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Por Sergio Viula Lendo e comentando o documento Fiducia Supplicans que versa sobre bênçãos para casais irregulares e casais gays. Assista ou apenas ouça como um podcast. Não vai ser uma conversa rápida. 👀 https://youtu.be/ArFz1s6PzvM ❤️🏳️‍🌈❤️

ALGUNS POSTS DO TEMPO EM QUE ESTE BLOG ESTAVA NA UOL

A Recorrente Violência Contra Crianças

DISQUE 100!

Fico particularmente muito emocionado com o mundo infantil e com o mundo senil. Falando de maneira mais clara, crianças e velhos me comovem. Quando vejo uma criança inteligente, articulada, criativa, perspicaz, sinto um deslumbramento tipo de quem ainda se deixa espantar com o que é belo no ser humano. Quando vejo um idoso experiente, calmo, mas bem-humorado, que tira de letra os sofrimentos que a vida lhe impôs e lembra com cores vivas as alegrias que já teve, sempre pronto a contar uma história interessante ou um fato pitoresco, ou aquele tipo de idoso que tem uma pitada de ironia e sacanagem em tudo o que diz, fico especialmente entusiasmado e paro para conversar, rir junto e contar outra história, de modo que, se deixar, a conversa se estende por muito tempo.

Por outro lado, quando vejo crianças mal-educadas, mimadas, chatas; ou idosos reclamões, que se valem da idade para tirarem o maior proveito de qualquer situação, eu não vejo graça nenhuma em nenhum dos dois. Nem por isso faria alguma coisa prejudicial a qualquer deles.

Por isso fico particularmente revoltado e até doído por dentro quando ouço ou vejo violência contra a criança e contra o idoso, especialmente quando quem pratica a violência é a mesma pessoa que deveria amá-los e protegê-los.

Não consigo esquecer quantas lágrimas verti quando vi o que aconteceu com a menina Isabela Nardoni no primeiro semestre de 2008. Porém, mal nos reerguemos do abismo de sentimentos dolorosos daquela tragédia, e somos atingidos pela tragédia que se abateu sobre os meninos João Vitor dos Santos Rodrigues, 13 anos, e Igor Giovani dos Santos Rodrigues, 12 anos - ambos assassinados pelo pai, o vigia João Alexandre Rodrigues, 40 anos, e pela madrasta, Eliane Aparecida Rodrigues, 36. Ele asfixiou as crianças com sacos plásticos e ela ajudou a queimar as crianças e, depois, os dois as esquartejaram com uma foice. Os pedaços de corpos foram encontrados por lixeiros.

“A casa tinha cheiro de água sanitária e havia sangue no quintal”, disse o delegado Ailton Muniz.

Fico pensando como é que alguém pode fazer uma crueldade dessas com dois meninos - com o agravante de que são seus próprios filhos? Fico imaginando uma cena como essa de enfiar um saco plástico na cabeça de uma criança... Quanto esses meninos devem ter esperneado! Quanto eles devem ter tentado gritar! Como devem ter clamado por ajuda! Nenhuma piedade: nem do pai, nem da madrasta, nem de vizinhos (não se sabe se ouviram alguma coisa ou não), nem de algum deus para livrá-los do tormento. Fico impressionando vendo como ainda tem gente que tem coragem de rezar pelas "almas" dessas crianças para um deus que não presta nem para livrar seus corpos de tamanho sofrimento. Se não há deus que ajude no campo do real quanto menos utilidade ele teria para livrar de sofrimentos imaginários e pós-mundanos.

Revolta-me ver que não somente essas três crianças, mas milhares de outras são vítimas deste e de outros tipos de abuso sem que alguém as ouça quando clamam. Nem governo, nem polícia, nem ONGs, nem cidadãos comuns... Elas sofrem na esperança de crescerem o mais rápido possível para que possam defender-se a si mesmas. Será que chegarão a crescer? Isabela, João Vitor e Igor Giovani não conseguiram viver o suficiente para isso...

Vejo gente repetindo a ladainha de que a família é a solução. Que tipo de família? A família que tem dois adultos sexualmente distintos? Nardoni e sua mulher? João Alexandre e Eliane Aparecida? Talvez esses "distintos casais" heterossexuais que se apresentam como respeitáveis (especialmente para a ala homofóbica da sociedade), mas que entre quatro paredes são verdadeiros algozes de vítimas indefesas e sem voz, sejam um desagradavelmente útil lembrete de que não basta ser pai, e que ser heterossexual não é credencial para a paternidade ou a maternidade - é preciso amar!!!!! Amar as pessoas como se não houvesse amanhã, como disse um poeta gay (ou bissexual), ídolo de gays e heterossexuais!!!

Fico muito p... da vida quando vejo gente idiota como esses pastores do vento que ficam apregoando que a família heterossexual (exclusivamente heterossexual) é a solução dos problemas da sociedade. Gente como Júlio Severo que fica propagando ódio contra os homossexuais, associando o homossexual ao abusador de crianças. Ou gente como esses sacerdotes e pastores de meia-tigela que ficam dizendo que está escrito: "macho e fêmea os criou". E disse "multiplicai-vos". Como se o mero fato de ter pênis e vagina garantissem alguma coisa... Não garantem nem a procriação. Basta ver quanta gente heterossexual não pode gerar! Aí eles vêm logo com aquela conversa de que o "Senhor" tem um plano em tudo. Qual é o plano por trás da morte dos garotos assassinados pelo pai e pela madrasta?

"Ah, deus não pode ser responsabilizado por isso" - dizem eles.

Por que não? Ele não é supostamente todo-poderoso? Não sabe todas as coisas, antes mesmo que aconteçam? Não dizem as escrituras cristãs que ele faz chover sobre justos e injustos? Pois, se ele controla todos os detalhes, onde está o livramento dos pobres meninos assassinados pelo pai e a madrasta?

É aí que eles vêm com o imbelicizante papo do livre-arbítrio. Nós podemos até condescender de que tenhamos livre-arbítrio perante a lei instituída em nossa sociedade. Afinal, somos responsáveis pelo que fazemos perante a lei. Mas sustentar a ideia de livre-arbítrio no contexto de uma doutrina que diz que deus pode tudo e que sem ele nada podemos fazer, é contraditório demais. O livre-arbítrio humano e a soberania de deus são coisas auto-excludentes: Ou eu sou totalmente livre e deus não pode tudo; ou deus pode tudo e eu não sou totalmente livre. Não tem escapatória. A absolutização aqui é inevitável, porque o próprio cristão diz que deus é absoluto.

Quando os cristãos mais retrógrados apresentam o livro de Gênesis dizendo que está escrito "multiplicai-vos", eu pergunto: Quantos "produtos" dessa multiplicação estão abandonados pelas ruas, abusados pelos próprios pais dentro de casa, assassinados sem piedade por exterminadores que os encontram nas "cracolândias" da vida? Quanto ainda será preciso multiplicar o número de desgraçados e miseráveis para que comecemos a pensar mais em soma e menos em multiplicação?

A matemática é simples: homem solteiro (ou mulher solteira) idôneo + criança abandonada = família.

Ou, então, casais com histórico de estabilidade conjugal, emocional, financeira, etc, sejam hétero (homem e mulher) ou homossexuais (homem e homem, mulher e mulher) acrescentando uma criança órfã ou abandonada ao seu convívio familiar... Não seria isso muito melhor do que colocar mais bocas no mundo quando não damos conta nem daquelas que já comem.

Mas faço uma ressalva!!! Defendo a adoção, tendo em mente somente aqueles que acreditam (e demonstram!) serem capazes de uma vida de dedicação altruísta e sem quaisquer segundos interesses pela criança que desejam criar. Porque, sejamos honestos, paternidade e maternidade são missões duras e imprevisíveis para as quais nem todos estão preparados, qualquer que seja a classe, raça ou orientação sexual.

Eu adoro os dois filhos que eu tenho!!! Eles são frutos de um casamento que nunca deveria ter acontecido, ao mesmo tempo em que são resultados (dessa relação) que jamais poderiam ser suprimidos sem que eu perdesse um tesouro. Adoro os dois!!! E se eles não tivessem nascido, eu diria que ter casado foi pura perda de tempo.

Casei movido por crenças que adoecem a auto-imagem e a auto-estima de qualquer homossexual, mas curei-me desse mal dogmático ainda em tempo. O saldo foi de dois filhos lindos, inteligentes e queridos.

Apesar de acreditar que a adoção seja o melhor caminho para o bem das crianças abandonadas e órfãs, e que ser pai é uma experiência fantástica, garanto que se não tivesse recebido esses dois presentes da natureza naquela época, eu jamais me arriscaria a ter filhos hoje. Não é fácil educá-los, alimentá-los, vesti-los, dar-lhes o melhor de mim mesmo e ainda conseguir vivenciar minha própria individualidade, buscar meus próprios sonhos. Sem contar que pais e mães sempre convivem com o medo de que algo possa acontecer aos filhos na rua, na escola, até mesmo em casa. A maioria dos acidentes são domésticos. Eu sei quantas vezes tive que recorrer aos médicos para cuidar dos problemas de saúde e dos acidentes que a infância geralmente inclui em sua agitada agenda.

A violência contra as crianças tem que acabar, mas como? Não adianta culpar a pobreza e a ignorância. Alexandre Nardoni não era pobre e nem burro. Não adianta culpar o Estado. Há povos no mundo que não tem a mínima noção de Estado e jamais fariam isso aos próprios filhos. Não adianta culpar a falta de religião. Pelo contrário, alguns religiosos são os mais cruéis algozes de seus filhos, coibindo-os emocionalmente, castigando-os fisicamente e obrigando-os a viver de acordo com ditames que impossibilitam a felicidade e a saúde mental.

É difícil obter uma resposta. Talvez o que melhor possamos fazer é sermos os melhores pais que nossos filhos poderiam ter. E se não temos filhos, sermos os melhores tios, tias, etc. E quando virmos qualquer ato brutal contra crianças ou qualquer outro cidadão indefeso, notificarmos imediatamente às autoridades e exigirmos providências.

Justiça com as próprias mãos, não. Omissão, também não. Discursos apocalípticos ou medievais, por favor, poupem-me os ouvidos dessa tolice. Precisamos construir uma sociedade igualitária, onde as pessoas sejam respeitadas e os que promovem o ódio sejam detidos em sua fúria e em seus objetivos incendiários, mesmo que estes hipócritas ressentidos queiram usar o direito de livre expressão contra a própria liberdade da qual pretendem se valer para levar a cabo seus mórbidos ideais.

Famílias podem dar certo, mas não com a redução desse conceito ao vício cristão de afirmar a fórmula "Homem + Mulher= Filhos" para a construção da assim chamada Sagrada Família. Não existe nada de sagrado nisso tudo. A questão é racional. "Parceiro(a) 1 + Parceiro(a)2+ Filho(a) biológico(a) ou adotado(a) = Família". Também "Homem (ou mulher) + Criança = Família".

O reducionismo que o cristianismo adora propagar é política, social e economicamente contraproducente. A família é muito mais diversificada do que eles gostariam, e sempre será!


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Gay Deficiente ou Deficiente Gay






Antes de tudo, é importante esclarecer que quando falo de gay deficiente, refiro-me àquele que deixa alguma coisa a desejar como pessoa gay, ou seja, é deficitário como pessoa gay. Enquanto, por deficiente gay, refiro-me àquele que não dispõe de uma ou outra habilidade considerada física ou mental, podendo ser uma pessoa gay fantástica. O primeiro termo refere-se à personalidade, ao caráter. O segundo refere-se apenas ao aspecto físico e mental.






Bom, deixando o jogo de palavras de lado, vamos ao que realmente importa.






É muito interessante a dificuldade que encontramos em nos relacionar com o que consideramos diferente. Muitas vezes reclamamos de preconceito e discriminação. E é vero... Somos alvo de diversos tipos de preconceitos nascidos da ignorância e do medo infundado. No entanto, nós também, baseados em ignorância e medo, mantemos outros preconceitos não menos cruéis.






Por exemplo, existem homossexuais que são racistas. Eu já ouvi gay branco dizer que jamais transaria com gay negro. O contrário provavelmente também ocorre. Já vi homossexuais masculinos que desprezam mulheres, assim como muitos homens machistas. Há homossexuais muito jovens que consideram qualquer coisa acima de sua própria linha de tempo como desprezível. E outros que ultrapassaram o limite de idade que consideravam como atraente, mas que continuam mantendo a mesma mentalidade, só querendo os baby-look. Também já encontrei muitos homossexuais classistas que só conseguem enxergar outros de seu próprio status social. Mas talvez mais comuns sejam os casos de homossexuais que não toleram a deficiência por medo, ignorância ou por preconceito herdado.






O que muita gente não parou para notar ainda é que a comunidade gay está recheada de gente com deficiências de todos os tipos, assim como qualquer outra comunidade que se queira observar.






Os surdos, por exemplo, são numerosos. Costumo vê-los sempre em grupo, conversando entusiasticamente com as mãos e as expressões faciais. Mas, como quase tudo o que comunicamos em nossa sociedade vem na forma de palavra escrita ou falada, os surdos sofrem com o ostracismo, condenados a permanecerem sempre dentro do mesmo círculo de amizades.






Durante tempo sem conta, os ouvintes determinaram o que era conveniente aos surdos e o que não era. Atualmente, mais emancipados, os surdos reivindicam uma sociedade multicultural, tolerante e solidária.






Apesar de ser muito mais difícil para um ouvinte comunicar-se com um surdo ou vice-versa, eu mesmo já me relacionei sexualmente com surdos ao longo da vida. Um deles foi especialmente significativo e nós nos encontramos várias vezes. Ele tinha um senso de humor excelente, era muito comunicativo e como sabia ler e escrever, quando não conseguíamos nos comunicar por sinais, escrevíamos um para o outro. Não ficamos juntos por mais tempo, porque ele mesmo só queria diversão. E certamente nos divertimos muito, se é que entendem o que eu quero dizer... ;)






Outro tipo de deficiente é o cego. Os gays cegos sofrem um duplo preconceito: sofrem rejeição por parte dos homossexuais por serem deficientes, sendo sempre vistos como sem sexualidade; e sofrem rejeição por parte da própria comunidade de deficientes visuais que, quando heterossexual, os rejeita por serem gays.






Eu, de minha parte, penso que ao mesmo tempo em que uma pessoa cega deixa de ter a oportunidade de ver-me com os olhos, ela, por outro lado, sabe ler-me muito bem com as mãos e tem ouvidos apuradíssimos para desfrutar de sensações que eu, pelo vício de sempre colocar a visão à frente dos outros sentidos, posso nem perceber. Nunca estive com um parceiro cego, mas se tivesse conhecido um e me interessado por ele (e vice-versa), teria ficado assim como já fiquei com parceiros surdos.






A grande tacada é não supervalorizar a deficiência e nem ignorá-la. O segredo é encará-la sinceramente. A pessoa portadora de deficiência não pode fazer certas coisas, mas pode fazer outras. Se a gente souber conversar franca e educadamente sobre o assunto, sem juízos de valor e com sensibilidade (não piedade), a pessoa ficará à vontade para esclarecer nossa nada santa ignorância quanto às questões envolvidas na relação entre a realidade dela com a nossa.






E o que dizer das pessoas que utilizam bengalas, cadeiras de roda, etc.? Existem homens e mulheres homossexuais que são paraplégicos. Muitos são os homossexuais que se acidentam e têm seus movimentos limitados pelo resto da vida. Qualquer um de nós pode passar por isso um dia. O fato de o indivíduo ser gay ou lésbica não muda por causa disso, mas torna-se mais difícil encontrar uma pessoa disposta a uma relação estável, ou até mesmo a um encontro casual. Existem, porém, casos de sucesso nesse sentido. A Internet colaborou bastante para a ampliação das possibilidades de relacionamento dessas pessoas. Contudo, acredito que a pessoa portadora de deficiência deva ser muito sincera com seu interlocutor.






Sei de um caso em que um casal liberal convidou um homem para transar. Eles eram gays e o encontro foi marcado pela internet e telefone. Quando o cara chegou à casa deles encontrou os dois muito empolgados com o encontro, mas quando ele tirou a roupa, desconectou a perna e colocou-a sobre a mesa, um dos seus anfitriões, pediu licença, foi ao banheiro e não voltou mais. O outro, meio sem jeito (não dava mais para parar ali), seguiu em frente. Tempos depois, o que fugiu me contou que se sentiu muito mal com a atitude que tomou, mas nunca mais convidou o tal rapaz sem uma das pernas para transar de novo. Acredito que ambos erraram aqui: o rapaz deficiente que não contou antes (entendo que foi o medo de perder a oportunidade do encontro), e o outro que se escondeu. Teria sido melhor pararem tudo. Sentarem-se no sofá e baterem um papo sobre isso. Depois deixar o clima se apimentar e seguir em frente. Ou, então, deixar tudo ficar no começo de uma amizade que poderia ter sido positiva para todos. Entretanto, nem sempre é fácil agir racionalmente diante de situações inesperadas.






Mas nem só de deficientes físicos se faz o universo gay "especial". Existem pessoas com maior ou menor grau de deficiência mental que também possuem afetividade, tanto hétero como homossexual (talvez até bissexual, por que não?). O problema é geralmente querermos encarar toda e qualquer pessoa, qualquer que seja seu grau de deficiência mental como incapaz de sentir desejo sexual. Ora, se muitas dessas mulheres menstruam e muitos desses homens produzem espermatozóides, está claro, pela linguagem da própria natureza, que essas pessoas têm condições biológicas para sentir desejo e prazer. Resta saber se também possuem condições mentais para discernir o que querem, e maturidade suficiente para vivenciarem sua sexualidade sem que isso afete outras áreas de suas vidas. Isso, porém, é muito mais delicado do que o caso dos deficientes físicos.






Existem deficientes mentais totalmente alienados, os quais obviamente viverão vegetativamente e, portanto, jamais poderão desempenhar funções comuns à esmagadora maioria dos seres humanos. Estes estão fora de cogitação.






Existem, por outro lado, aqueles que possuem alguma deficiência, mas saem, fazem compras, trabalham fora, estudam - sempre com alguma limitação - mas saem-se muito bem nas coisas do cotidiano. Por que não poderiam dar expressão ao seu desejo de modo legítimo?






Acredito que duas pessoas com deficiência possam se apaixonar e se relacionar, assim como acredito que possa haver intercâmbio entre os que possuem e os que não possuem alguma deficiência.






É preciso que a pessoa com algum nível de deficiência mental tenha capacidade de julgar suas próprias ações, bem como as de outros. Também é necessário que ela deseje espontaneamente se relacionar com quem lhe interessa, compreendendo o que está implicado nisso, e sinta-se bem com esse relacionamento.






Seria um absurdo e um abuso que mereceria punições severas se uma pessoa que não possua estas características fosse simplesmente utilizada por alguém que não respeita a dignidade humana no outro.






No primeiro caso, não vejo problema. Mas no segundo caso existem sérias implicações éticas. Por isso, muita gente evita pensar ou se pronunciar a respeito deste assunto. Entretanto, os deficientes físicos e alguns dos deficientes mentais estão tornando-se cada vez mais eficientes em tudo o que fazem, querendo cada vez mais garantir seu espaço de convivência, sua autonomia, bem como a realização de seus sonhos, e a gente não pode ignorar isso e nem manter essas pessoas em cárcere existencial se elas têm condições físicas e mentais, mesmo que em grau menor, para se realizarem, seja cultural, profissional ou afetivamente.






Que eles sejam livres e nós inteligentes e sensíveis o suficiente para conviver com essa liberdade e para decidir participar dela, ou não, quando formos convidados.






Mesmo que não tiremos conclusões imediatas, pois poderíamos nos precipitar em nosso julgamento, é interessante que pensemos sobre o assunto.






Todo abuso contra o outro deve ser evitado e, se praticado, deve ser punido e corrigido. Mas precisamos tomar o cuidado de não abusar do outro na direção oposta, ou seja, forçando a privação de algo que lhe caiba como ser humano capaz de se realizar plenamente, mesmo que com limitações maiores do que outros.






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Sobre os desprezadores do corpo










Espero que este post aqui sirva para alimentar olhos e corações. Caso não ofereça muito aos que o lerem, posso dizer que só o escrever esse texto já me deu prazer suficiente. Oxalá, nossas relações fossem sempre assim: cheias de prazer! E não me refiro somente, e nem principalmente, ao sexo - o que adoro! Tudo é relação: comer, dormir, escrever, ler, conversar, respirar, amar, odiar, e assim por diante. Mantenha isso em mente enquanto estiver lendo esse post. Então, vejamos...






Há muita gente neurótica nesse mundo - disso não há dúvida. Mas é provável que nenhuma neurose seja pior do que a do fundamentalista - eleve tudo isso à milésima potência quando esse fundamentalista é um fanático religioso. Todo ser humano é um agente. Mas é agente, porque tudo é relação. Muito do que acontece nessas relações passa pela carência. O agente é carente porque é corpo, e como todo corpo mantém diversas relações com diversos outros corpos ao seu redor, é óbvio que os corpos afetam-se mutuamente de muitas maneiras. O mais surpreendente é como pode haver gente que ainda não percebeu que o que despreza em si, é, por fim, ele mesmo. É certo que fazemos escolhas, mas quem disse que estas são inteiramente livres? Há sempre algum tipo de limitação imposta pelo próprio corpo ou por outros corpos que mantém algum tipo de relação com ele.






Um exemplo muito elementar é a fome.






Sinto fome - isso é uma manifestação do corpo, fruto de uma carência básica: necessidade de energia. Penso que posso comer o que quiser, mas isso não é verdade. Só posso comer aquilo que o corpo deseja e/ou suporta. Não posso comer pedra e sustentar o corpo. Isso é uma limitação imposta pela constituição própria de ambos os corpos: eu e a pedra - isso também é relação. A sede é muito semelhante. Posso morrer de sede no meio do mar. O corpo deseja água, mas não qualquer uma - nem mesmo pode suportar qualquer água. Água salgada, por exemplo, não faz parte do cardápio de palatáveis. Existem fantásticas relações de necessidade, potência e limite em todas as coisas e entre todas elas.






Destes dois despretenciosos exemplos, os leitores mais argutos podem deduzir tudo o mais: somos corpo. Como poderíamos ser desprezadores do corpo sem que fôssemos, por definição, desprezadores da vida - ou o inverso, se preferir? Por isso, o fundamentalista - especialmente o fanático religioso - é alguém que odeia tudo o que se relaciona com o corpo, e odeia todo e qualquer outro ser humano cuja relação com o corpo não seja tão conflituosa quanto a sua própria.






Esta semana recebi umas mensagens que me fizeram lembrar e pensar bastante nessa questão. Não há como não enxergar que as crenças em vidas futuras, sejam castigos ou recompensas, passam por esse desprezo ao corpo, e o alimentam. Tanto desprezam o próprio corpo que acabam por desprezar tudo o que o excita, incita, ou seja, estimula. Para o fundamentalista religioso tudo o que diz respeito ao desejo ou ao prazer tem que passar por um estupidificador processo de sublimação que, invariavelmente, leva a lugar nenhum, senão à neurose e à esquizofrenia. Eles desprezam o mundo, a vida, e tudo o que remeta à alegria de viver no único mundo a que terão acesso: este aqui!






Há certas passagens que valem a citação, apesar de toda citação acabar desconectando o trecho citado de seu todo. Isso é inevitável quando alguém se põe a citar. Mesmo correndo esse risco, quero citar Gilles Deleuze quando fala de Espinosa.






Para quem ainda não ouviu falar de Espinosa ou não conhece sua obra, vale dizer simplesmente que ele privilegiou - com seu pensamento - a natureza, o corpo, a vida! Aí vai um recorte do que disse Gilles Deleuze sobre Espinosa:






"Quando Espinosa diz: o espantoso é o corpo... não sabemos ainda o que pode um corpo... Com isso ele não quer fazer do corpo um modelo, e da alma uma simples dependência do corpo. O seu empreendimento é mais sutil. Quer abater a pseudo-superioridade da alma sobre o corpo. Há a alma e o corpo, e ambos exprimem uma única e mesma coisa: um atributo do corpo é também uma expressão da alma (a velocidade, por exemplo). Do mesmo modo que vocês não sabem o que pode um corpo, assim há muitas coisas no corpo que não conhecem, que ultrapassam o vosso conhecimento, e analogamente há na alma muitas coisas que ultrapassam a vossa consciência. Eis a questão: o que é que pode um corpo? de que afetos é que são capazes? Experimentem, mas é necessária muita prudência. Vivemos num mundo muito desagradável, onde não somente as pessoas mas também os poderes estabelecidos têm interesse em nos comunicar afetos tristes. A tristeza, e os afetos tristes, são todos aqueles que diminuem a nossa potência de agir. Os poderes estabelecidos precisam de nossas tristezas para fazer de nós escravos. O tirano, o padre, os ladrões de almas, necessitam de nos persuadir de que a vida é dura e pesada. Os poderes precisam menos de nos reprimir do que de nos angustiar, ou, como diz Virílio, de administrar e organizar os nossos pequenos e íntimos terrores. A longa lamentação universal sobre a vida: a falta-de-ser que é a vida... Podemos dizer "dancemos" que nem por isso ficamos alegres. Podemos dizer "que desgraça é a morte", mas era preciso que tivéssemos vivido para termos algo a perder. Os doentes, tanto da alma como do corpo, não nos darão descanso, são vampiros, enquanto não nos tiverem comunicado a sua neurose e a sua angústia, a sua querida castração, o ressentimento contra a vida, o seu imundo contágio. Tudo é uma questão de sangue. Não é fácil ser um homem livre: fugir da peste, organizar os encontros, aumentar a potência de agir, afetar-se de alegria, multiplicar os afetos que exprimem ou encerram um máximo de afirmação. Fazer do corpo uma potência que não se reduz ao organismo, fazer do pensamento uma potência que não se reduz à consciência. (...) a Alma e o Corpo, a alma não está em cima nem em baixo, está "com", está na estrada, exposta a todos os contatos, encontros, em companhia daqueles que seguem o mesmo caminho, "sentir com eles, captar a vibração da sua alma e da sua carne ao passar", o contrário de uma moral de salão - ensinar a alma a viver sua vida, não a salvá-la" (Deleuze, Gilles; Parnet Claire: Diálogos, Relógio D'água Editores, Lisboa, 2004, p. 79-81)










Só existe um remédio para a neurose dos fundamentalistas: entrar em contato e sintonia com o próprio corpo. Não temer a alegria. A alegria é a própria força da vida! Como me alegro em ter deixado as amarras existenciais que me atavam à bigorna dos dogmas e arrastavam-me para um poço existencial sem fundo! Que gostoso respirar livremente. Livremente aqui não significa sem contingências, mas a própria relação com elas, ora forçando os limites, ora tomando um pouco de sua forma, numa relação que enriquece a própria vida com experiências que seriam impossíveis sem essa elasticidade, essa flexibilidade - diferente do fundamentalista que se engessa com medo das mudanças, que odeia toda variação, que treme diante de qualquer dúvida , pois quer ter certeza, mesmo que não haja qualquer evidência. Pensa que o que aprendeu - não importa quão errado esteja (ele nem pensa nessa possibilidade) -, jamais poderá mudar sem que alguma catástrofe universal se abata sobre ele.






Quando vê que outros têm mobilidade, flexibilidade, ou seja, que eles agem de acordo com sua própria potência, o fundamentalista jura e repete para si mesmo que algum dia um juízo sobrenatural virá sobre eles. Desta forma, o fundamentalista perde sua própria vida, tentando salvá-la; não vive, apenas existe.






Abrir-se às diversas possibilidades do corpo e dos corpos ao seu redor pode demandar uma capacidade muito grande de senso crítico e coragem para agir de modo diferente do que tradicionalmente acreditou ser verdadeiro, mas nada se compara à alegria de viver assim, experimentando todo o potencial do corpo.






Contrariando os mais supersticiosos, não existe essa entidade supostamente imortal, independente e superior que eles chamam de alma num sentido totalmente diferente do de Espinosa, Nietzsche, Deleuze, Sartre, e outros filósofos. Alma é simplesmente o corpo pensando, sentindo, desejando, lembrando.






Muitos outros corpos têm sido sacrificados para a manutenção e aperfeiçoamento do meu e do seu, mas chegará o dia em que os nossos corpos também serão sacrificados para a manutenção e o aperfeiçoamento de outros, talvez invisíveis sem o auxílio de microscópios. Isso também é relação, mas até que essa relação finalmente se estabeleça temos a oportunidade de experimentar muitas outras que fortalecem a nossa própria vida.






Ora com prudência, ora com ousadia, experimentemos, vivamos. É isso ou a morte. E existem muitos que estão experimentando a morte quando poderiam estar experimentando a vida, e querem nos contagiar com sua morbidez existencial. O antídoto é a alegria e tudo o que afirme e promova a vida com todo o potencial do corpo que a manifesta!




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Depois de ler uns recadinhos estúpidos










Depois e ler um recadinhos estúpidos, escritos por uns moralistas quase irracionais, pensei que seria bom colocar algum texto sobre moral aqui no blog. O site do Helder Sanches tem textos excelentes. Esse aqui me convenceu de que era uma boa escolha. Concordo com o conteúdo e considero-o muito equilibrado. Tomei a liberdade de fazer pequenas alterações para dinamizar a leitura, mas não alterei o sentido. Quem quiser visitar o site dele: http://www.heldersanches.com






Sobre a Moral






Um dos argumentos mais utilizados pelos crentes na defesa da utilidade religiosa é o argumento da necessidade do “moralismo” religioso (eles preferem dizer moralidade) como sustento de uma sociedade moral. Segundo este princípio, o moralismo religioso é indispensável ao funcionamento da sociedade, através da divulgação de valores de justiça e de regras de boa conduta.






Contudo, esse argumento não tem qualquer fundamento. Os sistemas religiosos são sistemas fechados, refratários à influência externa e só assimilam novos valores exteriores quando lhes é conveniente, por mera tentativa de sobrevivência ou, como quase sempre acontece, tardiamente, quando já toda a sociedade assimilou as alterações em questão.






Por serem sistemas fechados e, por conseguinte, demorarem muito a adaptarem suas normas morais, as religiões permanecem praticamente imutáveis aos olhos de qualquer geração. Por isso, só conseguimos vislumbrar as alterações numa perspectiva histórica.






Assim, como se explicaria, baseando-nos no princípio exposto no primeiro parágrafo, que os valores morais de uma religião sofram dessa imutabilidade enquanto as sociedades, com o seu dinamismo independente da religião, alterem consideravelmente os seus valores em processos que muitas vezes duram escassos anos?






Se o princípio da moral religiosa fosse válido viveríamos ainda sob a moralidade medieval, uma vez que os princípios morais religiosos dessa era ainda vigoram na sua maior parte; nos casos em que isso não acontece, a religião foi sempre levada à reboque pelo dinamismo da própria sociedade na qual ela está inserida.






Não existem razões de fato para sustentar a superioridade de qualquer moral religiosa. A moral é fruto desse enorme empreendimento que é – e continuará a ser – a adaptação do ser humano ao mundo que o rodeia, procurando equilíbrios de justiça na busca da felicidade individual e coletiva.






