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Educar para a diversidade, inclusive sexual e de gênero

Por Sergio Viula



Paulo Freire, o maior referencial em educação no Brasil, apesar de tantos outros pensadores, pedagogos, professores já terem contribuído e continuarem contribuindo imensamente para o aprimoramento dos processos que escolarizam milhões de brasileirinhos e brasileirinhas, do letramento à especialização pós-acadêmica, deixou-nos grandes lições.

Se todas tivessem sido realmente apreendidas, talvez não precisássemos amargar o fato de que todo esse percurso nem sempre é tão emancipador quanto deveria ser. Ao longo da jornada muito do que deveria ser vivenciado deixa de sê-lo, enquanto experiências que não deveriam acontecer no ambiente escolar ou acadêmico insistem em se repetir, para prejuízo de todos.

No site da PUC, encontramos esse sucinto e precioso texto sobre a pedagogia de Paulo Freire, que pode nos dar boas indicações do que se significa educar. Grifei o que considero mais importante para esse post:

Paulo Freire propõe uma pedagogia da autonomia na medida em que sua proposta está "fundada na ética, no respeito à dignidade e à própria autonomia do educando" (FREIRE, 2000a, p. 11). Optamos por usar a expressão "educação para a autonomia" com o objetivo de enfatizar que a autonomia deve ser conquistada, construída a partir das decisões, das vivências, da própria liberdade. Ou seja, embora a autonomia seja um atributo humano essencial, na medida em que está vinculada à ideia de dignidade, defendemos que ninguém é espontaneamente autônomo, ela é uma conquista que deve ser realizada. E a educação deve proporcionar contextos formativos que sejam adequados para que os educandos possam se fazer autônomos.

A temática da autonomia que ganhou centralidade nos pensadores e na educação moderna, ganha em Paulo Freire um sentido sócio-político-pedagógico: autonomia é a condição sócio-histórica de um povo ou pessoa que tenha se libertado, se emancipado, das opressões que restringem ou anulam sua liberdade de determinação. E conquistar a própria autonomia implica, para Freire, em libertação das estruturas opressoras. "A libertação a que não chegarão pelo acaso, mas pela práxis de sua busca; pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela" (FREIRE, 1983, p.32). Não há libertação que se faça com homens e mulheres passivos, é necessária conscientização e intervenção no mundo. A autonomia, além da liberdade de pensar por si, além da capacidade de guiar-se por princípios que concordem com a própria razão, envolve a capacidade de realizar, o que exige um homem consciente e ativo, por isso o homem passivo é contrário ao homem autônomo. (online em 04/07/15: http://www.pucrs.br/edipucrs/online/autonomia/autonomia/capitulo4.html)

Infelizmente, há forças que concorrem com os esforços em promover a autonomia humana como experiência de todos, porque não interessa a determinados setores e/ou indivíduos conservadores, que se beneficiam egoisticamente da opressão, seja ela política, econômica ou social, que as pessoas sejam autônomas, donas de si e sujeitos ativos de suas próprias biografias.

O conceito de liberdade de determinação que, em Paulo Freire, está vinculado ao de autonomia, é extremamente oportuno e atual. Ser livre é poder determinar-se, dizer quem se é, o que se quer, como se deseja viver, que objetivos se pretende alcançar, como se pretende construir a própria biografia. E isso só é possível quando os indivíduos tornam-se autônomos, porque ser autônomo é ser consciente, pensar por si mesmo; é ser ativo na busca pela realização de si mesmo.

Uma educação que não proporcione o ambiente e os meios para que seus educandos sejam estimulados, provocados e desafiados a se libertarem daquilo que os oprime, construindo-se como desejam, não passa de outra máquina de subjugação ou de reprodução de opressões.

Isso é o que tem acontecido há muito tempo no Brasil: o sistema educacional, com suas diversas ramificações, tem reproduzido relações injustas, equivocadas, castradoras das liberdades, e violadoras da dignidade humana em muitos sentidos.

Desde os jesuítas, primeiros educadores do Brasil, com seu etnocentrismo judaico-cristão-europeu na 'educação' dos índios, até o professor universitário que, numa universidade pública, reproduz discursos machistas, homofóbicos, transfóbicos, racistas, classistas, ou qualquer outro, a educação tem mais conservado o que há de pior do que transformado para melhor.

No Brasil, a educação é administrada pelo Executivo, através do MEC (Ministério da Educação e Cultura). Entretanto, é o Legislativo que define os parâmetros legais, dentro dos quais, o Executivo pode agir. Claro que as Casas Legislativas (Câmaras de Vereadores, Assembleias Legislativas e o Congresso Nacional) têm que agir dentro do que a Constituição determina. Caso, violem algum princípio constitucional ou se recusem a regulamentar leis que sejam fundamentais para a execução do que determina a Constituição, o Judiciário pode ser acionado, de acordo com cada instância de poder (municipal, estadual ou federal).

Com o aumento do número de legisladores oriundos de ambientes onde o pensamento é viciado em padrões opressivos que favorecem e até estimulam discursos excludentes e discriminadores contra aqueles que não se enquadram em seu restrito e existencialmente iníquo sistema de crença, pensamento, discurso e ação, o que tem acontecido é que uma atmosfera de beligerância contra os direitos dos seres humanos, enquanto tais, tem se instalado e se tornado cada vez mais sufocante dentro e fora dos ambientes educacionais.

Exemplo disso foi o que fizeram os vereadores de Fortaleza, capital do Ceará, que tiraram metas sobre diversidade sexual do Plano de Educação do Ceará. Foram 25 votos a 10. Isso é gravíssimo! O Vereador Paulo Diógenes (PPB) deu um depoimento emocionante em defesa da educação que contemple a diversidade sexual:

O vereador Paulo Diógenes (PPB) fez um discurso enfático para defender esses pontos do plano relembrando episódios de violência que sofreu em casa e na escola por ser gay. “O que se pede aqui é só que os professores saibam lidar com isso [com a diversidade sexual]. Quando era pequeno, eu sabia que era diferente, mas não sabia por quê. Eu não pedi para nascer gay, não. Aos 53 anos, vocês acham que eu quero sofrer por que é minha opção sofrer? Não é, não. Eu nasci assim.” (online em 04/07/15: https://memoria.ebc.com.br/cidadania/2015/06/vereadores-retiram-metas-sobre-diversidade-sexual-do-plano-de-educacao)

Sobre o que significa orientação sexual e identidade de gênero, vale citar o que se encontra no site do Partido dos Trabalhadores:

O termo orientação sexual se refere a como a pessoa se sente em relação à afetividade e sexualidade. Já a identidade de gênero faz referência a como cada um se reconhece dentro dos padrões de gênero estabelecidos socialmente. Assim, não são somente as características biológicas que determinam a construção da identidade de gênero.

O ambiente escolar é considerado um dos principais lugares de construção dos saberes da criança, incluindo as construções das identidades e, consequentemente, das diferenças. Assim, a ideia de incorporar o tema aos Planos de Educação visava propiciar uma discussão para diminuir o preconceito nas escolas, além de preparar as instituições de ensino para combater a discriminação racial, de orientação sexual ou de identidade de gênero. (online em 04/07/15: http://www.pt.org.br/identidade-de-genero-e-diversidade-sexual-devem-ser-discutidas-nas-escolas/)

Até a data desse post (04/07/15), as referências à identidade de gênero foram excluídas dos Planos Estaduais de Educação dos seguintes estados (D.F. incluído):

1. Pernambuco

2. Espírito Santo

3. Paraná

4. Distrito Federal

5. Acre

6. Tocantins

7. Paraíba

8. Rio Grande do Sul

Isso, sem contar os diversos municípios por todo o País, entre eles chamo atenção para a cidade de Cuiabá:

Os vereadores de Cuiabá aprovaram na noite desta terça-feira (23) o projeto que institui o Plano Municipal de Educação (PME), porém, com algumas alterações a pedido de um grupo de católicos que foi até a Câmara Municipal para cobrar que os termos ideologia de gênero, diversidade sexual e orientação sexual fossem retirados do texto. O plano define as políticas de educação para os próximos 10 anos.

Vários padres acompanharam a sessão, entre eles o reitor do Seminário Cristo Rei, em Várzea Grande, região metropolitana da capital, Reginaldo de Souza Oliveira. Para ele, algumas diretrizes do plano eram um atentado à democracia, já que o Plano Nacional de Educação tinha sido aprovado rejeitando os termos após ampla discussão. (online em 04/07/15: https://g1.globo.com/mato-grosso/noticia/2015/06/catolicos-vao-camara-de-cuiaba-e-diversidade-sexual-e-retirada-de-plano.html)

Em Ponta Grossa, Paraná, os Vereadores se renderam à pressão de entidades religiosas e retiraram termos como "gênero" e "diversidade" do Plano Municipal de Educação. Essas diretrizes serão referência no Município pelos próximos 10 anos.

O estudante do Mestrado em Geografia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), William Hanke, realizou em 2013 uma pesquisa sobre homofobia no espaço escolar, que consultou 1996 estudantes do ensino médio em seis colégios públicos de Ponta Grossa. “O preconceito homofóbico constitui o espaço escolar de Ponta Grossa. Muitas pessoas sofrem e acabam não falando sobre esse preconceito. Só quem sabe, é quem sofre. Os outros não querem ver”, explica. (online em 04/07/15: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/ponta-grossa-camara-retira-termos-como-genero-e-diversidade-do-pme-1swn04uhlh2m1i79mjrt2osiy/)

Em Porto Alegre, foi aprovada uma emenda, pela qual, foram retiradas do PME as palavras "gênero", "estudo de gênero", "identidade de gênero", "sexualidade", "orientação sexual" e "diversidade sexual".

