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Homofobia internalizada: o preconceito do homossexual contra si mesmo (Pedro Paulo Sammarco Antunes)


HOMOFOBIA INTERNALIZADA: 
O PRECONCEITO DO HOMOSSEXUAL CONTRA SI MESMO.
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Homofobia internalizada: 
o preconceito do homossexual contra si mesmo


Esse é o nome da tese, agora transformada em livro, escrita por Pedro Paulo Sammarco Antunes, pelo Departamento de Psicologia da PUC-SP, sob a orientação do Professor Doutro Salvador Sandoval.

Antunes, agora Doutor em Psicologia, resume sua obra da seguinte maneira:

Ao longo da história a homofobia foi sendo construída. Ela é uma das bases que sustenta as estruturas de poder e todo o funcionamento social em muitos povos. Cinco foram os dispositivos sociais que interditaram o comportamento homossexual: os hábitos, as tradições, a religião, o sistema jurídico e ciências biomédicas. A feminilidade é cuturalmente associada à homossexualidade em homens. A homofobia é composta de alguns elementos, tais como: machismo, heteronormatividade, heterossexismo e misoginia. No processo de socialização ela é introjetada por todas as pessoas, independente da sua orientação sexual. Porém, o impacto tende a ser maior quando acontece aos homossexuais, recebendo o nome científico de homofobia internalizada.

Para esta pesquisa, procuramos entrevistar somente homens que admitissem sentir atração afetivo/sexual por outros homens. Nossos colaboradores têm idades de 20 a 60 anos. Eles pertencem a diversos níveis sociais, econômicos e escolares. Estes sujeitos foram contatados e convidados a participar do estudo por meio de redes sociais da internet voltadas ao segmento LGBT.

As entrevistas foram enviadas aos sujeitos por correio eletrônico e divididas em três partes. As duas primeiras tiveram maior ênfase em aspectos quantitativos. A terceira parte investigou somente em aspectos qualitativos. Por meio das 150 entrevistas realizadas, verificamos os níveis de homofobia encontrados e alguns dos prováveis impactos referentes ao processo de sua internalização. Estes estão correlacionados ao desenvolvimento psicossocial, dinâmica de saída, retorno ou permanência no armário, crenças religiosas, corpo, normas de gênero, terminologias sexuais, saúde mental, suicídio, uso/abuso/adição às drogas, comportamento sexual de risco, relacionamentos afetivo-conjugais entre homens, violência doméstica, envelhecimento e velhice de homens homossexuais.

A importância de medir a homofobia internalizada está no seu impacto negativo sobre a saúde destes indivíduos, bem como os custos gerados a todo sistema social. Além disto, tanto a homofobia institucionalizada, como a internalizada violam os direitos fundamentais da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Constituição Federal, tais como: liberdade, igualdade, dignidade, respeito, integridade e segurança.

Antes dessa tese que lhe conferiu o título de Doutor em Psicologia, Pedro Paulo Sammarco Antunes conquistou seu título de Mestre através da pesquisa que resultou na Dissertação "Travestis Envelhecem?", produzida em parceria com a mesma Universidade, ou seja, a PUC-SP, só que dessa vez sob a orientação da Professora Doutora Elisabeth Frohlich Mercadante em conexão com o Departamento de Gerontologia daquela instituição.

Antunes resume sua Dissertação da seguinte maneira:

O presente estudo tem o objetivo de conhecer o período do processo de vida, chamado de velhice e envelhecimento daquelas que foram designadas como travestis.

Essas denominações foram construídas para organizar o funcionamento social. As ciências biomédicas foram importantes na categorização dessas pessoas. Apropriaram-se dos corpos humanos e determinaram o que é considerado normal, portanto desejável e o que é considerado anormal, logo patológico e indesejável.

A intenção é compreender o impacto que tais diagnósticos terão sobre aqueles que são reconhecidos como anormais em relação ao que foi denominado de gênero sexual.

Devido ao número quase inexistente de pesquisas sobre envelhecimento e velhice de travestis, fez-se necessário esse estudo, que não pretende esgotar o tema, mas sim iniciar uma importante discussão.

Os aspectos de gênero, bem como os de velhice foram relacionados. Percebeu-se que tanto o gênero como a velhice são compostos por atos, que constantemente reiterados, dão a impressão que há uma essência natural de gênero e velhice, inerentes a todos os corpos, manifestando-se ao longo da vida.

Foram realizadas três entrevistas abertas com o foco em histórias de vida. Por serem consideradas, desviantes e anormais, travestis já não são vistas como não humanas desde tenra idade. Atravessam a vida como invisíveis e sob muito preconceito. Por causa disso, improvisam suas existências em contextos violentos. Suas expectativas de vida são baixas. As que vivem até a chamada velhice, podem ser consideradas verdadeiras sobreviventes. Acabam servindo de referência e exemplo para as mais jovens.