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Cinco contra Um










Existem muitos nomes e apelidos para essa velha amiga de todos nós: a masturbação. De acordo com o blog http://marcosronaldo.multiply.com/journal/item/12, estes são alguns dos mais comuns:






acariciar o golfinho


afiar o lápis


afogar o ganso


agitar


aliviar os colhões


assar a mandioquinha


bater ao pisso


bater uma pívia


bater uma punheta


bater uma segóvia


bater caixeta


bater cana


bater castanhola


bater bronha


bater uma punheta


bater uma castanhola


bater siririca


bocejar com a mão


brincar com os cinco anões


bronha


carrinho de mão


cinco-contra-um


cinco-dedos


cinco-marias


colocar a mão nas bolas


contar as tábuas do tecto


contar os pregos das ripas


comer uma rosca


comer a palmita


covardia


descascar banana


dar milho aos pombos


dar no macaco


dar um tapa no lesado


debulhar a espiga


debulhar o milho


dedilhar


descabelar o palhaço


descascar a mandioca


descascar o palmito


despenar o sabiá


digitar


esgalhar uma


esgalhar o pikatchu


esgalhar o pessegueiro


empinar a pipa


encasquetar


escamar o besugo


esfolar o galho


esgaçar o pessegueiro


espancar a cobra zarolha


espancar o careca


espancar o macaco


espancar o xaxão


esfolar o piriquito


espancar o palhaço


estrangular o sabiá


estucar o pilar


ejacular


erguer a construção


extrair o sulco


faca-de-ponta faca-de-mesa


fazer amor consigo mesmo


fazer gaiolas


fazer o Diglet evoluir


fazer o menininho roxo vomitar


fazer o palhaço chorar


fritar um bono


limpar o cavalo


limpar o ecoponto


reciclar o oleo


gaiola-de-cinco-ponteiros


gaiola-sem-ponteiros


giribide


gloriosa


gozar


gronha


homenagiar


jogar bilhar de bolso


jogar bilhar sem bolas


jogar dado


licka licka (para mulheres)


fazer uma homenagem


fazer justiça com as próprias mãos


lacre do bujão


lá vai cortinado


lapidar a safira


lascar uma


limar a trave


contar barrotes


mariqueta maricota


matar gatinhos


matar-o-sabiá-a-soco


matar zezinho


matutar


medir a temperatura (para mulheres)


maria-cinco-dedos


masturbação


massajar o golfinho


morrer na mão


mosturbação (simular uma masturbação)


oficina cinco irmãos


olear a gôndola


onanismo


parrusca


pecar na mão


pecar na rua-da-palma-número-5


pedir carona pro céu


pelar o ganso


pelar sabiá


pintar paredes


pintar azulejos


pívia


projectar o vector


punheta


roçadinha (entre mulheres)


roçadinho (entre mulheres)


roça-roça


sarapitola


saripoca


sebastiana (entre mulheres)


se distrair


sigoga


siririca (para mulheres)


sacar talha


salpicar perede


socar pilão


sujar a carpete


tirar a manteiga do pão


tirar leite do pau


tirar uma


tocar ao bicho


tocar uma baseada


tocar a mariquinhas


tocar bronha


tocar flautim de capa


tocar o furriel


tocar punheta


tocar sanfona


tocar siririca (para mulheres)


tropeçar no tigre


tocar uma gloriosa


tocar umazinha


trocar o óleo


zarpar o aerotrem


ziripicar










Entretanto, tecnicamente falando, masturbação é a estimulação dos próprios genitais usando as mãos e dedos, ou com o auxilio de objetos. De maneira mais ampla, a masturbação pode ser definida como a estimulação dos órgãos genitais, ânus, mamilos e outras partes do corpo pela própria pessoa ou pelo(a) seu(sua) parceiro(a). A maioria das pessoas se masturba durante, praticamente, toda a vida.






Uma das desgraças que o moralismo religioso produziu e manteve - durante muito tempo - foi a difamação da masturbação, dizendo que ela poderia provocar loucura, sintomas colaterais físicos de várias ordens, além do risco de conduzir o praticante direto para o fogo do inferno. Nada mais mentiroso e, ao mesmo tempo, cruel, especialmente quando se trata de gente em tenra idade, como os adolescentes. Até hoje existe muita gente que se priva do prazer de manipular o próprio corpo, vivenciar sensações gostosas e saudáveis por causa desse tipo de falácia. Esse prazer, porém, pertence aos homens e mulheres de qualquer idade.






Muitos meninos e meninas, quando chegam à adolescência, têm verdadeiras crises de consciência simplesmente porque “bateram uma punheta” ou “tocaram uma siririca”, em outras palavras: masturbaram-se. Eu mesmo vivenciei esse tipo de conflito, graças às mentiras espalhadas pela religião e nunca totalmente desmascaradas por colegas e familiares, porque eles mesmos não sabiam o suficiente nem pra si. Nem por isso, deixei de me masturbar. Na fase em que os desejos eram mais agudos - entre os 12 e 17 anos - cheguei a bater cinco por dia!!! Êta, punheteiro do cacete!!! kkkk






Um conhecido meu que se dizia ex-gay e que pretendia converter homossexuais viveu em conflito por mais de 30 anos e, provavelmente, ainda está em conflito - agora com mais de 40. Além de sofrer por ser gay, sofria porque se masturbava. Não faltavam caixas de remédio com tarja preta na gaveta dele. E - até onde se sabe - ele nunca teve razões médicas para problemas de ordem neurológica; o problema dele era de ordem psicológica, provocado pela religiosidade.






Sentir prazer em tocar o próprio corpo ou o corpo do parceiro não tem, absolutamente, qualquer conotação patológica. E acreditar em inferno é algo de que qualquer ser humano inteligente deveria se envergonhar. Deu vontade? Toque! Você vai relaxar e gozar, literalmente!!! ahahahahaha






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Quadrilha de Pedófilos é Desmantelada


Publicado em 01/06/2008






Gente, a semana que passou foi especialmente importante para o combate à pedofilia. Em São Paulo foram identificados diversos pedófilos, assim como locais onde a pedofilia literalmente "comia solta". Parabéns às autoridades envolvidas neste combate, especialmente porque não tiveram medo de apontar gente importante da própria polícia, um dos quais cometeu suicídio logo que soube que havia sido identificado pelos investigadores.






Um hotel com vários quartos reservados a este tipo de prática foi identificado e interditado. Os envolvidos foram presos e estão sendo indiciados. Fiquei pessoalmente estarrecido com a cena dos policiais recolhendo brinquedos que encheriam os olhos de qualquer criança. Dezenas de ursinhos de pelúcia, bonecas outros brinquedos em que a cor rosa predominava. Obviamente, meninas eram os alvos daquelas iscas - fantasias infantis que se tornaram terríveis armadilhas nas mãos daqueles criminosos. Fiquei terrivelmente impressionado com tudo isso...






Gostaria de aproveitar a oportunidade, contudo, para destacar algumas coisas:






1. É pura ignorância afirmar - como sempre fazem os maliciosos defensores dos movimentos de "cura" para homossexuais - que a pedofilia tenha necessariamente relação direita com a homossexualidade. Tudo indica que aqueles pedófilos eram heterossexuais. Aliás, o maior número (sem sombra de dúvida) de crianças vitimadas por essa prática é do sexo feminino e a maior parte dos pedófilos identificados até agora é do sexo masculino - portanto as relações de pedofilia descobertas até agora são predominantemente heterossexuais.






2. É tolice pensar que a pedofilia tenha uma cara típica. O pedófilo pode ser branco, negro, mestiço; homem ou mulher; de qualquer orientação sexual; de classe econômica baixa ou alta; iletrado ou culto; totalmente desconhecido ou alguém próximo à vítima - o que é bem mais comum.






3. É um erro confundir pedofilia com intimidade sexual entre as próprias crianças ou entre os próprios adolescentes. Tanto as crianças como os adolescentes são seres sexuados (obviamente), portanto podem ter - e geralmente têm - interesse sexual entre si, sem que isso se constitua um problema em si. É totalmente natural que meninos brinquem entre si. O mesmo acontece com as meninas. E isso acontece das maneiras mais diversificadas: menino-menino, menina-menina ou menino-menina. É parte do desenvolvimento humano. Todas as tentativas de transformar isso num problema têm origem nos preconceitos que a religião vem alimentando há séculos. Naturalmente falando, é de se esperar que esse interesse surja na infância e aumente na puberdade. O que não se pode é aprovar a exploração de uma criança por um adulto, mas descobertas da criança ou adolescente em relação ao próprio corpo ou ao corpo de outro(a) colega de idade semelhante faz parte do processo de desenvolvimento e não tem nada de sujo ou problemático. Suja e problemática é a mentalidade contaminada pelos pressupostos dos fundamentalistas religiosos e seus fantoches.






4. É crime de conivência saber o que está acontecendo a uma criança, quando explorada de alguma maneira por um adulto, e não fazer nada. Qualquer abuso contra a criança ou o adolescente pode ser denunciado pelo telefone número 100.






5. É preciso diferenciar quem sofre com desejos sexuais por crianças ou adolescentes, e deseja ajuda, daqueles que montam uma quadrilha com o fim de comercializar a exploração sexual infantil. Um precisa de psicanálise e o outro, de cadeia. Quem organiza grupos para explorar menores e trocar "figurinhas" entre si, com cinismo e ironia, através da rede mundial de computadores - a internet – é bandido. A pessoa que quer ajuda, precisa ser ajudada a superar essa dificuldade por profissionais especializados (psicanalistas, por exemplo). A pessoa que age como criminoso tem que ser tratada conforme os ditames da lei - o que não exclui a possibilidade de ser ajudada a deixar esta prática, se assim desejar, ao mesmo tempo em que responde pelos seus atos. A criança vitimada precisa, sem sombra de dúvida, de ajuda especializada, a fim de não desenvolver uma mentalidade distorcida a respeito do sexo e de si mesma.






6. O melhor caminho para prevenir crianças e adolescentes é o da informação. Os pais têm que deixar de ser excessivamente escrupulosos a respeito do assunto "sexo" e conversar francamente com os filhos, sem preconceitos. Educadores têm que ter liberdade para tratar do assunto em sala de aula, sem receio de serem alvos de perseguição e fogueira. Aliás, isso já é garantido pelo Ministério da Educação, mas ainda tem professor que enfrenta barreiras, especialmente por causa da estupidez gerada pela mentalidade religiosamente fundamentalista de muitos pais. Enfim, tanto pais como educadores precisam estar atentos ao comportamento das crianças e dos adolescentes, mas SEM paranoia. Apenas dialogar, orientar, observar, mas não cercar a criança ou adolescente de tal modo que eles prefiram fugir do cerco e correr riscos a permanecer cercados, sentindo-se como reféns.






Quanto a mim, posso dizer que sempre joguei aberto com meus filhos. Eles sabem HÁ MUITO TEMPO o que é camisinha, pra que serve, porque é necessário usá-la. Eles sabem que o amor pode acontecer entre pessoas de quaisquer gêneros (masculino ou feminino). Também sabem que podem namorar, desde que o(a) namorado(a) seja uma pessoa correta e venha a ser apresentado(a) a mim. Eles sabem que, de minha parte, não existe proibição a que façam amor quando acharem que estão preparados para isso, mas que devem escolher bem o(a) parceiro(a), o momento, e nunca - JAMAIS - transar sem camisinha. Caso precisem, podem me pedir camisinhas sem nenhum constrangimento, mesmo que não precisem usá-las porque mudaram de ideia quanto à relação, ou porque é simplesmente para andarem prevenidos. Minha filha e meu filho sabem que podem me contar qualquer tentativa de abuso sexual por parte de adultos - qualquer que seja o adulto - ou colegas mais velhos, porque eles sabem que a única pessoa que deve decidir se eles vão ou não vão transar com esta ou aquela pessoa são eles mesmos, e que isso tem que ser respeitado pelo outro.






E mesmo com toda essa franqueza eu nunca poderei ter certeza absoluta de que eles só terão alegrias em sua vida amorosa e/ou sexual (as duas coisas podem ser sinônimo, dependendo da situação, ou não), porque é possível que ainda assim sofram decepções. Mas isso faz parte da vida, e até pra isso existe conversa. Eu já disse aos dois que ninguém é mais importante do que nossa saúde mental, física e emocional - se é que elas podem ser separadas. Se algum(a) namorado(a) não for bom o suficiente, não fará falta alguma. E mesmo que faça falta, isso não será para sempre. E estar sozinho é melhor do que estar mal acompanhado, até porque quem está sozinho pode encontrar boa companhia, mas o mal acompanhado vai continuar no prejuízo enquanto não se livrar do "encosto". ;)






Mais uma vez, parabéns às autoridades que levam a sério o combate à exploração sexual de menores!






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Bertrand Russell










Quisera ter encontrado Bertrand Russell antes!






Com um misto de lamento e alegria encontrei Bertrand Russell. Foi na livraria Siciliano, no Botafogo Praia Shopping. Chamou-me a atenção o título “Porque não sou cristão”. Abri e logo vi que havia coisas interessantes e ousadas a respeito da religião com uma dose agradavelmente bem medida de filosofia. O livro é uma coletânea de palestras proferidas por Bertrand Russell. Como lamento não ter encontrado isso antes! Que alegria notar que já escrevi muita coisa parecida com o que ele diz, sem jamais o haver lido! Essa euforia deve-se ao fato de que Russell é simplesmente genial. Decidi procurar algum site que tivesse publicado alguma palestra dele, e encontrei esta que também faz parte do livro. A fonte de onde copiei é:






http://blog.clickgratis.com.br/pensarehmelhorquerezar






Um pouco da biografia de Russell pode ser lida no final destes posts.






Algumas pessoas dizem que alguns textos deste blog são longos, mas nem pode ser colocado no formato que mais agrada essa sociedade de consumo, ou seja, o instantâneo, o pré-cozido, o imediato. Há certas coisas que vão muito além de uma foto, uma frase ou um vídeo caseiro. Ler Bertrand Russell, com certeza, é uma dessas coisas que valem o tempo investido.






Então, leia, pense, repense, releia, abra-se a novas perspectivas.






Boa leitura!






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Porque não sou cristão


por Bertrand Russell






Esta palestra foi proferida, a 6 de março de 1927, na Prefeitura Municipal de Battersea, sob os auspícios da Secção do Sul de Londres a National Secular Society.






Como vosso presidente vos disse, o assunto sobre que vou falar-vos esta noite se intitula: “Porque não sou cristão”. Talvez fosse bom, antes de mais nada, procurássemos formular o que se entende pela palavra “cristão”. É ela usada, hoje em dia, por um grande número e pessoas, num sentido muito impreciso. Para alguns, não significa senão uma pessoa que procura viver uma vida virtuosa. Neste sentido, creio que haveria cristãos em todas as seitas e em todos os credos; mas não me parece que esse seja o sentido próprio da palavra, quando mais não fosse porque isso implicaria que todas as pessoas que não são cristãs – todos os budistas, confucianos, maometanos e assim por diante – não estão procurando viver uma vida virtuosa. Não considero cristã qualquer pessoa que tente viver decentemente de acordo com sua razão. Penso que se deve ter uma certa dose de crença definida, antes que a gente tenha o direito de se considerar cristão. Essa palavra não tem hoje o mesmo sentido vigoroso que tinha ao tempo de Santo Agostinho e de Santo Tomás e Aquino. Então, quando um homem se dizia cristão, sabia-se o que é que ele queria significar. As pessoas aceitavam toda uma série de crenças estabelecida com grande precisão, e acreditavam, com toda a força de suas convicções, em cada sílaba de tais crenças.






Que é um cristão?






Hoje em dia não é bem assim. Tem-se de ser um pouco mais vago quanto ao sentido de cristianismo. Penso, porém, que há dois itens diferentes e essenciais para que alguém se intitule cristão. O primeiro é de natureza dogmática – isto é, tem-se de acreditar em Deus e na imortalidade. Se não se acredita nessas duas coisas, não creio que alguém possa chamar-se, apropriadamente, cristão. Além disso, como o próprio nome o indica, deve-se ter alguma espécie de crença acerca de Cristo. Os maometanos, por exemplo, também acreditam em Deus e na imortalidade e, no entanto, dificilmente poderiam chamar-se cristãos. Acho que se precisa ter, no mínimo, a crença de que Cristo era, senão divino, pelo menos o melhor e o mais sábio dos homens. Se não tiverdes ao menos essa crença quanto a Cristo, não creio que tenhais qualquer direito de intitular-vos cristãos. Existe, naturalmente, um outro sentido, que poderá ser encontrado no Whitaker’s Almanack e em livros de geografia, nos quais se diz que a população do mundo se divide em cristãos, maometanos, budistas, adoradores de fetiches e assim por diante – e, nesse sentido, somos todos cristãos.






Os livros de geografia incluem-nos a todos, mas isso num sentido puramente geográfico, que, parece-me, podemos ignorar. Por conseguinte, julgo que, ao dizer-vos que não sou cristão, tenho de contar-vos duas coisas diferentes: primeiro, por que motivo não acredito em Deus e na imortalidade e, segundo, porque não acho que Cristo foi o melhor e o mais sábio dos homens, embora eu Lhe conceda um grau muito elevado de bondade moral.






Mas, quanto aos esforços bem sucedidos dos incrédulos, no passado, não poderia valer-me de uma definição de cristianismo tão elástica como essa. Como disse antes, antigamente possuía ela um sentido muito mais vigoroso. Incluía, por exemplo, a crença no inferno. A crença no fogo eterno do inferno era cláusula essencial da fé cristã até tempos bastante recentes. Neste país, como sabeis, deixou de ser item essencial devido a uma decisão do Conselho Privado e, por causa dessa decisão, houve uma dissensão entre o Arcebispo de Cantuária e o Arcebispo de York – mas, neste país, a nossa religião é estabelecida por ato do Parlamento e, por conseguinte, o Conselho Privado pôde sobrepor-se a Suas Excelências Reverendíssimas e o inferno deixou de ser coisa necessária a um cristão. Não insistirei, portanto, em que um cristão deva acreditar no inferno.






A existência de Deus






Esta questão da existência de Deus é assunto longo e sério e, se eu tentasse tratar do tema de maneira adequada, teria de reter-vos aqui até o advento do Reino dos Céus, de modo que me perdoareis se o abordar de maneira um tanto sumária. Sabeis, certamente, que a Igreja Católica estabeleceu como dogma que a existência de Deus pode ser provada sem ajuda da razão. É esse um dogma um tanto curioso, mas constitui um de seus dogmas. Tiveram de introduzi-lo porque, em certa ocasião, os livres pensadores adotaram o hábito de dizer que havia tais e tais argumentos que a simples razão poderia levantar contra a existência de Deus, mas eles certamente sabiam, como uma questão de fé, que Deus existia. Tais argumentos e razões foram minuciosamente expostos, e a Igreja Católica achou que devia acabar com aquilo. Estabeleceu, por conseguinte, que a existência de Deus pode ser provada sem ajuda da razão, e seus dirigentes tiveram de estabelecer o que consideravam argumentos capazes de prová-lo. Há, por certo, muitos deles, mas tomarei apenas alguns.






O argumento da Causa Primeira






Talvez o mais simples e o mais fácil de compreender-se seja o argumento da Causa Primeira. (Afirma-se que tudo o que vemos neste mundo tem uma causa e que, se retrocedermos cada vez mais na cadeia de tais causas, acabaremos por chegar a uma Causa Primeira, e que a essa Causa Primeira se dá o nome de Deus). Esse argumento, creio eu, não tem muito peso hoje em dia, em primeiro lugar porque causa já não é bem o que costumava ser. Os filósofos e os homens de ciência têm martelado muito a questão de causa, e ela não possui hoje nada que se assemelhe à vitalidade que tinha antes; mas, à parte tal fato, pode-se ver que o argumento de que deve haver uma Causa Primeira é um argumento que não pode ter qualquer validade.






Posso dizer que quando era jovem e debatia muito seriamente em meu espírito tais questões, eu, durante longo tempo, aceitei o argumento da Causa Primeira, até que certo dia, aos dezoito anos de idade, li a Autobiografia de John Stuart Mill, lá encontrando a seguinte sentença: “Meu pai ensinou-me que a pergunta ‘Quem me fez?’ não pode ser respondida, já que sugere imediatamente a pergunta imediata: ‘Quem fez Deus?’” Essa simples sentença me mostrou, como ainda hoje penso, a falácia do argumento da Causa Primeira. Se tudo tem de ter uma causa, então Deus deve ter uma causa. Se pode haver alguma coisa sem uma causa, pode muito bem ser tanto o mundo como Deus, de modo que não pode haver validade alguma em tal argumento. Este é exatamente da mesma natureza que o ponto de vista hindu, de que o mundo se apoiava sobre um elefante e o elefante sobre uma tartaruga, e quando alguém perguntava: “E a tartaruga?”, o indiano respondia: “Que tal se mudássemos de assunto?”. O argumento, na verdade, não é melhor do que este. Não há razão pela qual o mundo não pudesse vir a ser sem uma causa; por outro lado, tampouco há qualquer razão pela qual o mesmo não devesse ter sempre existido. Não há razão, de modo algum, para se supor que o mundo teve um começo. A ideia de que as coisas devem ter um começo é devido, realmente, à pobreza de nossa imaginação. Por conseguinte, eu talvez não precise desperdiçar mais tempo com o argumento acerca da Causa Primeira.






O argumento da Lei Natural






Há, a seguir, um argumento muito comum relativo à lei natural. Foi esse um argumento predileto durante todo o século XVIII, principalmente devido à influência de Sir Isaac Newton e de sua cosmogonia. As pessoas observavam os planetas girar em tomo do sol segundo a lei da gravitação e pensavam que Deus dera uma ordem a tais planetas para que se movessem desse modo particular – e que era por isso que eles assim o faziam. Essa era, certamente, uma explicação simples e conveniente, que lhes poupava o trabalho de procurar quaisquer novas explicações para a lei da gravitação. Hoje em dia, explicamos a lei da gravitação de um modo um tanto complicado, apresentado por Einstein. Não me proponho fazer aqui uma palestra sobre a lei da gravitação tal como foi interpretada por Einstein, pois que também isso exigiria algum tempo; seja como for, já não temos a mesma espécie de lei natural que tínhamos no sistema newtoniano, onde, por alguma razão que ninguém podia compreender, a natureza agia de maneira uniforme. Vemos, agora, que muitas coisas que considerávamos como leis naturais não passam, na verdade, de convenções humanas. Sabeis que mesmo nas mais remotas profundezas do sistema estelar uma jarda tem ainda três pés de comprimento. Isso constitui, sem dúvida, fato notabilíssimo, mas dificilmente poderíamos chamá-lo de lei da natureza. E, assim, muitíssimas outras coisas antes encaradas como leis da natureza são dessa espécie.






Por outro lado, qualquer que seja o conhecimento a que possamos chegar sobre a maneira de agir dos átomos, veremos que eles estão muito menos sujeitos a leis do que as pessoas julgam, e que as leis a que a gente chega são médias estatísticas exatamente da mesma classe das que ocorreriam por acaso. Há, como todos nós sabemos, uma lei segundo a qual, no jogo de dados, só obteremos dois seis apenas uma vez em cerca de trinta e seis lances, e não encaramos tal fato como uma prova de que a queda dos dados é regulada por um desígnio; se, pelo contrário, os dois seis saíssem todas as vezes, deveríamos pensar que havia um desígnio.






As leis da natureza são dessa espécie, quanto ao que se refere a muitíssimas delas. São médias estatísticas como as que surgiriam das leis do acaso – e isso toma todo este assunto das leis naturais muito menos impressionante do que em outros tempos. Inteiramente à parte disso, que representa um estado momentâneo da ciência que poderá mudar amanhã, toda a idéia de que as leis naturais subentendem um legislador é devida à confusão entre as leis naturais e humanas. As leis humanas são ordens para que procedamos de certa maneira, permitindo-nos escolher se procedemos ou não da maneira indicada; mas as leis naturais são uma descrição de como as coisas de fato procedem e, não sendo senão uma mera descrição do que elas de fato fazem, não se pode arguir que deve haver alguém que lhes disse para que assim agissem, porque, mesmo supondo-se que houvesse, estaríamos diante da pergunta: “Por que Deus lançou justamente essas leis naturais e – não outras?”






Se dissermos que Ele o fez por Seu próprio prazer, e sem qualquer razão para tal, verificaremos, então, que há algo que não está sujeito à lei e, desse modo, se interrompe a nossa cadeia de leis naturais. Se dissermos, como o fazem os teólogos mais ortodoxos, que em todas as leis feitas por Deus Ele tinha uma razão para dar tais leis em lugar de outras – sendo que a razão, naturalmente, seria a de criar o melhor universo, embora a gente jamais pensasse nisso ao olhar o mundo – se havia uma razão para as leis ministradas por Deus, então o Próprio Deus estava sujeito à lei e, por conseguinte, não há nenhuma vantagem em se apresentar Deus como intermediário. Temos aí realmente uma lei exterior e anterior aos editos divinos, e Deus não serve então ao nosso propósito, pois que ele não é o legislador supremo. Em suma todo esse argumento acerca da lei natural já não possui nada que se pareça com o seu vigor de antigamente. Estou viajando no tempo em meu exame dos argumentos. Os argumentos quanto à existência de Deus mudam de caráter à medida que o tempo passa. Eram, a princípio, argumentos intelectuais, rígidos, encerrando certas ideias errôneas, bastante definidas. Ao chegarmos aos tempos modernos, essas ideias se tornam intelectualmente menos respeitáveis e cada vez mais afetadas por uma espécie de moralizadora imprecisão.






O passo seguinte nos conduz ao argumento da prova teológica da existência de Deus.






Vós todos conheceis tal argumento: tudo no mundo é feito justamente de modo a que possamos nele viver, e se ele fosse, algum dia, um pouco diferente, não conseguiríamos viver nele. Eis aí o argumento da prova teológica da existência de Deus. Toma ele, às vezes, uma forma um tanto curiosa; afirma-se, por exemplo, que as lebres têm rabos brancos a fim de que possam ser facilmente atingidas por um tiro. Não sei o que as lebres pensariam desse destino. É um argumento fácil para paródia. Todos vós conheceis a observação de Voltaire, de que o nariz foi, evidentemente, destinado ao uso dos óculos. Essa espécie de gracejo acabou por não estar tão fora do alvo como poderia ter parecido no século XVIII, pois que, desde o tempo de Darwin, compreendemos muito melhor por que os seres vivos são adaptados ao meio em que vivem. Não é o seu meio que se foi ajustando aos mesmos, mas eles é que foram se ajustando ao meio, e isso é que constitui a base da adaptação. Não há nisso prova alguma de desígnio divino.






Quando se chega a analisar o argumento teológico de prova da existência de Deus, é sumamente surpreendente que as pessoas possam acreditar que este mundo, com todas as coisas que nele existem, com todos os seus defeitos, deva ser o melhor mundo que a onipotência e a onisciência tenham podido produzir em milhões de anos. Achais, acaso, que, se vos fossem concedidas onipotência e onisciência, além de milhões de anos para que pudésseis aperfeiçoar o vosso mundo, não teríeis podido produzir nada melhor do que a Ku-Klux-Klan ou os fascistas? Ademais, se aceitais as leis ordinárias da ciência, tereis de supor que não só a vida humana como a vida em geral neste planeta se extinguirão em seu devido curso: isso constitui uma fase da decadência do sistema solar. Em certa fase de decadência, teremos a espécie de condições de temperatura, etc., adequadas ao protoplasma, e haverá vida, durante breve tempo, na vida do sistema solar. Podeis ver na lua a espécie de coisa a que a terra tende: algo morto, frio e inanimado.






Dizem-me que tal opinião é depressiva e, às vezes, há pessoas que nos confessam que, se acreditassem nisso, não poderiam continuar vivendo. Não acrediteis nisso, pois que não passa de tolice. Na verdade, ninguém se preocupa muito com o que irá acontecer daqui a milhões de anos. Mesmo que pensem que estão se preocupando muito com isso, não estão, na realidade, fazendo outra coisa senão enganar a si próprias. Estão preocupadas com algo muito mais mundano – talvez mesmo apenas com a sua má digestão. Na verdade, ninguém se torna realmente infeliz ante a idéia de algo que irá acontecer a este mundo daqui a milhões e milhões de anos. Por conseguinte, embora seja melancólico supor-se que a vida irá se extinguir (suponho, ao menos, que se possa dizer tal coisa, embora, às vezes, quando observo o que as pessoas fazem de suas vidas, isso me pareça quase um consolo) isso não é coisa que tome a vida miserável. Faz apenas com que a gente volte a atenção para outras coisas.






Os argumentos morais a favor da Deidade






Chegamos, agora, a uma nova fase, na qual nos referiremos ao que os teístas fizeram, intelectualmente, com os seus argumentos, e topamos com aquilo a que se chama de os argumentos morais quanto à existência de Deus. Vós todos sabeis, por certo, que costumava haver, antigamente, três argumentos intelectuais a favor da existência de Deus, os quais foram todos utilizados por Immanuel Kant em sua Crítica da Razão Pura; mas, logo depois de haver utilizado tais argumentos, inventou ele um novo, um argumento moral, e isso o convenceu inteiramente. Kant era como muita gente: em questões intelectuais, mostrava-se cético, mas, em questões morais, acreditava implicitamente nas máximas hauridas no colo de sua mãe. Eis aí um exemplo daquilo que os psicanalistas tanto ressaltam: a influência imensamente mais forte de nossas primeiras associações do que das que se verificam mais tarde.






Kant, como digo, inventou um novo argumento moral quanto à existência de Deus, e o mesmo, em formas várias, se tornou grandemente popular durante o século XIX. Tem hoje toda a espécie de formas. Uma delas é a que afirma que não haveria o bem e o mal a menos que Deus existisse. Não estou, no momento, interessado em saber se há ou não uma diferença entre o bem e o mal. Isso é outra questão. O ponto em que estou interessado é que, se estamos tão certos de que existe uma diferença entre o bem e o mal, nos achamos, então, na seguinte situação: é essa diferença devida ao fiat de Deus ou não? Se é devida ao fiat de Deus, então não existe, para o Próprio Deus, diferença entre o bem e o mal, e não constitui mais uma afirmação significativa o dizer-se que Deus é bom. Se dissermos, como o fazem os teólogos, que Deus é bom, teremos então de dizer que o bem e o mal possuem algum sentido independente do fiat de Deus, porque os fiats de Deus são bons e não maus independentemente do mero fato de ele os haver feito. Se dissermos tal coisa, teremos então de dizer que não foi apenas através de Deus que o bem e o mal passaram a existir, mas que são, em sua essência, logicamente anteriores a Deus. Poderíamos, por certo, se assim o desejássemos, dizer que havia uma deidade superior que dava ordens ao Deus que fez este mundo, ou, então, poderíamos adotar o curso seguido por certos agnósticos – curso que me pareceu, com frequência, bastante plausível segundo o qual, na verdade, o mundo que conhecemos foi feito pelo diabo num momento em que Deus não estava olhando. Há muito que se dizer a favor disso, e não estou interessado em refutá-lo.






O argumento quanto à reparação da injustiça






Há uma outra forma muito curiosa de argumento moral, que é a seguinte: dizem que a existência de Deus é necessária a fim de que haja justiça no mundo. Na parte do universo que conhecemos há grande injustiça e, não raro, os bons sofrem e os maus prosperam, e a gente mal sabe qual dessas coisas é mais molesta; mas, para que haja justiça no universo como um todo, temos de supor a existência de uma vida futura para reparar a vida aqui na terra. Assim, dizem que deve haver um Deus, e que deve haver céu e inferno, a fim de que, no fim, possa haver justiça. É esse um argumento muito curioso.






Se encarássemos o assunto de um ponto de vista científico, diríamos: “Afinal de contas, conheço apenas este mundo. Nada sei do resto do universo, mas, tanto quanto se pode raciocinar acerca das probabilidades, dir-se-ia que este mundo constitui uma bela amostra e, se há aqui injustiça, é bastante provável que também haja injustiça em outras partes”. Suponhamos que recebeis um engradado de laranjas e que, ao abri-lo, verificais que todas as laranjas de cima estão estragadas. Não diríeis, em tal caso: “As de baixo devem estar boas, para compensar as de cima”. Diríeis: “É provável que todas elas estejam estragadas”. E é precisamente isso que uma pessoa de espírito científico diria acerca do universo. Diria: “Encontramos neste mundo muita injustiça e, quanto ao que a isso se refere, há razão para se supor que o mundo não é governado pela justiça. Por conseguinte, tanto quanto posso perceber, isso fornece um argumento moral contra a deidade e não a seu favor”. Sei, certamente, que os argumentos intelectuais sobre os quais vos estou falando não são, na verdade, de molde a estimular as pessoas. O que realmente leva os indivíduos a acreditar em Deus não é nenhum argumento intelectual. A maioria das pessoas acredita em Deus porque lhes ensinaram, desde tenra infância, a fazê-lo, e essa é a principal razão.






Penso, ainda, que a seguinte e mais poderosa razão disso é o desejo de segurança, uma espécie de impressão de que há um irmão mais velho a olhar pela gente. Isso desempenha um papel muito profundo, influenciando o desejo das pessoas quanto a uma crença em Deus.






