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Transexual troca ensino de religião por ética em escola gaúcha

Transexual troca ensino de religião por ética em escola gaúcha

Professora da rede estadual do Rio Grande do Sul, Marina Reidel aguarda o título de mestre para fazer a cirurgia de troca de sexo

Daniel Aderaldo, iG Ceará | 15/04/2012 07:00


Marina Reidel viveu em Montenegro, distante a 66 quilômetros de Porto Alegre, por 29 anos, como Mário. Com essa idade se mudou para a capital e iniciou a transformação que lhe encheu de curvas e moldou um rosto feminino. Revolução semelhante, a professora promoveu no exercício da profissão ao fazer uma escola pública abolir o ensino religioso do currículo e adotar as aulas de ética. Agora, estuda para terminar o mestrado em Educação e fazer a cirurgia de troca de sexo.

Descendente de alemães, Marina foi criada pela família com amor, porém, não com o diálogo que precisava para tratar da sua orientação sexual, que era claramente expressa em suas brincadeiras de criança. Ela se identificava muito mais com as “coisas de menina”. Mas isso nunca foi encarado pelos pais.

Assim, ao final da adolescência, Marina iniciou sua formação no magistério, no Instituto de Educação São José, em Montenegro, administrado pelas Irmãs de São José. Foi justamente em um colégio de freiras que ela concluiu o Curso Normal em 1986 e teve a habilitação para ensinar crianças do ensino fundamental.


Foto: Arquivo pessoal



Marina Reidel precisou sair da cidade para mudar radicalmente aparência

O passo seguinte foi começar uma graduação. De Montenegro até Novo Hamburgo eram 44 quilômetros percorridos cinco dias por semana para ir e outros 44 quilômetros para voltar. O esforço rendeu o diploma em Artes pela Universidade Feevale.

Nesta época, Marina já era professora da rede pública do Estado e dava aulas em sua cidade natal. Contudo, na cidade que hoje tem pouco mais de 30 mil habitantes, sentia que jamais poderia ser, por completa, quem gostaria. Então, desfez laços e foi para Porto Alegre. “Eu precisava desse rompimento para começar minha transformação”, relembra.

O processo foi gradual. Começou pelo cabelo, que deixou crescer. Passou a usar brincos e, finalmente, adotou definitivamente Marina como o seu nome social. O passo mais importante veio em 2006, após três anos ensinando na escola estadual Rio de Janeiro, novamente em Montenegro, sua cidade natal. Ela tirou licença para promover uma verdadeira metamorfose com ajuda de hormônios, cirurgias plásticas e o implante de protestes de silicone no busto.

Precavida, a direção da escola promoveu palestras sobre o tema e comunicou aos alunos que a professora não seria a mesma quando retornasse. Mesmo sabendo das conversas, Marina ficou cautelosa. "A gente aprende a sempre esperar o pior", admite ao falar da expectativa que tinha antes de voltar a dar aulas.

Mas a surpresa foi positiva e Marina não enfrentou grande resistência de alunos, pais ou colegas e direção. "Claro que causou espanto, mas em nenhum momento houve problemas sérios", conta.

A “vitória” deu força a Marina que, então, propôs, desta vez, uma revolução pedagógica. Quando voltou às aulas, coube-lhe ensinar a disciplina de ensino religioso. Ela sugeriu uma mudança no currículo: trocar religião por ética. A escola chamou pais e alunos, realizou debates e chegou a conclusão de que Marina tinha razão. E assim foi.

"Eu sou de religião africanista e entre os alunos da escola existe uma variedade grande de credos", justifica. "Além disso, eu também não poderia ensinar sobre uma religião que sequer me aceita como sou". Hoje, o programa da disciplina de Ética e Cidadania aborda temas como homofobia, aborto, racismo e drogas.

Para o próximo ano, Marina tem duas novas etapas importantes na vida. Até agosto de 2013 ela deve defender a dissertação de mestrado em Educação pela Universidade do Rio Grande do Sul. Sua pesquisa é baseada em depoimentos de 40 professoras travestis e transexuais espalhadas por escolas de todo País. Quando conseguir o título, irá se submeter à cirurgia de mudança de sexo. “Estou esperando esse momento, que considero o melhor”.

