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Professor-Pesquisador da UFOP, André Felipe Vieira Colares: mais uma vítima de homofobia

Professor-Pesquisador da UFOP, André Felipe Vieira Colares: 
mais uma vítima de homofobia

LUTO OFICIAL NA UFOP. 
http://www.ufop.br/noticias/nota-de-falecimento/ufop-lamenta-morte-de-professor

Veja a nota abaixo:


É com pesar que a Universidade Federal de Ouro Preto comunica o falecimento do professor André Felipe Vieira Colares, do curso de Administração (ICSA). Ele faleceu na madrugada desta sexta-feira, na cidade de Montes Claros. A diretoria do ICSA decretou luto oficial de três dias e suspendeu todas as atividades do dia de hoje.

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Um dos artigos escritos por André Colares:

DOS PECADOS CAPITAIS AOS PECADOS DO CAPITAL: 
http://www.redalyc.org/pdf/1551/155142201011.pdf

DOS PECADOS CAPITAIS AOS PECADOS DO CAPITAL


SETE PECADOS CAPITAIS NAS ORGANIZAÇÕES

De Alessandro Gomes Enoque; Alexandre de Padua Carrieri; Luiz Alex Silva Saraiva. Salvador, Brasil: EDUFBA, 2014. 236 paginas.

 

André Felipe Vieira Colares

Professor de Administração de Empresas 

da Universidade Federal de Ouro Preto Ouro

Preto – MG, Brasil



O livro Sete pecados capitais nas organizações traz uma releitura sobre os posiciona- mentos das organizações diante de seus funcionários e clientes por meio dos sete pe- cados capitais: a soberba, a avareza, a ira, a preguiça, a inveja, a gula e a luxúria. Os capítulos têm como autores sete pesquisadores de seis conceituadas instituições de ensino superior. A busca por mostrar outro lado das organizações, o do pecado, con- fronta uma visão habitual e limitada da administração, que, sem espaço para reflexão, é questionada nessa obra.

É por meio da exploração dos sete pecados capitais que os autores brincam com os pecados do capital. Entre as ideias apresentadas, busca-se uma reflexão que des- construa as organizações como “empresas-mãe”, sendo uma alternativa a ideia da “empresa-madrasta”. Como apresentado no livro, “os pecados lá (organizações) exis- tem porque constituem facetas do processo radical de desumanização dos homens e mulheres, de coisificação para que melhor possam servir ao capitalismo”.

O capítulo “A soberba: da onipotência narcisista ao sofrimento da impotência” busca trazer a soberba e o narcisismo como características/posições dos indivíduos que são incentivadas pela organização. Centrando a soberba organizacional sob as bases da busca pela qualidade total e na ideia de ser o melhor profissional possível, chega-se a negar a existência da imperfeição humana. Ao adentrar as práticas coti- dianas nas organizações, discute-se a soberba como “morte do desejo” e, para tanto, afirma-se que esta pode ser usada pelos indivíduos como meio de negar o sofrimen- to vivenciado nas organizações, trazendo a confrontação entre questões internas e ex- ternas do sujeito. Em contrapartida, o narcisismo, associado à soberba organizacio- nal, pode ser tomado como uma defesa dos indivíduos para lidar com as frustrações impostas pelo trabalho.

No capítulo “Do Tio Patinhas à avareza no mundo organizacional contemporâneo”, os autores fazem um resgate histórico sobre a usura em nossa sociedade, perpassan- do por Le Goff e a contestação religiosa. É por meio da usura – o usurário ganha di- nheiro em cima de dinheiro (juros) sob um tempo que não é seu, é de Deus – que os autores chegam à avareza – centrada na acumulação de riquezas.

As duas histórias (Tio Patinhas e a moeda número 1 e a história de Graham Blake e a Terra Limpa S.A.) traduzem como, a qualquer custo, indivíduos e organizações buscam lucro e mais lucro. E é onde reside a chamada “contradição interna”: o empregador obsti- na-se em desejar o lucro mais elevado, bai- xando ao máximo seus custos (como sa- lários), enquanto o empregado se obstina em ganhar o salário mais elevado possível. O capítulo “Um remédio para a ira: falar da dor, aliviar o peito, ancorar o co- ração” discute a ira como sentimento a ser explorado cotidianamente pelas or- ganizações, desde que os indivíduos a direcionem na busca por resultados me- lhores. Relaciona-se a ira com pequenas mortes: é tida como sentimentos velados em momentos de mudança, surtindo ao indivíduo como pequenas mortes simbó- licas cotidianas. Dessa forma, ainda que os indivíduos consigam controlar a ira, não significa que esta foi extinta, mas pode se manifestar de outras formas. Aos olhos da organização, o luto não deve ser mantido, e a ira causada aos indivíduos deve ser convertida em trabalho e melho- rias organizacionais, pois, sendo ela ge- radora de reações fisiológicas, pode inci- tar o indivíduo a ações como golpes ao inimigo, à organização.