Desejo agora dizer algumas palavras sobre um tema que, penso com frequência, não foi tratado suficientemente pelos racionalistas, e que é a questão de saber-se se Cristo foi o melhor e o mais sábio dos homens. É geralmente aceito como coisa assente que deveríamos todos concordar em que assim é. Não penso desse modo. Acho que há muitíssimos pontos em que concordo com Cristo muito mais do que o fazem os cristãos professos. Não sei se poderia concordar com Ele em tudo, mas posso concordar muito mais do que a maioria dos cristãos professos o faz. Lembrar-vos-eis que Ele disse: “Não resistais ao mau, mas, se alguém te ferir em tua face direita, apresenta-lhe também a outra”. Isto não era um preceito novo, nem um princípio novo. Foi usado por Lao-Tse e por Buda cerca de quinhentos ou seiscentos anos antes de Cristo, mas não é um princípio que, na verdade, os cristãos aceitem. Não tenho dúvida de que o Primeiro-Ministro (Stanley Baldwin), por exemplo, seja um cristão sumamente sincero, mas não aconselharia a nenhum de vós que o ferisse na face. Penso que, então, poderíeis descobrir que ele considerava esse texto como algo que devesse ser empregado em sentido figurado.






Há um outro ponto que julgo excelente. Lembrar-vos eis, por certo, de que Cristo disse: “Não julgueis, para que não sejais julgados”. Não creio que vós considerásseis tal princípio como sendo popular nos tribunais dos países cristãos. Conheci, em outros tempos, muitos juízes que eram cristãos sumamente convictos, e nenhum deles achava que estava agindo, no que fazia, de maneira contrária aos princípios cristãos. Cristo também disse: “Dá a quem te pede, e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes”. É este um princípio muito bom. Vosso Presidente vos lembrou que não estamos aqui para falar de política, mas não posso deixar de observar que as últimas eleições gerais foram disputadas baseadas na questão de quão desejável seria voltar as costas ao que desejava lhe emprestássemos, de modo que devemos presumir que os liberais e os conservadores deste país são constituídos de pessoas que não concordam com os ensinamentos de Cristo, pois que, certamente, naquela ocasião, voltaram as costas de maneira bastante enfática.






Há ainda uma máxima de Cristo que, penso, contém nela muita coisa, mas não me parece seja muito popular entre os nossos amigos cristãos. Diz Ele: “Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, e dá-o aos pobres”. Eis aí uma máxima excelente, mas, como digo, não é muito praticada. Todas estas, penso, são boas máximas, embora seja um pouco difícil viver-se de acordo com elas. Quanto a mim, não afirmo que o faça – mas, afinal de contas, isso não é bem o mesmo que o seria tratando-se de um cristão.










Defeitos nos Ensinamentos de Cristo






Tendo admitido a excelência de tais máximas, chego a certos pontos em que não acredito se possa concordar, nem com a sabedoria superlativa, nem com a bondade superlativa de Cristo, tal como são descritas nos Evangelhos – e posso dizer aqui que não estou interessado na questão histórica. Historicamente, é muito duvidoso que Cristo haja jamais existido e, se existiu, nada sabemos a respeito d’Ele, de modo que não estou interessado na questão histórica, que é uma questão muito difícil. Estou interessado em Cristo tal como me aparece nos Evangelhos, tomando a narrativa bíblica tal como ela se nos apresenta – e nela encontramos algumas coisas que não parecem muito sábias. Por um lado, Ele certamente pensou que o Seu segundo advento ocorreria em nuvens de glória antes da morte de toda a gente que estava vivendo naquela época. Há muitos textos que o provam. Diz Ele, por exemplo: “Não acabareis de correr as cidades de Israel, sem que venha o Filho do Homem”. E adiante: “Entre aqueles que estão aqui presentes, há alguns que não morrerão, antes que vejam o Filho do Homem no seu reino” – e há uma porção de lugares em que é bastante claro que me acreditava que a Sua segunda vinda ocorreria durante a vida dos que então viviam. Essa era a crença de seus primeiros adeptos, constituindo a base de uma grande parte de Seus ensinamentos morais. Quando Ele disse: “Não andeis inquietos pelo dia de amanhã” e outras coisas semelhantes, foi, em grande parte, porque julgava que a sua segunda vinda seria muito breve e que, por isso, não tinham importância os assuntos mundanos. Conheci, na verdade, cristãos que acreditavam que o segundo advento era iminente. Conheci um pároco que assustou terrivelmente a sua congregação, dizendo-lhe que o segundo advento estava, com efeito, sumamente próximo, mas os membros de seu rebanho se sentiram muito consolados quando viram que ele estava plantando árvores em seu jardim. Os primeiros cristãos acreditaram realmente nisso, e abstinha-se de coisas tais como plantar árvores em seus jardins, pois que aceitaram de Cristo a crença de que o segundo advento estava iminente. Não foi tão sábio como alguns outros o foram – e, certamente, não se mostrou superlativamente sábio.






O problema moral










Chega-se, a seguir, às questões morais. Há, a meu ver, um defeito muito sério no caráter moral de Cristo, e isso por que Ele acreditava no inferno. Quanto a mim, não acho que qualquer pessoa que seja, na realidade, profundamente humana, possa acreditar no castigo eterno. Cristo, certamente, tal como é descrito nos Evangelhos, acreditava no castigo eterno, e a gente encontra, repetidamente, uma fúria vinditiva contra os que não davam ouvidos aos seus ensinamentos – atitude essa nada incomum entre pregadores, mas que, de certo modo, se afasta da excelência superlativa. Não encontrareis, por exemplo, tal atitude em Sócrates. Encontramo-la bastante suave e cortês para com aqueles que não queriam ouvi-lo – e, na minha opinião, é muito mais digno de um sábio adotar tal atitude do que mostrar-se indignado. Provavelmente vos lembrareis das coisas que Sócrates disse quando estava agonizando, bem como das coisas que em geral dizia às pessoas que não concordavam com ele.






Vereis que, nos Evangelhos, Cristo disse: “Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação ao inferno?”. Isso foi dito a gente que não gostava de seus ensinamentos. Esse não é, realmente, na minha opinião, o melhor tom, e há muitas dessas coisas acerca do inferno. Há, por certo, o texto familiar acerca do pecado contra o Espírito Santo:






“Quem falar contra o Espírito Santo não será perdoado, nem neste século nem no futuro”. Este texto causou indizível infelicidade no mundo, pois que toda a espécie de criatura imaginava haver pecado contra o Espírito Santo e achava que não seria perdoada nem neste mundo, nem no outro. Não me parece, realmente, que uma pessoa dotada de um grau adequado de bondade em sua natureza teria posto no mundo receios e terrores dessa espécie.






Diz Cristo, ainda: “O Filho do homem enviará os seus anjos, e tirarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade. E lançá-los-ão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes”. E continua a referir-se aos lamentos e ao ranger de dentes. Isso aparece em versículo e fica bastante evidente ao leitor que há um certo prazer na contemplação dos lamentos e do ranger de dentes, pois que, do contrário, isso não ocorreria com tanta frequência. Vós todos vos lembrais, certamente, da passagem acerca das ovelhas e das cabras; de como, na segunda vinda, a fim de separar as ovelhas das cabras, irá Ele dizer às cabras: “Afastai-vos de mim, ó amaldiçoadas, e lançai-vos ao fogo eterno”. E prossegue: “E estas mergulharão no fogo eterno”. Depois, torna a dizer: “Se a tua mão direita te serve de escândalo, corta-a, e lança-a para longe de ti; porque é melhor para ti que se perca um de teus membros, do que todo teu corpo seja lançado no inferno, no fogo que não será jamais aplacado, onde os vermes não morrem e o fogo não é aplacado”. Repete também isso muitas e muitas vezes. Devo dizer que considero toda esta doutrina – a de que o fogo do inferno é um castigo para o pecado – como uma doutrina de crueldade. É uma doutrina que pôs a crueldade no mundo e submeteu gerações a uma tortura cruel – e o Cristo dos Evangelhos, se pudermos aceitá-lO como os seus cronistas O representam, teria, certamente, de ser considerado, em parte, responsável por isso.






Há outras coisas de menor importância. Há, por exemplo, a expulsão dos demônios de Gerasa, onde, certamente, não foi muito bondoso para com os porcos, fazendo com que os demônios neles entrassem e se precipitassem ao mar pelo despenhadeiro. Deveis lembrar-vos de que Ele era onipotente e teria podido simplesmente fazer com que os demônios fossem embora. Mas Ele prefere fazer com que entrem nos porcos. Há, ainda, a curiosa história da figueira, que sempre me deixa um tanto intrigado. Vós vos lembrais do que aconteceu com a figueira. “Pela manhã, quando voltava para a cidade, teve fome. E, vendo uma figueira junto do caminho, aproximou-se dela; e não encontrou nela senão folhas, e disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti”. E Pedro disse-Lhe: “Vê, Mestre: a figueira que amaldiçoaste secou”. Essa é uma história muito curiosa, pois que aquela não era a estação dos figos e, realmente, não se podia censurar a árvore. Quanto a mim, não me é possível achar que, em questão de sabedoria ou em questão de virtude, Cristo permaneça tão alto como certas outras figuras históricas que conheço. Nesses sentidos, eu colocaria Buda e Sócrates acima dele.






O fator emocional






Como já disse, não creio que a verdadeira razão pela qual s pessoas aceitam a religião tenha algo que ver com argumentação. Aceitam a religião por motivos emocionais. Dizem-nos com frequência que é muito mau atacar-se a religião, pois que a religião toma os homens virtuosos. Isso é o que me dizem; eu jamais o percebi. Conheceis, por certo, a paródia desse argumento, tal como é apresentado no livro Erewhom Revisited, de Samuel Butler. Vós vos lembrais de que, em Erewhom, há um certo Higgs que chega a um país remoto e que, após passar lá algum tempo, foge do país num balão. Vinte anos depois, volta ao mesmo país e encontra uma nova religião, na qual é ele adorado sob o nome de “Filho do Sol”, e na qual se afirma que ele subiu ao céu. Verifica que a Festa da Ascensão está prestes a ser celebrada, e ouve os Professores Hanky e Panky dizer entre si que jamais puseram os olhos no tal Higgs e que esperam não o fazer jamais – mas eles são os altos sacerdotes da religião do Filho do Sol. Higgs sente-se muito indignado e, aproximando-se deles, diz-lhes : “Vou desmascarar todo este embuste e dizer ao povo de Erewhom que se tratava apenas de mim, Higgs, e que subi num balão”. Responderam-lhe: “Não deve fazer isso, pois toda a moral deste país gira em torno desse mito e, se souberem que você não subiu ao céu, todos os seus habitantes se tomarão maus”. Persuadido disso, Higgs afasta-se do país silenciosamente.






Eis aí a ideia – a de que todos nós seríamos maus se não nos apegássemos à religião cristã. Parece-me que as pessoas que se apegaram a ela foram, em sua maioria, extremamente más. Tendes este fato curioso: quanto mais intensa a religião em qualquer época, e quanto mais profunda a crença dogmática, tanto maior a crueldade e tanto pior o estado de coisas. Nas chamadas idades da fé, quando os homens realmente acreditavam na religião cristã em toda a sua inteireza, houve a Inquisição, com as suas torturas; houve milhares de infelizes mulheres queimadas como feiticeiras – e houve toda a espécie de crueldade praticada sobre toda a espécie de gente em nome da religião. Constatareis, se lançardes um olhar pelo mundo, que cada pequenino progresso verificado nos sentimentos humanos, cada melhoria no direito penal, cada passo no sentido da diminuição da guerra, cada passo no sentido de um melhor tratamento das raças de cor, e que toda diminuição da escravidão, todo o progresso moral havido no mundo, foram coisas combatidas sistematicamente pelas Igrejas estabelecidas do mundo. Digo, com toda convicção, que a religião cristã, tal como se acha organizada em suas Igrejas, foi e ainda é a principal inimiga do progresso no mundo.






De que forma as Igrejas retardaram o progresso






Talvez julgueis que estou indo demasiado longe, quando digo que ainda assim é. Não julgo que esteja. Tomemos apenas um fato. Concordareis comigo, se eu o citar. Não é um fato agradável, mas as Igrejas nos obrigam a referir-nos a fatos que não são agradáveis. Suponhamos que, neste mundo em que hoje vivemos, uma jovem inexperiente case com um homem sifilítico.






Neste caso, a Igreja Católica diz: “Esse é um sacramento indissolúvel. Devem permanecer juntos por toda a vida”. E nenhum passo deve ser dado por essa mulher no sentido de evitar que dê à luz filhos sifilíticos. Isso é o que diz a Igreja Católica. Quanto a mim, digo que isso constitui uma crueldade diabólica, e ninguém cujas simpatias naturais não tenham sido embotadas pelo dogma, ou cuja natureza moral não esteja inteiramente morta a todo sentido de sofrimento, poderia afirmar que é justo e certo que tal estado de coisas deva continuar. Este é apenas um dos exemplos. Há muitas outras maneiras pela qual a Igreja, no momento, com sua insistência sobre o que prefere chamar moralidade, inflige a toda a espécie de pessoas sofrimentos imerecidos e desnecessários. E, naturalmente, como todos nós sabemos, é ainda, em grande parte, contrária ao progresso e ao aperfeiçoamento de todos os meios tendentes a diminuir o sofrimento no mundo, pois que costuma rotular de moralidade certas acanhadas regras de conduta que nada tem a ver com a felicidade humana – e quando se diz isto ou aquilo deve ser feito, pois que contribuiria para a felicidade humana, eles acham que nada têm a ver, absolutamente, com tal assunto. “Que é que a felicidade tem a ver com a moral? O objetivo da moral não é tornar as pessoas felizes”.






O medo – a base da Religião






A religião baseia-se, penso eu, principalmente e antes de tudo, no medo. É, em parte, o terror de desconhecido e, em parte, como já o disse, o desejo de sentir que se tem uma espécie de irmão mais velho que se porá de nosso lado em todas as nossas dificuldades e disputas.






O medo é a base de toda essa questão: o medo do mistério, o medo da derrota, o medo da morte. O medo é a fonte da crueldade e, por conseguinte, não é de estranhar que a crueldade e a religião tenham andado de mãos dadas. Isso por que o medo é a base dessas duas coisas. Neste mundo, podemos agora começar a compreender um pouco as coisas e a dominá-las com a ajuda da ciência, que abriu caminho, passo a passo, contra a religião cristã, contra as Igrejas e contra a oposição de todos os antigos preceitos.






A ciência pode ajudar-nos a superar esse medo pusilânime em que a humanidade viveu durante tantas gerações. A ciência pode ensinar-nos, e penso que também os nossos corações podem fazê-lo, a não mais procurar apoios imaginários, a não mais inventar aliados no céu, mas a contar antes com os nossos próprios esforços aqui embaixo para tornar este mundo um lugar adequado para se viver, ao invés da espécie de lugar a que as igrejas, durante todos estes séculos, o converteram.






O que devemos fazer






Devemos apoiar-nos em nossos próprios pés e olhar o mundo honestamente – as coisas boas, as coisas más, suas belezas e suas fealdades; ver o mundo como ele é, e não temê-lo. Conquistar o mundo por meio da inteligência, e não apenas abjetamente subjugados pelo terror que ele nos desperta. Toda a concepção de Deus é uma concepção derivada dos antigos despotismos orientais. É uma concepção inteiramente indigna de homens livres.






Quando vemos na igreja pessoas a menosprezar a si próprias e a dizer que são miseráveis pecadores e tudo o mais, tal coisa nos parece desprezível e indigna de criaturas humanas que se respeitem. Devemos levantar-nos e encarar o mundo de frente, honestamente. Devemos fazer do mundo o melhor que nos seja possível, e se o mesmo não é tão bom quanto desejamos, será, afinal de contas, ainda melhor do que esses outros fizeram dele durante todos estes séculos. Um mundo bom necessita de conhecimento, bondade e coragem; não precisa de nenhum anseio saudoso pelo passado, nem do encarceramento das inteligências livres por meio de palavras proferidas há muito tempo por homens ignorantes. Necessita de esperança para o futuro, e não de passar o tempo todo voltado para trás, para um passado morto, que, assim o confiamos, será ultrapassado de muito pelo futuro que a nossa inteligência pode criar.






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O Filósofo Bertrand Russell


Sua vida e sua Obra






"Por que repetir erros antigos, se há tantos erros novos a escolher?" A provocação espirituosa de Bertrand Russell bem demonstra seu interesse pela vida, pela liberdade e pelo conhecimento.






De família aristocrática, Bertrand Russell cedo perdeu seus pais. Foi criado pelo avô, Lord John Russell e, com a morte deste, pela avó, Lady Russell. Educado em casa, por tutores, Bertrand Russell ingressou em 1890 na universidade de Cambridge, para estudar filosofia e lógica.






Em 1894 casou-se com Alys Pearsall Smith, uma americana seguidora da seita quacre, de quem viria a se separar em 1911. Dedicando-se ao estudo da lógica e da matemática, Russel passou a publicar seus ensaios em revistas especializadas. Em 1901 descobriu o famoso "paradoxo de Russell", com grande repercussão no campo da lógica.






Em 1908, tornou-se membro do "Trinity College", em Cambridge. Dois anos depois publicou o primeiro volume de sua obra "Principia Matematica", que se tornou célebre. Bertrand Russell ganhou reputação como um dos maiores lógicos do século 20 e um dos fundadores da filosofia analítica.






Durante a Primeira Guerra Mundial, Russell dedicou-se ao ativismo político. Em conseqüência de seus protestos contra a guerra, foi expulso, em 1916, do Trinity College. Dois anos depois, foi condenado a cinco meses de prisão, onde escreveu "Introdução à Filosofia Matemática".






Em 1920 Russell viajou para a Rússia e a seguir foi para Pequim, onde viveu durante um ano como professor de filosofia. No ano seguinte casou-se com Dora Black, com quem teve dois filhos. Nessa época ganhou a vida escrevendo livros populares de ética, física e filosofia. Seus escritos para o grande público despertaram grande interesse.






Em 1927 fundou a escola experimental "Beacon Hill", junto com sua esposa. Com a morte de seu irmão, em 1931, Bertrand Russell tornou-se o terceiro Conde Russell, título que pouco usou. Tendo-se divorciado de Dora em 1935, casou-se no ano seguinte com uma estudante da Universidade de Oxford chamada Patrícia Spence, com quem teve um filho.






Mudou-se para os Estados Unidos em 1939, para lecionar na Universidade da Califórnia. Logo em seguida foi convidado a atuar como professor no City College de Nova York. Sua nomeação, no entanto, acabou sendo anulada, sob a alegação de improbidade moral, por suas opiniões radicais.






Em 1944 Russell retornou à Inglaterra, integrando novamente os quadros do Trinity College. No ano seguinte publicou sua extensa "História da Filosofia Ocidental". Cinco anos mais tarde, foi agraciado com a Ordem do Mérito e, em 1950, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura.






Em 1952 casou-se com Edith Finch, a quem conhecia desde 1925. Sua participação política tornou-se cada vez maior. Em 1958, iniciou uma campanha pelo desarmamento nuclear e, em 1962, atuou como mediador na crise dos mísseis, em Cuba, impedindo a deflagração de um conflito atômico. Com Albert Einstein e outros cientistas organizou o movimento "Pugwash", contra a proliferação de armas nucleares.






No final dos anos 1960 escreveu sua autobiografia, em três volumes. Morreu lúcido, aos 98 anos, na Gália, onde suas cinzas foram dispersas. <






Fonte: http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u211.jhtm





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12a. Parada Orgulho GLBT - São Paulo/2008










Foi hoje a 12a. Parada do Orgulho GLBT de São Paulo. A parada é sempre um grande festa para a maioria das pessoas - o que não é necessariamente ruim. Por outro lado, o caráter purpurinado que a parada vem ganhando pode acabar ofuscando o real sentido da concentração, que é o de protestar, exigir direitos, denunciar a homofobia, conscientizar a sociedade, despertar e pressionar as autoridades em torno do tema da cidadania plena de gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, transgêneros ou qualquer outra denominação que ainda se invente para tentar "classificar" a sexualidade humana, especialmente quando diferente da heterossexualidade "predominante". Coloco entre aspas de propósito, porque é muito questionável se aqueles que são, de fato, exclusivamente heterossexuais são maioria mesmo. Tudo indica que sejam muito mais numerosos os que são, em qualquer que seja a medida, bissexuais. Aliás, muitos bissexuais, por raríssimamente sentirem atração pelo mesmo gênero, declaram-se heterossexuais. Quem teve pouquíssimas relações com pessoa do mesmo gênero, e agora tem com o outro gênero, geralmente se declara heterossexual também. Então essa "maioria heterossexual" provavelmente é bem menos numerosa do que se pensa.






As paradas do orgulho gay, como são popularmente conhecidas e como eram chamadas à época de seu lançamento, foram uma resposta à violência e perseguição policial que culminou com um confronto violento ao redor do bar Stonewall Inn, em New York. Durante vários dias, policiais e homossexuais se enfrentaram. Aqueles homossexuais, cansados de serem coagidos simplesmente por serem gays, partiram para uma reação radical.






A partir de então, homossexuais de diversas cidades dos EUA começaram a se reunir e marchar para protestar contra a discriminação e a homofobia. Os homossexuais decidiram não se esconder mais. Pelo contrário, decidiram falar de sua homossexualidade com orgulho e coragem. O movimento ganhou o mundo inteiro, e hoje a parada de São Paulo é a que reúne mais gente no mundo todo, deixando os americanos em segundo lugar.






É importante que os homossexuais e simpatizantes compreendam a história do movimento gay, o que significa entender suas propostas e demandas, suas lutas e vitórias, identificar seus oponentes e perseguidores, bem como reconhecer aqueles que apoiam a cidadania plena, independentemente da orientação sexual - número que vem crescendo a cada ano, mas não sem a reação agressiva dos setores conservadores como as igrejas evangélicas, o Vaticano, e grupos extremistas (neo-nazistas, skiinheads, etc).






É lamentável que muito da energia dos participantes da parada gay desapareça quando o último carro de som para de tocar a última balada, ao final da parada. Isto não pode continuar assim. É de extrema importância que os GLBT sejam politicamente atuantes, críticos, articulados, resistentes às falácias religiosas, contribuindo diariamente, de diversas maneiras, para o engrandecimento da cidadania plena de todos os que trabalham pelo bem da sociedade. E são milhões os homossexuais que o fazem.






Minha singela contribuição passa por este blog, que procura estar sempre oxigenando as ideias dos que o visitam. Tomara que muitos que aqui chegam possam ir além do que aqui leram. Este é meu desejo. Um desejo entre tantos outros...










Parada gay leva milhões a pedir por mudanças no Brasil






Reuters/Brasil Online










Por Cláudia Fontoura










SÃO PAULO (Reuters) - Milhares de gays, lésbicas e transexuais fizeram festa neste domingo em São Paulo, a capital de negócios do Brasil, usando a maior parada gay do mundo para pedir o fim da discriminação e da violência homofóbica.






DJs tocaram dance music alojados em caminhões que percorreram de cima a baixo a principal avenida da cidade, toda ladeada por arranha-ceús, enquanto as pessoas na multidão compacta dançavam e celebravam no clima quente e ensolarado com perucas, máscaras ou fantasias, em um verdadeiro carnaval fora de época.






"Não sofro preconceito porque normalmente sou muito discreto, mas hoje estou vivendo o momento. Aqui no centro de São Paulo, hoje, todo mundo pode fazer o que gosta", disse Júnior Antenor, de 21 anos, usando uma fantasia de anjo, nas cores prata e branco.






Os organizadores esperavam reunir 3,4 milhões de pessoas. A polícia militar, no entanto, não quis fazer estimativas sobre o número de participantes. Alguns pequenos furtos foram registrados, mas até o início da noite não havia registro de nenhuma ocorrência grave no evento.






A Associação da Parada do Orgulho de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transexuais de São Paulo escolheu o lema "Homofobia mata! Por um Estado laico de fato" para a 12a. parada realizada desde que o evento anual começou em 1997, com escassas duas mil pessoas.






"Esta é a diversidade que o país quer, a diversidade que nós temos para crescer como um país buscando um nicho turístico entre a comunidade gay", disse a jornalistas a ministra do Turismo e ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, num dos trios elétricos que desfilaram.






Além de Marta estavam presentes os ministros da Desigualdade Social, Edson Santos, e dos Esportes, Orlando Silva, este último acompanhado da família.






As autoridades de São Paulo e a petrolífera brasileira Petrobras também apoiaram o evento, que se tornou uma grande fonte de recursos para a cidade e para o turismo no maior país da América Latina.






A Associação também apoia os planos da Federação de Comércio de São Paulo (Fecomércio) de certificar comerciantes e prestadores de serviços que respeitem diversidade de raça, origem étnica, diferenças físicas e orientação sexual.






Especialistas em pesquisas disseram no ano passado que os gays no Brasil têm renda acima da média da população e gastam mais em lazer, mas a Fecomércio diz que 40 por cento dos gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros sofrem discriminação como consumidores.






(Texto de Peter Murphy, com reportagem adicional de Stephanie Beasley) Fonte: www.extra.globo.com





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O Privilégio de Ser










Não existe coisa mais interessante, mas intrigante, mas atraente, mais cativante do que a VIDA! Ela é paradoxalmente prazer e dor - ou dor e prazer? - a ordem não importa. Processos incrivelmente complexos deram origem à vida. Mas, o conceito de vida é muito amplo e se aplica a muitos seres além do homem. Que bom!






Estive, porém, pensando no tanto que a vida esforça-se, desdobra-se, faz-se e desfaz-se até que cheguemos a ser quem somos. E que privilégio é SER!!! Sim, porque se pararmos para pensar, o ser é exceção. Existem muitos motivos para deixarmos de ser, e, contudo, somos. Desde a fecundação muita coisa concorreu contra nós. Pra começar, meus pais poderiam nunca ter se encontrado. Ou poderiam ter-se conhecido sem jamais terem se apaixonado. Ou terem se apaixonado, mas nem sequer terem transado, especialmente levando em conta o tempo em que eles se conheceram: mocinhas costumavam esperar até o casamento para ter a primeira transa. Além disso, o casamento poderia não ter acontecido... mas aconteceu. Meus pais poderiam não ter sido pais se, ao menos, um deles fosse estéril. Porém, os dois eram férteis. Em meio a tantas ejaculações que meu pai já tivera antes mesmo de casar (imagino quantas punhetas de adolescente ou jovem solteiro), aquela gozada específica, naquela noite específica, aproximadamente três meses depois do casamento deles, forneceu milhões de espermatozóides, dos quais apenas um foi escolhido. Eu disse escolhido, sim, mas não por razões místicas. Disse escolhido por razões totalmente biológicas. Segundo estudos recentes, o óvulo escolhe o espermatozóide que ele vai admitir dentro de si. E aquele espermatozóide felizardo foi juntar todo seu material genético ao do óvulo que acabara de acolhê-lo, gerando uma só célula - o zigoto, ou célula-ovo.






Pois bem, essa célula-ovo, seguindo um roteiro incrivelmente elaborado pelos cromossomos e seus componentes genéticos, foi desdobrando-se e multiplicando-se em bilhões de outras células, formando tecidos de toda espécie. Estes, por sua vez, geraram órgãos incrivelmente complexos, desde o cérebro até a pele e as cartilagens que revestem meu corpo. Esse feto afetado por numerosos procedimentos de auto-formação preparou-se criteriosamente para o dia D - o dia do seu nascimento.






No meu caso, o parto foi normal. Tive que enfrentar aquele canal apertado para chegar aqui fora. Se pudesse enxergar, diria que havia uma luz no fim do túnel, mas naquele momento tudo o que eu podia fazer era deixar rolar. Expulso do aconchego do útero, finalmente deparei-me com uma sala nada amistosa: a sala de parto. Ainda bem que encontrei dois peitos quentinhos e cheinhos para alimentar esse pequeno guerreiro depois de tanto esforço. Todavia, muitos desafios ainda aguardavam-me pela estrada da vida.






Quantas doenças infantis poderiam ter me atingido e prejudicado definitivamente, senão levado à morte. Todas foram superadas: algumas depois de contraídas, outras nunca experimentadas. O leite materno fez bem o seu papel; assim como a alimentação e o carinho que eu tive o privilégio de receber de pai, mãe, tia, avó, enfim um batalhão de gente que me amava sem que eu tivesse feito nada para merecer isso. Êta, garoto sortudo!






Desde que a gente chega do lado claro da vida (o útero é pura escuridão), já tem gente dizendo o que a gente vai ser quando crescer. As apostas vão de presidente da república até craque de futebol. Todo mundo quer dar palpite. A gente nem percebe, mas já vai internalizando tudo isso. E que merda pra se livrar disso depois. As pessoas ditam qual vai ser nosso time, em que escola estudar, quem vai ser convidado para nossas festinhas infantis, quando vamos começar a namorar, com quem vamos nos casar, quantos filhos vamos ter, e o cacete a quatro.






P.Q.P., deixem o moleque se ambientar. Deixem o garoto se descobrir, se criar, se refazer, se aventurar. Mas, não... Por fim, a gente passa a acreditar em tudo o que ouviu e no que ainda ouve a nosso próprio respeito. Pessoas que não têm a mínima ideia do que acontece dentro da gente ficam dando palpites alienígenas, invadindo o espaço alheio. Pior ainda é que ficam putos se a gente criar alguma resistência; querem anuência. Sai pra lá, jacaré!






Durante tempo demais, eu deixei o script criado por outros ao meu redor conduzir minha vida, só que eu mesmo não fazia parte do meu show. Estava enterrado sob tantas expectativas alheias e conceitos de normalidade arbitrariamente construídos por outros; regrinhas imbecis extraídas da superstição religiosa, etc. Fui com a correnteza. Cresci, namorei, casei, gerei dois filhos (lindos!!!!), estudei teologia, fui ordenado pastor, trabalhei como missionário, conselheiro, pastor de igreja, escritor evangélico, tradutor de livros cristãos, etc., etc., etc. Até que um dia aquele garotinho que tinha conseguido a façanha de nascer, crescer e desenvolver tantas habilidades pessoais - algumas nunca valorizadas pelos moralistas de plantão - decidiu dar a volta por cima; decidiu usufruir intensamente o privilégio de ser.






Decidi que já era hora de arriscar viver fora da bolha de plástico das superstições religiosas e dos preconceitos sociais. Saí do armário. Assumi que era gay - uma parte tão bonita de mim que havia tanto tempo vinha sendo negligenciada, empurrada para baixo, maquiada, mascarada, batizada, mas nunca extinta. Eu não tenho; eu não estou; eu SOU gay. A homossexualidade é parte integrante do meu ser, e era um privilégio que eu precisava desfrutar. Foi duro. Muita luta. Muito embate. Muita controvérsia. Mas é típico do SER o esforço para permanecer sendo. Então, forças vieram do subterrâneo, da mesma masmorra onde outrora meu SER mais íntimo havia sido mantido encarcerado. Mas valeu o esforço... Que gostoso poder ver o sol da liberdade em raios fúlgidos! Que delícia poder respirar o ar puro que só existe fora desse armário existencial.






Muita gente ficou perplexa. De que adiantou todo aquele condicionamento psicológico? De que adiantou toda aquela doutrinação religiosa? De que adiantaram todas aquelas ameaças terrenas e extraterrenas? Ou mesmo aquelas promessas pós-mundo? De que adiantou exaltar extraordinariamente uma orientação sexual (a heterossexual) em detrimento de todas as outras (especialmente, a homossexual)? Cadê o pastor? Cadê o marido? Cadê o pai de dois filhos?






Quanto ao pastor e ao marido, posso dizer que já foram tarde. Mas o pai continua aqui: orgulhoso dos dois filhos maravilhosos que tem; atencioso para com eles; sem pressão de qualquer espécie para serem assim ou assado, apenas indicando que a felicidade é construída, e orientando sempre para a autonomia.






Fico triste quando vejo outras pessoas que nunca passaram por toda essa perda de tempo que eu passei acreditando, lá pelas tantas na vida, que poderiam ser felizes se fizessem caminho semelhante ao que eu deixei. Só posso pensar que elas ainda não compreenderam o privilégio de ser quem são. Ainda não notaram como são especiais. Pensam que alguém possa ser especialista em vida de tal maneira que possa ditar-lhes regras capazes de fazê-las mais felizes. Ninguém precisa de nada que já não tenha. O problema é que as pessoas estão sempre com os olhos mais nos outros do que em si mesmas. Admiram mais a miséria alheia do que seu próprio êxito. A pequenez do outro parece maior do que minha mais singela grandeza.