O objetivo principal da pesquisa resultou no levantamento de demandas e necessidades em relação às travestis. Percebe-se que precisam urgentemente de políticas públicas que as reconheçam como humanas desde sempre. Dessa forma chegarão à velhice com dignidade e respeito, já assegurados pelos Direitos Humanos Universais.


TRAVESTIS ENVELHECEM?
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http://www.buscape.com.br/travestis-envelhecem-pedro-paulo-sammarco-antunes-8539105276

A Homofobia Internalizada - artigo por Pedro Sammarco

A Homofobia Internalizada





Artigo de Pedro Paulo Sammarco




Nossa sociedade é construída por nós e pelo outro por meio da intersubjetividade. O homem é ao mesmo tempo produto e produtor do social. A cultura envolve as crenças do ser humano. Não nascemos “humanos”; somos “humanizáveis”. O processo de objetivação social se dá por intermédio dos atos que se tornam hábitos e estes, por sua vez, criam padrões que se institucionalizam, tornando-se legítimos. Criamos algo que ao mesmo tempo nos cria, a sociedade. A ideologia existe porque nós a reconhecemos.

Determinadas ações são desejadas por todos. As crenças dão subsídios às instituições, prescrevendo papéis. As legitimações são justificadas nas instituições. Criada uma realidade objetiva, há mecanismos para mantê-la. Caso haja um “rebelde” que não se submeta à norma estabelecida, haverá a tentativa de aplicação terapêutica, com o objetivo de tratar para corrigir. Se não for possível corrigir, restará a prisão ou até mesmo o seu aniquilamento.

Portanto, cuidado com a homofobia internalizada pelas regras sociais. Elas impedem que você e os outros sejam felizes. A melhor forma de combatê-la é identificar seus “sintomas”, trabalhá-los e eliminá-los, para o bem da sua felicidade e dos demais. Alguns de seus indícios podem ser:

a) negação da sua orientação sexual (do reconhecimento das suas atrações emocionais e sexuais) para si mesmo e perante os outros.

b) tentativas de mudar a sua orientação sexual.

c) sentir que nunca se é “suficientemente bom” (por vezes tendência para o “perfeccionismo”).

d) pensamentos obsessivos e/ou comportamentos compulsivos.

e) fraco sucesso escolar e/ou profissional; ou sucesso escolar e/ou profissional excepcional, como forma de se sentir compensado e aceito.

f) desenvolvimento emocional e/ou cognitivo atrasado.

g) baixa auto-estima e imagem negativa do próprio corpo.

h) desprezo pelos membros mais “assumidos” e “óbvios” da comunidade LGBT.

i) desprezo por aqueles que ainda se encontram nas primeiras fases de assumir a sua homossexualidade.

j) negação de que a homofobia, o heterossexismo, a bifobia, a transfobia e o sexismo são de fato problemas sociais sérios.

l) desprezo por aqueles que não são como si mesmos; e/ou desprezo por aqueles que se parecem consigo mesmo.

k) projeção de preconceitos num outro grupo alvo (reforçado pelos preconceitos já existentes na sociedade).

l) tornar-se psicológica ou fisicamente abusivo; ou permanecer num relacionamento abusivo.

m) tentativas de passar por heterossexual, casando, por vezes, com alguém do sexo oposto para ganhar aprovação social ou na esperança de “se curar”.

n) crescente medo e afastamento de amigos e familiares.

o) vergonha e/ou depressão; defensividade; raiva e/ou ressentimento.

p) esforçar-se pouco ou abandonar a escola; faltar ao trabalho/fraca produtividade.

q) controle contínuo dos seus comportamentos, maneirismos, crenças e idéias.

r) fazer os outros rirem por meio de mímicas exageradas dos estereótipos negativos da sociedade em relação aos homossexuais.

s) desconfiança e crítica destrutiva a líderes da comunidade LGBT.

t) relutância em estar a par ou em mostrar preocupação por crianças por medo de ser considerado “pedófilo”.

u) problemas com as autoridades.

v) práticas sexuais não seguras e outros comportamentos destrutivos e de risco (incluindo riscos de gravidez e de ser infectado/infectar com o vírus do HIV e demais DSTs).

w) separar sexo e amor e/ou medo de intimidade. Por vezes pouco ou nenhum desejo sexual e/ou celibato.

x) abuso de substâncias (incluindo comida, álcool, drogas e outras).

y) desejo, tentativa e concretização de suicídio.

z) isolamento, medo, fuga, alienação, depressão, ansiedade, tristeza, angústia, vergonha, ódio por si mesmo, revolta, falta de estímulo, falsidade, confusão, falta de concentração, timidez, etc.