Depois disso, Marina deve deixar as salas de aula e ir trabalhar na Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul e seguir o mesmo caminho da cearense Luma Andrade.

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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO

O Brasil começa a descobrir que ser transexual não é sinônimo de 'pista'. Se a pista é a única opção que muitos e muitas delas enxergam é simplesmente porque o preconceito da sociedade fechou muitas portas diante deles/delas.

Tanto as trans-homem como as trans-mulher são capazes de dar grandes contribuições à sociedade com seu conhecimento e capacidade produtiva. Nenhuma dessas duas coisas estão ligadas à genitália ou aos papéis de gênero.

Parabéns à Marina e à Luma. Parabéns ao João W. Nery (autor de "Viagem Solitária". Parabéns a todas e todos os outros que, em seu discreto anonimato, vão trans-formando a sociedade brasileira num espaço sócio-político-cultural mais gostoso e mais justo em que se viver.





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Religião na Escola - Folha de São Paulo


Não admita a imposição religiosa nas escolas.


VEJA ESSE TEXTO QUE FOI PUBLICADO NA FOLHA:


São Paulo, sexta-feira, 06 de abril de 2012


Religião na escola


Estado deve impedir práticas confessionais em sala de aula na rede pública, não para reprimir a fé, mas para garantir liberdade religiosa

Há quase cem anos, um adolescente mineiro foi expulso do colégio de jesuítas onde estudava. Seu nome: Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).

O motivo da expulsão também ganhou notoriedade: a "insubordinação mental" de que o acusavam tornou-se, com o passar dos anos, uma das muitas distinções da biografia do poeta.

Também mineiro, e com a mesma idade (17 anos) que tinha o escritor naquele episódio, o estudante Ciel Vieira "insubordinou-se", por assim dizer, diante de uma professora de geografia do seu colégio, na cidade de Miraí, a 355 km de Belo Horizonte.

A professora tinha por hábito iniciar as aulas rezando o Padre Nosso. Ateu, o estudante não acompanhou a classe na oração. A professora reagiu, dizendo ao jovem que ele não tinha Deus no coração e nunca seria nada na vida.

O caso ganhou repercussão, dando respaldo à atitude do estudante -que, com razão, não vê motivo para ser obrigado a rezar numa escola da rede pública.

Seria mais confortável, é claro, fingir uma adesão superficial ao rito. A atitude de independência do estudante se inscreve, todavia, num clima ideológico e cultural que se diferencia dos padrões de indiferença e acomodação típicos do Brasil de algumas décadas atrás.

Dos protestos contra a presença de crucifixos em repartições públicas ao questionamento judicial, por parte da União, dos critérios que devem reger o ensino religioso nas escolas, avolumam-se iniciativas para afirmar com mais nitidez o princípio da laicidade do Estado.

Ao mesmo tempo, vê-se em toda parte uma tendência, se não para o fundamentalismo religioso, pelo menos no rumo de um proselitismo militante. É uma manifestação legítima, desde que não resvale para a imposição ao público de valores e práticas cuja adoção constitui matéria de foro íntimo.

Denominações cristãs diversas fazem valer seu poder como mecanismos eleitorais. Bancadas parlamentares religiosas se organizaram em todos os níveis da Federação. A TV aberta promove intensamente este ou aquele credo.

Por demagogia ou convicção, surgem mesmo casos em que políticos quebram explicitamente o princípio da neutralidade do Estado em questões religiosas. Foi o que aconteceu em Ilhéus, onde vereadores e prefeito tornaram obrigatória a oração do Pai Nosso nas escolas municipais.

Casos assim podem parecer localizados e desimportantes. Todavia, a ideia de que o Estado não deve se imiscuir nas questões de fé tem uma relevância cada vez maior.

Não se trata de uma questão de militância ateísta -o que está em jogo é a liberdade de todas as religiões, indistintamente, para conviverem de forma pacífica, sem favor nem perseguição do poder público.




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