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REPETIÇÃO SINTOMÁTICA DO “DIA DA MAMATA” - por Claudio Pfeil

Dia da Marmota - filme


REPETIÇÃO SINTOMÁTICA DO “DIA DA MAMATA” 
(Claudio Pfeil)



Há anos assisti a um filme chamado "Feitiço do Tempo" (“Groundhog Day”, 1993) onde o personagem, um repórter meteorológico, vai até uma pequena cidade cobrir um evento: o tal "Dia da Marmota". Recomendo. Para lá do prosaico, o filme aborda de forma lúdica, fascinante e original a questão da temporalidade, de resto, tema filosófico por excelência. Assim, cada dia que amanhece, o dia se repete, sempre o mesmo, sempre igual, fazendo o personagem, assim como o espectador, experimentar a angustiante sensação de estar preso no tempo, repetindo sua vida. É exatamente o que em Psicanálise chamamos de sintoma: a vida que se repete sempre da mesma forma à revelia da nossa vontade. Há que se indagar o desejo, tarefa mor do divã. 

 Há anos, décadas já posso dizer, acordo e assisto ao mesmo dia. Não falo dos meus sintomas, estes, trato-os em análise. Falos dos intratáveis sintomas da política brasileira, sempre os mesmos, o sempiternal "Dia da Mamata". Canalhas sanguessugas com suas caras horrorosas, falas moribundas, gestos grosseiros, roupas cafonas, mentes podres, togas de mentira, cofres pessoais abarrotados de dinheiro público - todo santo dia nas manchetes de jornal, na televisão (que não assisto mais), nos palácios de Brasília, nas Cortes, Tribunais, Câmaras federais, estaduais, municipais. Gente infame, nojenta, ladra. Sempre a mesma, sempre os mesmos. 

José Dirceu, aquele mesmo, pede habeas corpus preventivo... 
Collor, aquele mesmo, pede auditoria no Tribunal de Contas da União... 
Severino Cavalcanti, aquele mesmo, diz que piorou... 
Lula, aquele mesmo, diz que tá ruim mas tá melhor... 
Dilma, aquela mesma, pedala, tropeça, mente... 
Cunha, aquele mesmo, trapaceia, manda, desmanda... 
E mais um, aquele mesmo... E outro, aquele mesmo... 
E mais outro, aquele mesmo... 

Toda uma legião de vampiros em série Matrix fazendo as mesmas tramoias, os mesmos conchavos, os mesmos trambiques... E tome de pronunciamento, canetada, mentira, cinismo, bandidagem. Chega, chega, chega! Todos esses "representantes do povo" - com exceção de uns poucos, muito poucos - são a podridão sintomática de uma nação cuja miséria é o vômito, o refluxo, desse “Dia da mamata” que obstinadamente fazem perpetuar e obrigam-nos diariamente a assistir e a engolir. A mesma "marmota", a mesma mamata. 

 Um dia o filme, o dia, o tempo, vão mudar. Tenho fé na inteligência, na ética, na honradez. Tive um pai assim. Enquanto a maioria se gabava com whisky e escárnio das falcatruas aqui acolá, ele repetia no seu canto fazendo as contas do mês: "os outros eu não sei, eu não fraudo." Vai mudar, vai sim. É uma questão de tempo, ou melhor, de sentido do tempo. Não se trata de deixar o tempo passar passar, pelo contrário, trata-se de inventar uma nova temporalidade. O Brasil precisa inventar uma temporalidade que anda para frente. 

Uma coisa é certa: de políticos canalhas, mentes podres e arcaicas, só se pode esperar a repetição sintomática do “Dia da mamata”. Como dizia Einstein que lançou como poucos uma luz sobre o tempo: não se pode resolver um problema com a mesma mentalidade que o criou. 

PS: Em tempo, Cunha é a cara da marmota. Perdão, marmota. 

Diário De Analisando Paris 
(Bill Murray em "Feitiço do tempo")

Dia Internacional da Mulher: (re)criação de gêneros

Da página Diário de um Analisando







(RE)CRIAÇÃO DE GÊNEROS


(Claudio Pfeil)

Quando eu era menino, uma mulher parecida com homem ou o contrário: tá na cara, é travesti! Hoje, uma mulher parecida com homem ou o contrário: nem sempre tá na cara, mas é mulher!