Por que os fetiches sexuais são considerados anormais pela ciência? - artigo de Pedro Sammarco

Por que os fetiches sexuais são considerados anormais pela ciência?




Artigo de Pedro Paulo Sammarco



Parece natural perguntar sobre as causas daquilo que é considerado anormal em qualquer campo de estudo. Porém, apenas certa minoria de pesquisadores se pergunta sobre as causas daquilo que é considerado normal. Poucos se ocupam em saber como foi o processo de construção da “normalidade”. Por que será que certos fenômenos e manifestações são considerados normais? Quais são os critérios que definem o que é “normal”? Aquilo que é considerado normal muitas vezes é hierarquizado, naturalizado e essencializado, portanto é automaticamente livre de questionamentos sobre sua constituição.

A idéia de normalidade não é imposta. Seu poder se estabelece por intermédio da sedução do indivíduo, prometendo aceitação, saúde, felicidade, longevidade e beleza. Tais promessas aprisionam pessoas em um dispositivo de eterno exame e correção. A diferença que existe entre as expectativas idealizadas de corpo e a realidade possível de ser atingida gera frustração. Os ideais são aperfeiçoados e sofisticados para que sejam cada vez mais inatingíveis. Dessa forma a pessoa continuará consumindo na tentativa de atingir as metas impostas.

O enunciado sobre algo nem sempre reflete o mundo real, mesmo porque a realidade também é construída por meio de enunciados advindos daqueles que os emitem. A questão sempre é abordada e definida conforme o ponto de vista teórico adotado. O indivíduo considerado doente não é naturalmente dado. A doença é o resultado de um conjunto de enunciados de poder que a define como tal.

É interessante perceber que aquilo que é dito emite determinado efeito de “verdade” que não existe fora de determinada relação de poder. Não há discurso isento de qualquer relação de poder que o produz. Para isso é preciso compreender o regime de “verdade” da época e local em questão. Portanto, nenhuma “verdade” é neutra, soberana e imutável.

O processo de urbanização ocorrido na Europa durante a ascensão da burguesia e a revolução industrial gerou pressão, anonimato e a criação dos chamados “desviantes” que não se adequavam às normas reguladoras do funcionamento social que se definia nas cidades. Em geral, aquele que não fosse economicamente produtivo e biologicamente reprodutivo, era considerado “anormal”.

As práticas sexuais que não estivessem de acordo com a norma da procriação e de gênero foram sendo observadas, descritas e catalogadas. Com o passar do tempo, já por volta do século XIX, o tipo de atividade sexual que antes era considerada pecaminosa e anormal, começa a ser controlada e incorporada pelas ciências biológicas, representadas principalmente pela medicina e psiquiatria. Manuais médicos foram sendo escritos contendo a forma “normal” e “anormal” de como a recém “criada” sexualidade “deveria” ser praticada. Quanto mais liberada por meio da fala, mais seria visível, categorizada e disciplinada.

A antropóloga norte-americana Gayle Rubin (nascida em 1949) discute o conceito de estratificação sexual vigente em nossa sociedade ocidental. Ela propôs uma espécie de pirâmide valorativa com as seguintes categorias a seguir: no topo está a sexualidade considerada boa, normal, natural e abençoada pela religião, ou seja, heterossexual, conjugal, monogâmica, procriadora, não comercial, somente entre os dois membros do casal, relacionamento estável, mesma geração, em local privado, sem pornografia, somente entre os dois corpos, (sem nenhum objeto de fetiche envolvido no ato), pasteurizada, mesma classe social e étnica.

Em seguida vem a sexualidade heterossexual do não casado, monogâmica, para procriação, não paga, somente entre os dois membros do casal, em um relacionamento, inter-geracional, em local privado, sem pornografia, somente entre os dois corpos envolvidos, pasteurizada, entre classes sociais e étnicas.

No meio da pirâmide está a sexualidade homossexual em relacionamento estável, em pecado, promíscua, não procriativa, por dinheiro, sozinho ou em grupo, ocasional, mesma geração, em público, com objetos fetichistas e sadomasoquista.

Na base da pirâmide estão os excluídos: sexualidade considerada má, anormal, patológica, não natural e condenável, ou seja, sexo homossexual solteiro, fora do casamento, promíscua, não-procriativa, comercial, sozinho ou em grupo, ocasional ou compulsiva, entre gerações, em público, pornográfica, entre fetichistas, sadomasoquistas, transexuais e travestis.

Auxiliando nossa compreensão, os estudos queer se propõem a compreender as práticas sociais que organizam a sociedade como um todo através da “sexualização,” “heterossexualização”, “homossexualização” de corpos, desejos, atos, identidades, relações sociais, conhecimentos, cultura e instituições. São interrogados os processos sociais normatizadores que criam classificações gerando a ilusão de que existem sujeitos estáveis, identidades naturais e comportamentos regulares.