Na visão da vereadora Fernanda Melchionna (PSOL), a retirada do assunto da pauta escola é um "retrocesso":

— Vai na contramão da história, é um retrocesso. Mantém a cultura do ódio, estimula o bullying e o preconceito LGBTs. E a escola, que deveria ser um espaço inclusivo e um espelho da sociedade, não reflete a diversidade que vivemos aqui fora. O plano aprovado é conservador e autoritário — afirma Fernanda. (online em 04/07/15: https://gauchazh.clicrbs.com.br/geral/noticia/2015/06/com-beijaco-gay-e-manifestacoes-plano-municipal-de-educacao-e-aprovado-sem-incluir-identidade-de-genero-4788316.html)

Já o Município de Tocantinópolis, no Estado de Tocantins, cumpriu bem seu papel de garantir que o PNE (Plano Nacional de Educação) encontre viabilidade em seu território. Os Vereadores vetaram medida que tentava revogar os termos diversidade de gênero e diversidade sexual do Plano Municipal de Educação. E foi por unanimidade! Parabéns, Vereadores de Tocantinópolis! Conferir: 
https://conexaoto.com.br/2015/06/23/tocantinopolis-veta-medida-que-revoga-os-termos-diversidade-de-genero-e-diversidade-sexual-do-plano-municipal-de-educacao

Recomendo também a matéria da Folha de São Paulo que faz um mapeamento interessante das discussões e seus desdobramentos:
https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2015/06/1647528-por-pressao-planos-de-educacao-de-8-estados-excluem-ideologia-de-genero.shtml

Infelizmente, conforme o texto da própria Folha, na matéria supracitada, a CNBB optou por ficar ao lado dos que preferem silenciar aqueles que não se enquadram em sua pequena moldura de possibilidades existenciais. Vê-se que o recurso à propagação do pânico social ainda ronda os meandros da Igreja Católica, apesar de ser mais visível em alguns setores evangélicos, principalmente neopentecostais:

A CNNB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) divulgou nota em que afirma que "a introdução dessa ideologia na prática pedagógica das escolas trará consequências desastrosas para a vida das crianças e das famílias”.

É nítida a ignorância ou má-fé (não sei bem se uma ou outra, ou se ambas) da parte desses bispos e de outras pessoas que pensam como eles no que se refere ao horizonte das possibilidades humanas em termos existenciais.

O argumento de que "valores se ensinam em casa" não poderia estar mais distante da realidade e dos mais básicos conceitos sobre educação. Não apenas isso, mas revela má-fé e hipocrisia, porque quando se trata de ensino religioso, eles não admitem o mesmo argumento da parte de quem diz que doutrinação religiosa se faz em casa. Mas mesmo aqui, o respeito a todas as fés e agremiações religiosas também se aprende na escola, do mesmo jeito que deve se dar com as sexualidades e as identidades de gênero: cada um tem a sua, mas tanto a família, como a escola ou qualquer outra instituição social devem aprender a respeitar essas particularidades, sem silenciá-las, caso contrário incorreriam em violação à dignidade dessas pessoas.

Claro que existem muitos religiosos que aprovam a inclusão total das pessoas sexodiversas e transgêneras, mas muitos deles não se colocam pro-ativamente, e aqueles que levantam sua voz não são ouvidos como deveriam, porque em suas próprias comunidades, são ignorados e acabam não tendo o mesmo poder de mobilização.

O Plano Nacional de Educação, assim como o Planos Estaduais de Educação e os Planos Municipais de Educação têm impacto sobre toda a comunidade escolar brasileira, seja ela pública ou privada. E como diversas organizações religiosas são donas de escolas e até de universidades, pretendendo manter seu monopólio sobre a produção de verdades a respeito do que é ser humano e do que é viver eticamente como tal, a movimentação dos representantes dessas organizações beira o patético ou até o insano: querem usar as escolas como braço do templo para reproduzir o que não não encontra a menor justificativa racional: o preconceito. E quem sai perdendo com isso? Toda a sociedade, porque os indivíduos que não se encaixarem nas estreitas formas dogmáticas desses senhores serão ignorados ou excluídos - o que, em última instância, gera problemas de ordem emocional e social, inclusive a violência que vem das ruas para a escola e volta da escola para a rua sem ser modificada, sem ser coibida, estancada, vencida pelo conhecimento racional e por uma atitude humanista para com todos.

Atualmente, o que vemos é um renovado ataque à laicidade.

As escolas governamentais têm que ser absolutamente laicas, e mesmo aquelas que são privadas precisam atender a algum nível de laicidade, uma vez que não estão excluídas de um contexto sócio-político-econômico que só será bom para todos se girar em torno do eixo da laicidade.

Com isso, quero dizer que mesmos as escolas confessionais (ligadas à igrejas e sinagogas, por exemplo) não podem ignorar princípios fundamentais para a convivência pacífica e respeitosa entre todos e para com todos.

Por exemplo, se nenhuma escola pode se omitir diante do racismo, por que deveria se omitir diante da LGBTfobia?

O ambiente escolar, suas técnicas e processos devem atender ao princípio áureo da dignidade humana e da autonomia dos indivíduos para a autodeterminação, garantindo-se o mesmo direito a todos.

A LGBTfobia não está apenas em algumas pessoas no ambiente escolar, individualmente. Ela faz parte do próprio sistema educacional. O modo como ele foi construído e seu modus operandi produzem, reproduzem, e valoram positivamente os discursos excludentes, discriminatórios, hierarquizadores a respeito dos corpos e de como devem se relacionar afetivamente, inclusive sexualmente. Enquanto esse sistema iníquo não for modificado, continuaremos agenciando e sendo agenciados por forças que produzem configurações opressoras tanto política, como econômica, como socialmente.

A mudança passa pelo enfrentamento às forças conservadoras, fanatizantes, fundamentalistas e totalitaristas. Não há como simplesmente ignorar que essas injustiças atendem aos interesses de quem faz da opressão e da subjugação um modus operandi para o atingimento de objetivos nada humanistas.

E, sim, a discriminação afeta o desempenho dos alunos homossexuais, transexuais, etc. Veja essa matéria da Agência Brasil: 
https://educacao.uol.com.br/ultnot/2009/07/24/ult105u8412.jhtm (online em 04/07/15)

Chamo atenção para a fala da psicóloga especialista em sexualidade da UCB (Universidade Católica de Brasília), Claudiene Santos, alertando que a homofobia no espaço escolar está presente em todos os níveis - desde o ensino fundamental até o superior:

A autoestima dessas pessoas que são discriminadas fica muito baixa. Como ela pode estar em um lugar em que os outros não a aceitam como ela é de verdade? A consequência em geral é a evasão", acrescenta a especialista, que integra o Grupo de Pesquisa Sexualidade e Vida, da Universidade de São Paulo (USP/CNPq).

Assim sendo, precisamos pensar e agir para a construção de uma educação LAICA, HUMANISTA, que estimule e capacite todos os membros da comunidade escolar, tanto em CIÊNCIA como em TECNOLOGIA e nas HABILIDADES SOCIAIS que ampliem os espaços para a efetivação da AUTONOMIA dos indivíduos alcançados pela máquina educacional, seja na escola infantil, elementar, de ensino médio, de ensino técnico, de ensino superior, de pós-graduação, ou naquelas que funcionem em paralelo a essa linha - mais ou menos reta - de progressão acadêmica.

Deixo uma dica para educadores: o Portal do Professor no site do MEC pode render boas ideias para aulas criativas e produtivas em relação a um sem-número de temas, inclusive gênero e diversidade sexual. Busque por palavras chaves dentro do próprio portal:

Veja, por exemplo, os resultados que vêm com o termo "homossexualidade" na ferramenta de busca: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/buscaGeral.html?q=homossexualidade

Não podemos mais fazer de conta que não temos o que dizer em favor da inclusão plena, ou que não ouvimos a voz dos que são constantemente discriminados e até perseguidos, ou que não vemos as injustiças que acontecem nos ambientes educacionais, principalmente contra alunos, mas não exclusivamente, porque professores e outros servidores também são alvos de discriminação quando se assumem como lésbicas, gays, bissexuais ou transgêneros (LGBT) ou simplesmente parecem sê-lo.


Pessoalmente, como professor e sendo gay assumido, com entrevistas rolando pela internet e veículos de comunicação de grande alcance, seria impossível viver dentro do armário em sala de aula. Portanto, quando algum aluno me diz que gostou do que leu ou ouviu em alguma dessas entrevistas, sempre encaro tudo com muita naturalidade e respondo ao que me perguntam. Por outro lado, se não me perguntarem sobre isso, não entro no mérito, porque essas matérias tem a ver com ativismo pró-inclusivo, refutação aos movimentos de cura gay e outras esquisitices fundamentalistas, que nem sempre são as questões que os próprios alunos tematizam em suas vidas pessoais.

Entretanto, omissão é uma palavra que passa longe da minha prática pedagógica. Sempre que o tema surge espontaneamente, tiro proveito da ocasião para produzir esclarecimento e reflexão humanista em torno do mesmo. Ensino incidental.