Ora, que outras pessoas sejam maiores e melhores do que eu em muitos aspectos, eu não tenho dúvida. Que muitos outros sejam menores e piores, idem. E daí? Cada um pode desfrutar o privilégio de ser, independentemente de comparações. Então, eu simplesmente SOU. EU SOU O QUE SOU!!! E o que sou não precisa de licença e nem de desculpas. Esses medos e pequenos escrúpulos ficam bem para gente complexada. E complexado é sempre aquele que dá ouvidos aos juízos dos outros a respeito de si mesmo. Mas quem disse que o outro tem meios legítimos para dizer qualquer coisa a meu respeito? Se eu mesmo só me conheço em parte, e ainda estou construindo a mim mesmo em diversos aspectos, como pode a opinião do outro determinar quem sou ou quanto valho?






Se escrevo isso agora é porque ainda desfruto o privilégio de SER. E se sou, quero ser intensamente. Entre tantas outras coisas, sou gay. E sinto-me privilegiado por isso. Quisera que todos os gays do mundo inteiro pudessem sentir-se tão privilegiados como eu mesmo neste momento. Mas eu não tenho varinha de condão. Cada um terá que construir-se a si mesmo com o material que a própria natureza e a experiência lhe deram. SEJA com toda a capacidade do seu SER, porque nenhum de nós será para sempre, não nesta mesma configuração. A qualquer momento, poderemos ser pó, e de pó vir a ser outra coisa qualquer no esquema natural das coisas, mas ainda desfrutamos o privilégio deste momento único em que somos como somos, então sejamos!!!






Lembre-se: Você é possível!!!






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ONGs GLBT do Brasil






Para fazer contatos com ONGs GLBT do Brasil, visite o site do Grupo Arco-Íris e faça sua busca. O link é o seguinte: http://www.arco-iris.org.br/_prt/dicas/c_dica_enderecos_ong.php






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Discurso estúpido (de um juiz...pasmem!) e uma história de resistência










"Ora, a desgraça humana começou no Éden: por causa da mulher, todos nós sabemos, mas também em virtude da ingenuidade, da tolice e da fragilidade emocional do homem (…) O mundo é masculino! A ideia que temos de Deus é masculina! Jesus foi homem! Para não se ver eventualmente envolvido nas armadilhas dessa lei absurda, o homem terá de se manter tolo, mole, no sentido de se ver na contingência de ter de ceder facilmente às pressões. A vingar esse conjunto de regras diabólicas, a família estará em perigo, como inclusive já está: desfacelada, os filhos sem regras, porque sem pais; o homem subjugado."






Estas são palavras do juiz Edilson Rodrigues, de Minas Gerais, que considerou a Lei Maria da Penha inconstitucional. A lei é contra violência doméstica, completou um ano em 2007 e, embora possa ser alvo de críticas, entrou em vigor para recrudescer a punição de homens que cometem violência contra as mulheres. Já o juiz considerou a lei um conjunto de regras ‘diabólicas’, afirmou que o ‘mundo é masculino’ e disse na sentença que ‘a desgraça humana começou por causa da mulher’. Com esses argumentos, ele rejeitou os pedidos de medidas contra homens que agrediram e ameaçaram suas mulheres. Foi o jornal A Folha de São Paulo que trasncreveu as palavras do juiz.






VIVA A EMANCIPAÇÃO DA MULHER






Veja abaixo algumas das lésbicas mais ilustres de todos os tempos:










580 A.C - A poetisa Safo funda uma escola só para mulheres na ilha grega de Lesbos. Ensina arte, música e poesia. Seus poemas líricos são dedicados às suas alunas e são repletos de declarações de amor, paixão e alusões ao ato sexual. A fama dessa habitante de Lesbos fez com que a palavra "lésbica" fosse criada, mais tarde, para designar a mulher que ama outra mulher.






400 A.C - A filósofa Filênis, também de Lesbos, escreve uma espécie de kama-sutra lésbico, ilustrado e em versos.






60 D.C - A guerreira celta Boadicea luta contra os invasores romanos para defender seu povo. Vestindo uma armadura e conduzindo uma biga, tornou-se uma das grandes heroínas da história inglesa.






1431 - Joana D'Arc é queimada na fogueira não por traição ou heresia, mas - dizem - por recusar-se a vestir roupas femininas.






1576 - As portuguesas Isabel Antonia e Francisca Luis são condenadas ao degredo e mandadas ao Brasil, por prática de lesbianismo.






1592 - As brasileiras Felipa de Souza e Paula Sequeira são condenadas por lesbianismo pelo Santo Ofício durante a primeira visitação da Inquisição portuguesa ao Brasil.






1600 - Nzingha, rainha africana de Matamba alia-se aos holandeses para lutar contra os portugueses em Angola. Lidera a guerrilha por 18 anos e só depois de sua morte, Angola torna-se finalmente uma colônia de Portugal.






1649 - Mary Hammon e Goodwife Norman são acusadas de lesbianismo no estado de Massachussets. Norman, acredita-se, foi a primeira mulher a ser condenada por esse ato nos Estados Unidos.






1654 - A Rainha Christina da Suécia, abdica do trono após ter recusado um casamento por conveniência. Fica livre para viver sua vida com a camareira, Ebba Saprre.






1710 - As piratas lésbicas Anne Bonny e Mary Read encontram-se no porto de New Providence, nos Estados Unidos, e iniciam um romance cheio de aventuras, saqueando navios até serem capturadas na Jamaica, onde foram sentenciadas à prisão.






1792 - Nasce na Bahia Maria Quitéria, moça valente que vestiu-se de homem para lutar pela independência do Brasil.






1810 - As professoras Marianne Woods e Jane Pirie são acusadas por uma aluna de uma internato por conduta imoral e criminosa. 120 anos depois a escritora Lillian Helmann inspira-se nesse caso para escrever a peça "The Children's Hour".






1822 - A Imperatriz Leopoldina assina a carta de Independência do Brasil, depois proclamada por D. Pedro. Leopoldina, dizem, manteve um caso amoroso com a governanta de seus filhos a escritora e viajante inglesa Maria Graham.






1876 - Nasce Natalie Barney, anfitriã de um dos salões de maior sucesso em Paris durante toda a primeira metade do século XX. Lésbica auto-proclamada, escreveu ensaios em defesa do lesbianismo e inspirou personagens lésbicos de Djuna Barnes, Colette, Radclyffe Hall, Compton McKenzie e Marcel Proust.






1886 - Nasce Ma Rainey, a mãe do blues, que foi amante de Bessie Smith e mais umas tantas mulheres. Ma apresentava-se vestida de homem e alardeava seu próprio lesbianismo, escrevendo canções safadas e divertidas.






1890 - A chinesa Jiu Jin, que costumava chamar-se a si mesma de Qinxiong (que quer dizer "a que compete com os homens") é acusada de traição pelo governo de Manchu. Ela incomodava os poderosos por vestir-se de homem e por seus poemas e atitudes feministas.






1904 - Renée Vivien publica seu livro "A Woman Appeared to Me", um relato auto-biográfico de seu romance com a musa Natalie Barney.






1920 - Vita Sackville-West, escritora inglesa rompe seu turbulento romance com Violet Trefusis, affair que escandalizou a sociedade inglesa, e retoma seu casamento com Harold Nicholson, gay. Ela continua a ter casos com mulheres, mas procura ser mais discreta.






1923 - Emma Goldman é declarada "a mulher mais perigosa da América" pelo FBI por sua defesa dos direitos iguais para mulheres e gays.






1928 - São publicados os livros "O Poço da Solidão", de Radclyffe Hall, "Ladies Almanack", de Djuna Barnes e "Orlando", de Virginia Woolf. Os dois primeiros livros falam abertamente de lesbianismo e o terceiro conta a história de Orlando, um homem que através dos tempos torna-se mulher. As três escritoras eram lésbicas.






1929 - Marguerite Yourcenar, escritora francesa e lésbica, publica "Alexis", um relato fictício de um jovem que se descobre homossexual.










1930 - Isaura do Céu, estudante brasileira se apaixona por sua vizinha, Dona Laura. O marido desta última representa um empecilho ao romance e elas resolvem assassiná-lo. As duas são presas.






1932 - A escritora Anaïs Nin inicia um triângulo amoroso com Henry Miller e sua amante, June. O romance, anotado em seu diário, é transformado no livro "Henry e June", publicado no ano de 1986.






1943 - A sargenta Johnnie Phelps recusa-se a demitir lésbicas de seu batalhão a pedido do presidente Eisenhower. Responde ao presidente que, se tiver que dispensar as homossexuais, ficaria sem nenhum efetivo...Eisenhower retira a ordem e as lésbicas continuam a servir o exército americano.






1948 - A escritora americana Jane Bowles - judia - inicia seu romance com a marroquina Cherifa - muçulmana - no mesmo ano da criação do estado de Israel. Sinal de que o amor lésbico ultrapassa culturas e religiões.






1951 - Elizabeth Bishop, poeta americana desembarca no Brasil e alguns meses depois inicia seu romance com a arquiteta brasileira Lota Macedo Soares.






1955 - As "Filhas de Bilitis", primeira organização lésbica do mundo, é fundada em San Francisco, Califórnia.






1967 - Jane Joplin, cantora, no auge do movimento hippie declara ser bissexual. O amor livre é um conceito que se espalha pelos quatro cantos do planeta.






1973 - Um grupo de dez lésbicas feministas fundam nos Estados Unidos uma gravadora, a Olivia Records, para lançar apenas discos de mulheres e lésbicas. Organizam um festival anual de música, apenas com mulheres, que torna-se um sucesso estrondoso.






1977 - A reverenda Ellen Barrett é a primeira lésbica assumida a ser ordenada pela Igreja Episcopal, nos Estados Unidos.






1978 - Gal Costa ao lançar o seu disco Caras & Bocas, diz em entrevista que já dormiu com homens e mulheres.






1979 - É fundado o primeiro Grupo Lésbico do Brasil, o LF (Lésbico-Feminista).






1980 - Angela RôRô lança seu primeiro disco, que atinge os primeiros lugares nas paradas de sucesso. Lésbica assumida, Rôrô torna-se ícone da sapataria nacional.






1983 - A cantora Marina Lima assume sua bissexualidade em entrevista à revista Slogan, de Salvador.






1988 - A novela "Vale Tudo", de Gilberto Braga, mostra pela primeira vez numa novela brasileira um casal de lésbicas. A novela coloca em discussão a questão do direito de herança do parceiro homossexual quando uma delas morre logo no início da trama.






1992 - A coronel Margarethe Cammermeyer, do exército americano, é demitida depois de admitir ser lésbica. O caso inspirou um filme para a TV com Glenn Close no papel principal.






1993 - A cantora canadense k.d.Lang sai do armário depois de se dizer cansada das fofocas a seu respeito.






1994 - A tenista Martina Navratilova, a melhor tenista de todos os tempos, retira-se das quadras. Lésbica assumidíssima, passa a batalhar pelos direitos dos gays e lésbicas.






1997 - A atriz Ellen DeGeneres sai do armário juntamente com sua personagem Ellen Morgan. Ellen torna-se a primeira sit-com americana com uma protagonista assumidamente lésbica. Um ano depois, a série é tirada do ar por pressão dos patrocinadores, segundo Degeneres.






1998 - A novela "Torre de Babel" apresenta pela primeira vez na TV brasileira um casal de lésbicas feliz e sem problemas. Devido às pressões das pesquisas junto à audiência, a direção da emissora resolve eliminar o casal de pombinhas matando-as durante um incêndio num shopping.






1999 - A cantora brasileira Cássia Eller sai do armário e diz, durante as gravações do acústico MTV de Rita Lee que ela é espada!






2000 - A cantora americana Melissa Etheridge anuncia que ela e sua esposa tiveram um filho graças ao esperma doado pelo roqueiro Crosby, da banda Crosby, Stills, Nash & Young que foram sucesso nos anos 60/70.










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Entusiasmo e teimosia










Às vezes a vida só parece viável com uma boa dose de entusiasmo e teimosia. Não adianta ficar procurando significado para a vida "em si" - tudo o que encontrarmos terá sido colocado lá por nós mesmos. Alguns acreditam que a vida tenha um propósito divino. Bem, tanto o divino como o propósito não passam de conjecturas da imaginação humana. E, além disso, se a vida precisa de um propósito além de si mesma, então ela já não tem significado "em si". Outros acreditam que a vida não tenha valor algum. Estes encontram-se no outro extremo da mesma corda, uma vez que o pressuposto é o mesmo, apesar da conclusão ser diferente: a vida não tem significado "em si", portanto não vale a pena ser vivida. Entretanto, a maioria deles vive o suficiente para dizer isso muitas vezes durante muitos anos. Contraditório - para dizer o mínimo.






Eu, pessoalmente, prefiro pensar que a vida vale a pena, mesmo não tendo outro sentido, senão aquele que lhe damos. E aí só posso ver duas coisas como viabilizadoras da própria vida: o entusiasmo e a teimosia.






Por entusiasmo quero dizer aquele sentimento de sentir-se possuído por uma alegria que se manifeste em tudo o que se faz. Por exemplo, eu não consigo me pensar em sala de aula sem entusiasmo. Não consigo me imaginar durante uma hora e meia com cada grupo sem estar totalmente tomado por uma certa euforia, mesmo que nem sempre barulhenta. Muitos dos meus alunos dizem que não entendem como eu posso ser uma pessoa tão de bem com a vida por tanto tempo durante cada dia. Uma aluna minha dizia, rindo: "Professor, você é uma pessoa feliz! Eu acho que você é a pessoa mais feliz que eu conheço. Me conta de onde você tira tanta alegria?" Eu ria e dizia: "Sei lá... Acho que não sei ser de outro jeito."






Esse entusiasmo não se manifesta claramente a cada minuto durante todo um dia, é claro. Eu não estava nada entusiasmado no enterro da minha avó, por exemplo. Mas ele acaba "sanduichando" os raros momentos de tristeza que preciso enfrentar numa semana ou noutra. É com entusiasmo que eu procuro trabalhar, estudar, estar com meus filhos, realizar meus projetos pessoais, amar meu parceiro, etc. Se existe alguma racionalidade nisso, só pode ser a de sentir-me privilegiado por estar vivo, mentalmente saudável e fisicamente apto para as atividades do dia-a-dia. Entusiasmo aqui não merece louros olímpicos, pois há outros em situação extremamente mais complicada que são apaixonados pela vida. Entretanto, tem gente em situação melhor - e muito melhor - que a minha que não se entusiasma por coisa alguma.






A outra asa que faz esse aeroplano chamado vida voar é, na minha opinião, a teimosia. Tem gente que gosta de usar a palavra perseverança. Mas perseverança traz aquele odor religioso. Parece um sacrifício que faço em nome de outro - tipo: "preciso atingir o objetivo proposto, caso contrário não serei aprovado." Prefiro a palavra teimosia neste caso, porque ela parte totalmente de dentro. Com oposição ou com apoio externos, eu farei aquilo que decidi, porque é o que desejo... não porque devo fidelidade a esta ou àquela entidade "humana" ou "divina".






A teimosia só não pode ser burra. Quem teima no erro, é burro. Burrice eu dispenso. Admiro a teimosia dos inteligentes; dos gênios. Aqueles caras que tinham todos os motivos exteriores para desistirem de suas ideias ou objetivos, mas teimaram em seguir adiante e, não só venceram, mas acabaram contribuindo para melhorar a qualidade de vida de muita gente, porque estavam à frente de seus pares. Diversos cientistas se encaixam nesse padrão, só para registro.






Sou teimoso, sim. Teimo em realizar o que desejo. Teimo em manter um estilo de vida saudável. Teimo em fazer exercícios para a manutenção do corpo e da mente. Teimo em estudar e aprender cada vez mais. Teimo em expressar minhas idéias. Teimo em desejar dias melhores. E por quê digo "teimo"?






Digo "teimo", porque não é fácil realizar o que se deseja, principalmente quando isso envolve dinheiro próprio ou cooperação de terceiros. Digo "teimo", porque não é fácil manter um estilo de vida saudável; é sempre mais fácil se envenenar paulatinamente com certos tipos de comida ou de bebida. Digo "teimo", porque não é fácil me vestir quase todos os dias para ir à academia malhar, suar, cansar, mesmo sabendo dos benefícios que os exercícios sistemáticos promovem no organismo. Digo "teimo", porque não é fácil e nem barato continuar estudando sempre. Digo "teimo", porque cada vez que expresso minhas ideias atraio alguns simpatizantes, muitos antipatizantes e, em número ainda maior, aqueles que jamais emitem sequer um ruído que possa revelar o que pensam. Digo "teimo", porque ninguém me garante que haverá dias melhores, de fato - só resta um desejo teimoso de que a velhice e a morte venham em missão de paz - sem dor.






Diante de tantos desafios, decepções, dores, frustrações... só me resta a teimosia. Diante de tanta beleza, cores, odores, sabores, amores... só me resta o entusiasmo. Então, eu posso dizer que sou entusiasticamente teimoso ou teimosamente entusiasta, porque o melhor de tudo mesmo é o fato de que estou VIVO (e vivendo sem dor causada por algum mal crônico). E quero viver de tal maneira que quando essa fantástica máquina vivente chamada corpo-mente parar de funcionar, eu não tenha deixado de viver cada minuto da maneira mais intensa possível, mesmo aqueles momentos em que eu estou apenas descansando.






Alguém pode dizer que depois de morto, isso não fará a menor diferença. E eu concordo! Mas faz diferença agora. Entre ser feliz e infeliz, é óbvio que eu prefiro ser feliz. O dia de hoje é o que conta. E quando penso nessa coisa que chamamos de futuro, penso apenas num "hoje" que se renova. Ser feliz faz diferença em cada "hoje" que acontece... até que não haja mais "hoje" pra mim. Mas até lá, a vida pode ser laboratório para grandes experiências.






Haveria lugar onde o entusiasmo e a teimosia fossem mais necessários do que num laboratório? Cada um de nós vive por ensaio e erro, ou seja, tenta uma coisa, depois tenta outra, até encontrar o resultado desejado. A felicidade tem alguma semelhança com o trabalho do cientista - ela não vem com manual de instruções. Invente a sua! Só você pode fazer você mesmo feliz. Tudo e todos ao seu redor serão melhores ou piores dependendo de quão feliz você seja.










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Minha avó está morrendo...


15/02/2008










Natal de 2006, minha avó ainda bem saudável. Eu colocando chifrinho nela, e ela se acabando de rir. Um ano depois, essa alegria deu lugar à tristeza e ao esgotamento orgânico.






Depois de uma vida inteira dedicada aos filhos, netos e há quase 16 anos, bisnetos, minha avó finalmente chega ao limite de sua existência. Aos 88 anos de idade, ela descobre que tem um câncer que está avançando sobre seu estômago, duodeno e fígado. Os médicos operaram somente para descobrir que o quadro era pior do que o imaginado. Três horas de cirurgia, e eles fecharam tudo de novo. Se fossem tentar extrair a parte cancerosa de cada um desses órgãos, isso levaria 12 horas no mínimo, e ela não resistiria. Apenas "desligaram" o estômago, na tentativa de dar-lhe mais tempo de vida com alguma qualidade. Mas, não tem jeito. Quando a gente chega ao limite, só tem uma opção: aceitar o fato.






Minha avó está novamente internada. Não consegue comer. Não consegue beber. Sente dor. O que fazer? Continuar usando os poderes da química farmacológica para manter a máquina funcionando, mesmo que precariamente? Ou deixar a natureza tomar seu curso?






Todos nós queremos que ela viva - irmãs, filhos, netos, bisnetos. Mas ninguém pode fazer mágica. É o fim da linha.






Fui visitá-la anteontem novamente. Pensei que ela não fosse mais me reconhecer, dado o estado terminal em que ela está subsistindo. Fui surpreendido pela mente fantástica dessa mulher indomável. Ela reconheceu. Disse meu nome com uma vozinha fraca, mas compreensível. Pegou minha mão. Beijou-a. Eu já estava fazendo carinho em seu cabelo, já a havia beijado quando cheguei, antes mesmo de perguntar se ela me reconhecia. Continuei acarinhando. De vez em quando, mais um beijinho na testa. Disse várias vezes: "Sabe que eu te amo, minha véia querida?" Ela sorria bem fraquinho.






Depois de um tempo ali, contando vagarosamente algumas novidades que poderiam deixá-la feliz, eu achei melhor fazer uma coisa que pouca gente tem coragem de fazer quando alguém está morrendo: falei sobre a morte.






Mas não usei a palavra morte, contra a qual nós, mortais (qualidade que vem de morte), nos arrepiamos. Falei simplesmente que a hora de adormecer estava chegando. Disse à minha amada avó e melhor amiga o seguinte:






"Minha avó querida, eu sei que a senhora está sofrendo muito. Mas o momento de adormecer está chegando. Eu queria que a senhora continuasse desperta por muitos anos e cheia de saúde. Mas é melhor adormecer do que sofrer sem resultado. Este é um sono sem pesadelos; sem sofrimento. Sabe minha "veinha" querida, a senhora está aqui, igualzinho a um passarinho ferido (ela me respondeu bem baixinho: "é... com a asa quebrada..."), mas eu não quero que a senhora sofra. Quando chegar a hora de adormecer, durma sem medo. Não tenha medo de nada. Se a senhora está preocupada em saber se foi boa o suficiente (ela é católica), eu quero que saiba que foi a melhor de todas as pessoas que eu já conheci. Não há o que temer. Hoje eu estou aqui, e a senhora está aí na cama. Amanhã, eu poderei estar na cama, e meus filhos aqui. Se eu pudesse eu faria uma mágica... faria o tempo voltar vinte anos para a senhora. Mas eu não posso fazer essa mágica nem pra mim. Eu também estou nessa esteira rolante que não pára. Essa coisa que a gente chama de vida. E o tempo não para. Vó, eu vou ter que ir embora daqui a pouco, mas se a senhora adormecer antes que eu possa vê-la de novo, eu quero que saiba que eu te amo; sempre vou te amar. Só quero ter certeza de que a senhora durma em paz."






Ela - demonstrando que havia entendido tudo - respondeu: "Vai em paz também".






Eu beijei-lhe a testa de novo. Ela beijou-me a mão. E eu saí.






Essa conversa aconteceu depois que ela já havia vomitado sete vezes, só enquanto eu estava lá - sem contar o tempo antes de eu chegar. Mais uma vez, eu cheguei à conclusão de que morrer sem passar por tudo isso é muito mais digno. Minha avó não merece continuar sofrendo. Espero que ela "adormeça" em paz o mais rápido possível. E desejo a mesma coisa pra mim quando chegar o momento de desligar os "geradores" da minha própria existência.






Pensando sobre esse tema, andei vasculhando a internet. E olha o texto super tocante que eu encontrei do Rubem Alves. Vale a pena ler o que ele escreveu. Veja logo a seguir:






Sobre a morte e o morrer






O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de


um ser humano? O que e quem a define?






Rubem Alves










Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...






Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?". Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore, que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.






Cecília Meireles sentia algo parecido: "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto...”






Da. Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. "Minha filha, sei que minha hora está chegando... Mas, que pena! A vida é tão boa...”






Mas tenho muito medo do morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo; solidão, ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo de que a passagem seja demorada. Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza.






Mas a medicina não entende. Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho. As dores eram terríveis. Era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai. Dirigiu-se, então, ao médico: "O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos, para que meu pai não sofra?". O médico olhou-o com olhar severo e disse: "O senhor está sugerindo que eu pratique a eutanásia?".






Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum. Seu velho pai morreu sofrendo uma dor inútil. Qual foi o ganho humano? Que eu saiba, apenas a consciência apaziguada do médico, que dormiu em paz por haver feito aquilo que o costume mandava; costume a que freqüentemente se dá o nome de ética.






Um outro velhinho querido, 92 anos, cego, surdo, todos os esfíncteres sem controle, numa cama -de repente um acontecimento feliz! O coração parou. Ah, com certeza fora o seu anjo da guarda, que assim punha um fim à sua miséria! Mas o médico, movido pelos automatismos costumeiros, apressou-se a cumprir seu dever: debruçou-se sobre o velhinho e o fez respirar de novo. Sofreu inutilmente por mais dois dias antes de tocar de novo o acorde final.






Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue. Eu também, da minha forma, luto pela vida. A literatura tem o poder de ressuscitar os mortos. Aprendi com Albert Schweitzer que a "reverência pela vida" é o supremo princípio ético do amor. Mas o que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezagues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?






Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia.






Muitos dos chamados "recursos heróicos" para manter vivo um paciente são, do meu ponto de vista, uma violência ao princípio da "reverência pela vida". Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida está fazendo, eles a ouviriam dizer: "Liberta-me".






Comovi-me com o drama do jovem francês Vincent Humbert, de 22 anos, há três anos cego, surdo, mudo, tetraplégico, vítima de um acidente automobilístico. Comunicava-se por meio do único dedo que podia movimentar. E foi assim que escreveu um livro em que dizia: "Morri em 24 de setembro de 2000. Desde aquele dia, eu não vivo. Fazem-me viver. Para quem, para que, eu não sei...". Implorava que lhe dessem o direito de morrer. Como as autoridades, movidas pelo costume e pelas leis, se recusassem, sua mãe realizou seu desejo. A morte o libertou do sofrimento.






Dizem as escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a "morienterapia", o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a "Pietà" de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo.










Texto publicado no jornal “Folha de São Paulo”, Caderno “Sinapse” do dia 12-10-03. fls 3.






Fonte: http://www.releituras.com/rubemalves_morte.asp






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Farewell

20/02/2008



O que eu já esperava - e até desejava devido ao sofrimento dela - aconteceu na tarde de segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008: Minha avó morreu. Ela foi sepultada no cemitério de Inhaúma, no jazigo perpétuo da família, ao lado de seu amado e único esposo (meu avô João), 35 anos depois. Foram momentos emocionantes, tristes e significativos ao mesmo tempo. Muita gente foi ao sepultamento ontem (19/02/08). Chorei pela saudade. Consolei-me pela cessação do sofrimento dela.



"Farewell" é uma maneira de dizer "goodbye" em inglês, que inclui a expectativa de não ver mais a pessoa.



Esta pode ser considerada minha "farewell message" para minha avó. Ela já ouviu isso milhares de vezes da minha própria boca, em cartões, com flores, com presentes, mas hoje só vocês podem ler o que estou escrevendo. E mesmo assim, faço questão de repetir: Obrigado por tudo, minha melhor amiga de todos os tempos!





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A Controvérsia da Normalidade







Qual dessas fotos representa você?





Eu sempre digo que adoro ler os comentários dos meus leitores. Alguns me incentivam, outros me divertem, e ainda tem uns que me inspiram. Foi o que acabou de acontecer. Estava lendo um comentário do Léo (referente ao post "Homenagem a Heath Ledger" - comentário feito em 30/01/08). O cara simplesmente toca num dos calcanhares de Aquiles de uma grande parte dos gays atuais - o medo de serem associados às "desprezíveis" bichinhas - como pensam os machistas. O comentário que ele fez desencadeou uma série de pensamentos-relâmpago em minha mente... geralmente inquieta.



A questão é a seguinte: Existem muitos homossexuais que têm medo de sair do armário. Ponto pacífico. Outros continuam no armário, porque acham conveniente às suas profissões, convivência familiar, etc. O medo ainda é a base dessa opção. Há muito medo de ser rejeitado, rotulado, observado, vituperado, etc. Mas, havemos que respeitar a decisão daqueles que optam por continuar do lado de dentro do armário. Só que não existem apenas dois tipos de homossexual: os que estão dentro e os que já saíram. A coisa é bem mais complexa.



O que quero dizer é que existem homossexuais que são assumidos, mas encaram a homossexualidade seguindo aquele conselho das cervejarias pressionadas pela agência reguladora de propaganda e pelo governo federal: "Beba com moderação". Eles fazem o mesmo. Querem ser vistos como homossexuais "moderados", o tipo "bem moldado", "comportado", "social e politicamente correto", etc. O problema é que todos esses rótulos se baseiam em estereótipos ditados pela "heterossexualidade militante" - aquela que sempre diz alguma coisa machista, começando com a bolorenta frase "homem que é homem...", e depois encaixa tudo o que lhe interessa. Tipo: "Homem que é homem não desmunheca", "homem que é homem não fala macio", "homem que é homem não ri demais", "homem que é homem não chora", "homem que é homem anda largado", "homem que é homem senta de perna aberta", "homem que é homem coça o saco", "homem que é homem fala palavrão", "homem que é homem não usa rosa", etc., etc., etc. Cansou? Eu também. Eu cansei de ouvir isso a vida inteira, vindo de pai, mãe, tia, avó, tio, primo, colega, enfim, todo o "esquadrão da vigilância masculina".



Mas sabe qual é o maior problema? É que muitos homossexuais ouviram isso por tanto tempo na vida que já acreditam ser verdade. Para aqueles que continuam respirando com dificuldade nos armários de suas próprias vidas, isso não é novidade. Eles têm que ser bons artistas, caso contrário nem precisariam sair do armário. O armário mesmo despencaria com o olhar do próximo, muito atento a qualquer escorregão do viado.



O grande problema, então, é com aqueles que já saíram do armário. Aqueles que até freqüentam locais e eventos voltados para o público GLBTS. Aqueles que fazem parte, inclusive, de comunidades gays no orkut e outros sites do tipo. Mas, volto a lembrar que me refiro àqueles gays que mesmo tendo esse nível de autenticidade, ainda caem na "tentação" de quererem agir tão parecido com os heterossexuais quanto possível. Não que haja algo errado em ser "naturalmente" masculino. Há gays que simplesmente não possuem qualquer traço diferencial no comportamento, no modo de vestir, nos gostos por isso ou aquilo dos "mundos" masculino e feminino. E alguns deles são assumidíssimos! Ganham cantada de mulher o tempo todo e não têm medo de dizer que tem namoradO, maridO, parceirO. Até aí tudo bem. Agora, quando o homossexual só consegue agir assim sob o peso de grandes esforços, ou quando age assim tranquilamente mas recrimina o que age de modo mais "afetado", surge o problema.



E sabe qual é o problema? É querer ser ou parecer "normal".



Qual é o problema de ser diferente? Qual é o problema de desmunhecar, de falar macio, de não gostar de futebol, de adorar as coleções da Barbie, de ouvir "Macho, Macho Men", ou "I'll Survive", ou "It's raining men" em som tão alto quanto o de qualquer pagodeiro da vizinhança no seu churrasquinho de domingo? É lógico que gays têm gostos musicais tão variados quanto os de quaisquer outros mortais. Mas que não tem gente para gostar tanto de divas dos anos 70 e 80 quanto os gays, isso não tem mesmo!



Muitos homossexuais desprezam os "afetados", os gays passivos, os transgêneros, os transformistas, os travestis, as lésbicas (especialmente as ativas), etc. Isso já denota a escravidão mental exercida pelo modelo heterossexual machista ainda vigente em muitos aspectos. Por que é que o homem gay não pode ser mais feminino em seu comportamento e a mulher gay não pode ser mais masculina em seu estilo? Não que isso seja NECESSÁRIO, mas por quê deveria ser visto como INDESEJÁVEL? Eu acho até muito bom que existam essas variações de comportamento, porque isso subverte esse sistema de pensamento que acredita que o comportamento humano é dividido entre aquilo que é do macho e aquilo que é da fêmea, como se o gênero (masculino/feminino) fosse o indiscutível "divisor de águas" no que se refere ao comportamento do homo sapiens. Mas, infelizmente, é isso que define - na cabeça dessa gente - o que é "normal". Bem disse Pepeu Gomes: "Se Deus é menino e menina, sou o masculino feminino..." Não tem crise, e olha que - até onde se sabe - o cara não é gay.



Mas quão seguro e confiável é esse conceito de "normalidade" que o homem inventou para servir como referencial, e que acabou se tornando sua própria armadilha de urso? (ai... como dói!)



Tem gay votando em candidato homofóbico, ao invés de simpatizante. Que mania mais doentia de tentar se diferenciar de outros gays pela sórdida via da homofobia (também auto-homofobia, nesse caso). A gente tem que ver além de qualquer estereótipo se quiser ser, no mínimo, justo - para não dizer inteligente.



O que você diria se eu alegasse que não é normal uma mulher saber ler e escrever? Ou que não é normal uma mulher trabalhar fora? Ou que não é normal uma mulher dar sua opinião numa discussão em que os homens estejam expondo suas ideias? Ou que não é normal uma mulher votar?



A lista poderia ser acrescida de muitas outras coisas.



Todas essas coisas eram consideradas "anormais" e reprováveis pouquíssimos anos atrás. Imagine se as mulheres tivessem sucumbido à hercúlea pressão que o "mundo machista" exercia sobre elas, usando a desculpa da "normalidade"?