A teoria queer desafia a sociologia a não estudar mais aqueles que rompem as normas, nem os processos sociais que os criaram como desviantes. Ao invés disso, insiste em focar nos processos normatizadores marcados pela produção simultânea do hegemônico e do subalterno. Tais estudos se preocupam em criticar os processos normatizadores. Portanto, os estudos queer procuram desvelar mecanismos de naturalização e essencialização dos termos e relações por eles significados.



Referência bibliográfica:


ANTUNES, Pedro Paulo Sammarco Travestis envelhecem? São Paulo: Dissertação de mestrado em Gerontologia. PUC - SP, 2010. Disponível em: http://www.sapientia.pucsp.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=11719

Acessado dia 07/01/2013.

Controle, vida e preconceito - artigo de Pedro Sammarco

Controle, vida e preconceito




Artigo de Pedro Paulo Sammarco



A vida tem um valor muito grande. Tudo gira em torno dela. É a partir dela que damos sentido a ela mesma. O instinto de sobrevivência é muito forte. Sempre acompanhamos por meio da mídia receitas de como viver bem, mais e melhor. Quem vive mais, consome mais, por mais tempo. Necessitamos de organização. As religiões auxiliaram nesse processo desde os tempos mais antigos. Os modos de vida eram regrados e as pessoas começaram a se organizar em nome da salvação e a continuação de uma possível vida “do lado de lá”.

Simultaneamente ao domínio das religiões, surgem os códigos penais e civis dos povos. Mais tarde surgem as ciências. A principal, que nos interessa compreender é a medicina. Juntamente com a religião, códigos legais e jurídicos formam um conjunto poderoso de controle sobre nossas vidas. Além disso, procuram extrair dos corpos que controlam obediência e um alto potencial de consumo e multiplicação dos lucros financeiros. O sistema financeiro é outra grande forma de controle e poder, não é? A família nuclear burguesa (papai, mamãe e filhinhos) vai se tornando a célula de funcionamento fundamental desse imenso complexo social. Pois bem, o conceito de família tem mudado muito ao longo dos séculos de acordo com o local e a época.

Na nossa sociedade ocidental, a igreja, os códigos legais e jurídicos, a medicina, os sistemas econômicos e políticos têm formatado muito nossas famílias ao longo dos tempos. O sexo vai ser vigiado e regrado para que garanta a geração de mais vida, de maneira segura e de acordo com “o correto”.

As leis que regravam a vida em família e a “monogamia” garantiam o funcionamento social que estava de acordo com as normas do direito, religião e medicina. A condição da mulher de dependência fazia com que essas ficassem mais restritas ao lar. Porém, de forma geral, os homens sempre viveram mais livres. Podiam praticar o sexo fora do casamento o quanto quisessem.

Com o avanço dos tempos as mulheres conquistaram seu espaço e não dependiam mais tanto dos homens. O sexo passou a ser mais livre e os divórcios mais comuns. A família se reinventava. Com o advento de uma doença que surgiu no início da década de 1980, chamada AIDS, todos se assustaram devido ao seu grande poder de ameaça à vida. O bode expiatório da vez foram aqueles que não praticavam o sexo de forma “santa” e de acordo com as regras. A AIDS passou a ser julgada sob o ponto de vista moralista. Afinal, se contaminar com o vírus do HIV passou a revelar a promiscuidade que sempre existiu de forma velada. Outro aspecto revelado foi que a orientação sexual muitas vezes pode ser bissexual e até mesmo oscilar.

No início da descoberta do HIV, os homossexuais foram os primeiros acusados de disseminarem o vírus. Foi chamado de câncer gay, pois suas atividades sexuais não estavam de acordo com as normas da procriação cristã, médica e jurídica. Logo, os que se contaminavam eram acusados de estarem sendo castigados por Deus.

Aqueles que contavam que eram soropositivos eram condenados à solidão e ao preconceito. Afinal quem os aceitaria? A carga moral que permeia o HIV é muito grande até os dias atuais. Os casais sorodiscordantes enfrentam muitos preconceitos, os deles próprios e os da sociedade.

Felizmente existem grupos de auto-ajuda. A internet proporciona trocas maiores de informações e apoio. O tema está lançado. Convido a pensarmos sobre esse assunto que também é discriminado e silenciado. Não queremos pensar sobre doenças e qualquer ameaça à vida. Ela é considerada nosso bem supremo. Porém, como será que é se envolver e se relacionar com uma pessoa soropositiva? Quais são os principais desafios? Como superar os preconceitos milenarmente construídos? Como permitir o amor fluir e não se deixar levar pela exclusão e a condenação? Como não excluir mais ainda aqueles que já estão excluídos? Só vejo um meio: o amor, por si próprio e pelo outro. Essa é uma das melhores proteções que existem para todos. Afinal, amor também é igual a cuidado, não é mesmo?