Se houver algum episódio de discriminação, aproveito para promover esclarecimento e união, sem constranger ainda mais a pessoa que possa ter sido vítima do comentário ou atitude em questão.

Há momentos nos quais também provoco a discussão através de material previamente desenhado (ensino planejado). E os temas podem ser os mais diversos: casamento igualitário, novos arranjos familiares, autodeterminação na identidade de gênero, etc.

Muita coisa vem da própria cultura popular, dos temas que são colocados nas redes sociais, enfim, da experiência dos próprios alunos.

Foi por causa de uma dessas saudáveis discussões que, dia desses, perguntei aos meus alunos quem conhecia alguém gay, lésbica, bissexual ou transgênero, e como era conviver com eles. As respostas foram fantásticas. Todos eles tinham amigos LGBT. Alguns eram amigos de seus pais e ambos se visitavam em eventos sociais ou simplesmente familiares. A mais surpreendente de todas foi de um aluno, cujo pai era separado da mãe dele e casado com outro homem há alguns anos. Detalhe: o pai e a mãe continuavam amigos. O aluno vivia com a mãe, mas visitava o pai em São Paulo, que mora com o parceiro. Adorei quando ele disse com todas as letras e sem pedir licença ou desculpas: meu pai é gay e casado com outro cara. Todos ficaram admirados, porque ninguém sabia desse aspecto da experiência do colega, mas aquele momento em sala deu propiciou o espaço para essa troca. E o mais gostoso foi ver como todos, apesar da surpresa, por nunca terem ouvido o colega dizer isso, foram extremamente carinhosos, absolutamente inclusivos, e esse meu aluno nunca foi alvo de bullying depois disso, fosse na minha aula ou fora dela.

De que maneira isso poderia ser um perigo para os alunos e seus familiares, senhores bispos da CNBB e outros conservadores? Muito pelo contrário, senhores clérigos.

No final das contas, nós professores podemos fazer, e fazemos, quando queremos, mais do que qualquer outro agente social poderia fazer ou nos impedir de fazer.

Professor, não se acovarde em seu papel de promotor do conhecimento e das habilidades sociais que devem acompanha-lo. Seja qual for sua orientação sexual, identidade de gênero, cor, religião ou classe social, qualquer que seja o marcador social, cultural e/ou biológico que hajam atribuído a você, ou que você mesmo tenha assumido como melhor tradução de si mesmo(a), trabalhe pela emancipação dos sujeitos, pela autonomia dos indivíduos, pela liberdade e igualdade em toda a diversidade humana. Não recue diante dos retrógrados. Trabalhe em torno dos eixos da laicidade, do humanismo e do secularismo. Seus alunos serão gratos, assim como eu sempre fui aos meus professores e agora recebo o mesmo dos meus alunos.

"Brasil, um país de todos" rima bem com "Brasil, pátria educadora", mas a questão é educar para o quê? Para o aumento da desigualdade ou para a promoção da igualdade e da paz?

Postado em 04 de julho de 2015 por Sergio Viula

Orientação sexual - ótimo texto para educadores



Orientação sexual



O último e não menos importante aspecto da sexualidade diz respeito ao desejo erótico. A nosso ver, a orientação sexual é o sentimento de atração que temos por uma ou várias pessoas tanto no âmbito afetivo como no sexual. É como um turbilhão que envolve fantasias e paixões, indicando o tipo de pessoa que nos atrai. Os seres humanos podem legitimamente se interessar sexualmente pelo sexo oposto, pelo mesmo sexo ou ainda por ambos os sexos. Serão, respectivamente, heterossexuais, homossexuais ou bissexuais. Esse interesse pelo/a outro/a pode desencadear afetos (amor, amizade, carinho), mas pode limitar-se ao contato corporal. Como, no entanto, nos é ensinado em nossa cultura, sobretudo pelas religiões, que o desejo sexual não deve existir desvinculado de algo “maior”, reprimimos aqueles sentimentos que julgamos não estarem de acordo comesse destino elevado (apaixonar-se, casar-se, ter filhos). Com isso, ao longo de nossas vidas aprendemos que as relações afetivas e sexuais são “normais” se ocorrerem entre pessoas de sexos opostos. E um verdadeiro arsenal de coerções de todos os tipos – culturais, sociais, físicas, históricas, financeiras – nos levam a “controlar” nossos desejos. Em muitas situações, a preferência sexual poderá ser ocultada ou camuflada, devido à força das convenções sociais e da consequente repressão que engendram quando alguém ousa descumpri-las.

Dado que a heterossexualidade foi erigida como o padrão, isto é, como a “única forma correta de vivenciar a sexualidade, socialmente aceita e inquestionável”, não é nada fácil para alguém admitir que é homossexual.

Quem sente um forte desejo por alguém do mesmo sexo se vê acuado pelo clima adverso que o/a condena como imoral, pecador/a ou até doente mental. Sozinho/a e sem ter com quem conversar, a pessoa pode condenar em si mesmo/a, com maior rigor e culpa, o que os outros dizem ser condenável, pois a maneira como se vê fica totalmente impregnada pelo preconceito. Por isso, desvaloriza-se, foge de si e de seus sentimentos e chega até a negar-se como pessoa, muitas vezes autoflagelando-se psíquica ou fisicamente.

Das três orientações sexuais possíveis – a hetero, a homo e a bissexual, possivelmente a última é amais incompreendida. Novamente nos vemos às voltas com o raciocínio binário que, dessa vez, num outro patamar, nos impõe uma escolha mutuamente exclusiva entre homo e heterossexualidade. O próprio Freud chamava a atenção para o fato de que os seres humanos nascem abertos para se interessarem por ambos os sexos. Potencialmente, somos todos e todas bissexuais, pois carregamos a possibilidade de nos sentirmos atraídos/as pelos dois sexos. A sociedade, contudo, tem dificuldade em lidar com essa complexidade e empurra os indivíduos para “caixinhas fechadas”.

Durante a adolescência, é comum que jovens tenham experiências com colegas do mesmo sexo. De forma alguma isso é uma prova definitiva da orientação sexual. Pode indicar simplesmente um meio de buscar conhecer certas formas de satisfação e de tatear o universo do desejo erótico. Pode também ser o momento de uma descoberta, caso o/a jovem se sinta realizado/a e confortável com aquela experiência. Seja como for, uma coisa é certa: apenas quem vivencia o desejo é que pode afirmar, com certeza e tranquilidade, a sua orientação sexual.

Para concluir, enfatizamos que a identidade de gênero é sentir-se homem ou mulher, e o modo de expressá-la socialmente não se confunde com a orientação sexual (a atração afetiva e erótica pelo outro sexo, pelo mesmo sexo ou por ambos). Vale dizer que não se pode “deduzir” a orientação do desejo de alguém em função de traços de seu jeito de ser. Um homem cuja profissão o faz lidar com o público pode ser gentil e isso nada tem a ver com o fato de ser bi, homo ou heterossexual. Uma mulher pode ter preferências por outras sem ostentar uma postura agressiva, isto é, sem vivenciar o estereótipo da “caminhoneira”.


De Beto de Jesus, Lula Ramires, Sylvia Cavasin e Sandra Unbehaum em Diversidade sexual na escola: uma metodologia de trabalho com adolescentes e jovens, São Paulo, 2006.


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No guia produzido pelo CORSA em parceria com a ECOS (e distribuído a todas as escolas da rede estadual de ensino de São Paulo – disponível em PDF, para quem quiser acessar a obra inteira), aparece o seguinte trecho (p. 36 e 37), que é uma apresentação simplificada (para fins didáticos) aos educadores e educadoras. Para solicitar o PDF, escreva para: lularamires@terra.com.br .

CARTA ABERTA DE TONI REIS AO JOSÉ SERRA

Toni Reis, presidente da ABGLT



CARTA ABERTA DE TONI REIS AO JOSÉ SERRA


Prezado José Serra,

Tenho 48 anos, sou gay e atualmente sou presidente da ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Sou casado oficialmente com David Harrad há 23 anos e somos os pais legais de Alyson Miguel Harrad Reis. Quando eu era adolescente na escola meu comportamento também era considerado por algumas pessoas “impróprio e ridículo” só pelo fato de eu ser gay, prejudicando-me pela marginalização imposta por uma condição sobre a qual não tive escolha. Foi o que me motivou a ser um ativista pelo respeito à diversidade sexual, para que outros e outras adolescentes não sofressem o que eu sofri na escola, na família e na sociedade nessa fase da minha vida. Foi o impulso que me fez estudar, de modo que hoje sou professor formado em letras, especialista em sexualidade humana, mestre em filosofia na área de ética e sexualidade, e doutor em educação, sendo que minha tese de doutorado é justamente sobre a homofobia no ambiente escolar. Cito algumas falas dos/das profissionais de educação e estudantes entrevistados na pesquisa que fundamentou a tese, para evidenciar o quanto a homofobia está presente nas escolas e o pouco que se faz para amenizá-la:

(se um filho meu fosse gay) “não ia querer, eu ia expulsar, ou batia nele e fazia ele virar homem”(estudante).

