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Por que amar faz bem?



“O amor é a alegria acompanhada da ideia de uma causa externa” (Spinoza)


Por Sergio Viula



A alegria, segundo o filósofo moderno Spinoza, é o sentimento que fortalece a vida, enquanto a tristeza a enfraquece. Como “toda coisa, enquanto está em si, se esforça por permanecer no seu ser” (Ética III, prop. 6), é natural que os seres humanos valorizem a alegria mais que tudo. E a esse esforço por permanecer em seu ser, Spinoza chama conatus (esforço em latim).

Todavia, por alegria, Spinoza entende algo bem diferente da euforia que certas experiências ou substâncias podem criar. A alegria é um sentimento que fortalece nosso conatus e enriquece nossa capacidade potencial: alegria, tristeza e desejo, são fundamentais para a manutenção do conatus, já que é através deles que podemos acrescentar essência a nossa existência.

Deixando Spinoza por um momento, sem abandoná-lo (rs), é fato que existe alegria em coisas tão simples quanto comer quando se tem fome, beber quando se tem sede, dormir quando se tem sono, sentir-se protegido, acolhido, amado. Inversamente proporcional ao efeito da alegria sobre o fortalecimento do ser, a tristeza enfraquece, esvazia a potência de viver. No entanto, ela é útil, caso ao tentarmos evita-la, aprendamos a nos afastar daquilo que a promove.

E o amor? O amor, voltando a Spinoza, é a alegria acompanhada de uma ideia de causa externa. Ou seja, atribuímos a alegria que sentimos quando estamos na presença do objeto de nosso amor a esse objeto mesmo e, por isso, queremos mais dele; queremos passar mais tempo com ele; queremos fazer-lhe bem do mesmo modo que pensamos que ele nos faz. Por isso, o amor não faz mal ao seu objeto. Mas, até nisso é preciso que o amante faça bom uso da razão para não sufocar o amado com algum comportamtento ciúmento ou possessivo. Uma boa dose de racionalidade é proveitosa até para o amor.

Digo que amo meus filhos, porque a mera existência deles me enche de profunda alegria. Digo que amo meu marido, porque só a ideia de que ele existe e que me faz bem me enche de alegria. Por isso, amar faz tanto bem à vida – porque o amor é alegria! E que amor poderia ser mais fortalecedor do que o amor próprio? Sim, porque ele é nossa alegria encontrando sua razão de ser em nós mesmos – alegria que me alimenta produzida a partir de mim mesmo. É quase uma fotossíntese existencial, sendo o ódio ou desprezo por si mesmo o inverso disso: tristeza que enfraquece e destrói o ser.

Por que alguns homossexuais sofrem tanto? Talvez a resposta esteja aí mesmo. Falta-lhes amor – essa alegria acompanhada da ideia de uma causa externa. E não parece estranho que a palavra mais usada para homossexual no mundo hoje seja “gay”, isto é, alegre?

Mas, que não se conclua precipitadamente que os homossexuais não amam ou não experimentam a alegria da qual a palavra “gay” fala tão belamente. Eu mesmo acabei de citar quatro dos meus amores: meus dois filhos, meu parceiro e eu mesmo! Há outras pessoas que eu amo – meus pais, por exemplo. Amo até minha faceira e peralta cachorrinha – a alegria em pessoa (pessoa?) kkkk

Mas voltando ao amor próprio, eu diria que amar-se é regozijar-se em si mesmo! E isso é fundamental para a saúde física e psíquica – tudo isso igualmente corpo! E é também o melhor caminho para enxergar no outro o que ele tem de melhor e alegrar-se nisso. E se me alegro de modo tão especial em função do outro, é claro que vou querer mantê-lo próximo e tornar sua existência tão feliz quanto acredito que ele torne a minha. Quando isso acontece em via de mão dupla e em proporções semelhantes, eis aí um grande amor. E esse amor pode ser – e, de fato tem sido – experimentado por pessoas de todos os gêneros e orientações sexuais: homens e mulheres bi, hetero, homo, trans, enfim.

Todos desejamos! E só desejamos aquilo que nos parece bom. Porém, aquilo só nos parece bom, porque o desejamos. E isso diz muito a respeito de nós mesmos, mais até do que sobre os outros, sejam pessoas, coisas, animais, experiências, memórias, enfim. Achamos bom aquilo que nos dá ou aumenta a alegria que sentimos, e por isso mesmo não há quem possa desprezar o objeto de seu amor, porque o objeto de seu amor é aquilo que está associado a sua mais pura e intensa alegria. Quando amamos consideramos a pessoa amada a melhor pessoa do mundo! Mas, nós a amamos porque ela é mesmo a melhor pessoa do mundo ou ela nos parece a melhor pessoa do mundo porque a amamos?

Amor é alegria, e a alegria fortalece a potência da vida. Cultive seu amor, aumente sua alegria, e sua vida permanecerá forte e saudável enquanto for possível perseverar no seu ser. E isso, ao contrário do que muita gente pensa, não é apenas uma questão emocional. A razão está – e precisa mesmo estar – profundamente relacionada à alegria e ao desejo. E à medida que a razão se desenvolve, o nosso conhecimento aumenta e nos torna capazes de organizar nossas relações com o mundo de modo a incentivar o predomínio das paixões alegres sobre as tristes.

