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A quatro dias do meu aniversário

Por Sergio Viula

Andre e eu a caminho do supermercado hoje.



Segunda-feira, dia 04 de maio. Estou a apenas quatro dias para a finalização de mais uma translação ao redor do sol. 

Sempre digo que amo o outono, mas nunca tinha pensado nisso até agora: Eu nasci no outono! Macacos me mordam, como é que eu nunca tinha feito essa conexão? Estreei meu longametragem no planeta em pleno outono - aquela estação na qual o céu é azulsíssimo, o sol brilha alegremente e as temperaturas são amenas, chegando a ser possível dispensar o ventilador e adotar a manta durante as noites. Adoooooro!

Obrigado, mãe, por ter me preparado em tempo hábil para nascer nessa estação e não no infernal verão carioca. Beijos do filhote!


Supermercado

Fomos ao mercado hoje. Depois de vários dias sem pormos os pés fora de casa, Andre e eu vestimos nossas máscaras e partimos para as compras. 

É curioso vermos como os arquétipos estão alterados. Antigamente, a gente pensava em dois caras mascarados entrando num estabelecimento comercial como assaltantes. Hoje, os caras mascarados são os assaltados! 

É impressionante como gastamos quase 400 reais para comprar tão pouca coisa. Lembro ainda de tempos em que 200 reais enchiam um carrinho. O nosso não chegou sequer à metade. Não mesmo. Ficou bem abaixo disso. 


Socorro!


Fico pensando como é que as pessoas que estão recebendo um socorro de 600 reais vão viver com isso. E pensar que Guedes e seu patrão queriam liberar apenas 200 reais, uma miséria três vezes menor que essa aí que vem sendo paga ao custo de enorme sacrifício dos que se enfileiram em todas as agências. Passamos por duas hoje e testemunhamos - da janela do nosso uber - a aflição dessas pessoas. Não fossem deputados de oposição fazendo pressão, esse povo passaria por tudo isso para receber duas notas de 100 reais na boca do caixa. Isso não daria nem para comprar arroz, feijão e leite para todas as bocas famintas em casa. 

E quem é que vive apenas com arroz e feijão, deusa Ceres? Ou só de leite, deus Hermes? 

Não só isso, mas não podem sequer comprar leite Ninho. Têm que se contentar com caixas de tetrapak (longa vida) que dizem os fabricantes estar cheias do mais puro leite bovino, mas que, na verdade, carregam mais aditivos químicos e mijo de vaca do que qualquer outra coisa.

A nossa "sorte" - muito bem paga em nossa última incursão ao supermercado, diga-se de passarem - é que já tinhamos arroz, feijão, macarrão, molho de tomate, milho, ervilha, cebola e várias outras coisas na dispensa. Essas coisas não entraram na conta de hoje. Imagina se precisássemos de tudo o que compramos e mais essas coisas que já temos na dispensa... Daria quase 1.000,00!!!!! E só para constar: fazemos compras no supermercado três vezes ao mês, geralmente.

Eu me pergunto como é que alguém vive com um salário mínimo para sustentar quatro ou cinco pessoas em casa. E como entender que muita gente dessa classe social continue incensando quem os explora - de patrões a políticos. Sem dúvida, não há pobreza maior do que a falta de pensamento crítico e bem informado.



Mudanças e superação

A vida segue. As coisas mudam. Às vezes, para pior, mas mudam. Às vezes, para melhor, e que bom que mudam! 

Só não muda o fato de que tudo muda o tempo todo. 

Minha mãe, que amamentou um bebê sem um pelo sequer no corpo, agora tem um filho com barba divida entre alguns fios pretos e muitos outros brancos. Ela, porém, continua aí - faceira e guerreira, mesmo depois de enfrentar um terrível câncer ano passado. 

Tenho muitos motivos para comemorar - meus pais, meus filhos, Andre (meu marido e amor!), que estão sempre perto de mim, mesmo quando distantes, como minha filha, que mora em outro país hoje. Além desse círculo mais próximo, tenho vários amigos sinceros e queridos, entre os quais figuram alguns parentes, não todos.

Do alto de minha felicidade por tudo isso, manifesto minha solidariedade para com os que perderam seus entes queridos para o coronavírus ou qualquer outra fatalidade. Sejam fortes, vivam o que houver para viver no melhor de suas forças. Pensem que seus entes queridos, já não presentes, adorariam ver a felicidade de vocês, não a tristeza. Chorem a falta deles. Não reprimam o choro. Mas, depois de chorarem, reúnam suas forças, ainda que pareçam ínfimas, e agigantem-se diante dos desafios que estão pela frente. Viver é uma oportunidade única!  E digo única em pelo menos quatro sentidos em nosso léxico:

1. Não existe outra, é exclusiva, singular.
2. Especial, fora do comum, excepcional.
3. Superior a tudo o mais, incomparável.
4. Sem par, sem igual ou semelhante.