“A homossexualidade é um pecado, é contra a natureza e as leis de Deus. Deus fez o homem para a mulher e a mulher para o homem”. (professor)

“Na verdade a escola ignora [a homofobia] porque ela não quer trazer mais essa questão pra resolver” “(Grupo focal com professores(as))

“E a escola não trabalha com isso. Não trabalha, nem quer.” (Grupo focal com professores(as))

Estes exemplos não são isolados e recorrem repetidamente em todas as entrevistas. Junto com diversos outros estudos, estes dados concretos servem para respaldar a necessidade urgente de se ter um trabalho – apoiado por materiais educacionais específicos – de promoção do respeito à diversidade sexual nas escolas.

José Serra, você tem sido um grande defensor dos direitos humanos, um dos melhores ministros da saúde que o Brasil já teve, que inclusive soube preservar a laicidade do Estado nas questões ligadas ao direito das pessoas à saúde. Sou testemunha ocular disso. Você lutou na ditadura militar pelo reestabelecimento da democracia, foi presidente da União dos Estudantes do Brasil, foi deputado estadual e federal e senador, entre outros destaques de sua carreira.

Durante seus mandatos como prefeito da Cidade de São Paulo e governador do Estado de São Paulo, você liderou várias iniciativas de vanguarda na promoção do respeito à diversidade sexual e às pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT). Entre elas pode-se citar:

· A criação da CADS – Coordenadoria de Assuntos de Diversidade Sexual, dentro da estrutura da Prefeitura em 2007;

· a criação da Coordenação de Políticas para a Diversidade Sexual do Estado de São Paulo junto à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, por meio do Decreto nº 54.032, de 18 de fevereiro de 2009;

· a inauguração do Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais no dia 09 de junho de 2009;

· a certificação pelo governo paulista, em 18 de agosto de 2009, de diversas empresas e ações com o Selo da Diversidade, no reconhecimento de seus esforços em contribuir para a superação do preconceito e da discriminação, e para a promoção da igualdade e inclusão social de segmentos da sociedade tradicionalmente marginalizadas;

· O reconhecimento do nome social (tratamento nominal) das pessoas transexuais e travestis nos órgãos públicos do Estado de São Paulo, por meio do Decreto nº 55.588, de 17 de março de 2010.

Posto isto, conhecendo pelo menos parte de seu histórico, fiquei muito entristecido pelo uso indevido do debate sobre as políticas públicas de combate à homofobia como uma arma eleitoral, referindo-se ao material educativo do projeto Escola Sem Homofobia como um “KIT GAY” com “ASPECTOS RIDÍCULOS E IMPRÓPRIOS” para crianças.

Esta declaração somente pode ser considerada uma manifestação do legítimo pré-conceito – um conceito antecipado, uma vez que o julgamento do material como sendo “ridículo e impróprio” foi feito em relação a algo inacabado, que ainda não está em sua versão final, que ainda não teve a aprovação do Ministério da Educação.

Ademais, o material é destinado a educadoras e educadores do ensino médio, para trabalhar a homofobia no ambiente escolar (entre professores/as, funcionárias/os e estudantes).

Não é correto se referir ao “kit gay” em se tratando destes materiais educativos. É um desrespeito aos/às profissionais que trabalharam na sua elaboração. Este termo politicamente incorreto foi cunhado por um deputado federal de conduta ética duvidosa, cujo histórico de atuação e declarações públicas são testemunhas de seu desprezo pela democracia e pela pluralidade da sociedade, a quem – a título de exemplo – são atribuídas as seguintes falas, entre muitas outras: ‘O grande erro da ditadura foi não matar vagabundos e canalhas como Fernando Henrique;’ em programa exibido pela Band, o deputado sugeriu o fechamento do Congresso e afirmou que durante a ditadura militar deveriam ter sido fuzilados ‘uns 30 mil corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique Cardoso’. Ou seja quem usa a denominação “kit gay” está concordando com este parlamentar preconceituoso: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.”

Informo também que o projeto Escola Sem Homofobia foi resultado de uma emenda parlamentar da Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados destinada para a área da educação federal, para execução por uma organização não governamental, e não pelo Ministério da Educação. Neste sentido, pode ser encontrada abaixo e no link http://www.abglt.org.br/port/basecoluna.php?cod=246 a Nota Oficial sobre o Projeto Escola Sem Homofobia, que descreve com maior detalhamento suas ações, as quais não se restringiram apenas aos materiais educativos, mas também envolveram seminários, capacitações e uma pesquisa em escolas em 11 capitais brasileiras abrangendo as cinco regiões do país.

São diversas as pesquisas realizadas nas escolas brasileiras por instituições de renome, como a UNESCO, que demonstram que a necessidade de ações educativas nas escolas contra a homofobia é inegável. Na falta de uma ação governamental contundente neste sentido, o material didático do Projeto Escola Sem Homofobia visa contribuir para suprir esta lacuna. A proposta do material foi elaborada pela organização não governamental ECOS - Comunicação em Sexualidade, e foi avaliado e adequado de forma coletiva e democrática pelos/pelas 509 profissionais que participaram dos seminários e capacitações do Projeto, antes de ser entregue ao Ministério da Educação para adequação final e aprovação.

Ainda, o material educativo foi analisado pelo Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação do Ministério da Justiça, que faz a "classificação indicativa" (a idade recomendada para assistir a um filme ou programa de televisão). O vídeo Medo de Quê? recebeu indicação para 12 anos, o Boneco na Mochila, 10 anos e o Torpedo (com 3 histórias) indicação livre.

O conjunto de materiais foi avaliado pelo Conselho Federal de Psicologia, pela UNESCO e pelo UNAIDS, e teve parecer favorável das três instituições. Recebeu o apoio declarado do CEDUS – Centro de Educação Sexual, da União Nacional dos Estudantes, da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, e foi objeto de uma audiência pública promovida pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, cujo parecer também foi favorável. Ainda, teve uma moção de apoio aprovada pela Conferência Nacional de Educação, da qual participaram três mil delegados e delegadas representantes de todas as regiões do país, estudantes, professores e demais profissionais da área.

Ou seja, tem-se comprovado, por diversas fontes devidamente qualificadas e respeitadas, com base em informações científicas, que o material estava perfeitamente adequado para o Ensino Médio, a que se destinava.

Assim, eu peço, para uma boa política comprometida com o respeito a toda a população, como tem sido a marca de sua atuação nos cargos que ocupou, que continue dando ênfase à promoção indiscriminada da cidadania e da inclusão social, e que a população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) não seja utilizada para gerar polêmica em época eleitoral, ou em qualquer outra época. Isto só serve para validar, banalizar e incentivar a homofobia e manter a esta população à margem da cidadania.

Prezado José Serra, não manche sua biografia. Não rife nossos direitos. Uma sugestão é seguir o grande exemplo do Supremo Tribunal Federal, que em 5 de maio de 2011 reconheceu inequívoca e unanimemente os princípios da igualdade, da liberdade e da dignidade humana da população LGBT. É isso que nós queremos.


Toni Reis

Presidente da ABGLT
Doutor em Educação
Mestre em Filofia
Especialista em Sexualidade Humana
Formado em Letras pela UFPR


Nota Oficial sobre o Projeto Escola Sem Homofobia

Diante de fatos e notícias sobre o Conjunto de Material Educativo do Projeto Escola Sem Homofobia, vimos a público informar de que se trata o material.

O que foi o Projeto Escola Sem Homofobia?

O Projeto Escola Sem Homofobia, apoiado pelo Ministério da Educação/Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (MEC/SECADI), teve por objetivo “contribuir para a implementação do Programa Brasil sem Homofobia pelo Ministério da Educação, através de ações que promovessem ambientes políticos e sociais favoráveis à garantia dos direitos humanos e da respeitabilidade das orientações sexuais e identidade de gênero no âmbito escolar brasileiro”. A justificativa do projeto e suas atividades se encontram ao final deste documento.

O Projeto foi planejado e executado em parceria entre a rede internacional Global Alliance for LGBT Education – GALE; as organizações não governamentais Pathfinder do Brasil; ECOS – Comunicação em Sexualidade; Reprolatina – Soluções Inovadoras em Saúde Sexual e Reprodutiva; e ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Todas as etapas de seu planejamento e execução foram amplamente discutidas e acompanhadas pelo MEC/SECADI.

Produtos do Projeto Escola Sem Homofobia

O Projeto teve dois produtos específicos, a fim de alcançar o objetivo acima mencionado:

1) Um conjunto de recomendações elaborado para a orientação da revisão, formulação e implementação de políticas públicas que enfoquem a questão da homofobia nos processos gerenciais e técnicos do sistema educacional público brasileiro, que se baseou nos resultados de duas atividades:

a) Realização de 5 seminários, um em cada região do país, com a participação de um total de 206 pessoas, entre elas profissionais da educação, gestores e representantes da sociedade civil, para obter um perfil da situação da homofobia na escola, a partir da realidade cotidiana dos envolvidos.

b) Realização de uma pesquisa qualitativa sobre homofobia na comunidade escolar em 11 capitais das 5 regiões do país, envolvendo 1406 participantes, entre secretários(as) de saúde, gestores(as) de escolas, professores(as), estudantes e outros integrantes das comunidades escolares. A metodologia da pesquisa foiaprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unicamp.

2) A incorporação e institucionalização de uma estratégia de comunicação para trabalhar as manifestações da homo/lesbo/transfobia em contextos educativos e que repercuta nos valores culturais atuais. A estratégia compreendeu:

a) Criação de um conjunto de materiais educativos com conteúdos teóricos e sugestões de atividades que ajudam a identificar e erradicar a homo-lesbo-transfobia do ambiente escolar, direcionado para gestores(as) e educadores(as).

b) Capacitação de técnicos(as) da educação e de representantes do movimento LGBT de todos os estados do país para a utilização apropriada do conjunto de material educativo junto à comunidade escolar.

