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Mais uma translação completa

Por Sergio Viula
Atualizado em 09/05/2020

Bolo feito por Andre. O número foi ele mesmo que fez.
Nada de velas e sopros. O "mocoronga" vírus não foi convidado.





Um beijo especial para quem via isso aqui depois da escola.
(Perdidos no espaço)



Fazer aniversário é sempre um oximoro: "mais um ano a menos". Honestamente, não sei se comemoro ter vivido mais um ano ou se lamento o fato de que tenho um ano a menos para viver daqui para frente. Não o digo com tristeza. Digo-o com um tantinho de humor, quase de deboche para comigo mesmo. Queiramos ou não, a vida é uma comédia dramática. A gente ri da própria desgraça. E se chorar, não muda nada. Só desidrata.

Houve um tempo quando pensar na segunda década de vida parecia uma realidade tão distante, quase uma outra encarnação. Aos nove ou dez anos, a gente acha o primo ou o tio de 20 quase tão velho quanto nossos pais. Nossa percepção ainda imatura sobre a transitoriedade da vida nos impedem de perceber que, nessa fase da nossa vida, nossos pais estão na flor da idade. 

Ao contrário do que muitos pensam, aos 21 anos, já estamos vivendo nossa terceira década. Se você estranhou o que acabo de dizer é porque ainda não havia percebido que a contagem de uma década termina em 0. O primeiro ano depois desse número já é outra década. De 1 a 10, você vive a primeira década; de 11 a 20, você vive a segunda; e a partir dos 21, você já está na terceira década de sua existência, baby. É, fófis, a senhora é mais velha do que pensa, bunyta! [rindo de doer aqui]. 

Na verdade, eu sempre achei o ano de número 40 super charmoso. Esse número, quando se trata de idade, carrega um simbolismo só seu. Pena que é uma vez só. Quando completei quarenta anos, escrevi um texto comemorativo também. Foi divertido relembrar o que havia acontecido no ano da minha estreia por aqui: https://www.xn--foradoarmrio-kbb.com/2009/04/como-era-o-mundo-40-anos-atras.html 

Aos 50 anos, escrevi outro post marcante, cheio de orgulho gay, inclusive. Dei àquela postagem o título de "Awesome 50!" (https://www.xn--foradoarmrio-kbb.com/2019/05/meio-seculo-hoje.html) A palavra "awesome" é um adjetivo da língua inglesa que significa "impressionante". Não se pode duvidar que, para uma espécie que dificilmente completa 100 anos, chegar a meio século de vida é um feito impressionante, ainda mais se você é gay num país homofóbico como esse. 

Hoje, completo o primeiro ano da minha sexta década, mas preste atenção: eu não disse que estou fazendo 60 anos. Se você entendeu assim é porque não absorveu o que eu disse no terceiro parágrafo. (risos) Inauguro minha 6ª década de vida hoje justamente por estar completando 51 anos de idade. Quando chegar aos 60, terei encerrado a sexta década. E assim por diante. 

A pergunta é: como me sinto? 

E a resposta é: nada diferente de ontem, quando ainda estava na minha quinta década. ^^

E por quê?

Simplesmente, porque ainda posso me alegrar com o fato de estar saudável, trabalhando, casado com uma pessoa fantástica, tendo meus pais vivos e relativamente saudáveis, e convivendo com meus filhos cheios de vida e saúde - Isaac aqui pertinho e Larissa do outro lado do Atlântico, mas, apesar disso, sempre em contato comigo. Ontem mesmo trocamos algumas ideias super "cabeça" e demos muitas risadas juntos falando sobre todo o tipo de coisa.

Sabe qual foi a melhor frase que ouvi nos últimos dias? 

Foi a de Andre hoje de manhã. Ele me abraçou, parabenizou pelo meu aniversário, e disse com todo carinho: "O aniversário é seu, mas você é o meu presente de todo dia." E isso não é mera frase de efeito, não. Nosso amor e parceria são testemunhados pelo sol nascente e pelo sol poente. 

Esse é o quarto aniversário que eu comemoro ao lado dele, e digo a mesma coisa: Andre é um presente renovado a cada nascer e pôr do sol. Acordar e vê-lo ao meu lado ou saracutiando pela casa, já se organizando para ir trabalhar, é uma alegria diariamente renovada. Só é triste ver quanto tempo precisamos passar separados para ganharmos o pão de cada dia. É tempo demais, capataz! 

Ninguém devia trabalhar mais do que um teto de seis horas por dia. E com duas folgas semanais. É pedir demais? Não. É só uma questão de reorganização socioeconômica. E quem não precisasse atender clientes face a face devia trabalhar de casa. Quem sabe a gente aprende alguma coisa que preste com essa peste - o Covid-19?