VIVA! 
Mas não saia de casa, exceto em casos extremamente necessários.

Use máscara e lave bem as mãos. Se não puder lavá-las, use ácool gel.



P.S.: Enquanto escrevia esse post, Andre me disse que acabou de saber que 70 pessoas foram demitidas da empresa onde ele trabalha. Não temos ideia do que será o futuro, pessoal, mas precisamos viver um dia de cada vez. Acima de tudo, não desperdice um centavo. Você não sabe quanto tempo precisará enfrentar essa crise. Nós também não.

A uma semana de completar um novo ano

Por Sergio Viula

E dá-lhe trabalho online!


Fossem estes dias comuns como costumavam ser, o mês de maio teria começado da forma mais gostosa possível - com um feriado nacional em plena sexta-feira! Porém, esse ano não teve nada de comum até agora, especialmente desde a segunda quinzena de março. A primeira morte foi registrada precisamente no dia 16 de março. Era um homem de 62 anos. Ele deu entrada no hospital no dia 10 e morreu no dia 16 em São Paulo. 

De 16 de março até agora, 6.434 pessoas morreram de complicações ocasionadas pelo coronavírus.

O número de infectados chegou a 92.630 pessoas até esse sábado de manhã. 38.039 se recuperaram. 

Porém, excluídos os mortos e os recuperados, temos ainda 48.157 pessoas que não sabem ainda se vão viver ou se vão morrer neste exato momento.

Há quem estime que até amanhã (domingo), o número de mortos chegará a 10 mil. Depois disso, se as coisas continuarem como estão, o crescimento deverá escalar. Por isso, há governadores e prefeitos endurecendo as medidas de isolamento. Estão certíssimos!

Por causa dessa conjuntura de crise gravíssima, meu aniversário, que será no dia 08 de maio, sexta-feira que vem, será comemorado sem qualquer aglomeração. Só eu e Andre. Nem meus pais me verão, exceto por videoconferência. E o mesmo vale para os meus filhos.

Devido a uma sugestão de minha amiga Hellowa Corrêa, estou pensando seriamente em fazer uma live comemorativa com as pessoas que desejarem participar. Divulgarei o link para a videoconferência no meu perfil do Facebook. Devo fazer isso na sexta-feira, à noite, porque Andre terá que trabalhar durante o dia.

Tenho trabalhado muito online. Não saio de casa para nada. A última vez que saí foi apenas para ir ao mercado. Isso foi no dia 26/04. Eu havia ficado duas semanas sem sair de casa para nada antes disso e agora já faz praticamente uma semana que não ponho o pé fora de casa. Quando fui ao mercado, fui de máscara e municiado de álcool gel. Uma vez em casa a sequência é sempre a seguinte: roupa no cesto, banho, higienização de todos os itens antes de irem para o armário ou para a geladeira, mãos lavadas com água e sabão, e só depois disso, o sonhado relaxamento.

É inacreditável ver que muita gente ainda defende o indefensável e apoia o senhor dos absurdos em seu picadeiro palaciano ou nas adjacências da Praça dos Três Poderes. Sinto uma vergonha alheia sem tamanho. 

Acreditem, se as pessoas que defendem o indefensável e apoiam o senhor dos absurdos tivessem de si mesmas um décimo da vergonha que sinto delas por serem indivíduos providos de cérebro que agem como se fossem descerebrados, elas certamente abandonariam o discurso que as nivela tão rasteiramente. 

Pelo jeito, não têm.

Mas. apesar de todos esses aí, amanhã há de ser um novo dia para esse sofrido planeta, quer vivamos ou morramos. Mas eu prefiro viver - e viver sem esse vírus ou quaisquer outros.

22º segundo dia de isolamento - Andre e Sergio

Por Sergio Viula




Hoje é domingo, 05 de abril. Isso sigfnifica que estou em isolamento há 22 dias. Muita coisa mudou desde 14 de março, e talvez nada venha a ser como antes, mesmo depois que a pandemia do Covid-19 passar. Aprendi muita coisa nesse período. Também reforcei muita coisa que eu já sabia. Uma delas é que não precisamos da maioria das coisas que consideramos imprescindívies. As básicas são indispensáveis, é claro, mas nós carregamos muita quinquilaria existencial só pela força do hábito. 

E se hábitos são mais difíceis de quebrar do que diamantes, o Coronavírus não tem nada de fraquinho. Cientistas já demonstraram que é preciso quase um milhão de vezes a pressão atmosférica para quebrarmos um único diamante. O Covid-19 não precisou de qualquer aparato tecnológico produzido por seres humanos para se tornar a ameaça que ele veio a ser. Bastou que houvesse mutação em algum componente de sua estrutura para que ele se tornasse altamente perigoso para o bicho humano.

Uma pequena mutação e -  BUMMMM! - nossos diamantinos hábitos se partiram. Tivemos que nos reinventar.