Conjunto de material educativo Escola sem Homofobia

O material se destina à formação dos/das professores(as) em geral, dando a eles subsídios para trabalharem os temas no ensino médio.

Não é correto se referir ao “kit gay” em se tratando destes materiais educativos.

Trata-se de um conjunto de instrumentos didático-pedagógicos que visam à desconstrução de imagens estereotipadas sobre lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais e para o convívio democrático com a diferença, contribuindo para:

Alterar concepções didáticas, pedagógicas e curriculares, rotinas escolares e formas de convívio social que funcionam para manter dispositivos pedagógicos de gênero e sexualidade que alimentam a homofobia.

Promover reflexões, interpretações, análises e críticas acerca de algumas noções que frequentemente habitam as escolas com tal “naturalidade” ou que se naturalizam de tal modo que se tornam quase imperceptíveis, no que se refere não apenas aos conteúdos disciplinares como às interações cotidianas que ocorrem nessa instituição.

Desenvolver a criticidade juvenil relativamente a posturas e atos que transgridam o artigo V do Estatuto da Criança e do Adolescente, segundo o qual: “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais”.

Divulgar e estimular o respeito aos direitos humanos e às leis contra a discriminação em seus diversos âmbitos

Cumprir as diretrizes do MEC; da SECADI; do Programa Brasil sem Homofobia; da Agenda Afirmativa para Gays e outros HSH e Agenda Afirmativa para Travestis do Plano Nacional de Enfrentamento da Epidemia de AIDS e das DST entre Gays, HSH e Travestis; dos Parâmetros Curriculares Nacionais; do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT; do Programa Nacional de Direitos Humanos III; das deliberações da 1ª Conferência Nacional de Educação; do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos; e outras.

O conjunto de materiais educativos é composto de:

- um caderno

- uma série de seis boletins (Boleshs)

- três audiovisuais com seus respectivos guias

- um cartaz

- cartas de apresentação para o/a gestor(a) e para o/a educador(a).

Segue um resumo dos materiais:

Caderno Escola sem Homofobia – peça-chave do conjunto de materiais, articula com os outros componentes (DVDs/audiovisuais, guias que acompanham os DVDs/audiovisuais, boletins). Traz conteúdos teóricos, conceitos básicos e sugestões de dinâmicas/oficinas práticas para o/a educador(a) trabalhar o tema da homofobia em sala de aula/na escola/na comunidade escolar visando a reflexão, compreensão, confronto e eliminação da homofobia no ambiente escolar. As propostas de dinâmicas contidas no caderno têm interface com os DVDs/audiovisuais e boletins.

Boletins Escola sem Homofobia (Boleshs) - série de 6 boletins, destinados às/aos estudantes cada um abordando um assunto relacionado ao tema da sexualidade, diversidade sexual e homofobia. Trazem conteúdos que contribuem para a compreensão da sexualidade como construção histórica e cultural; para saber diferenciar sexualidade e sexo; para reconhecer quando valores pessoais contribuem ou não para a manutenção dos mecanismos da discriminação a partir da reprodução dos estereótipos; para agir de modo solidário em relação às pessoas independente de sua orientação sexual, raça, religião, condição social, classe social, deficiência (física, motora, intelectual, sensorial); para perceber e corrigir situações de agressão velada e aberta em relação a pessoas LGBT.

Audiovisuais:

a) DVD Boneca na Mochila (Versão em LIBRAS)

Ficção que promove a reflexão crítica sobre como as expectativas de gênero propagadas na sociedade influenciam a educação formal e informal de crianças, através de situações que, se não aconteceram em alguma escola, com certeza já foram vivenciadas por famílias no mesmo contexto ou em outros.

Baseado em história verídica, mostra um motorista de táxi que conduz uma mulher aflita chamada a comparecer à escola onde seu filho estuda, apenas porque o flagraram com uma boneca na mochila. Durante o caminho, casualmente, o rádio do táxi está sintonizando um programa sobre homossexualidade que, além de noticiar o fato que se passa na escola onde estuda o menino em questão, promove um debate com especialistas em educação e em psicologia, a respeito do assunto.

b) DVD Medo de quê?

Desenho animado que promove uma reflexão crítica sobre como as expectativas que a sociedade tem em relação ao gênero influenciam a vivência de cada pessoa com seus desejos, mostrando o cotidiano de personagens comuns na vida real. O formato desenho animado, sem falas, facilita a comunicação na perspectiva da inclusão, pois pode ser apreciado por pessoas que não sabem ler ou que tenham deficiência auditiva

Marcelo, o personagem principal, é um garoto que, como tantos outros, tem sonhos, desejos e planos. Seus pais, seu amigo João e a comunidade onde vive mostram expectativas em relação a ele que não são diferentes das que a sociedade tem a respeito dos meninos. Porém nem sempre os desejos de Marcelo correspondem ao que as pessoas esperam dele. Mas quais são mesmo os desejos de Marcelo? Essa questão gera medo, tanto em Marcelo quanto nas pessoas que o cercam.

Medo de quê? Em geral, as pessoas têm medo daquilo que não conhecem bem. Assim, muitas vezes alimentam preconceitos que se manifestam nas mais variadas formas de discriminação. A homofobia é uma delas.

c) Audiovisual Torpedo

Audiovisual que reúne três histórias que acontecem no ambiente escolar: Torpedo; Encontrando Bianca e Probabilidade.

Torpedo - animação com fotos, que apresenta questões sobre a lesbianidade através da história do início do namoro entre duas garotas que estudam na mesma escola: Ana Paula e Vanessa.

Ana Paula estava na aula de informática com toda a turma vendo na internet fotos dela e de Vanessa numa festa em manifestações de carinho. A partir daí, as duas se questionam sobre como as pessoas irão reagir e sobre que atitude tomar. Após algumas especulações, decidem se encontrar no pátio na hora do intervalo. Lá, assertivamente, assumem sua relação afetiva num abraço carinhoso assistido por todos.

Encontrando Bianca - por meio de uma narrativa ficcional em primeira pessoa, num tom confessional e sem autocomiseração, como num diário íntimo, José Ricardo/Bianca revela a descoberta e a busca de sua identidade travesti. Sempre narrada em tempo presente, acompanhamos a trajetória de Bianca e os dilemas de sua convivência dentro do ambiente escolar: sua tendência a se aproximar e se identificar com o universo feminino; as primeiras vezes em que se vestiu de mulher; a primeira vez em que foi para a escola com as unhas pintadas, cada vez assumindo mais, no ambiente escolar, sua identidade travesti; a dificuldade de ser chamada pelo nome (Bianca) com o qual se identifica; os problemas por não conseguir utilizar, sem constrangimentos, tanto o banheiro feminino quanto o masculino; as ameaças e agressões de um lado e os poucos apoios de outro.

Probabilidade - em tom leve e bem-humorado, o narrador conta a história de Leonardo, Carla, Mateus e Rafael. Leonardo namora Carla e fica triste quando sua família muda de cidade. Na nova escola, Leonardo é bem recebido por Mateus, que se torna um grande amigo. Mas ele só compreende por que a galera fazia comentários homofóbicos a respeito dele e de Mateus quando este lhe diz ser gay. Um dia, Mateus convida Leonardo para a festa de despedida de um primo, Rafael, que também está de mudança.

Durante a festa, Leonardo conversa com Rafael e, depois da despedida, fica refletindo sobre a atração que sentiu pelo novo amigo que partia. Inicialmente sentiu-se confuso, porque também se sentia atraído por mulheres, mas ficou aliviado quando começou a entender sua bissexualidade.

Ainda, o material audiovisual foi analisado pelo Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação do Ministério da Justiça, que faz a "classificação indicativa" (a idade recomendada para assistir a um filme ou programa de televisão). O vídeo Medo de Quê? recebeu indicação para 12 anos, o Boneco na Mochila, 10 anos e o Torpedo (com 3 histórias) indicação livre.

d) Cartaz e cartas para gestora/r e educadoras/r – o cartaz tem a finalidade de divulgar o projeto para a escola e para a comunidade escolar e as cartas apresentam o conjunto de materiais para o/a gestor(a) e educadores(as), respectivamente.

Capacitação Escola sem Homofobia


Segundo elemento da estratégia, a capacitação teve por objetivo habilitar um grupo de pessoas a atuar como multiplicadoras na compreensão dos conceitos principais e na utilização do material educativo do projeto ESH, como instrumento para contribuir para a erradicação da homofobia no ambiente escolar.

Foram realizadas seis capacitações com cerca de 200 profissionais da educação de todos os estados no uso dos materiais – três em São Paulo e três em Salvador nos meses de agosto e setembro de 2010. Estes/estas profissionais serão multiplicadores(as), responsáveis por capacitar outros(as) profissionais da educação no âmbito local.

A metodologia empregada nas capacitações foi participativa e incorporou técnicas de educomunicação, além de discussões em grupo, troca de experiências. Utilizou técnicas e conteúdos teóricos presentes no Caderno Escola sem Homofobia e incorporou os outros elementos (DVDs/audiovisuais, guias que acompanham osDVDs/audiovisuais, boletins).