Não tenho ambições desvairadas, mas se eu atingir a minha meta de viver até os 90 anos com saúde física e mental, provavelmente estarei sentando diante de um equipamento que fará a ficção científica produzida hoje parecer vintage. Ali, escreverei um texto para esse mesmo blog, só que totalmente "upgraded" para a tecnologia de então. Se eu ainda tiver o jeito espirituoso que tenho de encarar a vida hoje, terei muito sobre o que tricotar do alto do meu nonagésimo aniversário. Alguns amigos que leem esse post hoje ainda estarão por aqui, mas outros já terão se tornado queridas memórias na cabeça de um gay sênior - olha esse termo, que chique! Mas, não se abale com isso, não. Veja por outra perspectiva: há jovens leitores acompanhando esse post agora que farão 90 anos e, quando lá chegarem, já nem se lembrarão mais de mim (totalmente transformado em purpurina) ou desse blog, que ainda deverá ficar vagando pelo cyberspace por muito tempo depois que eu bater as sapatilhas. Isso, sim, é um acinte! (risos)

Então, aos que me leem, um conselho: realizem-se! Vivam suas vidas sem medo da morte, dos outros ou de si mesmos, especialmente, se você for gay, lésbica, bissexual ou transgênero. 

Saia desse armário! E se tiver saído, não retorne nunca. Você é uma borboleta de jardim, não uma traça de roupeiro.  

Viva o dia de hoje como se fosse o último. Você gostaria de estar enfiado no armário no seu último dia de vida? Mas, não deixe de ser previdente. Vai que você dá o "azar" de viver até amanhã... Não acha que é uma boa ideia garantir a comida, a bebida, o teto e algum dinheiro para dar garantia? Eu acho. 

Chega de escrever e de ler por enquanto. Vamos borboletear, crianças! 



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Em tempos de quarentena, aniversário a dois é luxo! 
hehehe

Para envolver outras pessoas, dá-lhe videoconferência pelo WhatsApp, pelo Google Meet e conversas por telefone. Foi um dia agitado. Adorei ver amigos e parentes por meio desses apps. O melhor de tudo é saber que estão bem.





Triunfo do Tempo (por Cláudio Pfeil)


Triunfo do Tempo foi postado no: http://claudiopfeil.blogspot.com 
(Confira outros poemas e pensamentos lá)

Triunfo do tempo
Por Cláudio Pfeil 

Amar é ter saudade do que é,
no instante exato em que se vive
o presente de ser
ser presente.


Eis o único mandamento do amor,
sua amoralidade desavergonhada
eternidade nua:


- Vive, criatura!
com quem escolhes teu
e que a ti escolhe seu
de tal forma
que tenhas saudade
não do que poderia ter sido e não foi
mas do que é.


O amor é o triunfo do tempo sobre si próprio.

É preciso amar







"É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, 
porque se você parar pra pensar, na verdade, não há." 
(Renato Russo)



Como é fácil nos perdermos no ontem ou no amanhã. A dor de ontem não dói mais, exceto quando se trata de alguma experiência que deixou impressões muito profundas na memória. A dor de amanhã é só uma probabilidade na qual não pensamos muito, porque geralmente queremos crer que o amanhã será melhor. A isso costumamos dar o nome de esperança. Entretanto, o ontem já era e o amanhã pode nem vir a ser, existindo ambos apenas em retrospectiva ou perspectiva. Tudo o que sabemos ter é o agora.

O que faríamos se este fosse sabidamente nosso último dia de vida? Uma resposta sincera a essa pergunta revelaria muito a nosso respeito e a respeito do que consideramos realmente importante - o que novamente remete a nós mesmos.

O poeta que cantava que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã não está mais entre nós. Na verdade, não está em lugar nenhum, exceto em nossa memória alimentada por sua obra. Esse privilégio, porém, não é de todos. Muitos há que serão esquecidos. Outros serão somente lembrados por razões que não os tornam menos miseráveis do que o foram em vida, como é o caso dos ditadores, golpistas e assassinos que povoam a história humana.

O que interessa de fato para a vida, então?

Renato Russo sugere a melhor resposta a essa pergunta: Amar!

Tudo o que não presta é - de alguma forma - filho do ódio ou, pelo menos, da falta de amor.

Fico me perguntando o que será das pessoas que não aprenderam a amar. Em condições ideais, nosso primeiro contato com o amor se dá ainda no útero, mas ganha proporções imensas no encontro pós-parto entre bebê e mamãe, com a deliciosa surpresa da primeira mamada. Esta se torna ainda mais especial quando a mãe pode amamentar de imediato. Entretanto, quando por alguma razão, a mãe não pode dar o peito, a mamadeira no colo, com todo aconchego faz as vezes do peito materno e o amor que a mãe transmite naquele momento de doação é o primeiro passo (não o único) para a formação de um ser humano emocionalmente saudável.

Mas o que esperar de seres humanos que não receberam esse afeto e que, ao longo da vida, foram abandonados, maltratados, humilhados por aqueles que deveriam protegê-los?

