afirmação de gênero.

A decisão acolheu um pedido do Ministério Público Federal (MPF), que alertou para os graves prejuízos causados pela norma à saúde física e mental de jovens trans e travestis. Segundo o MPF, a resolução impedia que essas pessoas buscassem tratamento no momento mais sensível de seu desenvolvimento.

O juiz Jair Facundes, responsável pela liminar, foi claro: não há base científica sólida que justifique tais restrições. Além disso, ele destacou que decisões dessa natureza precisam ser construídas com ampla participação de órgãos e entidades da sociedade civil, e não apenas por um conselho profissional.

Facundes também apontou que a exigência de cadastro dos pacientes trans viola direitos constitucionais à privacidade e à autonomia, além de comprometer a dignidade humana. Em suas palavras:

"O objetivo de que pessoas sejam monitoradas pelo Estado atrita com a ideia de dignidade humana e traz consigo a presunção de quem assim propõe não é bem intencionado, não possui honestidade intelectual e por isso não deve ser levado a sério."

A urgência da decisão se deve, segundo o juiz, ao risco de agravamento de sofrimentos psíquicos causados pela falta de acesso a terapias adequadas — o que poderia levar a consequências trágicas.

O CFM havia justificado a resolução com base em experiências recentes de outros países, como o Reino Unido, onde restrições a tratamentos de gênero para menores entraram em vigor em 2024. O Conselho também aumentava de 18 para 21 anos a idade mínima para procedimentos cirúrgicos que pudessem impactar a fertilidade.

A resolução do CFM, porém, foi amplamente criticada por profissionais da saúde, entidades médicas e movimentos LGBTQIA+, que viram na resolução uma tentativa de regulação baseada mais em ideologia do que em ciência.

Um estudo publicado na JAMA Network Open (Seattle, EUA), com jovens trans e não binários (13–20 anos), mostrou redução de 60% nos quadros de depressão e 73% nos pensamentos suicidas um ano após o início de atendimento afirmativo com terapias hormonais e bloqueadores de puberdade. A pesquisa publicada em março de 2022, e destacada pela Folha de São Paulo, acompanhou 104 jovens trans e não binários, entre 13 e 20 anos, nos Estados Unidos. Após 12 meses de tratamento com bloqueadores de puberdade e/ou hormônios afirmativos, observou-se:

  • 60% de queda nos sintomas de depressão
  • 73% de redução nos pensamentos suicidas

Os pesquisadores reforçam que a assistência médica afirmativa e individualizada é essencial para a saúde mental e a qualidade de vida desses jovens.

O estudo foi citado em meio ao debate sobre o veto do Conselho Federal de Medicina (CFM) a tratamentos para adolescentes trans no Brasil, o que gerou forte reação de entidades médicas e movimentos sociais. Felizmente, a Justiça garantiu o direito dessas pessoas às terapias afirmativas. No Brasil, a experiência comprova a importância delas, como se pode ver nos casos abaixo.

Bons frutos do trabalho feito pelos ambulatórios especializados em saúde trans no SUS:

👉 Jovens acompanhados por ambulatórios especializados

Um estudo em Porto Alegre com 24 adolescentes de 8 a 16 anos mostrou que atendimento multidisciplinar focado em gênero é eficaz na promoção do bem‑estar emocional, mesmo em contextos de comorbidades psiquiátricas. O modelo de atenção personalizada do PROTIG (do HCPA) foi visto como adequado e promotor de saúde integral. (Em inglês, aqui: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC7969635/ - online em 26/07/25)

👉 Entidades médicas brasileiras reconhecem a eficácia das terapias afirmativas

Entidades médicas brasileiras (SBEM, Abemss, Febrasgo, etc.) afirmam que a terapia hormonal está associada à melhora na qualidade de vida e diminuição de depressão, ansiedade e isolamento social entre pessoas trans. (https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2025-04/entidades-criticam-cfm-apos-veto-terapias-para-jovens-trans - online em 26/07/25)


****************


✊🏽 Comentário do Blog Fora do Armário 🏳️‍🌈:

Mais do que uma vitória judicial, essa decisão representa um freio necessário ao retrocesso disfarçado de ciência. O direito à identidade, à saúde e à autonomia deve ser garantido para todas as pessoas — especialmente aquelas mais vulneráveis, como crianças e adolescentes trans. O Blog Fora do Armário seguirá acompanhando de perto o desenrolar desse caso e continuará sendo voz contra políticas que desumanizam nossa existência.

Postagens mais visitadas