Pesquisa qualitativa do projeto Escola sem Homofobia

Foi realizada uma pesquisa qualitativa com o objetivo de conhecer a percepção das autoridades educacionais, equipe docente, funcionários/as e estudantes da rede pública de ensino sobre a situação da homofobia no ambiente escolar, para dar subsídios ao programa Brasil sem Homofobia. A pesquisa foi realizada em 11 capitais das 5 regiões do país e incluiu, em cada capital, quatro escolas da rede municipal e estadual. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo MEC/SECADI.

A metodologia do projeto foi avaliada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP em 15 de julho de 2008. De acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi assinado por todos/as os/as participantes em entrevistas em profundidade e grupos focais. Para os/as estudantes menores de 18 anos, o TCLE foi assinado pelos pais ou responsáveis legais.

Ao todo, participaram 1.406 pessoas entre entrevistas e grupos focais, incluindo Secretários/as Municipais e Estaduais de Educação, diretores/as de escola, coordenadores/as pedagógicos, educadores/as, outros funcionários como guardas e merendeiras, além de estudantes de escolas públicas.

Os principais resultados da pesquisa mostraram que existe homofobia na escola. Houve consenso de que as atitudes e práticas de discriminação e violência trazem consequências sérias para os/as estudantes, como tristeza, depressão, baixa autoestima, queda no rendimento escolar, evasão e, em alguns casos, até suicídio.

A pesquisa também apontou que, embora exista uma política de educação sexual, na opinião de estudantes e educadores/as, não há educação sexual sistemática nas escolas e as diversidades sexuais não são abordadas. Entre os motivos citados estão a falta de compreensão sobre a homossexualidade, o despreparo de educadores/as para tratar o tema sexualidade e diversidades, o preconceito existente na escola, o temor da reação das famílias e a ausência de materiais pedagógicos para trabalhar o tema.

Os resultados evidenciaram ainda uma invisibilidade da população LGBT nas escolas. Houve consenso de que há mais gays que lésbicas no ambiente escolar e que travestis e transexuais estão ausentes.

Como recomendações, sugeriu-se realizar cursos de capacitação para educadores/as sobre o tema e disponibilizar materiais nas escolas para combater a homofobia no ambiente escolar.

Posição atual quanto ao material educativo Escola sem Homofobia

Os arquivos eletrônicos com os conteúdos dos materiais estão com o Ministério da Educação, especificamente a Coordenação-Geral de Educação e Direitos Humanos da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI), aguardando o parecer final e aprovação. Uma vez aprovados, o compromisso assumido pela SECADI é de imprimir/copiar e distribuir o conjunto de materiais para 6.000 escolas.

A versão eletrônica dos materiais, para conhecimento e disponibilização via download nos sites da ECOS e das ONGs parcerias, somente acontecerá após aprovação e autorização pelo MEC/SECADI, conforme o Ofício nº 825/2011 – GAB/SECAD/MEC. Isto significa que qualquer versão dos materiais que esteja circulando hoje não é a versão definitiva.

Assinam esta Nota Oficial:

ABGLT - Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, bissexuais Travestis e Transexuais

Pathfinder do Brasil.

ECOS - Comunicação em Sexualidade

Reprolatina - Soluções Inovadoras em Saúde Sexual e Reprodutiva


Situação-problema que justificou e justifica a realização do Projeto Escola Sem Homofobia

Estudos publicados nos últimos cinco anos vêm demonstrando e confirmando cada vez mais o quão a homo-lesbo-transfobia (medo ou ódio irracionalmente às pessoas LGBT) permeia a sociedade brasileira e está presente nas escolas. A pesquisa intitulada “Juventudes e Sexualidade”, realizada pela Unesco no ano 2000 e publicada em 2004, foi aplicada em 241 escolas públicas e privadas em 14 capitais brasileiras. Segundo resultados da pesquisa, 39,6% dos estudantes masculinos não gostariam de ter um colega de classe homossexual, 35,2% dos pais não gostariam que seus filhos tivessem um colega de classe homossexual, e 60% dos professores afirmaram não ter conhecimento o suficiente para lidar com a questão da homossexualidade na sala de aula.

O estudo "Revelando Tramas, Descobrindo Segredos: Violência e Convivência nas Escolas", publicado em 2009 pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana, baseada em uma amostra de 10 mil estudantes e 1.500 professores(as) do Distrito Federal, e apontou que 63,1% dos entrevistados alegaram já ter visto pessoas que são (ou são tidas como) homossexuais sofrerem preconceito; mais da metade dos/das professores(as) afirmam já ter presenciado cenas discriminatórias contra homossexuais nas escolas; e 44,4% dos meninos e 15% das meninas afirmaram que não gostariam de ter colega homossexual na sala de aula.

A pesquisa “Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar” realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, e também publicada em 2009, baseou-se em uma amostra nacional de 18,5 mil alunos, pais e mães, diretores, professores e funcionários, e revelou que 87,3% dos entrevistados têm preconceito com relação à orientação sexual.

A Fundação Perseu Abramo publicou em 2009 a pesquisa “Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil: intolerância e respeito às diferenças sexuais”, que indicou que 92% da população reconheceram que existe preconceito contra LGBT e que 28% reconheceram e declarou o próprio preconceito contra pessoas LGBT, percentual este cinco vezes maior que o preconceito contra negros e idosos, também identificado pela Fundação.

A pesquisa realizada em escolas de 11 capitais brasileiras por meio do próprio Projeto Escola Sem Homofobia apontou, entre outras, as seguintes Considerações Finais:

Constatou-se que existe sim homofobia nas escolas, reconhecida pela grande maioria das e dos participantes como um problema importante que merece toda a atenção, não somente das autoridades educacionais, mas de toda a sociedade.

Por outro lado, existe um grande desconhecimento sobre os conceitos básicos de sexualidade, identidade sexual e diversidades sexuais. Embora o discurso seja, muitas vezes, de tolerância e aceitação da diversidade, a maioria das pessoas não aceita a homossexualidade e a rejeita por considerá-la pecado, desvio, perversão, doença ou, pelo menos, anormalidade.

As consequências da homofobia são muito prejudiciais para adolescentes LGBT e inclui tristeza, baixa autoestima, isolamento, violência, abandono escolar até o suicídio.
Especialmente travestis e transexuais não podem continuar na escola por ser a escola um ambiente hostil para eles/as. As práticas de violência homofóbica foram relatadas com detalhes, embora nem sempre reconhecidas como homofobia.

A grande maioria dos e das estudantes pensa que a homofobia existe, é um problema importante e que não estão sendo implementadas ações efetivas para tentar eliminá-la ou, pelo menos, reduzi-la. Os estudantes referem que a escola esta sendo omissa frente a estudantes LGBT e que ainda que solicitem que sejam tratados temas como diversidade sexual, homofobia e discriminação, os professores, em geral, evitam discuti-los.

Há uma grande distância entre a teoria e a prática com relação às políticas de educação sexual. As e os professores reconhecem que não aplicam muitas das recomendações estabelecidas nas políticas e planos anuais porque sentem que não estão preparados para atuar na área das diversidades sexuais e da homofobia e também porque temem que as famílias se oponham a que esses temas sejam tratados nas escolas, entre outros motivos declarados, como a falta de tempo e a sobrecarga de responsabilidades.

Essas diversas e conceituadas fontes não deixam dúvidas de que há muito a ser feito para diminuir a homo-lesbo-transfobia, e uma das instituições que mais podem influenciar positivamente nesse processo é a escola. Muito trabalho já vem sendo feito nessa área e é importante destacar as recomendações aprovadas na Conferência Nacional de Educação Básica em relação à diversidade sexual, dentre as quais citamos:

· Evitar discriminações de gênero e diversidade sexual em livros didáticos e paradidáticos utilizados nas escolas;

· Ter programas de formação inicial e continuada em sexualidade e diversidade;

· Promover a cultura do reconhecimento da diversidade de gênero, identidade de gênero e orientação sexual no cotidiano escolar;

· Evitar o uso de linguagem sexista, homofóbica e discriminatória em material didático-pedagógico;

· Inserir os estudos de gênero e diversidade sexual no currículo das licenciaturas.

A Conferência Nacional LGBT (2008) aprovou 561 recomendações para políticas públicas para pessoas LGBT em diversas áreas, as quais foram sistematizadas no Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT, lançado em 14 de maio de 2009. O Plano prevê quinze ações a serem executadas pelo Ministério da Educação e é uma importante ferramenta para a promoção da inclusão e do respeito à diversidade nas escolas.

A Conferência Nacional de Educação (2010), no seu Eixo Temático VI, aprovou mais de 20 recomendações relativos a gênero e diversidade sexual.

As pesquisas citadas nesse texto podem ser consultadas em http://www.abglt.org.br/port/pesquisas.php e em http://www.reprolatina.org.br/site/html/atividades/downloads/escola_sem_homofobia/Relatorio_Tecnico_Final.pdf

Escola sem homofobia: para pensar!

Homofobia na Baixada Fluminense

Morte de gays alerta a Baixada

Fonte: Jornal O Dia


Assassinato de dois homossexuais em cinco dias em Nova Iguaçu mobiliza entidades


Rio - As entidades LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis) que defendem os direitos dos homossexuais estão em estado de alerta na Baixada Fluminense.
Eles apontam um aumento na frequência de casos de homofobia em Nova Iguaçu. Foram registrados dois assassinatos em menos de cinco dias na cidade.
 