Algumas dessas pessoas são donas de uma resistência moral e intelectual incomum e superam esses traumas, escapando daquele ciclo vicioso de infeliz que gera infeliz. Outras têm oportunidades inesperadas e sabem aproveitá-las no melhor sentido do termo, e emergem do "limbo" social onde foram atiradas desde cedo.

Há, porém, aqueles que não conseguem fazer essa travessia. Muitas vezes não têm nem o que calçar ou vestir; ficam ao léu, parecendo zumbis, como os que vemos nas cracolândias desse país.

Contudo, o mais intrigante é ver que muita gente que vive com conforto, podendo desfrutar do melhor que o dinheiro pode comprar, não consiga superar a ideia de a vida não presta, e que se ele não consegue ser feliz, ninguém mais será.

No meio desse turbilhão de sentimentos que acometem essas pessoas, aparecem todos os tipos de oportunistas: líderes de gangs, partidos com ideologias de supremacia, traficantes, gigolôs, líderes de seitas, entre outros. Muitos destes fizeram caminhos existenciais semelhantes e agora recrutam e discipulam esses desesperados, sem amor, e muitas vezes carregados de ódio, e dominados por um desejo irracional de vingança contra toda e qualquer pessoa. Exemplos desse tipo de gente são os skinheads, os neonazistas, as quadrilhas do crime organizado, os exploradores de menores, os traficantes de pessoas, sacerdotes e pastores de várias seitas totalizantes que exploram seus seguidores, ao mesmo tempo em que discriminam e excluem pessoas, promovendo divisões muitas vezes dentro da própria casa do seguidor - todos eles capitalizando em cima da ignorância, do rancor, do ódio, da vingança, da baixa autoestima que deseja se provar grande a partir da dominação, humilhação, destruição do outro. São pessoas que se submetem a lideranças desejando fazer parte de um projeto de dominação. Não percebem a contradição.

Solução para tantos problemas nascidos de uma mesma matriz, talvez ninguém tenha. Algumas coisas, porém, podem minimizar esses efeitos nocivos da carência de afeto, da falta de sentimento de pertencimento à família e à sociedade, da falta de perspectivas pessoais, ou da total ou parcial ausência daquela noção de que se é parte de um todo que não existe por si só, mas que depende da participação de cada um.

O que seriam essas "coisas" que poderiam minimizar esses efeitos?

Primeiro, firmeza para coibir as ações de ódio: Contra o malfeito, a lei. Depois, a inclusão por meio do acolhimento, da nutrição, da educação, do tratamento médico, da profissionalização, do contato com a cultura, com o esporte, com o lazer. Isso para aqueles cujos transtornos de personalidade foram provocados ou alimentados pela carência dessas coisas.

Mas, e aqueles que cresceram cercados de conforto e com todas as oportunidades de desenvolvimento pessoal? Aqui, principalmente, mas não exclusivamente, cabe a análise do profissional de saúde mental, tanto do analista, como do psicólogo, quanto do psiquiatra. Esses profissionais poderão identificar razões que olho não treinado é incapaz de identificar. Só então será possível (não garantido) ajudar esse indivíduo.

Contudo, por mais pensadas e bem organizadas que sejam as ações de recuperação da saúde mental desses indivíduos, não há garantias prévias de que estas funcionarão conforme o esperado. O melhor remédio continua sendo a prevenção, que era exatamente o que Renato Russo nos instava a fazer através de seu canto: "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade, não há."

Amar é a mais essencial e urgente de todas as virtudes. E talvez a única que aprendemos antes mesmo de pronunciarmos a primeira palavra na língua materna. Também é a que nos acompanha até a hora final, quando nosso maior consolo é o amor que nutrimos por nossos amados e o amor que recebemos de nossos amantes.

Sim, porque para nos tornarmos seres amantes, precisamos ser primeiramente amados. Não se ama por mandamento. Uma das maiores tolices bíblicas é, também, a mais admirada, graças a simples falta de reflexão. Não se ama por mandamento. O mandamento supostamente dado por Jesus, "amarás o teu próximo como a ti mesmo", não faz sentido. Não amamos porque alguém mandou. Podemos não fazer mal a alguém por força da lei, mas não somos capazes de amar alguém por força de mandamento. Nenhuma lei no mundo manda amar. Amor é algo que aprendemos a dar à medida que recebemos. E a primeira lição prática que recebemos acontece logo depois do parto, durante a amamentação e precisa ser seguida de muitas outras ao longo da infância e adolescência.

Por falta de amor, sofrem tanto o próprio indivíduo quanto toda a sociedade ao seu redor.


Com tão pouco amor presente no mundo hoje, tomara que os indivíduos sejam capazes de amar por saberem, a partir da própria experiência, como o amor faz falta! Essa rara e improvável irrupção de amor como reação ao seu contrário torna-se ainda mais necessária, dadas as circunstâncias em que vive nossa sociedade. De outra maneira, as relações sociais se tornarão insuportáveis e as boas interações, impraticáveis.

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