No capítulo “Preguiça: do pecado à virtude”, faz-se uma análise sobre em que contexto surge a preguiça como pe- cado, trata-se da preguiça sob diversas óticas, trazendo, inclusive, uma releitura da preguiça por parte das organizações: pecaminosa ou virtuosa? Busca-se tra- balhar as dicotomias, relacionando-as: o ócio e o tempo produtivo com a falta de capricho e a busca pela qualidade; res- pectivamente. Tais relações dão respaldo ao argumento de que o capitalismo res- significou a noção de trabalho, garantin- do não apenas o sustento, mas buscando a acumulação. Dessa forma, imprime-se a ideia de que quanto mais atarefado e ocupado, maior será o status social e ovalor alcançado pelo indivíduo, acaban- do por combater as formas de preguiça, sendo, para além da religião, um verda- deiro pecado no ambiente organizacional.

O capítulo “A inveja: uma força pro- pulsora para a criatividade e a mudan- ça?” traz a inveja como algo incentivado pelas organizações na busca de melho- res resultados. É por meio da competi- ção e da valorização dos bons funcioná- rios que é possível instigar os demais a um nível de produtividade maior. A au- tora discute que a inveja pode ativar as- pectos psicológicos muito mais ligados à destruição do que à criação. Ao incitar a inveja e buscar a “boa competitividade”, as organizações podem acabar caindo na “má competição”, podendo resultar em baixo rendimento humano, desvaloriza- ção de talentos e habilidades.

No capítulo “O pecado da gula: o ca- pital e a (di) gestão do indivíduo”, discu- te-se a perspectiva do cliente, como as organizações o impulsionam ao consu- mo desenfreado, e o incentivo à gula do trabalho – por meio da mudança nas re- lações trabalhistas. São diversos os dis- cursos construídos para que a gula por produtos (e aumento da produção) seja crescente. A insatisfação do sujeito con- temporâneo torna-se a raiz para o peca- do da gula, um sentimento de angústia e certo vazio, que, por meio do consumo desenfreado, busca o possuir, o deter de si. E, se há um incentivo à gula por pro- dutos, é preciso também que a produção aumente para atender essa demanda. A gula, então, é incentivada pelos dois la- dos, e a cobrança por metas, a busca de melhores resultados e uma formação profissional crescente são reflexos dessas mudanças nas relações trabalhistas. É uma mudança no contrato psicológico do trabalho que transforma o social em in- dividual e o coletivo em individualismo.

O último capítulo, “Uma aventura de luxúria”, apresenta a luxúria nas organizações como um pecado ligado à sexua- lidade e outras manifestações possíveis. É interessante a desvinculação feita entre os prazeres sexuais e os atos sexu- ais. Ao discuti-los, busca-se adentrar as oito “filhas” do pecado luxúria, vincula- das à deficiência de vontades e de razão. A luxúria é percebida como transgresso- ra, do indíviduo em relação a si mesmo e em relação ao grupo social em que se in- sere; representativa da essência da alma do homem, é caracterizada pelo descum- primento, rebeldia, desobediência. A partir dessa discussão, os autores bus- cam explorar a relação razão-luxúria e o quão a primeira tem o poder de controlar a segunda. É a partir dessa relação que é possível trazer o indivíduo a si (sob uma perspectiva racional) dentro das organizações.

Sintetizando, o livro busca refletir sobre como as organizações se portam ao buscar atingir seus objetivos, ainda que desconsiderem o fator humano dos seus funcionários e pequem das mais diversas formas. É por meio do pecado contra a organização que os indivíduos se fazem humanos e é por meio dos pecados da organização que os indivíduos se tornam objetos. No entanto, os autores pecam também ao fazerem uma leitura das prá- ticas de resistência como pecado – trabalhadores pecadores em busca do céu (em um sentido de alívio, de conforto). Se o termo pecado é usado como forma de controle e direcionamento comportamen- tal por religiões, a ideia de usar tal metá- fora acaba por aliar a crítica contra as or- ganizações, que os autores se propõem, com parte dos argumentos defendidos.