A primeira vítima, Carlos Oliveira Machado, conhecido como Carlitos, de 45 anos, foi assassinado a tiros no dia 15 de julho, no bairro do Cabuçu. Já Manuel Germano, de 25 anos, foi encontrado morto a pauladas e com marcas de tiros, em Marapicu, quatro dias depois.

 

Manuel e Carlitos eram homossexuais assumidos
e parentes acreditam que eles foram mortos por preconceito 
Foto: Reproduções
 

Carlitos trabalhava como cozinheiro e, segundo relatos de amigos, era muito querido em Cabuçu, onde morava. A outra vítima, Manuel Germano, estava em casa e foi chamado no portão por um grupo, que o espancou.
 
Entidades LGBT afirmam que os dois casos foram registrados pela 56ª DP (Comendador Soares) e que os autores ainda não foram identificados. Em comum, as duas vítimas tinham apenas o fato de serem homossexuais assumidos e morarem em Nova Iguaçu.
 
A polícia investiga e os grupos gays da região acreditam que eles foram vítimas de criminosos homofóbicos que estariam agindo na cidade nos últimos anos.
 
É o que afirma o presidente do Grupo 28 de Junho e fundador do Movimento LGBT da cidade, Eugênio Ibiapino. Ele conta que também já foi agredido em Nova Iguaçu duas vezes. A última agressão aconteceu no dia 22 de janeiro do ano passado.
 
“Nunca se matou tanto homossexual no Brasil por causa de preconceito e ódio como agora. É preciso tomar uma providência rapidamente contra essa violência”, diz. Ibiapino pede com urgência a criação de um centro de referência para homossexuais na cidade.
 
Em dois anos, 16 gays mortos na região
 
Nesta sexta-feira, o coordenador do Rio Sem Homofobia do Governo do Estado, Claúdio Nascimento, anunciou que Nova Iguaçu vai ganhar um Centro de Referência até dezembro.

Nascimento também confirmou que a situação da Baixada é preocupante e que o Estado está em alerta. “Muitos presenciam agressões e não denunciam”, comentou.
 
Segundo ele, no período de 1º de junho de 2009 a 30 de setembro de 2011, 16 homossexuais morreram na Baixada. Foram registradas 167 ocorrências homofóbicas na região.
 
O coordenador lembra que muitos gays e famílias não admitem a homossexualidade na hora de registrar crimes.

Reportagem de Diego Valdevino

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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO

Até quando essa cambada de homofóbicos que vive aterrorizando a sociedade vai continuar agindo? Digo aterrorizando a sociedade, porque para cada LGBT assassinado, existe uma mãe, um pai, um irmão, uma irmã, às vezes até filhos que ficam devastados emocionalmente e socialmente desamparados.

Cada gay, lésbica, bissexual ou transgênero, seja travesti ou transexual, que perde a vida por causa de ataques homofóbicos deixa uma lacuna importante na sociedade. Porém, muito mais do que o valor 'funcional' do indivíduo no esquema da engrenagem social, estamos falando de vida humana - valor incontestável e inestimável.

Nós, LGBT, somos seres humanos que - como qualquer outro - temos direito à vida, à afetividade, à privacidade, à interações sociais sem qualquer forma de discriminação, além de outros direitos humanos que também são reconhecidos pela Constituição brasileira.

Até quando vai haver gente vociferando contra as pessoas homoafetivas e/ou transgêneras impunemente. Até quando serão ignorados pelos bons e justos esses discursos de ódio propagados por políticos mal-intencionados ou líderes religiosos ávidos por popularidade, dinheiro e poder político?

Até quando a presidentA do Brasil, a Exma. Sra. Dilma Rousseff vai continuar ignorando as necessidades da população LGBT? Muito dessa homofobia poderia ser cortada pela raiz com ações simples, tais como: educação inclusiva que celebre a diversidade sexual e de gênero; criminalização da homofobia; e casamento igualitário.

Alguns podem dizer: "Ah, mas isso não é trabalho da presidenta; é do Legislativo". Eu respondo: Esse argumento só é válido até certo ponto. E explico:

Quem foi que vetou o projeto Escola sem Homofobia para agradar à meia-dúzia de homofóbicos no Congresso e no Senado? A resposta é: a presidenta Dilma Rousseff.

Quem foi que tentou justificar essa estupidez com outra, dizendo que "o governo não fará propaganda de opção sexual"? A resposta é Dilma Rousseff.

Aqui ela errou pelo menos duas vezes:

1º erro: Dizer que não fará 'propaganda...'.
O governo não está fazendo propaganda de nada quando trabalha para que a educação cumpra efetivamente seu papel socializador. Estimular a boa convivência e a amizade entre os alunos LGBT e os demais é levar a socialização do alunado ao patamar que se espera: respeito e cooperação sem preconceito. Isso, portanto, não é propaganda de coisa alguma.

2º erro: Chamar orientação sexual de opção.
Dizer que a sexualidade, seja ela homo ou hetero, é uma 'opção' demonstra ignorância sobre o tema ou má-vontade para com as pessoas cuja sexualidade não se encaixa no minúsculo padrão heteronormativo. Será que a presidenta pensa que a sexualidade do indivíduo é definida a partir de um menu de opções do tipo atendimento automático em certas operadores de telemarketing? Coisa tipo: "Para ser heterossexual, tecle 2; para ser homossexual, tecle 3; para ser bissexual, tecle 4; para ser transgênero, tecle 5. Para falar com um de nossos operadores, tecle 9."

Esse disparate da presidenta é tão ridículo que dispensa explicações.

Outra coisa, quem é que 'dá um boi' para jamais mencionar a sigla LGBT ou as palavras 'gay', 'lésbica', 'bissexual', 'transgênero' em seus discursos, mesmo diante do assustador crescimento dos crimes de homofobia no Brasil? É papel da presidentA se dirigir a essa parcela vulnerável da população também. Ela poderia aprender alguma coisa sobre isso com Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, ou com as diversas autoridades holandesas, cujas entrevistas e discursos, por ocasião do Canal Parade (Orgulho LGBT com desfile de barcos nos canais de Amsterdã), eu publiquei aqui mesmo nesse blog.

Algumas pessoas podem dizer que o que acontece na Baixada Fluminense é da competência do Estado do Rio de Janeiro, mas ela não é presidenta do Brasil todo? A Baixada Fluminense não é parte do território brasileiro? O governo federal não arrecada uma gorda parcela de impostos oriundos da Baixada Fluminense, inclusive dos bolsos de cidadãos LGBT? Onde está o Estado, com sua instância federal de poder, agora que esses mesmos cidadãos precisam de proteção para a preservação da própria vida?

Além disso, crimes de homofobia não são exclusividade da Baixada Fluminense. Eles estão ocorrendo em diversos estados da federação, nas cinco regiões do país. E esse ódio, volto a dizer, é abastecido por conservadores mau-caráter, tanto políticos como religiosos. Eles são os mesmos que desrespeitam outras minorias, tais como os seguidores de religiões afro-brasileiras, os ateus, os negros, as mulheres, etc.

Aproveito para ressaltar que o conceito de minoria do ponto de vista das ciências humanas não é quantitativo. Ele leva em conta diversos fatores, sendo o principal deles a vulnerabilidade social, política e econômica desses grupos humanos.

Chega de derramamento de sangue inocente!

Chega de discursos de ódio propagados por mentes que beiram à loucura.

Chega de omissão por parte do governo eleito e muito bem pago para administrar o país e transformar em concretude aquilo que é - teoricamente - da responsabilidade do Estado. E esse Estado é laico, a despeito das convicções dos governantes. É um Estado laico e pluralista. Portanto, deve contemplar toda a diversidade sexual, de gênero, étnica, cultural, regional, e outras sem qualquer ressalva ou juízo de valor. Isso é igualmente válido para os imigrantes que aqui vieram buscar abrigo. E não só abrigo, mas possibilidades de subsistência e crescimento - o que, se bem conduzido pelo governo, pode redundar em crescimento para todo o país.

ACORDA DILMA!

O BRASIL É OU NÃO É UM PAÍS DE TODOS?

NÃO É A PROPAGANDA PAGA PELO SEU GOVERNO QUE DIZ QUE 'UM PAÍS RICO É UM PAÍS SEM MISÉRIA?'

QUE MISÉRIA PODE SER PIOR DO QUE ESSA MISÉRIA INTELECTUAL QUE ABASTECE O PRECONCEITO?

PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF, PAÍS JUSTO E DESENVOLVIDO É PAÍS SEM HOMOFOBIA!

Para quem quiser ver o que significa governo e sociedade atuando para garantir uma sociedade pluralista, sugiro uma espiada na cidade de Amsterdam.