É mais do que sabido que adaptação é o segredo da sobrevivência das espécies. É basicamente isso aqui: 


Adaptção + mutação = sobrevivência e evolução 
Mutação (ou não) sem adaptação = morte e extinção 

Se é verdade que alguns bichos não procriam, mesmo quando preparados e ansiosos para acasalar, também é verdade que bicho morto não dá cria. 

Permanecer vivo é o que os indivíduos ameaçados geralmente buscam. Tudo o mais é efeito colateral, tanto do êxito como do fracasso nessa empreitada. Aqueles que, por alguma razão, não percebem o risco que correm, e não se protegem dele, são os primeiros a serem abatidos. 

No caso dos vírus, ainda temos uma probabilidade: reagir e produzir anticorpos (adpatação em nível microscópico), mas nem todos terão êxito nisso. Basta ver o número esmagador de mortos até agora. Evitar encontros que podem resultar em morte para si mesmo e para aqueles que vivem com você é, no mínimo, estrategicamente superior a apostar a própria vida nesse jogo imprevisível.

Estamos fazendo extamente isso aqui em casa - prevenir. Felizmente, milhões de pessoas também estão seguindo as diretrizes dos médicos e sanitaristas, e as que não estão, têm grandes chances de não sobreviverem para dizerem: "Eu estava errado".

Nessas mais de três semanas de isolamento, experimentamos muitas emoções: Saudade de algumas pessoas, dúvidas sobre o futuro, vontade de caminhar sem poder colocar o pé fora de casa, e por aí vai. Porém, nosso amor segue forte e saudável, renovado a cada dia em que acordamos e olhamos para as tarefas que nos aguardam ao longo do dia. Seguimos comprometidos com a felicidade e bem-estar um do outro. Não conseguimos nem imaginar nossa vida de outro modo. 

Apesar de não podermos sair para um simples jantar em algum dos nossos restaurantes favoritos, vamos transformando o ato de cozinhar em ato de amor. Já preparamos receitas deliciosas ao longo desses dias. 

Cozinhar com carinho é uma forma de amar. Alimentar-se bem é um ato de resistência. Cozinhamos e comemos como quem responde ao canto sufocante e afrontoso da morte, que nos chega de todos os lados. Cada ato de amor nosso é como um desafio musical daqueles que cantores nordestinos costumam fazer com a viola ou a sanfona, respondendo um ao outro. A morte canta de lá com as estatísticas e nós respondemos de cá com isolamento e teimosia em viver, amar e fazer a nossa parte para não nos tornarmos novas vítimas e/ou vetores desse vírus mortal.

Sobre nossos idosos favoritos na família, fazemos o que é melhor para todos - mantemos distância sem deixarmos de nos comunicar com eles. Para isso, vídeoconferências, telefonemas, mensagens de áudio fazem as vezes dos almoços em família, dos abraços e beijos por equanto. Não tem Coronavírus que resista a isso. Ele precisa de proximidade física.

Sofremos vendo a quantidade de pessoas mortas e internadas em vários lugares em estado grave por causa do vírus que gerou essa pandemia. Não tivessem sido tomadas ações concretas pelo isolamento, testagem e campanhas de informação sobre a higiene das mãos e a proteção das vias aéreas, a situação seria ainda pior. 

Ficamos abismados com o nível de ignorância e vileza dos que fazem tudo para sabotar o trabalho daqueles que ainda demonstram algum senso de responsabilidade civil, e que seguem tentando proteger a tresloucada sociedade brasileira (de si mesma, inclusive). 

Contra todas as evidências disponíveis, os sabotadores minimizam a seridade da epidemia e a importância das medidas que vêm sendo tomadas tanto pela OMS como pelas autoridades médicas e sanitaristas que trabalham em consonância com ela. 

Também entram nesse grupo os produtores e divulgadores de fake news sobre a epidemia. Alguns desses divulgadores são vigaristas inveterados, mas existem muitas pessoas que são apenas ignorantes e teimosas, colocando em risco a própria vida por causa desses patifes. Entre estas, pode haver um tio ou primo seu - aquele tipo que repassa tudo o que recebe, desde que tenha algum teor apocalíptico ou que cheire à conspiração.

Imagine o quanto evoluiríamos cognitivamente se as pessoas aproveitassem os intervalos entre o home office e o sono para aprenderem mais sobre ciências humanas, biológicas e exatas em vez de desperdiçarem seu tempo dando ouvidos a patifes que lucram astronomicamente com a estupidez delas. 

Mas quem é o homem que, em seu primeiro ato de sabedoria, reconhecerá sua própria ignorância para, em seguida, começar a expulsá-la de sua mente através da aquisição de saberes verdadeiros? Alerta: Pseudo-conhecimento é apenas um disfarce com ares de sofisticação para a ignorância bronca de sempre. 

Não alimente a estupidez. Ela costuma se voltar contra aqueles que menosprezam sua periculosidade. 




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