O que acontece que não acontece? - artigo de Pedro Sammarco

O que acontece que não acontece?



Artigo de Paulo Sammarco




Em geral, o ser humano busca o prazer e evita o desprazer. Podemos perceber isso facilmente em nossas vidas, não é mesmo? Uma sociedade que estimula a competição, o narcisismo e o individualismo favorece a solidão e hostilidade entre as pessoas. Estamos cada vez mais pensando em nosso próprio sucesso e prazer. O que importa é que cheguemos lá. Mas o que adianta chegar lá, olhar ao redor e ver que estamos absolutamente sozinhos? Outro fator que contribui para tanta solidão é o instantâneo e o descartável. Eles são aspectos próprios da sociedade atual que é imediatista, capitalista e globalizada. Vivemos de maneira fragmentada e utilitária. O volume de informações é muito alto. Seu fluxo é rápido. É difícil processar tantos estímulos ao mesmo tempo.

Da mesma forma que tratamos os bens que consumimos, tratamos as pessoas com as quais nos relacionamos. Tempo é dinheiro. Não há tempo de construir. Temos que comprar tudo pronto e consumir imediatamente. Conhecemos alguém e logo esperamos que essa pessoa também esteja pronta para “consumirmos”. Afinal, temos que aproveitar ao máximo. O prazer deve ser extremo. O êxtase deve aplacar o estresse diário de nossas vidas que seguem um estilo absolutamente voltado para produção e o consumo. Somos tão consumidos por isso que não há tempo para curtir o que consideramos realmente importante. Até para nos divertirmos, há hora marcada, roteiro, controle, estresse, etc.

Quando conhecemos alguém, esperamos que tudo já esteja organizado de maneira prática, para que apenas desfrutemos, assim como em um pacote turístico. Porém, volto a dizer que as relações ainda seguem outro tipo de lógica que não combina com o mundo capitalista globalizado. Exige tempo, conhecimento e construção. Ainda esperamos que essa pessoa irá se encaixar perfeitamente com aquilo que desejamos. Esperamos que ela seja uma fonte de êxtase e felicidade constantes.

Não temos absoluta certeza de como surgimos aqui nesse mundo, porém, temos que dar sentido para tudo o que existe. Muito do que achamos que sabemos, não passa de especulações. Poucas certezas de fato. Até que ponto os conceitos e teorias que acreditamos são eternas, imutáveis e universais? Será que elas não estão a serviço de dispositivos de controle? Necessitamos de segurança e estabilidade. Precisamos de um amparo, mesmo que teórico, nos assegurando como se configura e funciona a realidade ao nosso redor. Porém, tudo é desprovido de sentido. O que nos permeia é o vazio de sentido. As rochas e as plantas são quase ausentes de mundo. Os animais são pobres de mundo. O homem é formador de mundo.

Criamos as diversas formas de relações e organizações sociais nos diferentes locais e tempos históricos. Acreditamos que eles sempre existiram. Esquecemos que fomos nós mesmos que as convencionamos da forma que as convencionamos. Elas nos servem como uma tábua de salvação para o mar de mistério e incertezas que nos rodeia. Achamos que tudo é real. Então vivemos como se fossemos programados para concretizar tais convenções. Tentamos encaixar os ideais com a nossa vida.

Perdemos a naturalidade do que acontece, em nome de protocolos que nos darão a garantia da certeza, de um conceito construído de felicidade. Não sabemos mais deixar fluir naturalmente. Estamos sempre sendo controlados ou controlando. Precisamos desses construtos teóricos que nos dizem como tudo deve ser em nossas vidas. Como é difícil deixar simplesmente a vida acontecer, sem ansiedades e controle. Mesmo com tanto planejamento estruturado, o que nos angustia é que não temos garantia que os nossos ideais se concre
tizarão.

É errado ser gay? Sim é errado ser gay! - Artigo de Pedro Sammarco

É errado ser gay? Sim é errado ser gay!



Artigo de Pedro Paulo Sammarco




Pelo menos isso nos foi ensinado pela cultura, não é mesmo? Acontece que essa “verdade” foi construída para atender a determinados fins que organizassem o funcionamento de nossa sociedade em determinada época e local, certo?

O tempo passou, muitos aspectos mudaram e continuam mudando bem rápido. O ser humano em geral não gosta de mudanças, fica preso a conceitos, pois deseja ter a sensação de segurança e solidez. Vivemos em tempos que é como se estivéssemos patinando sobre uma superfície fina de gelo. A segurança está justamente na alta velocidade. Evitamos afundar, pois as bases que nos sustentam são muito frágeis. Elas estão mudando o tempo todo, bem rapidamente.