Provavelmente o que falta a diversos homossexuais seja exatamente o brio, o orgulho de serem quem são. Simplesmente. Ser o que se é - será que é tão difícil assim? Respeitar o modo de ser do outro - será muito?



É muito engraçado como o machismo mofa as relações entre quatro paredes. Tem “viado” doido pra dar a bunda, mas fica com vergonha do que o outro vai pensar. "Talvez ele pense que sou apenas uma bichinha passiva" - pensam muitos gays (passivos!!!) ainda hoje. Besteira!!! É possível que o “’viado” que mais banca o ativo seja aquele que mais tem desejo de ser passivo na relação; mas nem se dá a chance de "correr esse risco" e vai logo pegando o outro por trás para não deixar dúvidas quanto à sua preferência (ativíssima!!!).



É tragicômico ver o número de gays que não assumem que são passivos quando alguma drag queen sacana provoca a plateia: "Cadê o grito das passivas?" - ela berra. Meia dúzia responde timidamente: "UUUU". Ela provoca de novo: "Cadê o grito das ativas?" Surpreendentemente, somente alguns respondem: "UUUU". A boate está cheia e são pouquíssimas as passivas e as ativas?!?! Como assim? Será que a maioria ali dentro é de heterossexuais? Lógico que não! Sabe o que isso demonstra? É que a maioria não tem coragem de assumir os próprios desejos. E por quê? Porque "homem que é homem não dá o cu" - dizem os machistas de plantão, do berçário ao túmulo. E a “bicha” passa a vida inteira se sentindo diminuída porque gosta de dar, mas não tem coragem de assumir isso do topo de sua mais alta dignidade. Ou acha que para dar a bunda tem que colocar peruca. kkkk É pra rir mesmo. Já vi gente que exibia tanta testosterona que dava medo só de encarar, e na hora do vamos-ver me deu as costas - buniiitaaa!!! E daí? O cara deixa de ser homem só porque deseja preencher esse generoso buraco negro? kkkk



Mas não pensem os precipitados que estou indo contra meu próprio discurso, uma vez que, no exemplo acima, eu fui ativo. Alguém pode pensar: "Ah, ele fala que vale tudo, mas quando deu um exemplo pessoal, contou logo um em que ele comeu alguém."



Ahahahaha... Como são bobinhos esses meus precipitados leitores, intérpretes do inexistente... ahahaha...







Eu já passei por situação diferente também. Lógico. Já me aconteceu de ir para cama com alguém que, para ser mulher, só precisava de xereca. Eu pensando que ia pegar de tudo que era jeito, mas quando chegou lá, o “viado” me disse que só fazia a ativa - podia ser verdade ou podia ser apenas aquele medinho de que eu falei logo no começo desse post, não importa. O que importa é que eu dei e não tomei de volta... ahahahaha



Agora, pra ser totalmente sincero no meu depoimento pessoal aqui, eu preciso dizer que não conseguiria viver muito satisfeito se casasse com alguém que quisesse ser ativo o tempo todo comigo, ou a maior parte do tempo. Isso eu não escondo. É uma questão de preferência mesmo. Deve acontecer a mesma coisa ao inverso com outras pessoas. Tudo bem. Mas daí a dizer que eu nunca dei ou que nunca darei de novo... ahahahaha... me poupe!!! Eu sou maior do que meu cu e do que meu pau. Estou para além de qualquer restrição desse tipo. Mas isso não quer dizer que não tenha preferências estas ou aquelas... preferências, sim; camisas-de-força para o desejo, não. Essas preferências podem ser encaradas apenas como desejos que se repetem mais vezes do que outros, e, por isso, são satisfeitos mais frequentemente do que outros.



Alguém pode dizer: "Ih, igualzinho a mim... 'Total Flex'!!!" E, de novo, os machistas dizem: "Ah, esses caras "bipolares" na cama dizem que fazem as duas linhas só para não serem tachados de 'passivo' ou coisa assim". De novo, o preconceito contra o passivo. O que é que tem se o “viado” é "total flex"? Deixa o cara explorar seu potencial plenamente. Por que não? Será que é inveja das ativas que não costumam dar a bunda, mas se ressentem disso? Ou será que ela é passiva e fica recalcada por saber que corre o risco de estar dando para outra passiva? - uma que, como o camaleão, se adapta ao ambiente: dá quando o comem, e come quando lhe dão. kkkk



Sabe o que me parece? Parece que as pessoas têm muita necessidade do rótulo, da classificação, da categorização. E enquanto isso, perdem as melhores oportunidades que a vida lhes oferece para que desfrutem de seus próprios corpos e dos corpos que lhe são oferecidos na hora do amor. Não há certo ou errado, normal ou anormal no que diz respeito ao desejo entre duas pessoas em comum acordo e em condições semelhantes. Não há necessidade de criar agremiações do tipo "As Dadeiras Incansáveis" ou "As Comedoras Inflexíveis". Vamos entender, de uma vez por todas, que as nossas diferenças não são excludentes, mas complementares. Parafraseando um certo texto "sagrado":



"Como darão se não houver quem coma? E como comerão se não forem convidados? Como está escrito: Quão formosos os pênis que não se sentem acanhados e as bundas que não se fazem de rogadas." (Epístola de São Sergio aos Humanos)



No que diz respeito ao sexo, só tenho uma coisa a recomendar: Use camisinha.



De resto, cai de boca, cai de bunda, cai de pica, põe a mão naquilo, põe aquilo na mão... enfim, tente, invente, dê uma trepada diferente. Não se recrimine e nem discrimine aqueles que diferem de você. Lembre-se: A diferença complementa. E quem sabe, nós nem sejamos tão diferentes assim?



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O Holocausto Gay



Na Alemanha Nazista, no dia 28 de Janeiro de 1935, o Ministro da Justiça ressuscitou e emendou o "Parágrafo 175", o velho estatuto prussiano criado em 1871 que tornava a homossexualidade crime passível de punição por aprisionamento. A lei foi agravada com mais severidade ainda e se tornou a base legal para a perseguição sistemática de homossexuais masculinos. Os nazistas acreditavam que a homossexualidade colocava em perigo a pureza do povo alemão, que homens gays corrompiam a juventude, impedindo-os de viverem vidas conjugais normais, e eram, portanto, uma ameaça para a raça. A homossexualidade era denunciada como desejo antinatural, e acusada de ser intrinsicamente anti-alemã, uma doença importada pelos judeus e apoiada pelos comunistas, inimigos do povo ariano. Aprisionamento e esterilização eram as penas iniciais, mas Heinrich Himmler revelou seu plano secreto quando disse que o "extermínio dos degenerados" estava de acordo com princípios nórdicos ancestrais ( uma ideia interessante considerando que muitos dos Deuses-Garotos que morriam - lembremo-nos de Antinous - eram mortos como sacrifícios humanos em rituais).



Os homens eram presos e enviados aos campos de concentração às dezenas de milhares. Eles eram distinguidos por um triângulo rosa, e submetidos a condições de abuso extremo. Os homens do triângulo rosa eram espancados regularmente, submetidos a trabalho pesado, privados de comida e expostos aos elementos naturais. Eles eram abusados pelos guardas nazistas e por outros prisioneiros, porque todos consideravam a homossexualidade a mais baixa das baixezas, um sinal de aberração, até mesmo os próprios homossexuais.



Estima-se que 60.000 homens foram legalmente sentenciados sob o "Parágrafo 175”, quase todos eles morreram, e este número só inclui aqueles que foram documentados na Alemanha. O número de homossexuais não registrados, e aqueles fora da Alemanha é impossível de se saber, mas pode ser o dobro. Os homens do triângulo rosa foram perseguidos com tanto sucesso que mesmo depois da derrota nazista, o Parágrafo 175 continuou válido como lei, e muitos gays já presos foram enviados a prisões regulares para completarem suas sentenças. Foi somente em 1969 que a lei foi finalmente repelida.



Nós lembramos com tristeza as legiões de homens do triângulo rosa que morreram de forma cruel sob os nazistas. Lembramos do mal que foi perpetrado com a aceitação do Parágrafo. Estes homens são nossos mártires, nosso holocausto, nossos santos da guarda. Eles sofreram para que nós pudéssemos ser livres. Nunca esqueceremos suas mortes dolorosas e miseráveis, e oramos a Antinous, o Deus da Homossexualidade, para que cuide de suas almas imortais e lhes dê descanso. Neste dia (28 de janeiro) lembramos os horrores que foram fomentados contra nós através da Emenda do Parágrafo 175.



Fonte: www.antinopolis.org/litcalendar-1.html



Tradução: Sergio Viula



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ANTINOUS - Deus citado no texto



OBS: Leia o post abaixo, tendo este aqui em mente, e veja no que dá o domínio da moralidade.





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Moralidade?



Sobre os moribundos defensores da moralidade



É incrível a energia, o tempo e os recursos de toda espécie que os defensores da moralidade (leia-se especialmente os pregadores eletrônicos e seus congêneres menos privilegiados financeiramente) empregam na defesa do que eles chamam "moral". Mas será que eles já pararam para pensar no que é, e de onde vem essa coisa que eles e outros chamam de "moralidade"? Duvido!



Geralmente, eles pregam primeiro e pensam depois - mas nem isso fazem bem, porque não têm o hábito da reflexão racional, descomprometida com crenças pré-estabelecidas. Por isso, transformam a razão em serva da fé. Esta é uma relação sadomasoquista, na qual a fé é sádica e a razão masoquista. A fé escraviza a razão, e a razão se deixa dominar - ao ponto do sufocamento, do estrangulamento, algemada à cama da superstição e fustigada com o chicote do medo e da culpa. Por isso, duvido que esses pregadores e seus fiéis e crédulos ouvintes pensem, de fato.



Por exemplo, todos eles defendem a moralidade como coisa fixa, dada, imutável. No entanto, a moralidade não é outra coisa senão a obediência aos costumes, quaisquer que sejam eles. E costumes são simplesmente a maneira "tradicional" de agir e de avaliar.



"Em toda parte onde os costumes não mandam, não há moralidade; e quanto menos a vida é determinada pelos costumes, menor é o cerco da moralidade. O homem livre é imoral, porque em todas as coisas quer depender de si mesmo e não de uma tradição estabelecida: em todos os estados primitivos da humanidade, ‘mal’ é sinônimo de ‘individual’, ‘livre’, ‘arbitrário’, ‘inabitual’, ‘imprevisto’, ‘imprevisível’.”(Nietzsche, Friedrich - "Aurora", p. 23, Ed. Escala)



Quando um indivíduo age de modo diferente do costume ou tradição, seu ato e ele próprio são considerados "imorais" pela sociedade ao seu redor e por ele mesmo - caso também esteja contagiado pelo mesmo sistema de valores. Mas o que é "tradição"? É simplesmente uma autoridade superior, à qual se obedece. Há medo envolvido nisso, e superstição nesse temor.



Um momento... Se a moralidade advém dos costumes em vigor. Quem sanciona os costumes? Os legisladores, curandeiros, sacerdotes, ou seja, aquelas esferas mais altas na hierarquia social, que desde os tempos primitivos, sentem-se como representantes dos deuses. E é exatamente por quererem ditar costumes, de acordo com suas tradições e crenças supra-existencialistas, que pastores, pregadores e sacerdotes sem batina se candidatam a cargos do poder legislativo. Não estão interessados no executivo. Não têm capacidade para gerir, administrar cidades, estados e mesmo o país (especialmente os "políticos" evangélicos). Eles querem ser vereadores, deputados, senadores, pois é nessa esfera de poder que se criam as leis, as quais, por sua vez, sancionam ou vetam as ações individuais , sob penas judiciais que estas e outras leis complementares vão determinar. Coisa muito perigosa essa função de criar ou de sancionar e vetar costumes... Pior, é que estabelecidos os costumes e a moralidade que nasce deles, a sociedade passa a ver qualquer desastre com uma forma de punição divina contra si mesma pela quebra deste ou daquele costume. Está lançado o germe da "caça às bruxas". Elas podem ser mulheres, judeus, gays, ciganos, ou qualquer outro grupo incapaz de proteger a si mesmo, que seja invejado ou odiado pela sociedade, mesmo que esta não o diga abertamente. A história está repleta de casos assim.



É óbvio que quando o domínio da moralidade dos costumes se estabelece, toda forma de originalidade passa a ter má consciência, ou seja, sente-se culpada, transgressora, réproba. Os melhores indivíduos podem ter, por causa do domínio dos costumes, uma existência desnecessariamente dolorosa e menos frutífera do que teriam se percebessem quão relativos e arbitrários são estes mesmos costumes, tradições e moralidade adotados pela sociedade em que nasceu ou onde está inserido no momento.



Dentre tantos costumes que observamos diariamente em nossa própria rotina, gostaria de destacar um que sempre serve de controvérsia. Existe projeto de lei parado no Congresso Nacional por causa do lobby de pastores e outros moralistas eleitos à base de pregações, promessas e ameaças apocalípticas propagadas de cima dos púlpitos de diversas igrejas espalhadas pelo país (os pentecostais e neopentecostais são mestres nisso). Trata-se do casamento entre pessoas do mesmo gênero.



Vamos pensar primeiramente o casamento em si. Ele é um costume, uma tradição que acabou trazendo em seu bojo uma determinada espécie de moralidade - abritrária, logicamente. Dizem os moralistas: "Casamento é só entre homem e mulher." De onde tiraram essa ideia? Das tradições, principalmente as religiosas.



Mas há uma questão anterior ao gênero dos cônjuges. A questão é: Casamento é uma criação divina ou uma criação humana? Humana, lógico, assim como as divindades.



O casamento foi criado para proteger bens, aumentar riquezas e poder, e denominar a prole sob o nome de um determinado homem, nem sempre o pai biológico. A mulher - diga-se de passagem - sempre foi mestre em atribuir filhos a homens que não eram os verdadeiros pais, tendo inúmeros interesses ou temores em mente. Dar o nome de um homem como pai a seus filhos era sempre uma preocupação de primeira grandeza da parte das mulheres para não caírem em opróbrio, nem elas e nem os filhos. Os homens, por sua vez, gostavam de ter seus filhos sob seu nome para manter a tradição e a riqueza de seus próprios ancestrais.



Depois de popularizado o casamento (que é, muitas vezes, um lucrativo negócio para inúmeras empresas), as pessoas esqueceram sua verdadeira origem e passaram a nutrir sentimentos relacionados ao sagrado, ao divino, etc.



Ninguém precisa casar para amar alguém, mas pode casar sem amar o cônjuge. Se um macho e uma fêmea podem casar-se para garantirem seus interesses, por que é que dois machos ou duas fêmeas não podem? Há sociedades, inclusive, em que um macho casa-se com várias fêmeas, e outras em que uma fêmea casa-se com vários machos (A Sociologia e a Antropologia têm interessantes estudos de caso sobre isso). Olha aí o diferente, o excepcional em relação aos nossos costumes. E eles poderiam dizer a mesma coisa a respeito dos nossos.



Em diversos países europeus e em alguns estados americanos, o casamento entre homens ou mulheres já é uma realidade. E daí? Qual é o problema? Quando é que o Congresso Nacional vai legislar sobre esse assunto pensando nos indivíduos, ao invés de se deixar escravizar pelo lobby de gente estúpida e egocêntrica como esses "promotores do tribunal divino" que mais parecem "advogados de satã".



Precisamos revalorar nossos valores; repensar nossos conceitos; pensar criticamente nossos costumes e tradições; agir com originalidade e liberdade, exigindo nosso espaço e respeitando o do outro. E - muito importante - não votar em gente que, se pudesse, estaria abanando as fogueiras da Inquisição numa praça perto de você!



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Foi enterrado hoje o corpo de minha ex-sogra

13/11/2007

Claudionice Cerutt foi uma pessoa fantástica! Durante vinte anos mantivemos um relacionamento que foi de mãe da minha namorada, depois sogra e genro, e finalmente mãe da minha ex-mulher... e como eu tenho dois filhos com a filha dela, ela será eternamente avó materna dos dois. Hoje, infelizmente, o corpo dessa querida senhora foi enterrado. Ela teve um AVC e faleceu de ontem pra hoje. Sua morte deixa muita gente triste, inclusive eu.



No ano passado, foi o esposo dela, um grande amigo pra mim, Cydnei Cerutt. Agora foi ela. Como eu disse há poucos dias, a vida pode ser vista como sala de espera para a morte. No caso dela, muitos anos foram vividos. Para outras pessoas, não chegam a anos, dias ou mesmo horas... somos todos muito limitados quando olhamos a vida da perspectiva da morte. Por ouro lado, somos todos extraordinariamente dotados de possibilidades quando olhamos a morte da perspectiva da vida! Eis aí o paradoxo que, paradoxalmente, faz todo sentido!



Coloco essa mensagem como uma forma de despedida. Também como uma forma de homenagem, pois não posso esquecer as inúmeras vezes em que almocei a comida simples, mas deliciosa que ela fazia de um jeito todo especial e com toda alegria. Também não posso esquecer as vezes em que simplesmente sentei na sala da casa dela e assisti televisão até dormir. Outras vezes em que ela quebrou galhos e mais galhos, olhando meus filhos para que eu fizesse alguma coisa diferente com a mãe deles quando ainda éramos casados. Dna. Eunice, como eu e a maioria das pessoas a chamávamos, deixou boas lembranças: uma mulher simples, de poucas palavras, de poucos abraços, mas sempre disposta a ajudar no que fosse possível e oferecendo sempre o melhor de sua hospitalidade. Gostava tanto dela que muitas vezes a abraçava ou afagava seus cabelos. Meu ex-sogro dizia jocosamente que eu era "puxa-saco da Eunice". Infelizmente, ela sofreu muito nos últimos meses, depois da morte do marido, por diversos motivos, mas foi sempre uma pessoa que despertava minha afeição.



Um beijo póstumo de quem nunca vai esquecer desses e de outros momentos...



Sergio Viula

Sala de aula é laboratório para as mais incríveis experiências!



Uma das coisas de que mais gosto é estudar. Outra é ensinar (melhor seria dizer "facilitar a experiência de aprendizagem"). Como meu dia-a-dia é uma sala de aula, ora na faculdade, ora no curso onde trabalho, acabo tendo muitas experiências de troca com colegas de turma e com alunos. Esses dias me aconteceu mais uma...



Estava conduzindo um detabe, em inglês, entre alunos de um período pós-intermediário. Eles estavam falando sobre preconceitos. Era o tema da aula; eu não inventei nada até aí. Dentre os muitos preconceitos que eles citaram, figuravam: preconceito social, racial, de gênero, de orientação sexual, etc. Bastou alguém mencionar a homofobia para o debate esquentar.



Primeiro, foi fantástico vê-los expondo suas ideias no idioma que estão estudando. Segundo, foi gostoso ver a mentalidade aberta que alguns têm. Terceiro, foi surpreendente perceber quão fechada era a cabeça de um dos rapazes mais descolados da turma.



Entre uma opinião e outra, entre uma experiência e outra, o assunto foi ganhando cada vez mais profundidade. De repente, esse meu aluno mais descolado dispara quase num desabafo: "Eu não gosto de gays" (estou utilizando o modo brasileiro de falar a palavra inglesa "gay", que não é substantivo, é adjetivo e, por isso, não tem plural em inglês). E acrescentou: "Eu não gosto, não aceito, não tenho amigos gays e não consigo ser amigo de gays."



A turma ficou estupefata com a revelação! Eu fiquei admirado, mas perguntei por quê (de modo bastante cordial, lógico). Ele respondeu que não sabia por quê; simplesmente não consegue. Pensei: Eis aí uma excelente demonstração do que se define por homofobia (medo irracional dos que são homoeroticamente orientados).



Uma outra aluna interveio, dizendo: "Um dos melhores amigos do meu namorado é gay e ele não vê problema nisso." Outra aluna disse: "Quem tem esse tipo de medo irracional está em conflito ou tem duvida a respeito de sua própria orientação sexual." Outra acrescentou: "O que você vai fazer se um dia tiver um filho gay?" E assim foram se avolumando os disparos afirmativos e interrogativos. Decidi acrescentar um na forma negativa.



Virei para o aluno e disse: Veja, eu acredito que você seja heterossexual pela simples observação do seu comportamento em ralação às garotas. Pessoalmente, não acredito que seja uma questão de conflito sexual, apesar de ser esse o caso da maioria das pessoas que demonstram homofobia. Sabe o que eu penso mesmo? Penso que seu medo ou rejeição do convívio com pessoais homossexuais seja devido à própria falta desse convívio social. E acrescentei: A maioria das pessoas julga antes de conhecer. Isso é o que significa a palavra preconceito (juízo formado previamente). Daí vem a discriminação, ou seja, atitudes ou ações de rejeição ou diferenciação baseadas no preconceito. Talvez, o dia em que você tiver um amigo de verdade que seja gay (ou você descubra que é gay), isso mude.



Enquanto dizia isso, eu pensava: Esse rapaz me trata tão bem, demonstra tanta cortesia para comigo, mas nem imagina que eu seja gay. Se ele soubesse não teria dito tão abertamente tudo o que disse e ainda se sentiria envergonhado. Deixemos como está. Outra hora ele vai acabar sabendo disso e terá a oportunidade de avaliar o que ele mesmo pensa e rever seus conceitos de modo mais tranquilo, ou seja, sem os olhares dos outros.



Voltando à questão da aprendizagem, posso garantir que aprendi muito com essa experiência, inclusive que meus alunos, seguramente, sabem muito mais do que eu e a maioria dos professores deles imaginamos. Outra coisa foi a renovada constatação de que as aparências enganam: eu pensava que, por ser descolado, meu aluno fosse menos preconceituoso, e ele pensa (e vai continuar pensando por algum tempo) que por agir de modo mais masculino do que a maioria dos "gays" que ele já viu, eu seja heterossexual. Infelizmente, muita gente não consegue enxergar o homossexual sem as lentes do estereótipo. Por isso, muitas pessoas acabam ficando cegas para o diferente entre os diferentes. É mais ou menos o seguinte: "Todo gay é afetado, desmunheca, fala fino e macio, usa roupas ousadas de grife, então esse cara que tem dois filhos, usa cavanhaque, se veste de forma básica e masculina, fala "como homem", não pode ser gay." E é aí que essas pessoas se enganam: se os homossexuais e os heterossexuais são diferentes em muitas coisas, é lógico que entre os homossexuais também existam diferenças gritantes. E daí? Que diferença faz se o cara desmunheca, ou se ele senta de pernas abertas e coça o saco? Se não faz a mínima diferença se a gente é atraído pelo sexo diferente ou pelo semelhante, que diferença fará se demonstramos mais esse ou aquele comportamento?



Bem, infelizmente, numa sociedade machista e preconceituosa, isso ainda faz muita diferença...

Acreditar na ficção pode ser mais fácil do que aceitar a realidade...

Pelo menos foi isso que me pareceu hoje, enquanto eu dava aula para um grupo de adolescentes já bem grandinhos. Estávamos falando sobre filmes de cinema e, de repente, eu decidi falar sobre o Titanic - adolescentes geralmente adoram, especialmente as meninas. Foi aí que eu citei o fato de que Jack e Rose jamais existiram; foram apenas uma criação de Hollywood para manter a platéia durante todo o filme. Caso contrário, seria apenas um documentário, e qual é o adolescente ou jovem que gostaria de ver um documentário sobre naufrágio sem aventura ou romance? O Titanic conjugou os dois com maestria. Resultado: Sucesso de bilheteria e onze estatuetas do Oscar. Merecidas ou não todas estas, o fato é que o filme foi um blockbuster!

Mas os meus queridos adolescentes ficaram estupefatos quando eu disse que Jack e Rose eram apenas ficção! Quase me bateram. Aí fui eu buscar na Internet diante de seus olhos, ainda perplexos, alguma informação consistente sobre o Titanic. Achei um vídeo da BBC bem antigo, mas super jóia, no qual sobreviventes falavam da experiência do Titanic (em inglês, é claro!!!). Eles assistiram atentamente e depois me deram a chance de explicar como somos tendentes a acreditar no que nos dizem, especialmente se houver efeitos especiais envolvidos, mistérios ou fenômenos "sobrenaturais" ligados ao assunto.

Todos eles amaram uma ficção. Amaram um cara e uma garota que nunca existiram. Não pude evitar o pensamento de que existam tantas pessoas que também amam o inexistente, o fictício, o idealizado - deuses, ou um deus, anjos, gnomos, duendes, cristos, etc.

A surpresa de tais pessoas ao perceberem o embuste em que acreditaram não é muito diferente da decepção daqueles meus alunos - com uma diferença: nenhum deles sacrificou um centímetro de suas forças por Jack ou Rose. Enquanto isso, bilhões já morreram ou viveram mal por causa de uma divindade ou divindades absolutamente fictícias.

Por coincidência, estou terminando de ler "Ecce Homo" (Eis o Homem), de Nietzsche. Veja se não faz todo sentido e se o que eu experimentei naquela sala de aula hoje não tem um paralelo com o que transcrevo logo abaixo:

A exigência de acreditar que no fundo tudo se encontra nas melhores mãos, que um livro, a Bíblia, fornece a segurança definitiva sobre o governo e a sabedoria divinos quanto aos destinos da humanidade, é, se for retraduzido em termos de realidade, a vontade de não deixar aparecer a verdade sobre o lamentável estado de coisas contrário, a saber, que a humanidade esteve até agora nas piores mãos, que foi goveranada pelos fracassados, pelos astuciosos vingativos, os pretensos "santos", esses caluniadores do mundo e violentadores do homem (...) Mas o sacerdote quer precisamente a degenerescência do conjunto da humanidade: é por isso que ele conserva o que degenerou - é a esse preço que domina a humanidade... Que sentindo têm esses conceitos mentirosos, os conceitos auxiliares da moral, como "alma", "espírito", "vontade livre", "Deus", senão o de arruinar fisiologicamente a humanidade?... Quando se deixa de levar a sério a autoconservação, o aumento da energia do corpo, isto é, da vida, quando se interpreta a anemia como um ideal, o desprezo do corpo como "salvação da alma", que outra coisa é senão uma receita para a decadência?

Essa moral que prega a renúncia do eu é a própria decadência. E por renunciar, por tanto tempo, o seu próprio eu é que muita gente já se perdeu, não sabe mais quem é, muito menos quanto poderia ser. Não conseguem amar a si mesmos e por isso querem se transformar em outra coisa, mas uma coisa decadente, enfraquecida, iludida com inexistentes mundos vindouros. Não conseguem amar a si mesmos e nem a outros. Citando Nietzsche mais uma vez:

É preciso estar sentado firmemente sobre si mesmo, estar corajosamente plantado sobre as duas pernas, pois, de outro modo, é absolutamente impossível amar.



Machismo, um híbrido de violência e ignorância



Que o machismo se baseia em e promove mais violência já é conhecido historicamente. Mais recentemente, essa mentalidade reduzida e redutora se apresentou claramente no comportamento dos criminosos de classe média que espancaram uma empregada doméstica na Barra da Tijuca (Rio de Janeiro). Eles se especializaram em bater em mulheres. Faziam isso por "esporte". Entretanto, a violência contra a mulher, que ocorre no lar, é tão revoltante e humilhante quanto aquela sofrida por aquela pobre mulher, com um diferencial inquietante: fica no anonimato na maiorida das vezes e ocorre diariamente.

Além da revolta que eu senti quando tomei conhecimento do caso pela TV, fiquei espantado com a ignorância e o preconceito que a justificativa esfarrapada deles revelava: "Pensávamos que fosse uma prostituta."

Como é que gente de classe média, cursando universidade, pode dizer uma imbecilidade dessas? Pensar que o fato de uma mulher ser prostituta lhes dá o direito de agredir, espancar e/ou matar? E o pior é que eles disseram isso provavelmente pensando qu a sociedade acolheria a explicação. Algo como: "Ah, sim, vocês pensaram que fosse uma prostituta?! Então, tudo bem... Foi só um engano." Será que a gente tem cara de babaca ou são eles mesmos que são burros?

Infelizmente, isso é comum em machistas agressores de mulheres tanto quanto em machistas agressores de homossexuais, mais conhecidos como homofóbicos. Esse tipo de violência, porém, é a ponta de um iceberg cuja estrutura fica quase totalmente oculta em meio à rotina de uma sociedade que se entrega à naturalização de uma dominação silenciosa, mas cruel.

A dominação masculina encontra reunidas todas as condições para seu pleno exercício. A primazia universalmente concedida aos homens é claramente percebida nas estruturas, baseadas em uma divisão sexual do trabalho, que confere aos homens a melhor parte. Os próprios hábitos sociais moldados por tais condições acabam funcionando como matrizes das percepções, dos pensamentos e das ações de todos os membros da sociedade. As mulheres, por sua vez, não conseguem escapar totalmente desses esquemas de pensamento que são produtos da incorporação dessas relações de poder e que se expressam em seu comportamento passivo e submisso - não natural, mas condicionado por todo esse esquema social.

Nesse aspecto é perigosíssimo o papel da religião na sociedade, especialmente o cristianismo. Não preciso inventar. Caso alguém duvide do que estou dizendo, vou citar algumas "pérolas" machistas que a Bíblia, sem o menor pudor, apresenta contra as mulheres. Infelizmente, elas mesmas nem percebem a armadilha e acabam sendo a maioria dentre os que lotam os templos e alimentam esse sistema opressor. A Bíblia perpetua a divisão sexual (e iníqua) da sociedade. Veja você mesmo:

1. O mito do início do mundo. Adão culpa a mulher: "A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi." (Gênesis 3:12) A mulher é responsabilizada por todos os males do mundo.

2. O homem se sente no direito de dominá-la, porque Deus mesmo disse: "Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará." (Gênesis 3:16 - grifo meu) Aqui o machismo e o patriarcado (o governo dos homens) inventa sua autojustificativa áurea.

3. Um dos provérbios mais usados nas igrejas para falar da mulher perfeita é o da mulher virtuosa (Provérbios 31:10-31). Mas o seu conteúdo é todo de subserviência ao marido, trabalho doméstico e atendimento às necessidades dos filhos. É a popularmente conhecida "Amélia, a mulher de verdade". É a "burra de carga".

4. Quando Ló ofereceu suas filhas virgens para favores sexuais aos homens de Sodoma, ele não sofreu nenhuma punição. Sua mulher, porém, apenas pelo fato de ter olhado para trás quando saía da cidade, virou estátua de sal. Mais um mito que coloca as mulheres abaixo de qualquer nível de dignidade. Sorte das filhas de Ló que os homens não as quiseram. (Gênesis 19:6-8; 25,26)



5. O desprezo pela relação amorosa, como se a mulher fosse coisa impura é nítido nas palavra do apóstolo Paulo - o mais proeminente dos apóstolos: "Quanto ao que me escrevestes, é bom que o homem não toque em mulher; mas por causa da impureza, cada um tenha sua própria esposa." (I Coríntios 7:1,2). A esposa é apenas um objeto destinado ao uso do homem para que ele não se entregue à prostituição.

6. Veja a hierarquia da dominação explicitamente defendida por Paulo. Ele diz que Deus é o cabeça de Cristo, Cristo é o cabeça do homem, o homem é o cabeça da mulher. (Conferir I Coríntios 11:3) e a mulher... sifu!

7. Outra pérola paulina: "As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido como ao Senhor, porque o marido é o cabeça da mulher..." (Efésios 5:22,23)

8. Paulo instrui Timóteo, seu mais fiel discípulo, dizendo: "A mulher aprenda em silêncio, com toda submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio." (I Timóteo 2:11,12) E, logo em seguida, vem o mito do Éden para justificar (I Timóteo 2:11,12)

9. Mas Pedro também não perde tempo: "Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido..." (I Pedro 3:1)

10. Quando João quer representar o sistema pervertido desse mundo (na visão cristã, diga-se de passagem), ele utiliza a figura de uma mulher montada numa besta, ou seja, num animal. Ele associa essa mulher à prostituição, à blasfêmia, às abominações, à morte dos santos cristãos, ao anticristo, etc. (Conferir Apocalipse 17:1-18)

Não é de admirar que o machismo tenha sido alimentado por tantos anos com conteúdos religiosos, além de outros. Mulher, dizem os pregadores baseados na Bíblia, é ajudadora do homem. Ela existe para servi-lo. Ora, a prostituta é simplesmente aquela mulher que leva essa submissão servil às últimas consequências, colocando-se diante de um homem para atender aos seus caprichos mais excêntricos. E é por isso que esses criminosos que agrediram a empregada doméstica se sentiam no direito de espancar prostitutas - antes de mais nada, mulheres.

