
Sobre como é bom amar!
Ouço muita gente reclamar que não consegue dar certo com ninguém. Ou que ainda não achou a pessoa certa. Eu compreendo esse dilema. Também já me senti assim. Já tive parceiros que não mereciam o amor que eu queria devotar. Também tive parceiros maravilhosos com os quais eu não senti aquela química que liga uma pessoa à outra de modo íntimo, poderoso e terno ao mesmo tempo. Fui fiel aos meus sentimentos e terminei. Foi duro pra mim e mais duro ainda para o outro, porque estava mais envolvido do que eu.
Por outro lado, também já vi gente que reclama de não ter ninguém, apesar de já ter tido inúmeras boas oportunidades. O que será que aconteceu, então? Pode ser que não tenha acontecido uma sintonia mais profunda. Ou pode ser que tenha sido falta de maturidade para desenvolver um relacionamento duradouro. Transar e manter um relacionamento são coisas diferentes. Podem e devem ser complementares, mas não são a mesma coisa.
Esses dias, numa conversa online, alguém me disse que ainda não havia encontrado alguém para viver um verdadeiro relacionamento. Ao longo da conversa, essa pessoa foi me dando algumas "pistas" do porquê. Foi involuntário. É que as pessoas se revelam pelo que dizem e fazem. Ela me disse que não tinha paciência para aturar os erros do outro. “Se pisar na bola, eu mando logo embora”, disse. Fiz uma intervenção e comentei que, se não aprender a ter paciência com o outro, jamais terá alguém pra valer. Acredito, pessoalmente, que já tenha jogado verdadeiros diamantes fora só porque estavam um pouco empoeirados.
Uma coisa que aprendi vivendo é que ninguém nasce sob medida para outra pessoa. Da mesma forma, ninguém deve se enganar, pensando que vai modelar a outra pessoa de acordo com seus caprichos pessoais. Cada um é um. E nunca dois serão um. Vou repetir: NUNCA DOIS SERÃO UM. Isso é mais um dos muitos mitos bíblicos que têm influenciado a mentalidade das pessoas, especialmente no Ocidente. Há outros mitos que também influenciam pessoas de outras origens culturais, mas todos eles estão totalmente equivocados quando pensam que duas pessoas tornam-se uma quando se amam ou quando se casam. Duas pessoas casadas ou num relacionamento sério continuam sendo duas pessoas e não uma.
A matemática do relacionamento bem-sucedido é muito simples: 1 + 1 = 2.
Pode-se representar as relações humanas de várias formas. Algumas são marcadas pelo domínio de uma parte sobre a outra, sufocando a individualidade. Outras pela distância emocional, disfarçada de harmonia. Mas existe uma forma mais rica, na qual os dois indivíduos se relacionam de forma plena, trocando tudo o que têm de bom, sem se anularem.
Esse tipo de relação — que respeita as diferenças, incentiva o crescimento mútuo e celebra a individualidade — é o que realmente vale a pena. Isso não significa que não haverá atrito. Haverá. Mas também haverá diálogo, disposição para compreender e coragem para ser vulnerável. Quando ambos estão desarmados e realmente empenhados em fazer o relacionamento dar certo, tudo isso se transforma em impulso, e não em obstáculo.
Viver a dois é também aceitar que haverá diferenças. Diferenças de gosto, de comportamento, de sonhos. E que está tudo bem. O importante é ter sintonia no essencial: carinho genuíno, desejo de crescimento mútuo, admiração mútua, respeito.
Também é libertador viver um relacionamento em que não há vigilância sufocante. Onde se pode reconhecer a beleza de outra pessoa sem que isso seja interpretado como ameaça. Onde existe espaço para sentir saudade, para viajar sozinho, para ter seu tempo. Onde existe confiança, desejo real de ver o outro feliz e realização pessoal compartilhada.
Ninguém sabe se um relacionamento vai durar muito ou pouco. Se vai ser para alguns dias, meses, anos ou para a vida toda. Mas isso, por mais duro que pareça, não importa. O que realmente interessa é sonhar como se nunca fôssemos morrer e viver como se hoje fosse nosso último dia. Pode ser que, de repente, a gente olhe para trás e descubra que aquela pessoa com quem dividimos tanto amor fez tudo valer a pena.
Como dizia o filósofo Bertrand Russell sobre o amor e a vida:
“Temer o amor é temer a vida, e os que temem a vida já estão meio mortos.”