Estudo qualitativo sobre a homofobia na comunidade escolar em 11 capitais brasileiras



Estudo qualitativo sobre a homofobia na comunidade escolar em 11 capitais brasileiras


Realização
Reprolatina – Soluções Inovadoras em Saúde Sexual e Reprodutiva



Descrição do Projeto 

O projeto Escola sem Homofobia foi desenvolvido pela Pathfinder do Brasil, em parceria com a ABGLT, ECOS e Reprolatina – Sol. In. em Saúde Sexual e reprodutiva. A proposta de projeto foi apresentada em resposta à Emenda Parlamentar nº 50340005, que tem como finalidade “Contribuir para a implementação do Programa Gênero e Diversidade Sexual nas Escolas, do Ministério da Educação, através de ações que promovam ambientes políticos e sociais favoráveis à garantia dos direitos humanos e da respeitabilidade das orientações sexuais e identidade de gênero no âmbito escolar brasileiro”. A proposta, discutida previamente pelos parceiros, obteve aprovação e apoio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD) do Ministério de Educação e Cultura (MEC).O projeto visa à realização de dois produtos específicos:

1) Recomendações para orientar a revisão, formulação e implementação de políticas públicas que enfoquem a questão da homofobia nos processos gerenciais e técnicos do sistema educacional público brasileiro;

2) Estratégia de comunicação para trabalhar a diversidade sexual de forma mais consistente e justa em contextos educativos e que repercuta nos diversos valores culturais atuais.

Para contribuir para a realização do primeiro produto foram desenhadas duas atividades:

• Pesquisa qualitativa em 11 capitais brasileiras visando conhecer as percepções, conhecimentos e atitudes da comunidade escolar frente às diversidades e orientações sexuais e de gênero, conceito e percepção da homofobia e do programa Brasil sem Homofobia no processo educativo, focalizando Secretarias Estaduais e Municipais de Educação e escolas do Ensino Fundamental (6º a 9º ano) da rede pública.

• Realização de encontros regionais para promover e facilitar a discussão aprofundada e qualificada da homofobia nas escolas, congregando lideranças do movimento LGBT, gestores estaduais e municipais da Educação, representantes dos Comitês Gestores Estaduais do Programa Saúde e Prevenção nas Escolas (MEC/Ministério da Saúde) e das Comissões Estaduais de Direitos Humanos.

A Reprolatina foi definida como instituição responsável pela realização da pesquisa e preparou a proposta que, após ser aprovada pela SECAD, ECOS e Pathfinder do Brasil, foi enviada para o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (CEP/UNICAMP), sendo aprovado em 15 de julho de 2008.

Objetivo Geral 

Conhecer a percepção das autoridades educacionais, equipe docente, e alunos de 6° ao 9° ano de ensino fundamental da rede pública de ensino, sobre a situação da homofobia no ambiente escolar, para dar subsídios ao programa Brasil sem Homofobia

Objetivos Específicos 

• Descrever o conhecimento, atitudes e práticas de educadores e alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental quanto às diversidades de orientação sexual e de gênero na escola;

• Descrever o conhecimento, atitudes e práticas de educadores e alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental quanto à homofobia no ambiente escolar;

• Descrever as opiniões de educadores e alunos quanto às possíveis razões e consequências da violência homofóbica nas escolas;

• Descrever o ambiente escolar com relação às diversidades de orientação sexual e de gênero;

• Descrever o conhecimento de educadores e alunos sobre o programa Brasil sem Homofobia e as ações do programa implementadas nas escolas;

• Descrever a opinião e aceitação do programa Brasil sem Homofobia pela equipe docente e autoridades da educação dos municípios participantes;

• Descrever as recomendações de autoridades, docentes e alunos para reduzir ou eliminar a homofobia nas escolas.


Relatórios


Relatório Técnico Final 

Relatório Técnico Final " Projeto Escola sem Homofobia" - Componente de pesquisa

“Estudo qualitativo sobre a homofobia no ambiente escolar em 11 capitais brasileiras”


Parcerias 

Pathfinder do Brasil 
ABGLT
GALE
ECOS 
Apoio 
Secretarias de Estado da Educação
Prefeituras Municipais / Secretarias Municipais de Educação 

Apoio Técnico e Financeiro 
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD)
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)
Ministério da Educação e Cultura (MEC) 

Período 
2009 a 2010 

Investigadora Principal 
Margarita Díaz 

Coordenadores 
Dra. Magda Chinaglia e Dr. Juan Díaz 

Equipe de Pesquisadores(as) - Reprolatina 
• Dr. Juan Díaz
• Dra. Magda Chinaglia
• Margarita Díaz
• Rodrigo Braga
• Tiago Duque
• Lula Ramirez 

Equipe de pesquisadores(as) locais 
Belo Horizonte 
• Carlos Magno Fonseca
• Frederico Viana Machado
• Letícia Cardoso Barreto Cuiabá
• Clóvis Arantes
• Dolores Watanabe
• Marta Mansur Curitiba
• André Lucas
• Cilene Matias
• Eliana Raitani Goiânia
• Liorcino Mendes Pereira Filho (Léo Mendes)
• José Estevão Rocha Arantes
• Morgana Bailão Albino 

Manaus
• Esmael Alves de Oliveira
• Francisco Nery V. Furtado
• Lidiany de Lima Cavalcante Natal
• David Rego
• Emanuel Palhano Porto Alegre
• Alessandra Bohm
• Carmen Lucia de Souza Paz
• Daisy Maciel Porto Velho
• Cleuza Avello Corrêa
• Emanuel Palhano 

Recife
• Dayse Luna Pontual
• Rildo Veras
• João Ricard Pereira da Silva São Paulo
• Anna Paula Vencato
• Marcelo Daniliauskas
• Regina Facchini Rio de Janeiro
• Almir França
• Carla Mattos
• Fernando Pinheiro
• Joilson Santana 


Capitais participantes 
Norte: Manaus (AM), Porto Velho (RO)
Nordeste: Natal (RN), Recife (PE)
Centro-Oeste: Cuiabá (MT), Goiânia (GO)
Sudeste: Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP)
Sul: Curitiba (PR), Porto Alegre (RS) 

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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO 

Recomendo a leitura do relatório técnico final, bastando para tanto clicar nos links imediatamente acima deste comentário. Trabalho muito bem feito e muito sério também. 

Estudiosos do tema, inclusive aqueles que estão fazendo monografias, dissertações e teses encontrarão fonte preciosa de informações nesse estudo/relatório. 

Bom trabalho a todos e todas! 

Vamos transformar o Brasil num território livre de homofobia!

Aproveito para divulgar o seguinte evento na área de educação:

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IIº Seminário Sobre Educação e Homofobia
“Por Uma Prática Pedagógica Sem Homofobia”


DATA: 21 e 22 de Agosto de 2012
HORÁRIO: 08h00 as 18h30

Inscrições Gratuitas e Limitadas

Solicite sua ficha de inscrição exclusivamente pelo e-mail: educacaoehomofobia@hotmail.com

Blog Site: www.educandoparadiversidadecba.blogspot.com.br

Modalidade com Certificado:
20 h – 20h Presenciais no IIº SEH 2012
05h Presenciais nas Oficiais


Local: Escola Superior de Contas do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso – TCE/MT.
Rua: Conselheiro Bejamin Duarte Monteiro, S/N, - Centro Político Administrativo.

Cuiabá – MT

9º Seminário LGBT na Câmara Federal: Estudo aponta que maioria dos jovens brasileiros discrimina

Fonte da ilustração: https://eduardohirata.blogspot.com/



Maioria dos jovens brasileiros discrimina homossexuais, diz estudo


Do Site Terra - 15 de maio de 2012 • 13h32


Um estudo coordenado pela pesquisadora Miriam Abramovay apontou que 45% dos alunos e 15% das alunas não queriam ter colegas homossexuais. Miriam, que é coordenadora da área de Juventude e Políticas Públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), afirma que a maioria dos jovens brasileiros ainda tem atitude bastante preconceituosa em relação à orientação e práticas não heterossexuais. A pesquisadora participou do 9º Seminário Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), realizado na Câmara dos Deputados.

Segundo ela, o jovem brasileiro tem menos vergonha de declarar abertamente esse preconceito contra homossexuais do que de declarar a discriminação contra negros.

Conforme Miriam, esse preconceito se traduz em insultos, violências simbólicas e violência física contra os jovens homossexuais. Ela destaca que se trata de violência homofóbica, por parte de toda a sociedade, inclusive de familiares, e não apenas bullying (que é a violência entre pares). De acordo com a pesquisadora, essa violência gera sentimentos de desvalorização e sentimentos de vulnerabilidade nos jovens homossexuais.

Segundo a pesquisadora, há casos, inclusive, de jovens que abandonam a escola por conta dessa violência. "Os adultos da escola não se dão conta disso, porque na escola em geral reina a lei do silêncio", aponta. Ela destacou, ainda, que não há estudos no Brasil sobre homofobia na infância, apenas na juventude.

Para a professora da Universidade de Brasília Maria Lucia Leal, as ações de enfrentamento da violência e preconceito contra homossexuais ainda são muito fracas, especialmente na escola. "A sexualidade ainda é tabu, seja para adultos, seja para crianças e adolescentes, e a hipocrisia ainda é uma realidade estruturante no debate sobre a sexualidade", disse. Maria Lucia, que é coordenadora do Grupo de Pesquisa sobre Violência, Tráfico e Exploração Sexual de Crianças, Adolescentes e Mulheres, ressaltou que, no século 19 e até meados do século 20, o homossexualismo foi considerado uma doença.

Diante desses fatos, a deputada Erika Kokay (PT-DF) apontou como urgente que o governo retome o projeto Escola sem Homofobia.


Agência Câmara

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Para ouvir a fala do Pr. Marcio Retamero, que vem sendo alvo de difamação por parte de Marco Feliciano, acesse esse post (vá até o final da página):

https://www.xn--foradoarmrio-kbb.com/2012/10/resposta-do-reverendo-marcio-retamero.html

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