Por isso, toda a sociedade (homens inteligentes e livres das amarras do machismo, e mulheres inteligentes e autônomas) deve exigir:

a) Rigor nos julgamentos de crimes contra as mulheres;

b) Rigor nos julgamentos de crimes contra os homossexuais;

c) Rigor nos julgamentos de crimes contra as crianças.

Fora o machismo e o patriarcado. Ser homem não é ser o oposto de ser mulher. Essa divisão não é natural. Ela foi construída histórica e socialmente. Homens e mulheres são diferentes, mas não opostos. Entre os próprios homens há enormes diferenças, bem como entre as mulheres. É tolice querer hierarquizar a sociedade com base no sexo de cada um. Igualdade e respeito são as bases de qualquer sociedade equilibrada e saudável.



5. O desprezo pela relação amorosa, como se a mulher fosse coisa impura é nítido nas palavra do apóstolo Paulo - o mais proeminente dos apóstolos: "Quanto ao que me escrevestes, é bom que o homem não toque em mulher; mas por causa da impureza, cada um tenha sua própria esposa." (I Coríntios 7:1,2). A esposa é apenas um objeto destinado ao uso do homem para que ele não se entregue à prostituição.

6. Veja a hierarquia da dominação explicitamente defendida por Paulo. Ele diz que Deus é o cabeça de Cristo, Cristo é o cabeça do homem, o homem é o cabeça da mulher. (Conferir I Coríntios 11:3) e a mulher... sifu!

7. Outra pérola paulina: "As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido como ao Senhor, porque o marido é o cabeça da mulher..." (Efésios 5:22,23)

8. Paulo instrui Timóteo, seu mais fiel discípulo, dizendo: "A mulher aprenda em silêncio, com toda submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio." (I Timóteo 2:11,12) E, logo em seguida, vem o mito do Éden para justificar (I Timóteo 2:11,12)

9. Mas Pedro também não perde tempo: "Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido..." (I Pedro 3:1)

10. Quando João quer representar o sistema pervertido desse mundo (na visão cristã, diga-se de passagem), ele utiliza a figura de uma mulher montada numa besta, ou seja, num animal. Ele associa essa mulher à prostituição, à blasfêmia, às abominações, à morte dos santos cristãos, ao anticristo, etc. (Conferir Apocalipse 17:1-18)

Não é de admirar que o machismo tenha sido alimentado por tantos anos com conteúdos religiosos, além de outros. Mulher, dizem os pregadores baseados na Bíblia, é ajudadora do homem. Ela existe para servi-lo. Ora, a prostituta é simplesmente aquela mulher que leva essa submissão servil às últimas consequências, colocando-se diante de um homem para atender aos seus caprichos mais excêntricos. E é por isso que esses criminosos que agrediram a empregada doméstica se sentiam no direito de espancar prostitutas - antes de mais nada, mulheres.

Por isso, toda a sociedade (homens inteligentes e livres das amarras do machismo, e mulheres inteligentes e autônomas) deve exigir:

a) Rigor nos julgamentos de crimes contra as mulheres;

b) Rigor nos julgamentos de crimes contra os homossexuais;

c) Rigor nos julgamentos de crimes contra as crianças.

Fora o machismo e o patriarcado. Ser homem não é ser o oposto de ser mulher. Essa divisão não é natural. Ela foi construída histórica e socialmente. Homens e mulheres são diferentes, mas não opostos. Entre os próprios homens há enormes diferenças, bem como entre as mulheres. É tolice querer hierarquizar a sociedade com base no sexo de cada um. Igualdade e respeito são as bases de qualquer sociedade equilibrada e saudável.



Seminário sobre Religião e Sexualidade na UERJ

Seminário sobre Religião e Sexualidade



Ministrado por Sergio Viula na UERJ (disciplina de Sociologia com a Profa. Clara Araújo) em 15 de junho de 2007





Introdução:



Religião é, semanticamente falando, religação. O termo já traz em si uma carga de dor e esperança. Dor, porque subentende a humanidade como separada de Deus, decaída, alijada. Esperança, porque promete a reconciliação, a religação, ou seja, a restauração da harmonia na relação entre Deus e homem.



No Cristianismo, tradição predominante no Ocidente, a religação deveria ser feita pela fé em Cristo - enviado especial de Deus para a reconciliação. O apóstolo Paulo em sua Epístola aos Romanos diz: “Reconciliados, pois, pela fé em Cristo, tenhamos paz com Deus”. Isso deveria dar conta do problema. Todavia, a igreja cristã, com suas várias nuances doutrinárias e subdivisões denominacionais, estabeleceu uma série de restrições no que diz respeito ao comportamento de seus fiéis.



Este seminário pretende abordar de modo bastante sintético alguns dos problemas que a arbitrariedade da igreja tem criado e/ou agravado no seio das sociedades. De nossa própria sociedade brotará a maior parte dos exemplos aqui citados, mas haverá recurso a outras que não a nossa quando for interessante para esta reflexão. Anticoncepção, sexualidade e, mais especificamente, homossexualidade são os temas abordados.





I. A Anticoncepção



De acordo com Maggie Hume, em La Evolución de um Código Terrenal, “para entender a posição da Igreja contra a anticoncepção, é necessário ter em mente que a anticoncepção pertence a um entremeado de doutrinas sobre sexualidade interrelacionadas entre si, a partir de preconceitos sexistas e anti-sexuais. Muitas ideias anteriores ao Cristianismo, acerca da sexualidade e da mulher, serviram de fonte de informação para a Doutrina Católica.”



Ela cita como exemplo, uma quantidade de antigos filósofos e físicos gregos que criam que o sexo debilitava os homens (a energia se perdia com o sêmen) e devia ser evitado no verão. Aristóteles, por exemplo, insistia em que as mulheres eram moralmente inferiores e subordinadas aos homens. E no século XIII os escritos de Aristóteles se constituíram no fundamento da posição de Santo Tomás de Aquino com respeito à mulher.



Segundo Maggie Hume, “noções erradas e matéria de biologia também contribuíram para condenar a anticoncepção. Tertuliano, um influente teólogo do século III, sustentava que o sêmen continha indivíduos, que só esperavam nascer. ‘É um ser humano que já existe, toda fruta se encontra na semente.’ Este pensamento respaldava a necessidade patriarcal de reforçar a propriedade paterna dos filhos e formava parte da tradição judaica da qual surgiu o Cristianismo.”



Ora, não é difícil perceber a conexão entre esse pensamento e a condenação da anticoncepção e até mesmo da masturbação e de qualquer outra relação não-procriativa, tal como as relações homossexuais e até mesmo as relações heterossexuais que incluíssem o sexo oral e anal.



Maggie Hume destaca que “ao final do século XVIII começou a surgir uma insistente oposição frente à anticoncepção. Uma das causas foi o importante decréscimo do índice de natalidade na França, o país católico mais importante. (...) Em meados do século [XIX], em um período anterior àquele em que os avanços médicos diminuíram a mortalidade, as mortes superavam os nascimentos na França.”



A primeira vez em que houve oposição pública à política da Igreja sobre anticoncepção, desde o século XII, ocorreu especialmente nos EUA e na Inglaterra. Ao final do século XIX, o movimento de controle da natalidade havia obtido uma quantidade significativa de aderentes, mas cresceu muito no início do século XX. Popularizou-se a idéia de que a superpopulação gerava fome e guerras.



A queda da natalidade ameaçava debilitar a Igreja, bem como as nações individuais. Assim, o nacionalismo tornou-se um instrumento de propaganda na luta da Igreja contra o movimento do controle de natalidade.



Quando a França perdeu para a Prússia em 1870-71, um cardeal suíço disse a uma audiência francesa no dia da Bastilha em 1872: “Vocês desprezaram a Deus e foram castigados. Mediante cálculos monstruosos, vocês fizeram tumbas em lugar de encher berçários com filhos. Como consequência, careceram de soldados.”



“A I Guerra Mundial agravou os temores relacionados à população, e uma aliança de clérigos e políticos fez com que se promulgassem, em muitos países, leis contra a anticoncepção. As Conferências de Bispos de várias nações redigiram pastorais agressivas, que combinaram religião e patriotismo.” (Maggie Hume)



Isso contrasta frontalmente com uma declaração dos Bispos da França de 1989 sobre AIDS, que sugeriu que “o uso do preservativo pode ser melhor que a morte.” (...) “Deve-se informar a população, especialmente aos jovens, sobre os riscos. Existem medidas profiláticas.” A declaração proveio do Arcebispo Cardeal parisiense Jean-Marie Lustiger, que declarou em uma audiência televisiva que “a castidade é possível”, mas se os portadores de AIDS não praticam abstinência sexual, “devem usar todos os meios conhecidos, para proteger aos demais da enfermidade.”



Isso explica o furor de Bento XVI em suas vociferações contra a anticoncepção e a camisinha, mais especificamente. O papa conseguiu mobilizar muita gente em sua viagem ao Brasil este ano (2007) na intenção de fazer oposição à camisinha, inclusive com manifestações de jovens católicos idealistas, mas notoriamente ingênuos.



Maggie Hume destaca que em 1989, João Paulo II, antecessor de Bento XVI, respondeu em L’Osservatore Romano que a posição da igreja em torno da anticoncepção já está estabelecida e não é matéria de discussão. Em 1990 o Vaticano também se pronunciou sobre os limites da função dos teólogos. A Instrução sobre a Vocação Eclesiástica dos Teólogos dizia que estes têm não o direito a discordar publicamente das posições oficiais da Igreja, inclusive aquelas consideradas infalíveis. O documento diz que a liberdade de consciência pertence aos leigos, mas não aos “eruditos da doutrina da Igreja.”



A maneira como o Vaticano vem tratando a questão é nitidamente uma política de intimidação, e Maggie Hume muito apropriadamente diz que “quando as autoridades exigem silêncio, o que parece estar em jogo é o temor de perder o poder.”



II. Sexualidade



1. Policiamento eclesiástico não resolve



Anthony Giddens, em sua obra Sociologia, 4ª. Edição, afirma que “as atitudes ocidentais para com o comportamento sexual foram moldadas, por aproximadamente 2 mil anos, pelo cristianismo. Embora diferentes seitas e denominações cristãs tenham mantido diferentes visões sobre o lugar apropriado da sexualidade na vida, a visão dominante da Igreja cristã era de que todo comportamento sexual é suspeito, exceto aquele necessário à reprodução.” (grifo meu)



Giddens destaca que “no século XIX, as pressuposições religiosas sobre a sexualidade foram parcialmente substituídas pelas suposições médicas. A maioria das primeiras obras escritas por doutores sobre o comportamento sexual, no entanto, possuíam tanto rigor quanto as visões da igreja.”



Somente nas décadas de 1940 e 1950 foi que se realizou a primeira investigação abrangente sobre o comportamento sexual. A pesquisa foi realizada por Alfred Kinsey nos Estados Unidos. Obviamente, Kinsey e seus pesquisadores enfrentaram o furor das organizações religiosas, que denunciavam sua obra como imoral nos jornais e no Congresso. A pesquisa foi feita com 18 mil pessoas, “um corpus razoavelmente representativo da população norte-americana branca”, de acordo com Giddens.



Ora, não é difícil perceber a conexão entre esse pensamento e a condenação da anticoncepção e até mesmo da masturbação e de qualquer outra relação não-procriativa, tal como as relações homossexuais e até mesmo as relações heterossexuais que incluíssem o sexo oral e anal.



Maggie Hume destaca que “ao final do século XVIII começou a surgir uma insistente oposição frente à anticoncepção. Uma das causas foi o importante decréscimo do índice de natalidade na França, o país católico mais importante. (...) Em meados do século [XIX], em um período anterior àquele em que os avanços médicos diminuíram a mortalidade, as mortes superavam os nascimentos na França.”



A primeira vez em que houve oposição pública à política da Igreja sobre anticoncepção, desde o século XII, ocorreu especialmente nos EUA e na Inglaterra. Ao final do século XIX, o movimento de controle da natalidade havia obtido uma quantidade significativa de aderentes, mas cresceu muito no início do século XX. Popularizou-se a ideia de que a superpopulação gerava fome e guerras.



A queda da natalidade ameaçava debilitar a Igreja, bem como as nações individuais. Assim, o nacionalismo tornou-se um instrumento de propaganda na luta da Igreja contra o movimento do controle de natalidade.



Quando a França perdeu para a Prússia em 1870-71, um cardeal suíço disse a uma audiência francesa no dia da Bastilha em 1872: “Vocês desprezaram a Deus e foram castigados. Mediante cálculos monstruosos, vocês fizeram tumbas em lugar de encher berçários com filhos. Como consequência, careceram de soldados.”



“A I Guerra Mundial agravou os temores relacionados à população, e uma aliança de clérigos e políticos fez com que se promulgassem, em muitos países, leis contra a anticoncepção. As Conferências de Bispos de várias nações redigiram pastorais agressivas, que combinaram religião e patriotismo.” (Maggie Hume)



Isso contrasta frontalmente com uma declaração dos Bispos da França de 1989 sobre AIDS, que sugeriu que “o uso do preservativo pode ser melhor que a morte.” (...) “Deve-se informar a população, especialmente aos jovens, sobre os riscos. Existem medidas profiláticas.” A declaração proveio do Arcebispo Cardeal parisiense Jean-Marie Lustiger, que declarou em uma audiência televisiva que “a castidade é possível”, mas se os portadores de AIDS não praticam abstinência sexual, “devem usar todos os meios conhecidos, para proteger aos demais da enfermidade.”



Isso explica o furor de Bento XVI em suas vociferações contra a anticoncepção e a camisinha, mais especificamente. O papa conseguiu mobilizar muita gente em sua viagem ao Brasil este ano (2007) na intenção de fazer oposição à camisinha, inclusive com manifestações de jovens católicos idealistas, mas notoriamente ingênuos.

Maggie Hume destaca que em 1989, João Paulo II, antecessor de Bento XVI, respondeu em L’Osservatore Romano que a posição da igreja em torno da anticoncepção já está estabelecida e não é matéria de discussão. Em 1990 o Vaticano também se pronunciou sobre os limites da função dos teólogos. A Instrução sobre a Vocação Eclesiástica dos Teólogos dizia que estes têm não o direito a discordar publicamente das posições oficiais da Igreja, inclusive aquelas consideradas infalíveis. O documento diz que a liberdade de consciência pertence aos leigos, mas não aos “eruditos da doutrina da Igreja.”



A maneira como o Vaticano vem tratando a questão é nitidamente uma política de intimidação, e Maggie Hume muito apropriadamente diz que “quando as autoridades exigem silêncio, o que parece estar em jogo é o temor de perder o poder.”



II. Sexualidade



1. Policiamento eclesiástico não resolve



Anthony Giddens, em sua obra Sociologia, 4ª. Edição, afirma que “as atitudes ocidentais para com o comportamento sexual foram moldadas, por aproximadamente 2 mil anos, pelo cristianismo. Embora diferentes seitas e denominações cristãs tenham mantido diferentes visões sobre o lugar apropriado da sexualidade na vida, a visão dominante da Igreja cristã era de que todo comportamento sexual é suspeito, exceto aquele necessário à reprodução.” (grifo meu)



Giddens destaca que “no século XIX, as pressuposições religiosas sobre a sexualidade foram parcialmente substituídas pelas suposições médicas. A maioria das primeiras obras escritas por doutores sobre o comportamento sexual, no entanto, possuíam tanto rigor quanto as visões da igreja.”



Somente nas décadas de 1940 e 1950 foi que se realizou a primeira investigação abrangente sobre o comportamento sexual. A pesquisa foi realizada por Alfred Kinsey nos Estados Unidos. Obviamente, Kinsey e seus pesquisadores enfrentaram o furor das organizações religiosas, que denunciavam sua obra como imoral nos jornais e no Congresso. A pesquisa foi feita com 18 mil pessoas, “um corpus razoavelmente representativo da população norte-americana branca”, de acordo com Giddens.



Os resultados foram surpreendentes: 70% dos homens visitaram uma prostituta, 84% tiveram experiência pré-matrimonial. Mais de 90% dos homens tinham o hábito da masturbação e cerca de 60% praticavam alguma forma de sexo oral. Entre as mulheres, aproximadamente 50% tiveram experiências sexuais pré-matrimoniais, embora a maioria com seus futuros maridos. Cerca de 60% se masturbavam e a mesma porcentagem praticava algum contato oral-genital.



Diferentemente do que se pensava, a doutrina da Igreja não determinava o comportamento da população de um modo geral, mas sua pregação continuava condenando qualquer comportamento divergente dos dogmas eclesiásticos.

Levando em conta que sexualidade é um tema muito abrangente e com vários desdobramentos, inclusive no que diz respeito aos papéis do homem e da mulher, é válido dizer, mesmo que seja de passagem, que a hierarquia patriarcal continua caracterizando o cristianismo de um modo geral, ainda que entre reformados e pentecostais isso seja mais flexível, especialmente em função das recentes ordenações de mulheres pastoras.



A Igreja Católica, porém, continua rejeitando a idéia de mulheres no sacerdócio. Algumas igrejas protestantes, idem. Mas já se veem numerosas pastoras no movimento pentecostal. Contudo, a Igreja, de um modo geral, continua mantendo a máxima paulina: “Mulheres, sede submissas a vossos maridos como ao Senhor.”



No que diz respeito à sexualidade, a heterossexualidade continua sendo o padrão para a vivência afetivo-sexual dos principais ramos do Cristianismo. Entretanto, algumas igrejas já começam a se abrir para a existência de pessoas homossexuais em sua membresia, bem como em seu sacerdócio.



Em “Religião e Sexualidade: Convicções e Responsabilidades”, organizado por Emerson Giumbelli, Editora Garamond Universitária, Rubem César Fernandes (antropólogo e fundador do Movimento VivaRio) relata uma experiência sua. Ele fala de seu exílio em 1965, quando foi finalmente parar em Nova Iorque. Lá ele foi recebido por um grupo solidário, protestante, que o abrigou por um tempo. Esse grupo tinha uma congregação no sul de Manhattan, nas imediações de Washington Square. A congregação tinha todo o tipo de pessoa, mas era predominantemente gay. A própria pastora, Jack, era de orientação homossexual. Esse relato de Rubem César encerra três aspectos interessantes: a harmonia entre a homossexualidade dos membros daquela igreja e o cristianismo; o fato de que havia uma pastora, não um pastor; e que essa pastora era reconhecidamente gay e não heterossexual. E estamos falando de 1965!

Rubem César (antropólogo) relata: “Uma observação que tenho feito também, no meio católico brasileiro, é que apesar das posições do magistério, na prática dos fiéis, e também na prática do clero lidando no dia-a-dia com os fiéis, tem-se uma variedade muito grande de posicionamentos, de atitudes e de soluções para as questões que aparecem no confessionário, que aparecem na vida da igreja.” E acrescenta: “Uma coisa que me impressiona muito, sempre, aqui no Rio de Janeiro, é o culto a São Sebastião. São Sebastião é um santo de grande devoção nos cabarés da Lapa. Quem freqüenta a Lapa, encontra nos cabarés, nas danceterias, sempre uma figura de São Sebastião, e cultuado com toda devoção que é devida a um santo de tradição. É também um santo gay, conhecido pela postura, o corpo nu, atravessado de flechas; toda iconografia do santo tem uma história gay. Devoção inclusive histórica, que abrange Debussy, outro gay, e remonta ao Renascimento. E é o santo padroeiro do Rio de Janeiro. No dia 20 de janeiro, todo ano, na procissão dos Capuchinhos, em que vem o cardeal à frente, há sempre um forte grupo gay, inclusive travestis, participando da manifestação. E todos que somos do Rio de Janeiro sabemos disso. O cardeal com certeza sabe disso. Mas nunca mencionou... Ou seja, faz parte da sabedoria do cardeal não mencionar, porque, se ele for mencionar, vai ter que resolver. Então a vista grossa é uma parte importante da sabedoria católica, e que não está na doutrina, mas está numa história, numa tradição de uma igreja que tem um peso barroco, que concilia vários espaços; não é aquela transparência protestante, mas tem os seus claros e escuros, os seus corredores, seus espaços para as pessoas circularem mais anônimas, para essas variações.”



Os posicionamentos dos debatedores cristãos à mesa com Rubem César são reveladores do preconceito que o dogma e as práticas eclesiásticas sancionadas oficialmente trazem consigo. Alguns extratos:



Antônio Moser, sacerdote franciscano, doutor em teologia moral e diretor presidente da editora Vozes de Petrópolis:



“De acordo com a Sagrada Escritura, ‘Deus os fez homem e mulher’. Isso mostra que a concepção antropológica bíblica é nitidamente heterossexual.”



Robinson Cavalcanti, bispo da Igreja Episcopal Anglicana do Recife, cientista político e professor adjunto aposentado da Universidade Federal de Pernambuco e da Universidade Rural de Pernambuco:



“As causas do homoerotismo e as possibilidades de reversão às orientações homoeróticas, por terapia ou milagre, são ainda alvo de controvérsias. A reafirmação do padrão heteroerótico não pode significar preconceito, discriminação, agressão ou marginalização dos homossexuais.”



Eduardo Rosa Pedreira, pastor da Comunidade Presbiteriana da Barra da Tijuca, RJ, doutor em teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio):



“O homossexualismo, quando se parte das Sagradas Escrituras, é pecado. (...) A aceitação da pessoa não exime, na perspectiva protestante, o fato e a obrigação de denunciar a prática.”



Alexandre da Silva Costa, palestrante, orador espírita e médico do Instituto de Pediatria a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ):



“Em relação ao modo como lidar com os homossexuais, há várias tendências. Há companheiros, por exemplo, que não permitem, em algumas instituições espíritas, que homossexuais masculinos ou femininos participem de determinadas reuniões espíritas, porque se configuraria uma situação de desequilíbrio. E outras não dizem isso, porque um heterossexual pode estar numa situação de intenso desequilíbrio...”

2. Bons ventos de mudança começam a soprar



No ensejo do dia mundial contra a homofobia pastores metodistas querem modificar política eclesial sobre uniões gays na África do Sul.



Um grupo de 19 pastores metodistas dessa cidade quer modificar a política da denominação, que não permite que os clérigos oficiem celebrações de união entre pessoas do mesmo sexo. A informação vem da agência Ecumenical News International (ENI).



A legislação aprovada pelo Parlamento sul-africano em 2006 permite às pessoas gays e lésbicas manter uniões civis legalmente válidas, o que é um passo gigantesco no contexto das sociedades africanas. A maioria delas ainda avaliza a homofobia.



Pastores metodistas do Distrito Eclesial do Cabo da Boa Esperança solicitaram à assembleia do sínodo estadual, no dia 10 de maio, que lhes seja concedido o direito de decidir, de acordo com a consciência individual, se devem ou não realizar cerimônias de união civil entre pessoas do mesmo sexo.



"Os pastores de muitas igrejas na África do Sul são designados pelo Estado como agentes matrimoniais e podem utilizar a solenidade de uma união civil", sublinham.



Mas o fato de haver legislação a favor da união civil entre pessoas do mesmo sexo não impediu que diversas denominações, entre elas as igrejas Metodistas e Congregracional, proibissem seus clérigos de oficiar cerimônias de união civil entre pessoas do mesmo sexo ou qualquer cerimônia de bênção de casais do mesmo sexo que tenham sido casadas legalmente por um agente do Estado.



Um dos ministros, falando em off, disse à agência ENI que os clérigos querem ter o direito de decidir se devem presidir a união de pessoas do mesmo sexo. Ele lembrou que na África do Sul o pastor metodista pode decidir, de forma individual, se casa pessoas divorciadas. (Fonte: Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação -edelbehs@alcnoticias.org - http://www.alcnoticias.org )



Em países europeus, porém, essas conquistas têm se solidificado em maior escala recentemente.



Atualmente, nove países europeus concedem direitos conjugais a casais gays. Alguns deles seguem abaixo:

a) Dinamarca (Parcerias registradas desde 1989)

b) Noruega (Parcerias registradas desde 1993)

c) Suécia (Parcerias registradas desde 1994)

d) Islândia (Parcerias registradas desde 1996)

e) Holanda e Bélgica (Desde 2001, abriu o casamento para casais do mesmo sexo)



Os dados seguintes são de 04 de março de 2004:



Três anos depois que o prefeito de Amsterdã oficiou o primeiro casamento gay na Holanda, índice de casamentos gays vem caindo e os primeiros divórcios têm sido registrados. O assunto desapareceu da agenda política.

Enquanto os Estados Unidos estão engajados num debate sobre a emenda constitucional para banir o casamento gay, os canadenses estão discutindo uma lei federal para legalize-lo e muitos países europeus estão adotando uniões civis para casais gays como foi dito acima.



Mas nos Países Baixos ninguém mais fala sobre o assunto.



"Tornou-se mesmo coisa que não demanda explicação”, diz Anne-Marie Thus, que em 2001 casou-se com Helene Faasen. "Nós somos totalmente comuns. Levamos nossos filhos para pré-escola todo dia. As pessoas sabem que não precisam ter medo de nós."



Ao redor do mundo, os países estão chegando à conclusão sobre como tratar os casais gays – e a tendência em muitos é de liberar as leis.



A Holanda foi o primeiro país a eliminar qualquer distinção entre gay e hétero, eliminando todas as referências a gênero nas leis que regem o matrimônio. A Bélgica fez o mesmo logo em seguida. Na Holanda, estatísticas governamentais mostra que 2.400 casamentos gays foram realizados nos primeiros nove meses, comparados com 1.500 anos passado.



O Canadá saltou para a vanguarda dos direitos gays na América do Norte em junho quando anunciou planos para legalizar casamentos do mesmo sexo. Muitos casais gays acorreram ao norte para casar em Ottawa e British Columbia depois que as cortes naquelas províncias autorizaram os casamentos.



No Japão, a homossexualidade não é mais considerada uma doença mental, mas muitos gays sentem-se pressionados a seguirem a linha do casamento heterossexual. O Japão é mais progressista que a maior parte da Ásia.

Países fortemente católicos como a Espanha e a Itália se recusam a reconhecer casais gays, seguindo os ditames do Vaticano. Mas existem importantes exceções.

Em Portugal e na Espanha Navarra e Basca, gay casais que vivem juntos por tempo suficiente recebem os mesmos benefícios que os heterossexuais sob leis de união comuns. Na capital da Argentina, Buenos Aires, casais gays podem registrar união civil.



A França e a Alemanha têm leis de união civil, e a Inglaterra acabou de adotá-las. (Fonte: Fonte: http://www.slate.com/id/2100884/ - Traduzido e adaptado de texto escrito por Toby Sterling)



Nos primeiros 40 dias de vigência da lei que permite a união entre pessoas do mesmo sexo na Inglaterra e País de Gales, foram realizadas 3.648 dessas cerimônias civis, de acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas da Grã-Bretanha.



A maioria dos casamentos foi entre casais do sexo masculino – 2.518 cerimônias – contra 1.138 entre mulheres durante o período de 21 de dezembro, quando a lei entrou em vigor, e 31 de janeiro. Foram realizadas 700 cerimônias só no primeiro dia. Casais do mesmo sexo passaram a ter direitos iguais aos heterossexuais em relação a questões como pensões, mas oficialmente a união não é considerada um casamento. Após a união, os casais homossexuais são oficialmente considerados parceiros.



3. No Brasil, sob conflito, a cidadania plena vai avançando



O IBGE inova e mostra que os gays existem. O Censo 2007 mostrará quantos casais gays vivem no Brasil. É a primeira vez que o IBGE inclui o item “companheiro do mesmo sexo” no questionário de um censo brasileiro. Essa novidade reflete uma lenta evolução do pensamento comum.



O Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) vai contar pela primeira vez quantos casais do mesmo sexo vivem no Brasil. O questionário de contagem da população do Censo 2007 vem com a pergunta que indaga o grau de parentesco com o responsável pelo domicílio. Neste ano, a população tem uma nova opção de resposta. Foi incluído o item “companheiro do mesmo sexo”.



O coordenador de divulgação do Censo, Celso Targuêta, em entrevista à imprensa, lembrou que nos anos anteriores o pesquisador registrava no papel esse tipo de informação. Porém, na hora de passar para o computador central não era aceita a união entre pessoas do mesmo sexo. Isso acontecia porque não existia um item específico.



O IBGE incluiu essa pergunta para atender a uma demanda da sociedade. “Essa é uma reivindicação antiga. E representa um marco histórico. Com esse levantamento, será possível discutir políticas públicas para famílias homoafetivas”, afirmou Cláudio Nascimento, coordenador do grupo Arco-Íris, em entrevista ao jornal O Dia. Nascimento disse torcer agora para a inclusão de casais gays nos programas federais Bolsa Família e Fome Zero.



Segundo dados do IBGE, os gays representam 10% da população brasileira, ou seja, um contingente de cerca de 18 milhões de pessoas. Esse número é muito grande para ser ignorado. Se partirmos do pressuposto de que os gays existem, trabalham, pagam impostos e estão presentes na sociedade desde quando o mundo é mundo, o Brasil está atrasadíssimo em relação ao tema. Só agora, em 2007, vamos saber quantos casais do mesmo sexo vivem no Brasil.



Essa novidade reflete uma lenta evolução do pensamento comum em relação aos gays. O preconceito e a Igreja são fortes aliados contra o segmento que faz de tudo para se fazer ouvir. Este ano, a Parada Gay de São Paulo reuniu 3,5 milhões de pessoas. Não dá mesmo para fingir que os gays não existem.



Os militantes do segmento traçam várias batalhas e devem estar comemorando esse feito. Basicamente, a luta é a favor da união civil de pessoas do mesmo sexo, adoção de crianças por casais gays e contra a homofobia. Apesar dos avanços, estatísticas revelam que a cada dois dias, um homossexual é assassinado no Brasil. Quem mantém registros regulares desse tipo de crime é o Grupo Gay da Bahia, presidido pelo antropólogo Luiz Mott.



Quem está de olho nesse grupo e deixando o preconceito de lado são as grandes empresas. Elas constataram que os gays gastam 30% a mais que os heterossexuais de mesma condição social. Funcionários de grandes hotéis recebem treinamento especial para atender esse tipo de cliente, multinacionais promovem a diversidade para inovar e empresas investem em publicidade voltada especificamente para o público gay.



Anexo: Matéria publicada pela revista Época, edição 341, novembro de 2004, intitulada Libertando-se do Armário. (para visualizar a entrevista, clique em http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG67648-6014,00.html ou copie e cole o link na barra de endereços do seu navegador)





Parabéns à revista VEJA

A revista VEJA de 09 de maio de 2007, portanto um dia depois do meu aniversário, presenteou não só a mim, mas a todos os que prezam o saber, com uma matéria muito bem escrita sobre Darwin. A edição foi a de número 2007-ano40-número 18. Apesar da chegada do Papa cheio de conversa fiada contra uma série de coisas que remetem ao medievalismo, como o combate a livre expressão sexual, a resistência ao uso da camisinha, a anatematização do aborto, e a reiterada (porém não explicitada em sua visita a São Paulo) perseguição aos homossexuais em sua afetividade e direitos civis, a revista corajosamente estampou em sua capa um tema que há muito incomoda o Vaticano e seus asseclas: a Teoria da Evolução das Espécies.



A matéria toda é de uma propriedade belíssima! Logo se vê que foi preciso muita coragem da parte de Charles Darwin para enfrentar a igreja, os eruditos dominados pela mentalidade criacionista de seu tempo, bem como sua própria mulher, que, devido às suas convicções religiosas, sofria por pensar que passaria a eternidade longe de seu marido, porque ela iria para o céu e ele para o inferno, em função de suas conclusões e declarações sobre a evolução das espécies. É lógico que mesmo uma ideia puramente imaginária pode gerar sofrimento real. Assim, uma pessoa que realmente acredite num mito pode sofrer como se o mito realidade fosse. E para quem convive com tal pessoa, certas conversas podem se tornar um calvário, ironicamente falando...



A despeito de tudo isso, Darwin ousou publicar sua obra e deu ao mundo a mais elaborada e permanente teoria científica sobre o surgimento e evolução das espécies até o momento.