É difícil assimilar todas as mudanças. A homofobia interna, a pior de todas, ainda persiste. Muitos homossexuais não acreditam que podem viver relações saudáveis, pois afinal aprenderam que é “errado ser gay”. Um lado trabalha contra e outro a favor. É um grande conflito que implica muita luta contra si mesmo e a sociedade. Por mais que estejamos no século XXI, ainda é complicado demonstrar afeto homoerótico em certos lugares. Porém, não são somente os lugares que contam, há também a família, os amigos, os colegas de trabalho, e todos os valores compartilhados pelas instituições que nos regem e nos controlam.

Em busca de alívio, muitos se fecham ao contato mais profundo e acabam vivendo suas experiências de forma intensa. Tentam fugir por meio de drogas, álcool, sexo anônimo, etc. Vivências extremas e intensas que possam aliviar a dor e tapar o buraco na alma. Mas o efeito disso tudo logo passa e sobra o quê? Mais vazio e necessidade de se preencher novamente. Um ciclo sem fim de autodestruição.

Se aprendemos que “é errado ser gay” ou haverá a correção por meio da “cura mágica” ou auto-aniquilamento por meio da autodestruição. Será? Pelo menos agimos como se fossem esses, os únicos caminhos a serem seguidos.

Outra fantasia que existe, é que encontraremos nossa tampa de panela de um minuto para o outro. Para citar apenas alguns aspectos, os relacionamentos exigem tempo, construção diária, afinidades, doação, reciprocidade, respeito, amor, conhecimento de si e do outro, companheirismo, amizade, convivência.

Esperamos que além de se conectar a alguém, esse encaixe se dará de forma perfeita, assim como duas peças de um quebra-cabeças se encontram. Além disso tudo, o outro ainda irá nos preencher em todas as nossas necessidades. Assim teremos uma vida zen com ele, até que a morte nos separe. Quanta fantasia baseada na lei do mínimo esforço!

Para se relacionar é preciso paciência, muito trabalho e autoconhecimento. Para começar um dos principais pontos que nos atrapalham é a homofobia internalizada. Ela dificulta todo o processo. Infelizmente lutar contra ela não é tão fácil assim. É um processo que pode durar anos. Caso isso não seja feito, confirmaremos para nós mesmos que realmente é “errado ser gay”! Afinal, constataremos que nossas vidas são sempre infelizes, marcadas por instantes isolados de fuga e êxtase passageiros. Vamos assumir nossas homofobias internas! Ela é difícil de identificar, pois se manifesta silenciosamente por meio da auto-sabotagem em relação aos nossos empreendimentos amorosos. Preferimos então ser preconceituosos, negar, projetar e ser sarcásticos com as demais bichinhas afeminadinhas, travecas, transexuais, sapatonas, bissexuais e enrustidos.

Bears versus Barbies - artigo de Paulo Sammarco


Bears versus Barbies



Artigo de Pedro Paulo Sammarco




Atualmente, o mercado associa valores subjetivos a valores estéticos quando desenvolve e dissemina a seguinte mensagem: a beleza externa aparente em músculos bem torneados e definidos, nada mais é do que o reflexo direto da existência de uma beleza interna correspondente. Já a obesidade é associada à preguiça, lentidão, acomodação, falta de saúde, baixa agilidade, pequena produtividade, falta de cuidado, desleixo, dificuldade de adaptação, falta de flexibilidade, predisposição à outras doenças fatais, exigência de cuidados especiais adaptados, problemas emocionais e falta de beleza estética. No final o que importa para o mercado da saúde e estética é que muitas pessoas tenham sempre uma vida longa e saudável. Quanto mais tempo todas elas viverem, mais lucros geram. Cuidar da saúde virou um negócio.

A disciplina corporal cria corpos padronizados e subjetividades controladas. Quem não tem um corpo jovem, bronzeado, malhado, magro, lipoaspirado e siliconado, é visto como alguém que fracassou inclusive em outras dimensões da vida, como finanças, profissão, família, vida sentimental, amizades, dentre outras.

Dois grupos bem distintos existem entre os vários “tipos” de homossexuais masculinos: os bears (ursos) ebarbies (malhados). Interessante que são opostos. Um valoriza o cuidado excessivo com a saúde e estética. O outro valoriza a naturalidade de ser dos corpos. Pois bem, quando o movimento homossexual se tornou público principalmente por causa da revolução sexual da década de 1960, surgiu uma estética que combatia os estereótipos do homossexual conhecida até então.