Vale lembrar que, conquanto o cultivo das paixões alegres seja importante, ele não é objetivo principal da vida racional e nem da ética. O que interessa mesmo é deixar de ser passivo diante das afecções e afetos e agir de modo racional. O desenvolvimento da razão, principalmente quando formamos noções comuns sobre a própria vida afetiva, é acompanhado de técnicas que permitem atenuar os efeitos da imaginação e do conhecimento sensível que regem a vida passional. Assim, pouco a pouco, todas as relações cognitivas e afetivas da vida mental vão sendo transformadas em proveito para a atividade. 
E como ninguém nasce absolutamente livre, resta-nos criar a liberdade a partir do reconhecimento do que sou e do que posso ser. Para Spinoza, a liberdade é a identidade de si consigo. E não é isso exatamente o que mais desejamos: sermos simplesmente idênticos a nós mesmos, ou seja, pensar, sentir e agir de acordo com nosso próprio ser? Não dá para ser feliz tentando ser outro que não si mesmo. Não me admira que tenha enfraquecido soterrado pela tristeza típica do “armário” e de tudo o que ele representava para mim, e que tenha me sentido intensamente vivo a partir do momento em que sintonizei a minha própria frequência existencial fora dele. Esta, porém, foi apenas uma – talvez a mais importante – mudança que eu fiz para viver essa identidade de mim comigo. E foi ela que também me proporcionou a oportunidade de viver intensa e publicamente o amor que sinto por quem, felizmente, me ama do mesmo jeito.

É tão bom amar!




Sobre como é bom amar!

Ouço muita gente reclamar que não consegue dar certo com ninguém. Ou que ainda não achou a pessoa certa. Eu compreendo esse dilema. Também já me senti assim. Já tive parceiros que não mereciam o amor que eu queria devotar. Também tive parceiros maravilhosos com os quais eu não senti aquela química que liga uma pessoa à outra de modo íntimo, poderoso e terno ao mesmo tempo. Fui fiel aos meus sentimentos e terminei. Foi duro pra mim e mais duro ainda para o outro, porque estava mais envolvido do que eu.

Por outro lado, também já vi gente que reclama de não ter ninguém, apesar de já ter tido inúmeras boas oportunidades. O que será que aconteceu, então? Pode ser que não tenha acontecido uma sintonia mais profunda. Ou pode ser que tenha sido falta de maturidade para desenvolver um relacionamento duradouro. Transar e manter um relacionamento são coisas diferentes. Podem e devem ser complementares, mas não são a mesma coisa.

Esses dias, numa conversa online, alguém me disse que ainda não havia encontrado alguém para viver um verdadeiro relacionamento. Ao longo da conversa, essa pessoa foi me dando algumas "pistas" do porquê. Foi involuntário. É que as pessoas se revelam pelo que dizem e fazem. Ela me disse que não tinha paciência para aturar os erros do outro. “Se pisar na bola, eu mando logo embora”, disse. Fiz uma intervenção e comentei que, se não aprender a ter paciência com o outro, jamais terá alguém pra valer. Acredito, pessoalmente, que já tenha jogado verdadeiros diamantes fora só porque estavam um pouco empoeirados.

Uma coisa que aprendi vivendo é que ninguém nasce sob medida para outra pessoa. Da mesma forma, ninguém deve se enganar, pensando que vai modelar a outra pessoa de acordo com seus caprichos pessoais. Cada um é um. E nunca dois serão um. Vou repetir: NUNCA DOIS SERÃO UM. Isso é mais um dos muitos mitos bíblicos que têm influenciado a mentalidade das pessoas, especialmente no Ocidente. Há outros mitos que também influenciam pessoas de outras origens culturais, mas todos eles estão totalmente equivocados quando pensam que duas pessoas tornam-se uma quando se amam ou quando se casam. Duas pessoas casadas ou num relacionamento sério continuam sendo duas pessoas e não uma.

A matemática do relacionamento bem-sucedido é muito simples: 1 + 1 = 2.

Pode-se representar as relações humanas de várias formas. Algumas são marcadas pelo domínio de uma parte sobre a outra, sufocando a individualidade. Outras pela distância emocional, disfarçada de harmonia. Mas existe uma forma mais rica, na qual os dois indivíduos se relacionam de forma plena, trocando tudo o que têm de bom, sem se anularem.

Esse tipo de relação — que respeita as diferenças, incentiva o crescimento mútuo e celebra a individualidade — é o que realmente vale a pena. Isso não significa que não haverá atrito. Haverá. Mas também haverá diálogo, disposição para compreender e coragem para ser vulnerável. Quando ambos estão desarmados e realmente empenhados em fazer o relacionamento dar certo, tudo isso se transforma em impulso, e não em obstáculo.

Viver a dois é também aceitar que haverá diferenças. Diferenças de gosto, de comportamento, de sonhos. E que está tudo bem. O importante é ter sintonia no essencial: carinho genuíno, desejo de crescimento mútuo, admiração mútua, respeito.

Também é libertador viver um relacionamento em que não há vigilância sufocante. Onde se pode reconhecer a beleza de outra pessoa sem que isso seja interpretado como ameaça. Onde existe espaço para sentir saudade, para viajar sozinho, para ter seu tempo. Onde existe confiança, desejo real de ver o outro feliz e realização pessoal compartilhada.

Ninguém sabe se um relacionamento vai durar muito ou pouco. Se vai ser para alguns dias, meses, anos ou para a vida toda. Mas isso, por mais duro que pareça, não importa. O que realmente interessa é sonhar como se nunca fôssemos morrer e viver como se hoje fosse nosso último dia. Pode ser que, de repente, a gente olhe para trás e descubra que aquela pessoa com quem dividimos tanto amor fez tudo valer a pena.

Como dizia o filósofo Bertrand Russell sobre o amor e a vida:

“Temer o amor é temer a vida, e os que temem a vida já estão meio mortos.”

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