VEJA publicou o que ela mesma chamou "Darwin em 10 perguntas e respostas", que eu transcrevo aqui. Mas a matéria é muito maior do que isso e vale a leitura. Quem tiver a revista, não deixe de ler. E quem não tiver, procure com alguém que seja assinante... talvez a própria empresa em que trabalha, consultório dentário, etc.



DARWIN EM 10 PERGUNTAS E RESPOSTAS:



1. O que Darwin descobriu?



Charles Darwin descobriu que todos os seres vivos, do mais sábio dos homens ao bacilo unicelular, podem ter sua linhagem ancestral traçada até o começo da vida sobre a Terra.



2. Por que isso foi tão explosivo no tempo de Darwin e por que ainda causa tanta polêmica?



Antes de Darwin a ciência se retorcia em torno da crença religiosa segundo a qual todos os seres vivos tinham sido criados por Deus, cabendo aos homens apenas dar-lhes nomes. Nenhum cientista teve antes de Darwin argumentos e coragem intelectual de se opor à ideia religiosa da criação. As descobertas eram praticamente adaptadas ao dogma religioso. Quando começaram a ser desenterrados ossos de dinossauros e outros animais extintos, o sábio francês Georges Cuvier (1769-1832) ofereceu a mais extraordinária dessas adaptações: "São ossos de animais que não conseguiram embarcar na arca de Noé e morreram no dilúvio bíblico". Darwin quebrou esse paradigma e chocou-se de frente com a hierarquia religiosa protestante e católica. Ele o fez de maneira serena mas irrefutável colocando de pé uma doutrina que se assenta sobre cinco pontos.



3. Quais são os cinco pontos que sustentam Darwin até os dias atuais?



Evolução - O mundo vivo não foi criado e nem se recicla perpetuamente. Os organismos estão em um lento mas constante processo de mutação.



O ancestral comum - Todo grupo de organismos descende de um ancestral comum. Os homens e os macacos atuais, por exemplo, divergiram de um mesmo ancestral, há cerca de 4 milhões de anos. Todos os seres vivos, e última instância, descendem de uma simples e primitiva forma de vida - a chamada "ameba original".



Multiplicação das espécies - As espécies vivas tendem a se diferenciar com a passagem das eras. Darwin desenhou a primeira "árvore da vida" em que espécies "tronco" vão dando origem a outras espécies que saem do veio principal como "galhos".



Gradualismo - As populações se diferenciam gradualmente, de geração em geração, até que as espécies que seguiram por um "galho" da árvore da vida não mais pertençam à mesma espécie do "tronco" ou de outros "galhos".



Seleção Natural - É a teoria essencial do darwinismo. Ela se baseia no fato de que os seres vivos sofrem mutações genéticas e podem passá-las a seus descendentes. Cada nova geração tem sua herança genética colocada à prova pelas condições ambientais em que vive. A evolução é oportunista a randômica. O que é isso? Primeiro, o processo evolutivo seleciona (ou seja, mantêm vivos e com mais chance de passar adiante seus genes) os animais e plantas cujas mutações são mais favorecidas pelo ambiente em que são obrigados a viver. Segundo, as mutações ocorrem ao acaso, e não com o objetivo de melhorar as chances de sobrevivência de quem as sofre. Um exemplo simples: os peixes primitivos não podiam tirar oxigênio diretamente da água. Alguns passaram por mutações que os dotaram dessa capacidade. Esses últimos se adaptaram melhor à vida aquática e hoje dominam os rios, lagos e oceanos.



4. A Evolução é uma Teoria ou uma Lei Natural? - É uma teoria científica. Como tal, ela pode ser desmontada desde que surja uma única prova de que ela não funciona. Darwin disse que se alguém lhe apontasse um único ser vivo que não tivesse um ascendente sua teoria poderia ser jogada no lixo.



Os neodarwinistas são ainda mais desafiadores: basta que se prove que um único órgão de um ser vivo (olhos, ouvidos, nadadeiras...) não teve origem de um proto-órgão (olhos, ouvidos, nadadeiras primitivas) e toda a teoria darwinista pode ser descartada.



5. Darwin fez tudo sozinho ou ele é mais um "filho do Iluminismo", como ficaram conhecidos outros sábios que contestaram dogmas religiosos em seu tempo? - O que Darwin fez como naturalista é quase miraculoso. Se ele não tivesse proposto a teoria da evolução, ainda assim seria lembrado como um dos gênios da humanidade. Seus trabalhos sobre botânica experimental, psicologia animal e classificação são obras que ainda são leituras atuais e obrigatórias para os estudiosos. Muitos pré-darwinistas pavimentaram o caminho para Darwin, em especial no que diz respeito ao gradualismo. Sábios gregos e chineses da antiguidade admitiam que formas de vida podiam se transformar com o tempo ou mesmo desaparecer. Alfred Russel Wallace, contemporâneo de Darwin, desenvolveu de forma independente uma teoria da evolução. O que fez de Darwin único foi o rigor de seu método científico, sua capacidade multidisciplinar e o processo disciplinado de extrair conclusões com base em décadas de observação.

6. O que os chamados neodarwinistas acrescentaram ao trabalho original de Darwin? - Muita coisa. Depois do impacto original de suas ideias, Darwin caiu em um quase-esquecimento. As primeiras duas décadas da ciência genética no século XX pareciam minar o darwinismo. Se todas as mutações genéticas descobertas até então eram mutiladoras (retardamentos, membros atrofiados...), como as espécies podiam evoluir? Coube a três grandes neodarwinistas colocar ordem na casa. O primeiro deles foi o americano nascido na Alemanha Ernst Mayr, que morreu em 2005, aos 100 anos. Mayr mostrou como funciona a seleção natural. Ele demonstrou que o isolamento era a chave da questão. Como ambientes isolados colocam pressões evolucionárias diferentes sobre uma mesma espécie, ela tende a mutar em diferentes direções até desgarrar totalmente do planel original. O segundo foi George Gaylord Simpson, que desencavou os "ossos velhos", os fósseis, que permitiram mostrar de maneira critalina a evolução que produziu os cavalos atuais. O terceiro foi Theodosius Dobzhansky. Seu trabalho com moscas de frutas uniu os campos da genética com o darwinismo. Dobzhansky demonstrou que nem toda mutação vai depender do ambiente onde o indivíduo vai viver.



7. Darwin disse que o homem descende do macaco? - Não. Darwin escreveu que tanto os homens atuais quanto os macacos atuais tiveram antepassados primitivos. Mas essa tem sido a mais resistente falsidade sobre o Darwinismo.



8. A briga da Igreja com Darwin vem do fato de ele ter tirado os homens da linhagem dos "anjos decaídos"? - Sem dúvida. Darwin mostrou que a linhagem humana é fruto de pressões evolutivas em ação por milhões de anos tanto quanto qualquer outro ser vivo. Sob esse aspecto a humanidade nada tem de especial.



9. Darwin nunca foi desmentido em nada? Em edições posteriores de sua obra A Origem das Espécies..., Darwin sugeriu que os seres vivos poderiam passar características adquiridas para seus descendentes. Esse mecanismo, que ele tomou de empréstimo do francês Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829), foi uma clara fraqueza de Darwin. Ele duvidou da seleção natural como único mecanismo de diferenciação. Ou seja, pelo menos por alguns anos Darwin acreditou na idéia, hoje absurda, de que a girafa tem pescoço comprido de tanto se esforçar para comer as folhas tenras do topo das árvores, as únicas que sobram em tempos de secas escaldantes.



10. A que se atribui essa fraqueza de Darwin? - Darwin enfrentou cerrada oposição das instituições científicas tradicionais, além de descrédito e pressões familiares terríveis. O pai de Darwin queria que ele se tornasse um clérigo anglicano, e não um naturalista. Emma, sua mulher, tinha certeza de que iria para o céu e Charles, por sua teoria, para o inferno. Ela se torturava com a ideia de "passar a eternidade" longe do marido. Nesse ambiente, não é estranho que Darwin tenha flertado com o mecanismo lamarquista, um processo menos ofensivo aos dogmas religiosos. No fundo, Darwin sabia que primeiro o pescoço da girafa cresceu por mutação aleatória, e essa mutação se mostrou favorável nos períodos de seca inclemente, de forma que a natureza a selecionou para sobreviver até os dias de hoje.







Sobre Sair do Armário para os Filhos

Sair do armário numa sociedade ainda tão machista como a nossa é sempre um desafio. Por isso, antes de qualquer coisa, a pessoa que é gay (homem ou mulher) precisa estar segura de si e amar-se acima de tudo. Só assim, ela vai ser capaz de encarar tudo com cabeça erguida, sem pedir licença para ser quem é nem pedir desculpas por ser quem é.



De todas as pessoas com quem travei algum diálogo sobre o fato de ser homossexual, os meus filhos foram, sem dúvida, as pessoas a quem eu mais dediquei reflexão. Precisava saber a hora e o modo melhores para conversar com eles. Cada um teve seu tempo. Eles mesmos me disseram a hora. E fizeram isso através de perguntas diretas e maduras. Isso me sinalizou que estava na hora de conversarmos. Com Larissa foi antes. Ela é mais velha que Isaac. Mas ele também teve a sua hora. Quem não leu a respeito, basta navegar no blog. O post em que falo sobre Larissa tem por título "Eu tenho uma filha assim" e o post em que falei sobre Isaac tem por título "Eu tenho um filho assim". Não foi por falta de criatividade que só mudei o gênero da palavra filha para a palavra filho. É que os dois tem pra mim o mesmo valor. Amo os dois igualmente. E não podia fazer diferença, apesar de cada experiência ser uma. Adoro aqueles dois!



Aliás, essa é a primeira vez que cito os nomes deles aqui. Geralmente, uso termos genéricos como filho para me referir a eles, mas agora está tudo tão resolvido que não há problema algum em referir-me a eles pelos nomes.



Prova disso foi uma experiência que minha filha me contou esta semana. Eu tirei um dia para dormir com eles na casa da minha mãe. Eu e Larissa conversamos até altas horas. Isaac ficou jogando com um coleguinha que dormiu na casa de minha mãe e depois dormiram na sala. Eu já estava morrendo de sono lá pelas tantas. Mas deu tempo de ficar sabendo de uma coisa que me impressionou sobre a maturidade, segurança e amor de minha filha.



Ela me disse que certo dia havia ido com as primas e amiguinhos à igreja de Nova Vida, mais especificamente a Terra dos Milagres - igreja grande e bastante conhecida no subúrbio do Rio de Janeiro. Eu mesmo já pregara naquela igreja várias vezes, sempre sendo muito bem recebido pela maioria das pessoas. Naquela noite, porém, o pastor presidente da igreja decidiu comentar a matéria "Libertando-se do Armário", que foi publicada pela revista Época em novembro de 2004, na qual eu dava uma entrevista sobre diversos assuntos relacionados à homossexualidade, à igreja, ao Moses e também falava da minha experiência de sair do armário.



Larissa estava na igreja. Pra minha sorte, eu já havia conversado com ela sobre o assunto, mas ela nunca havia comentado com as primas ou amigos sobre isso por ser simplesmente desnecessário. Se a própria mãe e avós que eram parentes diretos daqueles primos nunca conversaram com eles sobre o assunto, por ela deveria conversar? Agiu bem. Porém, o pastor colocou a revista no telão da igreja com minha foto bem na primeira página do artigo, e teceu aqueles comentários "simpáticos" e "amorosos" (para não dizer o contrário) que caracterizam a gentileza evangélica com tudo o que não está de acordo com a limitada visão de mundo que eles têm.





Minha filha estava lá e presenciando tudo. Logo em seguida, os primos e amigos cercaram-na ansiosos para saber que papo era aquele. Ela - com aquela tranquilidade e segurança pessoal que a caracterizam e que eu adoro - respondeu: Ué, minha gente, qual é o motivo do espanto? Meu pai é gay e pronto! Isso não quer dizer que ele seja de outro planeta, e nem eu. Pra mim, é super natural e eu adoro meu pai!



O pastor e a igreja nem imaginavam quem era Larissa. Só por aí já se vê como são ingênuos esses crentes. Eles pensam que a igreja é sempre um ambiente hermeticamente fechado, mas eles estão muito mais expostos do que pensam.



Tempos depois, uma das primas de Larissa que estava lá também, e que eu adoro, disse a ela: Pô, Larissa, teu pai é o maior barato. Ele é tão legal. Sempre super maneiro com vocês!



E Larissa respondeu: É mesmo! Eu adoro meu pai! E ele te acha linda, sabia? Ele sempre diz que você é uma modelo.



A prima disse: É, eu já ouvi isso várias vezes da parte dele, mas sempre acho que ele está exagerando.



Detalhe: Estou exagerando nada! Ela é realmente linda!



Hoje toda a família da minha ex-mulher sabe de tudo e me trata super bem. E se fosse o contrário, que diferença faria? Eu continuaria sendo eu mesmo. Mas é bom saber que eles são inteligentes e amáveis. Quanto a Larissa, ela me disse: "Pai, se você tivesse escondido isso de mim e eu ficasse sabendo naquela igreja e daquele jeito, eu nunca te perdoaria por não ter confiado em mim." Só que eu confio!!!!



Tem coisa melhor do que amar os filhos intensamente, confiar neles e ter da parte deles esse tipo de contrapartida? Mas tudo isso é construído. Dia a dia. Não está lá na natureza para ser colhido como se fosse tiririca do brejo. Tem que ser cultivado como se cultivam as uvas. Dá trabalho, mas o vinho dessas duas lindas videiras que brotaram de mim e da mãe deles não tem preço.



"Não se pode esconder uma cidade sobre a montanha, e nem se põe uma lâmpada debaixo da mesa, mas no velador para que alumie toda a casa" - palavras de um nazareno que tentou ser profeta, mas que fazem sentido como sabedoria popular. Eu não me escondo, e se tentasse jamais conseguiria. Viver dá menos trabalho quando a gente é autêntico. Pode dar trabalho no começo, mas não pra sempre. Agora, quem passa a vida se escondendo, passa a vida esquentando a cabeça e decepcionando as únicas pessoas que realmente interessam.



Larissa e Isaac, eu amo vocês!!!

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Eu tenho uma avó assim!!!

Hoje é domingo e mais uma semana ficou para trás, dando lugar a outra...



Na semana passada eu enfrentei um desafio que todos os mortais enfrentam vez por outra: fiquei doente. Uma inflamação na garganta gerou uma febre que só não me deixou na lona, porque esqueci como se cai. O jeito foi mandar para dentro um pouco de antibiótico e paracetamol combinados.



A febre baixou, mas o cansaço no dia seguinte era insuportável. Tive que dar horas de aula sem condições nem de ver televisão decentemente. Venci o desafio. Voltei para casa no fim daquele dia já um pouco melhor, mesmo sendo quase 11h da noite.



O remédio para a garganta continua, senão pode haver recaída. Mas a disposição é outra. Às vezes, fico impressionado com a resistência das pessoas que têm doenças crônicas. Não sei como elas aguentam. E isso me leva a outro pensamento: Como é viver sendo idoso? Não digo os idosos saudáveis e recém-chegados à terceira idade, mas aqueles idosos como minha avó, com quase 88 anos de idade...



Lembro dessa mulher fantástica, portuguesa, madeirense, mãe de um casal, avó de cinco netos, bisavó de três com outro a caminho (dois são meus e os outros dois da minha prima Beth). Essa mulher de cabeça aberta, apesar de católica até à raiz do cabelo, sempre foi, e continua sendo, uma grande amiga.



Mas se ela antes saía, viajava pelo Brasil e para fora dele, ia a festas, adorava andar bem vestida, perfumada, maquiada, bem penteada, atualmente, ela tem visto sua vida ficar restrita a idas e vindas do quarto para a cozinha, para o banheiro e (raramente!!!) para a sala de estar. Agora ela passa o tempo vendo televisão e dormindo. Sente dores nos braços, sente as pernas cansadas, não tem mais aquele mesmo tesão para sair, visitar os familiares, fazer compras, viajar. Tenho a nítida impressão de que ela já foi chama intensa, mas está desvanecendo após ter ardido tudo o que podia.



Não digo tudo isso com quem lamenta por aquilo que não teve (eu tenho uma avó assim!!!), mas como quem já sente saudade do que está perdendo aos poucos. Tenho a melhor avó que eu poderia querer, e não estou disposto a perdê-la. Mas Kronus é implacável. Ele tudo corrói. O nosso desafio é expandirmo-nos, desenvolvermo-nos, superarmo-nos, enquanto Kronus insiste em nos desgastar até o fim.



Minha avó fez isso até aqui e se demorar um pouco mais para que sua existência seja definitivamente interrompida, eu tenho certeza de que, mesmo não tendo mais as mesmas condições motoras, ela vai continuar tendo muita força emocional e intelectual para se tornar cada vez mais incrível todo dia!!!



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É possível ser feliz sozinho.

Pra algumas pessoas o medo de viverem sozinhas é tanto que algumas preferem fazer pactos de morte, pensando em morrerem juntas, a terem que continuar vivas sozinhas. Fico abismado com casos como o daquela funcionária pública que há poucos dias se deixou levar pela lábia de um expert em extorsão, que vivia da carência doentia de mulheres que escolhem a fragilidade como estilo de vida.



Será que o ser humano é um bicho tão estúpido que prefere a companhia do próprio assassino à solidão saudável que abre as portas para descobertas fantásticas a respeito de si mesmo e do mundo ao seu redor. Solidão não é sinônimo de enclausuramento, assim como companhia não é sinônimo de amizade ou altruí¬smo.



Mulheres hétero ou homo, homens hétero ou homo, que costumam se atirar a toda esperança de relacionamento, sejam mais vivos... Tem muita gente morrendo em vão, ao invés de viver pra valer!



Eu gosto tanto de bater papo com sgente cabeça que nem precisa muito mais do que isso para me deixar satisfeito... e olha que eu sempre fui romântico... e continuo sendo super quente, sexualmente falando, mas ainda gosto mais de mim mesmo e dos meus verdadeiros amigos do que dessa gente que só vive para vampirizar os outros, seja emocionalmente, financeiramente, ou qualquer outra forma de vampirismo existencial.



Amar é possí¬vel, mas não é obrigatório. Ser amado é uma delí¬cia, mas não é garantido. Lí¬quido e certo mesmo é que se eu não for feliz comigo mesmo, ninguém vai poder me fazer feliz. Uma pessoa espertalhona pode tornar-se meu ví¬cio, mas nunca minha fonte de felicidade mesmo. Também, se o outro não for feliz, ele não vai conseguir contribuir para a minha felicidade... talvez até colabore para a minha desgraça.



Cores cinzas para quem gosta tanto do colorido da vida? Sim, porque cinza também é cor. A vida é composta de um degradê enorme de mentes e intenções, que vão das mais fantásticas às mais desprezí¬veis. Cabe a cada um de nós decidir o que fazer da própria vida, e torcer para que dê certo.



Ótimo final de semana a todos, mesmo que seja no silêncio do seu quarto fazendo uma restrospecão qualquer e estabelecendo novos alvos... alvos passí¬veis de serem alcançados... e não sonhos irrealizáveis que só levam a novas frustrações ou a mentiras viciosas na tentativa de se esconder da própria realidade.



Carpe Diem!

Aproveitem o Dia!









Só uma coisa não muda: o fato de que tudo muda!

A vida vive mudando. Do final do ano passado pra cá, eu terminei o relacionamento com uma pessoa com a qual cheguei a morar junto. Pouco antes, saí do meu antigo emprego com a cara e a coragem porque queria dar uma guinada na minha vida profissional sem deixar de atuar no mesmo ramo: ensino de inglês. De lá pra cá, fiz umas rápidas tentativas de relacionamento, mas só para confirmar que, de fato, adoro viver sozinho! Tenho descoberto um prazer todo especial na solidão. Viver sozinho no meu canto e estar com todo mundo nas horas que eu posso e quero, sem ter que ficar atrelado a ninguém e sem ter ninguém atrelado a mim.



Dentro de um mesmo mês consegui três empregos, podendo escolher entre eles. Escolhi o que mais atendia às minhas demandas financeiras e de realização pessoal. Isso me proporcionou um sabor todo especial de autonomia...



Meus filhos parecem crescer aos saltos. Cada dia parecem maiores e mais maduros. Adoro os dois!!! Esses dias fui buscar minha filha no colégio só pra gente comer uma lasanha juntos num restaurante de massas e levá-la pra casa pessoalmente. Adorei o colégio. Ela está super feliz, e isso é o que mais importa. Meu filhote, sempre muito curioso e inteligente, aproveitou o dia em que dormi com eles na casa da avó para me fazer perguntas profundamente filosóficas. Larissa entrou no mesmo embalo e a gente teve uma conversa a três que abordou de forma acessí¬vel a eles o realismo e o idealismo, o racionalismo e o emotivismo, passando por questões de existência, de consciência e de memória. Foi uma delícia!!! E eles pareceram curtir muito o papo... É isso que dá ter pai apaixonado por Filosofia... hehehehe



Minha próxima meta é mudar de endereço. Ficar mais perto do trabalho ou mais perto dos filhotes são as duas possibilidades. Não demora e essa também vai se concretizar.



A vida é dinâmica e o mesmo rio nunca corre duas vezes no mesmo lugar... Então, o jeito é aproveitar cada oportunidade: inclusive aqueles momentos de paz e solitude que eu, apesar de extremamente extrovertido e sociável, ADORO!!!! Se a maioria dos relacionamentos que eu já tive esgotaram-se rapidamente, foi geralmente porque o outro não reclamava do espaço e da liberdade recebidos, mas não conseguia oferecer a mesma coisa. Sem liberdade, sem espaço, sem cobranças obsessivas, nada feito. Amor não é cadeia, e eu não sou bandido. O amor que me deixa livre é o mesmo que me amarra. O amor que tenta me algemar é exatamente aquele que me deixa escapar.



Carpe diem!!!

Sieze the day!!!

Aproveitem o dia!!!

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Sobre Sair do Armário para os Filhos

Sair do armário numa sociedade ainda tão machista como a nossa é sempre um desafio. Por isso, antes de qualquer coisa, a pessoa que é gay (homem ou mulher) precisa estar segura de si e amar-se acima de tudo. Só assim, ela vai ser capaz de encarar tudo com cabeça erguida, sem pedir licença para ser quem é nem pedir desculpas por ser quem é.



De todas as pessoas com quem travei algum diálogo sobre o fato de ser homossexual, os meus filhos foram, sem dúvida, as pessoas a quem eu mais dediquei reflexão. Precisava saber a hora e o modo melhores para conversar com eles. Cada um teve seu tempo. Eles mesmos me disseram a hora. E fizeram isso através de perguntas diretas e maduras. Isso me sinalizou que estava na hora de conversarmos. Com Larissa foi antes. Ela é mais velha que Isaac. Mas ele também teve a sua hora. Quem não leu a respeito, basta navegar no blog. O post em que falo sobre Larissa tem por título "Eu tenho uma filha assim" e o post em que falei sobre Isaac tem por título "Eu tenho um filho assim". Não foi por falta de criatividade que só mudei o gênero da palavra filha para a palavra filho. É que os dois tem pra mim o mesmo valor. Amo os dois igualmente. E não podia fazer diferença, apesar de cada experiência ser uma. Adoro aqueles dois!



Aliás, essa é a primeira vez que cito os nomes deles aqui. Geralmente, uso termos genéricos como filho para me referir a eles, mas agora está tudo tão resolvido que não há problema algum em referir-me a eles pelos nomes.



Prova disso foi uma experiência que minha filha me contou esta semana. Eu tirei um dia para dormir com eles na casa da minha mãe. Eu e Larissa conversamos até altas horas. Isaac ficou jogando com um coleguinha que dormiu na casa de minha mãe e depois dormiram na sala. Eu já estava morrendo de sono lá pelas tantas. Mas deu tempo de ficar sabendo de uma coisa que me impressionou sobre a maturidade, segurança e amor de minha filha.



Ela me disse que certo dia havia ido com as primas e amiguinhos à igreja de Nova Vida, mais especificamente a Terra dos Milagres - igreja grande e bastante conhecida no subúrbio do Rio de Janeiro. Eu mesmo já pregara naquela igreja várias vezes, sempre sendo muito bem recebido pela maioria das pessoas. Naquela noite, porém, o pastor presidente da igreja decidiu comentar a matéria "Libertando-se do Armário", que foi publicada pela revista Época em novembro de 2004, na qual eu dava uma entrevista sobre diversos assuntos relacionados à homossexualidade, à igreja, ao Moses e também falava da minha experiência de sair do armário.



Larissa estava na igreja. Pra minha sorte, eu já havia conversado com ela sobre o assunto, mas ela nunca havia comentado com as primas ou amigos sobre isso por ser simplesmente desnecessário. Se a própria mãe e avós que eram parentes diretos daqueles primos nunca conversaram com eles sobre o assunto, por ela deveria conversar? Agiu bem. Porém, o pastor colocou a revista no telão da igreja com minha foto bem na primeira página do artigo, e teceu aqueles comentários "simpáticos" e "amorosos" (para não dizer o contrário) que caracterizam a gentileza evangélica com tudo o que não está de acordo com a limitada visão de mundo que eles têm.





Minha filha estava lá e presenciando tudo. Logo em seguida, os primos e amigos cercaram-na ansiosos para saber que papo era aquele. Ela - com aquela tranquilidade e segurança pessoal que a caracterizam e que eu adoro - respondeu: Ué, minha gente, qual é o motivo do espanto? Meu pai é gay e pronto! Isso não quer dizer que ele seja de outro planeta, e nem eu. Pra mim, é super natural e eu adoro meu pai!



O pastor e a igreja nem imaginavam quem era Larissa. Só por aí já se vê como são ingênuos esses crentes. Eles pensam que a igreja é sempre um ambiente hermeticamente fechado, mas eles estão muito mais expostos do que pensam.



Tempos depois, uma das primas de Larissa que estava lá também, e que eu adoro, disse a ela: Pô, Larissa, teu pai é o maior barato. Ele é tão legal. Sempre super maneiro com vocês!



E Larissa respondeu: É mesmo! Eu adoro meu pai! E ele te acha linda, sabia? Ele sempre diz que você é uma modelo.



A prima disse: É, eu já ouvi isso várias vezes da parte dele, mas sempre acho que ele está exagerando.



Detalhe: Estou exagerando nada! Ela é realmente linda!



Hoje toda a família da minha ex-mulher sabe de tudo e me trata super bem. E se fosse o contrário, que diferença faria? Eu continuaria sendo eu mesmo. Mas é bom saber que eles são inteligentes e amáveis. Quanto a Larissa, ela me disse: "Pai, se você tivesse escondido isso de mim e eu ficasse sabendo naquela igreja e daquele jeito, eu nunca te perdoaria por não ter confiado em mim." Só que eu confio!!!!



Tem coisa melhor do que amar os filhos intensamente, confiar neles e ter da parte deles esse tipo de contrapartida? Mas tudo isso é construído. Dia a dia. Não está lá na natureza para ser colhido como se fosse tiririca do brejo. Tem que ser cultivado como se cultivam as uvas. Dá trabalho, mas o vinho dessas duas lindas videiras que brotaram de mim e da mãe deles não tem preço.



"Não se pode esconder uma cidade sobre a montanha, e nem se põe uma lâmpada debaixo da mesa, mas no velador para que alumie toda a casa" - palavras de um nazareno que tentou ser profeta, mas que fazem sentido como sabedoria popular. Eu não me escondo, e se tentasse jamais conseguiria. Viver dá menos trabalho quando a gente é autêntico. Pode dar trabalho no começo, mas não pra sempre. Agora, quem passa a vida se escondendo, passa a vida esquentando a cabeça e decepcionando as únicas pessoas que realmente interessam.



Larissa e Isaac, eu amo vocês!!!















Dói só de ver...

É inevitável a recorrência do tema da auto-homofobia. Não que seja recorrente em mim. Não. Estou resolvido no que diz respeito a isso. Mas esse medo ou repulsa de si mesmo é recorrente em pessoas ao meu redor e diante de mim. De uns dias para cá tenho pensado muito nisso, especialmente por me lembrar de dois casos angustiantes que passaram pelo meu caminho, e por assistir DE NOVO o filme "O Segredo de Brokeback Mountain" - essa dolorosa e bela história de amor. Para completar reli o livro "O Amor não Escolhe Sexo", que um certo amigo meu me emprestou há bastante tempo e eu ainda não devolvi (Ops!!!).

Bem, os dois casos que cruzaram o meu caminho foram dois rapazes que nutrem um enorme desconforto a respeito de si mesmos por causa de sua identidade sexual. Eles não se conhecem, mas representam uma parcela numerosa dos homossexuais em nosso país e talvez no mundo. Um deles que eu vou chamar de C. disse-me que só tinha experimentado duas relações homossexuais antes de me conhecer. Acredito. Pelo próprio desempenho dele na cama ficava claro que não tinha experiência mesmo. No entanto, era homoafetivo: isso era óbvio. Apesar do jeito masculino (com um leve toque de delicadeza - o que o tornava ainda mais atraente), ele gostava mesmo era de homem. Teve namoradas, mas nenhuma delas foi suficiente para esquecer o desejo por outros homens. No entanto, ele havia se privado - ao longo de toda adolescência e até um pouco depois da maioridade - de ter qualquer relação afetivo-sexual. Já o conheci depois da maioridade, diga-se de passagem.

Conversamos muito e eu tentei dar-lhe umas dicas a respeito do que significa ser gay e por quê ele não devia nutrir quaisquer sentimentos de auto-rejeição, a despeito de tudo o que ele ouviu em casa (família evangélica!!!!). A auto-homofobia nasce geralmente da homofobia alheia.

Esperava poder encontrar com ele outras vezes, especialmente para trocarmos ideias a respeito desse tema, mas ele passou a evitar qualquer contato pessoal e nunca retornava as ligações. Liguei somente duas vezes. Na segunda vez, avisei que não ligaria mais. Caso ele quisesse conversar, ele poderia fazer contato, mas eu estava desistindo. Já tinha visto esse filme antes e conhecia detalhadamente o roteiro. É mais um candidato a anos de sofrimento enfiado no armário do preconceito e do medo, que TALVEZ (não há garantias) saía do armário um dia, surpreendendo muita gente e lamentando-se por não ter feito isso antes, por ter evitado as pessoas que podiam ajudá-lo a tomar coragem para viver autenticamente... O roteiro é mais do que batido. Nunca mais recebi notícias.

O segundo caso foi de L. Também jovem, mas extremamente responsável. Estudante de engenharia, trabalhando numa grande empresa e morando com os pais, a quem ajuda até mesmo reformando a casa, L. acumula mais experiência que C., mas nutre um medo subserviente de que seus pais descubram que é gay. Não consegue se ver gozando o mínimo de liberdade, coisas simples que alguém maior de idade e ganhando seu próprio dinheiro geralmente faz: Tem hora para chegar em casa; o pai controla o roteiro do seu dia; não sai para qualquer programa alternativo no final de semana. Mais uma vez: família evangélica. L. deve ser do tipo que tem que estar na igreja em diversos horários do final de semana. Talvez cante no coral, talvez faça parte do grupo jovem, etc.

Mas, apesar de todo esse cuidado para viver na "bolha de plástico" do já socialmente formatado compartamento heterossexual, L. alimenta um sofrimento indisfarçável. Todas as vezes em que conversei com ele as lágrimas marejaram seus olhos. Ele é extremamente sensível, mas terrivelmente medroso e teimoso. Teme a opinião alheia e as conseqüências de qualquer revelação a respeito de sua homossexualidade. Contra si mesmo, teima em continuar no casulo do anonimato doentio.

Vale dizer que eu entendo quando alguém não revela sua homossexualidade, mas vive-a intensamente em todas as facetas. Ser gay não é só transar com alguém do mesmo sexo... a gente não é gay só na cama. A homossexualidade perpassa toda nossa personalidade e se expressa até quando não percebemos - não necessariamente em trejeitos ou modos de falar. Muitas vezes naquela sensibilidade típica de certos homossexuais como L. Mas quando alguém deixa de viver até mesmo singelos momentos como um chopp ou refrigerante ao redor de uma mesa de bar, porque o pai sabe a hora que ele chega e não tolera desvios de itinerários ou atrasos... Espera aí!!!! Isso já é demais!!! Estou falando de um adulto... não de uma criança!!!! L. é um jovem adulto, caramba!!! E como ele tem outros. Conheço um com cerca de 50 anos que não tem medo de si mesmo (ele sabe que é gay e curte), mas se pela só de pensar que alguém dentre amigos ou familiares possa imaginar que ele é gay. Porra, só não vê quem é cego... e o cara fica vivendo essa "Teoria da Conspiração" diariamente... já com 50 anos e extremamente bem-sucedido!!! É disso que eu estou falando.

