Por Sergio Viula
Hoje é domingo, 05 de abril. Isso sigfnifica que estou em isolamento há 22 dias. Muita coisa mudou desde 14 de março, e talvez nada venha a ser como antes, mesmo depois que a pandemia do Covid-19 passar. Aprendi muita coisa nesse período. Também reforcei muita coisa que eu já sabia. Uma delas é que não precisamos da maioria das coisas que consideramos imprescindívies. As básicas são indispensáveis, é claro, mas nós carregamos muita quinquilaria existencial só pela força do hábito.
E se hábitos são mais difíceis de quebrar do que diamantes, o Coronavírus não tem nada de fraquinho. Cientistas já demonstraram que é preciso quase um milhão de vezes a pressão atmosférica para quebrarmos um único diamante. O Covid-19 não precisou de qualquer aparato tecnológico produzido por seres humanos para se tornar a ameaça que ele veio a ser. Bastou que houvesse mutação em algum componente de sua estrutura para que ele se tornasse altamente perigoso para o bicho humano.
Uma pequena mutação e - BUMMMM! - nossos diamantinos hábitos se partiram. Tivemos que nos reinventar.
É mais do que sabido que adaptação é o segredo da sobrevivência das espécies. É basicamente isso aqui:
Adaptção + mutação = sobrevivência e evolução
Mutação (ou não) sem adaptação = morte e extinção
Se é verdade que alguns bichos não procriam, mesmo quando preparados e ansiosos para acasalar, também é verdade que bicho morto não dá cria.
Permanecer vivo é o que os indivíduos ameaçados geralmente buscam. Tudo o mais é efeito colateral, tanto do êxito como do fracasso nessa empreitada. Aqueles que, por alguma razão, não percebem o risco que correm, e não se protegem dele, são os primeiros a serem abatidos.
No caso dos vírus, ainda temos uma probabilidade: reagir e produzir anticorpos (adpatação em nível microscópico), mas nem todos terão êxito nisso. Basta ver o número esmagador de mortos até agora. Evitar encontros que podem resultar em morte para si mesmo e para aqueles que vivem com você é, no mínimo, estrategicamente superior a apostar a própria vida nesse jogo imprevisível.
Estamos fazendo extamente isso aqui em casa - prevenir. Felizmente, milhões de pessoas também estão seguindo as diretrizes dos médicos e sanitaristas, e as que não estão, têm grandes chances de não sobreviverem para dizerem: "Eu estava errado".
Nessas mais de três semanas de isolamento, experimentamos muitas emoções: Saudade de algumas pessoas, dúvidas sobre o futuro, vontade de caminhar sem poder colocar o pé fora de casa, e por aí vai. Porém, nosso amor segue forte e saudável, renovado a cada dia em que acordamos e olhamos para as tarefas que nos aguardam ao longo do dia. Seguimos comprometidos com a felicidade e bem-estar um do outro. Não conseguimos nem imaginar nossa vida de outro modo.
Apesar de não podermos sair para um simples jantar em algum dos nossos restaurantes favoritos, vamos transformando o ato de cozinhar em ato de amor. Já preparamos receitas deliciosas ao longo desses dias.
Cozinhar com carinho é uma forma de amar. Alimentar-se bem é um ato de resistência. Cozinhamos e comemos como quem responde ao canto sufocante e afrontoso da morte, que nos chega de todos os lados. Cada ato de amor nosso é como um desafio musical daqueles que cantores nordestinos costumam fazer com a viola ou a sanfona, respondendo um ao outro. A morte canta de lá com as estatísticas e nós respondemos de cá com isolamento e teimosia em viver, amar e fazer a nossa parte para não nos tornarmos novas vítimas e/ou vetores desse vírus mortal.
Sobre nossos idosos favoritos na família, fazemos o que é melhor para todos - mantemos distância sem deixarmos de nos comunicar com eles. Para isso, vídeoconferências, telefonemas, mensagens de áudio fazem as vezes dos almoços em família, dos abraços e beijos por equanto. Não tem Coronavírus que resista a isso. Ele precisa de proximidade física.
Sofremos vendo a quantidade de pessoas mortas e internadas em vários lugares em estado grave por causa do vírus que gerou essa pandemia. Não tivessem sido tomadas ações concretas pelo isolamento, testagem e campanhas de informação sobre a higiene das mãos e a proteção das vias aéreas, a situação seria ainda pior.
Ficamos abismados com o nível de ignorância e vileza dos que fazem tudo para sabotar o trabalho daqueles que ainda demonstram algum senso de responsabilidade civil, e que seguem tentando proteger a tresloucada sociedade brasileira (de si mesma, inclusive).
Contra todas as evidências disponíveis, os sabotadores minimizam a seridade da epidemia e a importância das medidas que vêm sendo tomadas tanto pela OMS como pelas autoridades médicas e sanitaristas que trabalham em consonância com ela.
Também entram nesse grupo os produtores e divulgadores de fake news sobre a epidemia. Alguns desses divulgadores são vigaristas inveterados, mas existem muitas pessoas que são apenas ignorantes e teimosas, colocando em risco a própria vida por causa desses patifes. Entre estas, pode haver um tio ou primo seu - aquele tipo que repassa tudo o que recebe, desde que tenha algum teor apocalíptico ou que cheire à conspiração.
Imagine o quanto evoluiríamos cognitivamente se as pessoas aproveitassem os intervalos entre o home office e o sono para aprenderem mais sobre ciências humanas, biológicas e exatas em vez de desperdiçarem seu tempo dando ouvidos a patifes que lucram astronomicamente com a estupidez delas.
Mas quem é o homem que, em seu primeiro ato de sabedoria, reconhecerá sua própria ignorância para, em seguida, começar a expulsá-la de sua mente através da aquisição de saberes verdadeiros? Alerta: Pseudo-conhecimento é apenas um disfarce com ares de sofisticação para a ignorância bronca de sempre.
Não alimente a estupidez. Ela costuma se voltar contra aqueles que menosprezam sua periculosidade.
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