Professor que assumiu homossexualidade é apedrejado até a morte

Professor que assumiu homossexualidade é apedrejado até a morte


Professor que havia assumido a homossexualidade 
recentemente é apedrejado até a morte 
(Foto: Dermival Pereira, Rede TO)


Tocantins - A hipótese de crime homofóbico está sendo investigada pela polícia. Aluna contou que o professor era uma pessoa divertida e que amava o que fazia. "Ontem, durante a aula, ele estava tão alegre; falou que iria viajar, é inacreditável"

Foi encontrado morto no começo da manhã desta sexta-feira, 11, no fundo da Escola de Tempo Integral (ETI) Eurídice de Melo, no Jardim Aureny III, em Palmas, o professor Arione Pereira Leite, de 56 anos. Ele foi apedrejado na cabeça, sofreu afundamento craniano e morreu no local.

O corpo estava próximo ao carro da vítima, na Rua 26. Uma das três filhas de Arione foi até o local e fez a identificação do cadáver, uma vez que não foram encontrados documentos pessoais com o professor. De acordo com a Polícia Militar (PM), a pedra usada no crime tinha cerca de 15 cm de diâmetro.

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e após a confirmação da morte do professor, o corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) da capital. A lideração deve ocorrer nas próximas horas.

Natural da cidade de Novo Acordo, Arione morava na quadra 1.104 sul e dava aulas de português na Escola Municipal Aurélio Buarque, onde trabalhava há 5 anos. Segundo amigos, ele havia assumido a homossexualidade recentemente. A hipótese de crime homofóbico está sendo investigada pela Divisão de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).

Abalada, Bethânya Gabrielle, que era aluna da vítima, contou, em entrevista à REDE TO, que Arione era uma pessoa divertida que amava o que fazia. “Ontem durante a aula, ele estava tão alegre; falou que iria viajar, é inacreditável”, disse.

Professor que havia assumido a homossexualidade recentemente é apedrejado até a morte (Foto: Dermival Pereira, Rede TO)
O presidente do Grupo Ipê Amarelo pela Livre Orientação Sexual, Henrique Ávila, afirmou que só este ano, foram três homicídios motivados por razões homofóbicas na capital tocantinense.

“Estamos entristecidos com a notícia e isso só reforça a necessidade do governo em criar medidas emergenciais para o fim da homofobia em nosso estado, pois os crimes de ódio só estão aumentando e o governo não toma uma postura diante de tudo”, afirmou.



Fonte: 

https://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/10/professor-assumiu-homossexualidade-apedrejado-ate-morte.html

Violência escolar, um grito de protesto

Professor Kássio Vinícius Castro Gomes



J’ACUSE !!!
(Eu acuso!)


(Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes)


« Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice.
(Émile Zola)


Meu dever é falar, não quero ser cúmplice. (...)
(Émile Zola)


Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que.... estudar!). A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro. O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares. Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência supostamente democrática. No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando... E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.” Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno–cliente... Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”. Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.


Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:

EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;

EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos” e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;

EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;

EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;

EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;

EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;

EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;

EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;

EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;

EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “ nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;

EU ACUSO os “cabeças–boas” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito,

EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;

EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.

EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;

EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;

Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos-clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia. Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”. A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.” Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.

Autor: Igor Pantuzza Wildmann


Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário.


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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO


Recebi esse texto de uma amiga minha, professora. Lívia não sabe o bem que me fez enviando esse texto. Esse é o grito preso à garganta de quem ama o magistério e o vê sendo arruinado por capitalistas bajuladores ávidos por ganhos financeiros ou a simples manutenção de postos.

Espero que não seja apenas um texto para provocar indignação, mas auto-crítica. Que tipo de aluno é você quando senta para estudar? Que tipo de professor é você quando se propõe a ensinar? Que tipo de coordenador, supervisor, inspetor, diretor é você quando se propõe a administrar o trabalho de quem ensina e de quem aprende, e o ambiente em que o aprendizado deve acontecer?

Tem jeito. Fundamental é o empenho de quem faz acontecer: governantes, legisladores, juízes, diretores, professores. Não serão os alunos, por livre, construtiva e espontânea vontade que farão a mudança acontecer. Os que tem essa boa vontade não podem se arvorar contra os que empunham facas. Eles não têm força política, jurídica ou policial para impor a ordem, no meio da qual se dá o progresso.

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