Dia internacional da mulher? Nada contra, mas com todo respeito, não vejo sentido nenhum. Com um agravante: corre-se o risco de fortalecer categorizações de gênero como se se tratassem de um dado bruto, à maneira da modinha para Gabriela, de Caymmi - "eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim".

Dia internacional do homem? Mesma coisa.
Deste ou daquele transgênero? Mesma coisa.

Quando é que a gente vai se dar conta, de uma vez por todas, que cada um de nós, no que tange ao gênero, não é cria da natureza, mas uma criação absolutamente singular de si a partir de nossa própria (des)natureza?

Freud, no alvorecer do século XX, torna clara a disjunção entre sexo e sexualidade. Beauvoir, mais tarde, na frente fenomenológica contra o determinismo, levanta a bandeira de uma feminilidade livre: não se nasce mulher, torna-se. Lacan, de forma radical, nos livra todos, homens e mulheres, das amarras biologizantes: o que determina não é o sexo, mas a posição subjetiva. Não se nasce nada, ocupa-se um lugar.

Homem/mulher/travesti/transexual/ e o que mais vier: estando ou não na cara, há algo a ser pensado na atual (re)criação de gêneros. O que nada tem a ver - absolutamente nada - com a diferenciação natural macho/fêmea inscrita nos cadastros das maternidades.

(Foto: Claudio Pfeil, escultura Gustav Vigeland)

— em Frognerparken.

https://www.facebook.com/diariodeumanalisando

Diário De Analisando Paris


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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO


Muito bom esse texto do Claudio Pfeil. Inclusive, ontem eu comentava com amigas no trabalho que era legal ver que a Rede Globo havia criado uma programação para hoje, Dia Internacional da Mulher, que seria apresentada apenas por mulheres. Elas riram e disseram: o dia é da mulher, mas são os homens que tiram folga. Elas vão trabalhar, enquanto eles vão curtir o domingão.

Confesso que fiquei meio surpreso com isso, porque eu pensava: uma programação assim poderia dar visibilidade ao profissionalismo dessas mulheres e servir de modelo para outras. Contudo, elas não deixam de ter certa razão. Afinal, a independência financeira e a igualdade de direitos (sempre acompanhada de novos deveres, especialmente no caso das mulheres) têm seu custo. Mas, não se pode negar que o custo desses benefícios é incomparavelmente melhor do que o custo dos malefícios que culturas patriarcais e machistas e sem a menor abertura para as demandas de gênero impõem sobre os diversos tipos de mulheres que por lá sobrevivem. Aliás, a nossa também é patriarcal e machista, mas as mulheres conseguiram criar espaços de discussão, avançar na conquista de direitos, etc. Continuem, porque ainda está longe de ser o ideal.

Então, mulheres de todos os tipos e das mais variadas anatomias, ocupem seus espaços e criem-se nos mais diversos modos de ser, de amar e de viver, para seguir essa bela linha de pensamento exposta pelo Pfeil no artigo acima.

Só você pode dizer como ser você mesma em seu melhor estilo. ;)

Poema de um eterno professor e grande amigo meu


Obra magna
Claudio Pfeil






Feliz é o homem


capaz de se encantar


e fazer o encanto durar


o tempo que for possível


Para além do sonho


e da fantasia


no cair da noite


no alvorecer do dia


Em horas de paz


e também de agonia


no corpo presente


na ausência vazia


No seco, no duro


no quente, molhado


no espinho, no verde


no cinza, algodão


Na voz que se cala


no toque macio


na boca que beija


na palavra não


No vento que sopra


na falta de ar


no silêncio da pedra


no querer amar


Na saudade que bate


na onda revolta


no gozo sem nome


no sim da paixão


Na insistência do mesmo


no rebento do novo


na rotina caseira


na incerteza do chão


No lençol esticado


no gato dormindo


no café da manhã


no ouvir eu te amo


Sorte grande


tem este homem


que passa o tempo


sem perder seu tempo


pois que do tempo


que o verá morrer


encanta-se a recriar o tempo


a fazer do instante


mais do que um instante


nem coisa, nem nada


encantamento puro


duração do encanto


adoração da vida


Feliz é o homem


Grande é a sorte


Eis que em verdade


Sorte não é


Arte! pois


é o que faz este homem


que o tempo dissolve


e que da dissolução faz


o sentido de si


sua obra magna






Paris 22 de abril 2011

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