A construção dos gêneros é algo social, porém as tradições religiosas, demandas sociais e econômicas contribuíram para que a heterossexualidade fosse considerada a única orientação sexual “verdadeira”, “correta”, “natural” e “possível”. As normas de gênero estabelecem a seguinte equação matemática aplicável a todos os homens: pênis = identidade de gênero masculina compulsória = desejo afetivo sexual exclusivo por mulheres.

Por causa disso, durante séculos, as ciências médicas acreditavam que para um homem gostar de outro homem, deveria haver necessariamente uma “mulher” que habitasse seu interior. Logo, todos os homossexuais deveriam ser sempre afeminados. Por volta da década de 1970, surgiu nos EUA os homossexuais que reforçavam os estereótipos considerados masculinos. Usavam couro, fumavam charutos, tinham corpos bem peludos, barba, bigode, barriguinha, costeleta e cavanhaque. Isso funcionava como forma de mostrar que o homem para gostar de outro homem não precisava ter uma “mulher” dentro de si. Com o advento das academias de ginástica, que surgiram aos montes na década de 1980, outra estética foi se construindo: a do homem bem musculoso, eternamente jovem, sarado, depilado, simétrico, bronzeado e obcecado pelos cuidados com a saúde.

Os dois grupos são formas peculiares e opostas de ser, porém há algo em comum: rejeitam os estereótipos de feminilidade que são associados ao desejo homossexual masculino. Sabemos que quanto mais o desejo for oculto, maior a aceitação social. Quanto mais masculino na aparência, seja bear, ou seja barbie, ele estará de acordo com as normas de gênero estabelecidas. Para a sociedade, seu desejo não aparece. Então, a maioria deduz que seu desejo é automaticamente heterossexual. Ele está “livre” de preconceitos! Será?!

Porque o culto ao corpo está exagerado atualmente? - Artigo de Paulo Sammarco

Por que o culto ao corpo está exagerado atualmente?



Artigo de Pedro Paulo Sammarco




O culto ao corpo tem tido o objetivo de corporificar “identidades” pautadas em modelos inalcançáveis, onde cada um se torna individualmente responsável pelo corpo que tem. Quanto mais considerado apropriado, maior atribuída será sua capacidade de autodisciplina e cuidado.

A disciplina corporal cria corpos padronizados e subjetividades controladas. Na atualidade, quem não tem um corpo jovem, bronzeado, malhado, magro, lipoaspirado e siliconado, é visto como alguém que fracassou inclusive em outras dimensões da vida, como finanças, profissão, família, vida sentimental, amizades, dentre outras.

Políticas preventivas de saúde em nome do bem estar e da beleza são desenvolvidas e disseminadas em alta escala, gerando altos lucros. A busca obsessiva pela estética perfeita, que envolve investimento financeiro e disciplina é apresentada ao público como sinônimo de amor próprio e aumento da auto-estima. Porém, a proliferação de produtos de beleza se tornou um mercado altamente promissor e lucrativo. O sujeito é estimulado pela propaganda a sentir prazer ao cuidar do próprio corpo. Pois à medida que isso é feito, ele é impelido a acreditar que qualidades espirituais da sua alma estão sendo automaticamente desenvolvidas e aprimoradas.

O mercado que explora o corpo associa valores subjetivos a valores estéticos quando desenvolve e dissemina a seguinte mensagem: a beleza externa aparente em músculos bem torneados e definidos, nada mais é do que o reflexo direto da existência de uma beleza interna correspondente. Influenciados por Platão, tendemos a pensar que se é considerado belo, é automaticamente bom. Entretanto, sabemos que muitas vezes, as aparências são apenas aparências. A associação feita pela propaganda entre o cuidado com o corpo e a sexualidade humana, provoca nas pessoas excesso de auto-erotismo, narcisismo, individualismo, competitividade, sensualidade e hedonismo.

A energia sexual, quando estimulada, torna-se muito poderosa e principalmente rentável financeiramente. Tal estratégia publicitária movimenta cifras bilionárias, especialmente na indústria do sexo e suas ramificações indiretas. Além disso, o corpo bem cuidado vai receber atenção, elogios e aprovação do outro que está sempre examinado e avaliando se ele se enquadra ou não nas normas impostas.

As ciências médicas associam a obesidade à preguiça, lentidão, acomodação, falta de saúde, baixa agilidade, pequena produtividade, falta de cuidado, desleixo, dificuldade de adaptação, falta de flexibilidade, predisposição à outras doenças fatais como derrame e enfarte, exigência de cuidados especiais adaptados, problemas emocionais e falta de beleza estética. As indústrias relacionadas ao emagrecimento, principalmente as que pertencem ao ramo da saúde e moda, movimentam cifras bilionárias no mundo inteiro em nome da “saúde e estética física ideal”.


Bibliografia Consultada:

MANSANO, Sonia Vargas Sociedade de controle e linhas de subjetivação. São Paulo: Tese de doutorado em Psicologia Clínica. PUC - SP, 2007

SANT’ANNA, Denise Bernuzzi Corpos de passagem. São Paulo: Editora Estação Liberdade, 2001

Sub-divididos dentro das próprias divisões estabelecidas - Artigo de Paulo Sammarco

Sub-divididos dentro das próprias divisões estabelecidas



Artigo de Pedro Paulo Sammarco



Ao longo da história o homem foi estabelecendo regras para poder se organizar “melhor” em grupo. Tradições religiosas, demandas sociais e econômicas contribuíram para que a heterossexualidade se tornasse a única orientação sexual “verdadeira”, “correta”, “natural”, “fixa” e “possível”. Por causa da revolução industrial, as cidades européias ficaram muito populosas a partir do século XVIII. Era preciso estabelecer regras para o controle da população.

Disciplinar, para tornar as pessoas obedientes, produtivas e lucrativas era a palavra de ordem da época. A família nuclear (papai, mamãe e filhinhos) vai se tornando a célula fundamental e funcional que sustentava a burguesia capitalista industrial que surgia. A religião e a ciência, financiadas principalmente pelos novos burgueses, endossavam todas as formas de disciplina e controle que os favorecessem. Aqueles que não se adequavam às normas eram submetidos a tratamentos para se tornarem “normais” e “funcionais”. Caso não adiantasse, poderiam ser até mesmo mortos ou mandados para instituições isoladas de confinamento.

Séculos antes, influenciados principalmente pelas idéias dos filósofos gregos Sócrates (469 – 399 a.C.) e Platão (428 – 328 a. C.), acreditava-se que era justamente na alma que se localizava a verdadeira identidade da pessoa. Por meio da confissão religiosa, descobriu-se que o corpo iria manifestar na carne, os desejos que estavam na alma. Portanto, para saber quem a pessoa era, bastavam saber quais eram seus desejos. Baseados nas tradições, normas e costumes estabelecidos, os sacerdotes faziam um minucioso levantamento de todos os tipos de desejos e os classificavam em “normais” e “anormais”. Quaisquer práticas sexuais que não obedecessem às leis da procriação, casamento e família, eram consideradas anormais imediatamente.

Aquilo que parece estranho e anormal sofre preconceito instantaneamente. Então, o grupo de excluídos acaba reproduzindo o que foi feito com eles. Padrões de “superioridade” e “inferioridade” serão criados dentro do próprio grupo. No caso dos homossexuais, por exemplo, os principais subgrupos criados são: os leathers, os ursos, os intelectuais, as barbies, os alternativos, os fashions, as poque-poques, as finas, os pães com ovos, os fora do meio, os andróginos, enfim...

Para se proteger, diante de tantas diferenças, o ser humano tem a necessidade de se sentir mais forte em relação ao outro. Elege seu grupo como sendo o único possível, digno, natural, superior e verdadeiro. Ataca e hostiliza os demais, pois sente vontade de se colocar superior, por meio de uma hierarquia fantasiosa, que ele mesmo convenciona. No fim, ele não percebe que quer queira quer não, depende e está conectado a todos os seres que existem. É preciso mudar nossa mentalidade COMPETITIVA para uma mentalidade COOPERATIVA. Possivelmente, assim haverá maior crescimento, harmonia, paz, solidariedade e união entre todos nós.


Bibliografia Consultada:


FOUCAULT, Michel História da sexualidade I – a vontade de saber. São Paulo: Graal Editora, 2010.

NIETZSCHE, Friedrich Vontade de Potência. São Paulo: Editora Vozes, 2011.

ARTIGO: Travestis, envelhecimento e velhice

Travesti - obra de Bernard Buffet*


Pessoal, li devorando esse artigo do Pedro Paulo Sammarco Antunes com Elisabeth Frohlich Mecadante na revista Kairós (PUC):

Travestis, envelhecimento e velhice
https://revistas.pucsp.br/index.php/kairos/article/view/9902/7356


RECOMENDO MUITO!
Basta clicar no link acima para ser redirecionado para o artigo.

Travestis, envelhecimento e velhice
Do transgender people get old?

Pedro Paulo Sammarco Antunes
Elisabeth Frohlich Mercadant


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Sobre a foto:

*Bernard Buffet (10 de Julho de 1928 — 4 de Outubro de 1999) foi um pintor francês do Expressionismo.
 
O francês Bernard Buffet foi um dos mais importantes pintores contemporâneos franceses. Desprezado inicialmente pela crítica de seu país, Buffet fez sucesso no exterior. No Japão, um museu leva o seu nome. Sofrendo de mal de Parkinson, que o impedia de pintar, Buffet cometeu suicídio em casa aos 71 anos, em Tourtour, no sul da França.

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