Vendo "O Segredo de Brokeback Mountain" fico me perguntando sobre quantas pessoas vivem como Jack Twist (o moreno), ansiosas para assumirem seu amor e viverem em paz com seu amado e consigo mesmas, pois não vêem problema algum em serem naturalmente autênticas. E quantas outras vivem como Enis Del Mar (o loiro), sempre amedrontadas, reprimidas, tolhidas e sofrendo até espasmos por não poderem ficar com seu amor por causa de seu medo paralisante... rejeitando a si mesmas por temerem os outros!!!

Por outro lado, o livro "O Amor Não Escolhe Sexo" (de Giselda Laporta - Ed. Moderna) mostra a história de Marco Aurélio, que depois de muitos conflitos acaba se encontrando e vivendo muito mais feliz. Mas ele também teve que ser arrancado do casulo do medo e da auto-rejeição por circunstâncias que saíram do seu controle. Será que isso será necessário para que C. e L. também encontrem paz consigo mesmos?

Eu demorei a tomar minha decisão, mas quando a tomei não sobrou nenhum resquício de medo dos outros, auto-rejeição, insatisfação, etc. Sinto-me vivo, forte, em paz comigo mesmo e isso torna-me uma pessoa muito, mas muito mais feliz mesmo do que antes. Ver meus dois pimpolhinhos convivendo tranqüilamente comigo e sabendo que eu sou gay é um prazer à parte!!!! Conquistar cada vez mais os meus familiares, inclusive os mais distantes é outra alegria. Ver a cara de BUNDA daqueles que contavam os dias para a minha volta aos velhos padrões que misturavam religião e tentativa de viver heterossexualmente é outra delícia. Mas nada se compara ao sentimento de paz comigo mesmo... até mesmo orgulho. Gay pride - por que não? Saber que sou tudo o que sou porque nenhuma parte de mim está faltando... Isso é quase um orgasmo emocional!!! Eu paguei caro por sair do armário, mas todo aquele custo virou investimento agora que eu estou recebendo os benefícios que essa decisão me trouxe e ainda há de me trazer.

Riscos? Dores? Enfrentamento de situações difíceis? Nada que qualquer pessoa não experimente, seja hetero ou homossexual. Então, qual a diferença em termos de luta? Viver dá trabalho... sempre! Mas também dá muito prazer para quem vive autenticamente. Se o prazer puder ser maior que o trabalho, ótimo! Acho que estou vivendo essa doce inequação!!!

Viva sem medo! Viva em paz! Você pode ser feliz, mas nenhum moto-boy vai te entregar felicidade como pizza numa embalagem de papelão. Você tem abrir seu próprio espaço, conquistá-lo, ocupá-lo. E se os outros não gostarem, ligue o botão do FODA-SE no máximo e deixe o tempo fazer seu trabalho. Uma hora eles cansam!!! Não tire nada de ninguém, mas não deixe ninguém tomar o que é seu. Construa sua felicidade e se for possível ajude outros a construírem-na para si mesmos também!!! Só não deixe que os outros lhe digam em nome de um deus ou de si mesmos como você deve amar. Lembre-se do caso do soldado americano que ganhou duas medalhas na guerra do Vietnã e em 1975 foi expulso da Força Aérea americana por ser gay. Ele disse: "Fui condecorado por matar dois homens e punido por amar um".

Captou???

A propósito do caso do pastor Ted Haggard, um pouco de Nietzsche

Meus queridos leitores, tendo em vista a movimentação que o caso Ted Haggard, o pastor americano que manteve uma relação com um garoto de programa ao longo de três anos, decidi publicar um trecho de um livro que estou lendo no momento. Trata-se de uma obra de Nietzsche que ele escreve em 1889 e que é publicada por ele mesmo. "Crepúsculo dos Ídolos" é o nome dessa pérola. Estou transcrevendo um trecho que diz respeito especificamente a essa idéia de que o homem pode ser melhorado pela moral ou pela religião. Penso que se aplique perfeitamente ao cenário que nos cerca hoje, no que diz respeito às promessas de transformação que o cristianismo e outras correntes moralistas insistem em apresentar continuamente através de todos os meios de comunicação disponíveis.

Vejam o que Nietzsche escreve e como é atual e pertinente:



"Em todos os tempos quis-se 'melhorar' os homens: este anseio antes de tudo chamava-se moral. Mas sob a mesma palavra escondem-se todas as tendências mais diversas. Tanto a domesticação da besta humana quanto a criação de um determinado gênero de homem foi chamada 'melhoramento': somente estes termos zoológicos expressam realidades. Realidades das quais com certeza o sacerdote, o típico 'melhorador', nada sabe - nada quer saber... Chamar a domesticação de um animal seu 'melhoramento' soa, para nós, quase como uma piada. Quem sabe o que acontece nos amestramentos em geral duvida de que a besta seja aí mesmo 'melhorada'. Ela é enfraquecida, tornam-na menos nociva, ela se transforma em uma besta doentia através do afeto depressivo do medo, através do sofrimento, através das chagas, através da fome. - Com os homens domesticados que os sacerdotes 'melhoram' não se passa nada de diferente. Na baixa Idade Média, onde de fato a igreja era antes de tudo um amestramento, caçava-se por toda parte os mais belos exemplares das 'bestas louras'. 'Melhoravam-se', por exemplo, nobres alemães. Mas com o que se parecia em seguida um tal alemão 'melhorado', seduzido para o interior do claustro? Com uma caricatura do homem, com um aborto. Ele tinha se tornado um 'pecador', ele estava em uma jaula, tinham-no cercado entre puros conceitos apavorantes... Aí jazia ele, doente, miserável, malévolo para consigo mesmo; cheio de ódio contra os impulsos à vida, cheio de suspeita contra tudo que ainda era forte e venturoso. Resumindo, um 'Cristão'... Fisiologicamente falando: o único meio de enfraquecer a besta em meio à luta contra ela pode ser adoecê-la. A igreja compreendeu isso: ela perverteu o homem, ela o tornou fraco, mas pretendeu tê-lo 'melhorado'..."

(Nietzsche, Friedrich - O Crespúsculo dos Ídolos, ou, Como Filosofar com o Martelo - Ed. Relume Dumará, 2000, p. 58,59)





Bem, já dá para perceber como o pensamento de Nietzsche é contemporâneo e provocador. Ótimo! A sociedade ocidental tem que sair desse sono dogmático a que se entregou. E nós, cidadãos gays, temos que sair do marasmo intelectual e da anestesia existencial a que nos entregamos. Não é fácil assumir a responsabilidade pela própria vida, mas é fundamental para que nos tornemos seres humanos maduros e saudáveis. Não precisamos de pastores e nem de rebanhos para sermos plenos. Precisamos apenas de nós mesmos, sempre deixando espaço para aqueles que tem a ousadia, a força e a tranqüilidade de nos amar como somos (não que precisemos desse amor como migalhas que se atiram aos cães). Não. Aceitamos e prezamos o amor desprendido, maduro, materialmente desinteressado, mas não podemos viver à cata desse amor, por melhor que ele seja aos nossos sentidos. Ninguém vai ser feliz enquanto fizer essa felicidade depender da aceitação de outrem. Amar-nos a nós mesmos é o primeiro passo. Mais do que aceitarmos a nossa própria condição existencial, precisamos nos alegrar com ela, porque tudo o que somos é o que somos, e nenhuma parte poderá ser comprometida sem que comprometamos o todo.



Então, deixemos aos hipócritas o rídiculo ato da confissão, e ocupemo-nos com a deliciosa experiência da celebração: celebração da vida, da arte, da força, da saúde, da paixão, da sexualidade, da degustação do que é bom ao paladar e à manutenção e expansão da vida!!!!



Haggard (que já era detestável com seu jogo duplo, perseguindo os homossexuais ao mesmo tempo em que buscava um que lhe desse prazer) era muito menos desprezível enquanto fazia aquele jogo duplo do que agora que finge-se arrependido e dá a bunda à palmatória dos sacerdotes de plantão. Estes deliciam-se com o castigo alheio, com a imposição de flagelos e humilhações, como se estivessem "melhorando" esse "pecador". A diferença é que as bestas fugiriam de seus adestradores se tivessem a oportunidade, mas no caso de Haggard, é a própria besta que se entrega ao adestramento - é um animal adoecido que já nem lembra o sabor da liberdade. Será que Haggard alguma vez desfrutou a liberdade do animal selvagem ou já nasceu no cativeiro do lar cristão?



Agora, deixando essa vaquinha de presépio por um momento, volte-se para si mesmo e pergunte-se: Eu sou livre? Ou continuo me colocando sob o jugo dos sacerdotes e moralistas de qualquer nuance? Eu, Sergio Viula, já fui uma besta adestrada - tanto no catolicismo como no protestantismo. E quando rompi com o sistema que me prendia e adoecia muitos se espantaram. Agora o que lança o pânico da perplexidade na mente já confusa desses espantados crédulos é o fato de que nada do que eles esperavam que me acontecesse tenha efetivamente acontecido. Pelo contrário, estou mais VIVO do que nunca, e com "vivo" não quero dizer apenas o contrário de morto. Quero dizer PLENO!!!



Como eu disse ao meu amigo Cardo numa resposta a um de seus muitos comentários inteligentes, continua valendo aquela peça musical ontológica de uma de nossas maiores divas: "I am what I am and what I am needs no excuses." (Traduzindo: Eu sou o que sou e o que sou não precisa de desculpas) Será que Ted Haggard nunca ouviu isso? E você, está entre os que vivem confessando suas "culpas" ou entre os que celebram sua existência com todas as potencialidades que ela representa?









Ted Haggard finalmente confessa que é gay!!!

05 de novembro de 2006 - 20:41



Líder evangélico americano admite "imoralidade sexual"



Ted Haggard, de 50 anos, um dos opositores mais ferrenhos ao casamento entre homossexuais, foi acusado de manter relações sexuais com garoto de programa



WASHINGTON - O líder evangélico americano Ted Haggard, de 50 anos, um dos maiores opositores ao casamento entre homossexuais, admitiu, neste domingo, ser culpado de "imoralidade sexual", dias após ser acusado de manter relações com um garoto de programa.



Em carta à congregação da Igreja da Nova Vida em Colorado Springs, no estado do Colorado, lida hoje por um clérigo durante um serviço religioso, Haggard assegurou estar há muito tempo lutando contra esta "parte repulsiva" de sua vida.



"Sou culpado de imoralidade sexual. Sou um mentiroso. Há uma parte da minha vida que é muito obscura e repulsiva, e estou lutando contra ela por toda a minha vida adulta", confessou, pedindo desculpa aos fiéis.



Haggard tinha apresentado a renúncia no sábado como líder de sua igreja e da Associação Nacional de Evangélicos, que reúne cerca de 30 milhões de fiéis, depois que investigação interna o considerou culpado de "conduta sexual imoral."



O garoto de programa Mike Jones disse que Haggard o pagou para ter relações sexuais durante três anos. Ele afirmou ter se sentido traído após saber que a pessoa que ele conhecia como "Art" era um importante pastor evangélico que lutava contra o casamento homossexual em suas aparições na televisão.



O reverendo negou as acusações no primeiro momento, mas depois admitiu ter pago a Jones para que lhe desse metanfetaminas - que depois jogou fora sem usá-las, segundo ele - e lhe fizesse uma massagem em um hotel de Denver, Colorado.



Haggard, casado e com cinco filhos, é uma das figuras mais conhecidas do movimento evangelista nos Estados Unidos. Ele foi incluído na lista de 25 líderes evangélicos mais influentes da revista Time e já assessorou a Casa Branca.



Fonte: Estadão - http://www.estadao.com.br/ultimas/mundo/noticias/2006/nov/05/99.htm

Nivelar para fomentar o consumo padronizado...

Nivelar para fomentar o consumo padronizado. Essa parece ser a ideia que permeia tudo o que faz o chamado mundo moderno - ou como alguns preferem "pós-moderno". Grandes indústrias precisam de grandes mercados. E o comércio não pode se dar o privilégio de atender individualidades... ele precisa massificar, padronizar, nivelar. Esse é o papel da propaganda. Despertar desejos semelhantes em pessoas diferentes, a fim de que elas comprem e consumam as mesmas coisas, a despeito de suas peculiaridades pessoais.

Isso parece não ser muito diferente no que diz respeito ao modo como o comportamento sexual é encarado pelo "sistema". Até pouco tempo atrás, os homossexuais eram considerados seres marginais na pirâmide social - o que nunca foi verdade. Homossexuais inteligentes, bem-sucedidos e formadores de opinião sempre existiram. Grandes nomes como Santos Dumond, Leonardo Da Vinci, Sócrates, Alexandre - o Grande, e incontáveis pensadores, escritores, atores, pintores, escultores, inventores, ou seja, de todos os tipos de profissionais sempre houve aqueles que eram homossexuais.

Porém, só recentemente o "mercado" descobriu o quanto os homossexuais podiam ser consumidores com grande ou médio potencial financeiro. Outro mito: agora todo homossexual tem o que eles chamam "pink money". Não é verdade. Tem muito gay ganhando mal e vivendo com as mesmas dificuldades que outros milhões de brasileiros não-gays. Entretanto, o mito aqui alimenta grandes negócios. E os homossexuais são agora nivelados de uma outra maneira, padronizados como ávidos consumidores com grande poder aquisitivo e ansiosos por gastar cédulas sobressalentes ou utilizar cartões polivalentes. Isso faz parecer que não há diferenças entre eles e que todos eles representam grandes cifrões - o que tem gerado uma aceitação maior por parte dos formadores de opinião na mídia e em seguimentos industriais e comerciais. Mas será que tem mudado essencialmente a concepção que as pessoas costumavam alimentar sobre os homossexuais, tipo: "eles não são como nós, mas tudo bem... não incomodam..."?

Parece que alguns têm se livrado desse tipo de preconceito, mas muitos ainda o nutrem... só não se atrevem a pronunciá-lo, pois preferem também ficar nivelados como "politicamente corretos" para não chamarem a atenção pública sobre sua estupidez de estimação. Escondem-na, mas jamais se livram dela.

É por isso que eu acredito que a dignidade de um homossexual - como de qualquer outro ser humano - é sempre construída por ele mesmo, não dependendo de quão popular ou atual determinado pensamento seja na mídia, na política ou em qualquer outro segmento.

O negócio é viver de forma tranquila, resolvida, amando a quem se ama, sem pedir licença e nem desculpas a ninguém por causa disso, mas também sem se achar a última batatinha do pacote.

Experimente fazer isso começando agora mesmo. Você vai ouvir ou ver algumas coisas desagradáveis, mas não baixe a cabeça. Siga em frente. Logo aqueles que te atacam silenciarão, mas você terá vivido e continuará vivendo o melhor que puder no seu dia-a-dia... e o que é melhor - de modo feliz!

Ótimo final de semana!



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Vigários sinceros e outros não tão sinceros vigaristas





É impressionante como os temas relacionados ao comportamento e à identidade individualizada dos seres humanos esbarra sempre nos mesmos pontos, não importando o tempo.

Esses dias - por uma daquelas coincidências gostosas que a vida traz - encontrei uma edição da revista Newsweek de 06 de maio de 2002, na qual o tema da homossexualidade, do celibato, da mulher no sacerdócio e da heterossexualidade dos padres foi encarado de forma corajosa e desprovida de máscaras e preconceitos pela equipe de jornalistas. Em oito preciosas páginas a revista encarou os fatores que denunciam a estupidez do celibato obrigatório, da repressão tanto à homossexualidade como às relações heterossexuais por parte dos sacerdotes, bem como os escândalos de pedofilia praticada por padres de ambas as orientações sexuais.

A matéria é inaugurada com um comentário sobre as conversas entre os bispos romanos e os prelados americanos a respeito dos casos - então predominantes na mídia e nos tribunais - envolvendo padres pedófilos. O que chama a atenção é que de repente todos os casos de pedofilia se concentraram numa caçadas aos padres homossexuais. É óbvio que todos devemos nos opor à pedofilia, seja ela homo ou heterossexual, mas o Bispo Wilton Gregory - entrevistado pelos jornalistas - parecia saber a causa do problema: "Esta é uma luta contínua. É principalmente uma luta para nos certificar de que o sacerdócio católico não esteja dominado por homens homossexuais." Pensando saber a causa da pedofilia, o Bispo demonstra sequer entender a sexualidade humana em seu sentido mais amplo. Ele arbitrariamente transferiu o foco da questão de sobre um crime para colocá-lo sobre uma característica natural de milhões de seres humanos que nada têm a ver com o comportamento doentio de quem abusa de crianças.

Ora, é óbvio que qualquer caso de pedofilia comprovada deve ser punido judicialmente com rigor - sem falar que o melhor é criar mecanismos para evitá-los. Mas a igreja sempre encobriu tais casos. Principalmente, quando o crime de pedofilia era praticado por padres heterossexuais. Agora, estrategicamente a igreja concentra a "causa" do problema na homossexualidade, obviamente, para deflagrar uma caçada às bruxas repaginada.

O problema é que essa atitude ridiculamente simplista e iníqua ignora gente como um padre - irmão de sacerdócio do Bispo Gregory - que é um dos milhares de bons e fiéis clérigos que vêm a ser homossexuais. Esse homem faz suas orações, celebra duas missas, aconselha pessoas, e disse a Newsweek: "Sou gay, mas essa não é a única coisa que eu sou. Então sou gay, e o padre ali adiante é polonês - e daí? O que importa é que sou fiel, criativo e devotado a Deus." Mas ele tem motivos para temer uma caça às bruxas,uma vez que clérigos como o Bispo Gregory pensam: "A igreja está de fato dizendo: 'Se você parar de ordenar gays, você vai acabar com o abuso sexual." Ao invés de iniciar um diálogo sério e sem preconceitos sobre a sexualidade de um modo mais amplo, principalmente depois de tanta sordidez nessa área em toda a história da igreja - e mais amplamente divulgado em tempos recentes - a igreja declara tolerância zero, mas se esquece de que o confessionário tem sido o palco para as mais diversas demosntrações de libido entre padres e mulheres, principalmente.



Para tratar do futuro do celibato clerical, do lugar da mulher no sacerdócio e do papel dos homossexuais no ministério, a igreja precisa enxergar seu tempo atual com suas próprias luzes e explorar as nuances de interepretação bíblica e histórica sugeridas por alguns dos setores do cristianismo. Mark D. Jordan, um professor de religião e um gay católico afirma que "se não houvesse homossexuais no sacerdócio, logo deixaríamos de ter uma igreja funcionando."

Muitos católicos vêem com bons olhos a ordenação de padres gays ou a permanência dos que já são padres, mesmo depois de assumirem publicamente sua identidade sexual. "O que me interessa é o bom padre, e eu não penso que um bom padre seja determinado de maneira alguma pela sexualidade dele ou dela." - diz Louis P. Vitullo, 57, um advogado de Chicago educado em escolas católicas e freqüentador da igreja. "A pessoa é bem equilibrada? A pessoa pode atender às necessidades das pessoas às quais ela destina seus serviços sacerdotais? E, mais basicamente, são pessoas em quem podemos confiar?"







10/08/2006 11:15 - publicado por Sergio [ Alterar ] [ Excluir ]





A visão católica de sexualidade e, conseqüentemente de casamento, é a de que a união sexual visa tão-somente a reprodução. Mas, o que dizer dos milhares (talvez milhões) de casais que não procriam ou das inúmeras relações sexuais que um casal realiza sem a mínima possiblidade de procriar?

Os mais tradicionalistas alegam que a Bíblia fala contra a homossexualidade, mas geralmente eles concentram-se em cinco ou seis passagens que têm diversas outras conotações. No Levítico, por exemplo, a passagem que diz que um homem não se deitará com outro homem está no mesmo capítulo que passagens que falam contra a mistura de sementes diferentes numa mesma lavoura, uso de roupas que combinem tecidos diferentes, proibição de que mulheres em seu período mestrual entrem no templo ou se aproximem de outras pessoas, sob a alegação de que são imundas etc. Dá para levar isso a sério depois de todo o "Esclarecimento" do século XX e já iniciado XXI?

De fato, a defesa bíblica à escravidão é mais forte do que suas contradições à homossexualidade, e ninguém mais apela à Bíblia para justificar a escravidão. O Vaticano, inclusive, chegou a ser uma voz contrária à escravidão num dado momento da história, apesar de ter se beneficiado da escravidão direta ou indiretamente. Paulo, que muita gente admira foi um dos mais soberbos e cínicos apóstolos [na verdade, auto-proclamado apóstolo, uma vez que não fazia parte dos doze] - esse mesmo Paulo que tantos admiram corroborava a escravidão em suas cartas: "Escravos, obedecei a vossos senhores terrenos com temor e tremor, com um coração puro, como obedeceis a Cristo...". Agora isso é coisa que se leve à serio tomando chicote no lombo e sendo tolhido em toda a sua dignidade? É fácil para o burguesinho, versado em judaísmo e helenismo, falante de várias línguas, e sustentado pela boa vontade de um bando de cristãos do primeiro século...

Mas a escravidão não foi a única loucura a ser abolida. O mesmo se deu com o anti-semitismo, a proibição de que as mulheres falassem na igreja, etc. Tudo isso foi usado em nome da Bíblia e depois abandonado em nome do bom senso. Por isso, a sexualidade é a próxima fronteira a ser derrubada para que haja verdadeira justiça no trato da igreja com os clérigos e leigos que comungam com ela, bem como com os não-religiosos.

Pedir que os homossexuais suprimam sua identidade sexual é uma violência, uma crueldade. Quanto mais aprendemos sobre a sexualidade humana, mais chegamos à conclusão de que a atração pelo mesmo gênero é algo que nasce com o ser humano ou que se desenvolve tão cedo que não é o que a maioria de nós consideraria como uma "escolha" manipulável mais do que nascer negro, judeu ou mulher.

O celibato católico NÃO é tão velho quanto a igreja. Durante oito séculos a igreja não teve nenhuma determinação papal contra o casamento dos clérigos. De fato, pelo menos três papas tiveram filhos que os sucederam no trono papal. Portanto, foi por motivos políticos e econômicos - não escriturísticos - que a igreja estabeleceu a regra celibatária. O ponto é que que a privação de companheiro(a) devidamente reconhecido e aceito leva à clandestinidade, e essa clandestinidade pode levar a comportamento nocivo, seja hétero ou homossexual. A igreja precisa reconhecer a legitimidade do amor em qualquer modalidade, desde que sejam legalmente responsáveis por si mesmas as partes envolvidas.

Quanto às mulheres, se a igreja não reconhecê-las como sacerdotisas - gays ou heterossexuais - sofrerá perdas ainda maiores. Donald Cozzens cita um prognóstico feito por um vigário-geral aposentado: "A redução de sacerdotes não será resolvida orando por mais vocações. As mulheres são as que identificam e nutrem vocações, e elas não estão fazendo mais isso. Elas dizem: 'Uma igreja que não aceita minhas filhas não vai levar meu filho.".

Agora, por que um ateu como eu está interessado nesse assunto eclesiástico? Obviamente, porque não é meramente eclesiástico, mas social, político, cultural. Que a igreja sofra solução de continuidade não me preocupa mais do que se o presidente americano George Bush comeu bacon com ovos no café da manhã. Mas que homossexuais crentes em sua religião possam ver-se integralmente e naturalmente envolvidos no ministério para o qual se sentem vocacionados é uma questão que não exige fé, mas bom senso! Agora que a religião é essencialmente motivada pelo binômio culpa-medo, disso não duvido e , por isso, preferiria que as pessoas resolvessem seus dilemas existenciais - ou que pelo menos convivessem com eles - sem se submeterem a outros.

Entendo que para alguns bons seres humanos - e eu sou amigo, filho, pai, neto, sobrinho etc de alguns deles - a idéia de que não haja um deus lá em cima com agentes visíveis (padres, pastores, rabinos, pais-de-santo etc) e invisíveis (seus anjos e mensageiros espirituais) aqui em baixo parece assustadora. É o velho medo que os indefesos seres humanos - diante de um universo misterioso e grandioso em todos os seus fenômenos - nutrem. Medo esse que foi acrescido de culpa no dia em que alguém surgiu com a idéia de que talvez fenômenos como doenças, inundações e secas seriam vingança de uma divindade irada contra os pobres mortais por causa de alguma "querela sagrada" do tipo: não coma isso, não faça aquilo, não pense ou deseje aquiloutro.

Esse medo do desconhecido presente ou futuro e essa culpa, como se houvesse sempre algo a ser confessado, são as poderosas forças que mantém as igrejas abertas e abarrotadas ainda hoje, pois mesmo naquelas em que o interesse seja tão-somente a prosperidade financeira, o que paira na mente do indivíduo é o medo - neste caso, medo da desgraça financeira num mundo que muda o tempo todo.

Mas como os homens não podem viver sem ilusão alguma. a religião se torna esse último galho ao qual muitos se agarram tentando evitar a correnteza do rio da vida. Todos temos ilusões em alguma medida, mas nenhuma pode ser tão castradora de individualidade quanto aquela que em nome de um deus ordena que eu deixe de ser homem. Sim, porque com suas proibições de ordem sexual, incentivo ao jejum, à vigília, à penitência, à supressão do desejo, à negação de mim mesmo para ser semelhante a um pai celestial ou seu filho igualmente divino, o cristianismo me impõe limites insuportáveis enquanto ser humano, ser terreno, ser de afecções, de memória, de razão, e dono de uma corporalidade bela e pujante.

Prefiro dizer não à castração absolutamente desnecessária, despropositada e inútil da religião de um modo geral e dizer sim a tudo o que for belo, virtuoso e vital à minha própria humanidade e à humanidade dos meus semelhantes. Sou contra aquilo que vilipendie o ser humano e, por isso, sou contra o abuso sexual ou moral de qualquer ordem. Sou contra a exploração financeira que o homem ocidental sofre a cada dia. Sou contra o que oprime o homem, não contra o que o liberta!!! Adoro ser gente, ser humano, mesmo sendo tão frágil.

Não preciso nem dizer aos que amam a si mesmos, à vida e a alguns [é impossível amar todos] outros seres humanos que aproveitem o dia... mas só para não perder o costume:

Carpe Diem!!!



EU TENHO UM FILHO ASSIM!!!

Os que acompanham esse blog há mais tempo sabem que eu já escrevi uma mensagem com um título parecido com esse. A diferença é que eu disse "Eu tenho uma filhA assim". Na época, eu falei sobre como saí do armário para a minha filha e como ela aceitou bem a notícia. Agora a mensagem é "Eu tenho um filhO assim", porque - para minha alegria - eu não tenho somente uma filha maravilhosa, mas um filho maravilhoso também - o que me torna um pai duplamente feliz!!!!!

Quando meu filho tinha nove anos, ele me perguntou qual havia sido o motivo da minha separação da mãe dele, já que eu sempre demonstrei gostar tanto dela. Disse a ele que havia motivos que eu não podia explicar naquele momento por amor a ele, mas que logo que eu percebesse que ele era capaz de entender, eu conversaria sobre isso com ele. Perguntei se ele confiava em mim e se poderia esperar mais um pouco. Ele disse que sim. Nos abraçamos e beijamos. O tempo passou. Ele agora está com quase doze anos. Faltam literalmente seis meses para ele completar essa idade. E ontem tivemos uma conversa maravilhosa!!! A mais séria e linda que já tivemos!

Meu filho e minha filha estiveram em minha casa. Marcus fez um lanchinho para eles à tarde. À noite nós iríamos a um restaurante da Ilha do Governador comer algo especial. Logo depois do lanche, quando Marcus conversava com Larissa ouvindo música, ele chegou perto de mim na cozinha e fez menção de fazer uma pergunta, mas parou no caminho.

Eu disse: "O que foi filho?" Ele falou: "Nada, não." Eu disse: "Pode falar, príncipe. Você sabe que eu tenho um papo super aberto contigo e não há pergunta que não possa ser respondida." Aí, ele tomou coragem e tranqüilamente perguntou: "Pai, quando foi que você percebeu que era gay?" Eu que pensava que ele ainda não soubesse perfeitamente, mas que desconfiava de alguma coisa, fiquei supreso e feliz com a pergunta, porque me dava a chance de finalmente conversar com ele num momento em que ele estava preparado para ouvir.

Convidei meu molequinho para dar uma volta na rua, a fim de conversarmos a sós. Batemos um papo super cabeça, de homem para homem, de pai para filho, e tudo foi belo e construtivo. Ele já sabia que Marcus era meu namorado antes mesmo de eu dizer qualquer coisa. Ele me disse que soubera desde o primeiro dia em que nos viu num shopping center. Detalhe: Naquele mesmo dia ele me disse que gostara do Marcus, que ele era muito legal e sabia conversar sobre tudo... detalhe o papo era sobre jogos eletrônicos, que este pirralhinho - como todo garoto dessa geração cyber adora e domina.

Achei muito engraçado quando ele me disse: "Pai, você sabe que eu gosto das meninas, que desde que eu tinha uns oito ou nove anos eu adorava beijar na boca das meninas." Eu lembrei daquela música da Ana Carolina que diz: "Eu gosto é de mulher... Eu gosto é de mulher..." Eu comecei a rir e disse: "Que legal! Então, quando você começar a namorar, me apresente sua gata, que eu vou dar o maior apoio, igual eu fiz quando sua irmã namorou o Leonardo e depois o Rafael." E assim ficamos combinados.

Voltamos para casa e depois fomos ao restaurante sem qualquer comentário extra sobre o assunto. Ele, super discreto e resolvido, bateu altos papos comigo, com Marcus, com a irmã dele e com a tia, que também foi fazer uma boquinha com a gente.

Agora me digam: Dá para eu deixar de ser coruja e babão com dois filhos desse quilate? E o melhor é que eles fazem a mesma coisa comigo!!!

Moral da história para quem é pai ou mãe gay e hesita em se abrir com os filhotes: Seja o melhor pai ou mãe que você puder e nunca tenha medo de conversar decente e sinceramente com seus filhos, especialmente quando eles demonstrarem interesse em saber sobre você e sua vida. Faça tudo com bom-senso e uma dose grande de amor, e dê tempo para a semente da harmonia germinar e crescer. Você vai colher bons frutos certamente. Mas nada disso será suficiente se você não for presente e atuante no dia-a-dia deles. Nada falará mais alto do que o mau ou o bom exemplo. E pode ter certeza, ser um bom pai ou mãe gay pode ser um excelente exemplo mesmo para filhos assumidamente heterossexuais!!!

Ótimo domingo e excelente semana para todos!!!

Um Jogo Perdido

Calma que não é mau agouro contra o Brasil e nem subestimação da Croácia, que joga hoje contra a seleção canarinho. Trata-se do jogo perdido da vida contra a morte. Não que a morte seja necessariamente ruim. Ela faz parte da dialética da vida. Talvez seja mais comum o não-ser do que o ser. O problema é que a gente não sente falta do que nunca veio à existência. Por outro lado, quando alguém que a gente ama deixa de ser... a gente sofre.

Domingo passado, véspera do dia dos namorados 2006, eu passei o dia entre clínica, casa da família e hospital. É que um dos meus mais queridos amigos estava numa clínica em estado grave. Ele que me chamava de genro e de "filho que não teve", mesmo depois de me separar de sua filha e sair do armário, estava enfrentando o pior momento de sua vida.

Fiquei sabendo da situação por um telefonema da minha ex-mulher. Corri para a casa dos pais dela. Consegui uma internação adequada num hospital em que trabalha a mãe de um amigo meu. Minha irmã dirigiu para cima e para baixo, a fim de me ajudar a resolver a situação. Pegamos meu "sogro" na clínica e transportamos para o hospital.

Quando vi o estado dele soube na mesma hora que estava diante de um homem em seus últimos momentos de vida. Fiquei quieto para não assustar a família. Internei o velho amigo. Fiquei horas no hospital até ter certeza de que estava medicado, assistido e bem acompanhado por membros da família, depois voltamos para casa: eu, minha irmã, e minha ex-mulher.

No carro e em casa, tive uma das melhores e mais produtivas conversas com a mãe dos meus filhos. Entre outras coisas, preparei-a para a morte aparentemente certa de seu pai. Ela chorou, compreendeu, e se recompôs... Seguiu em frente.

Fui para casa. Em casa contei ao Marcus tudo o que havia acontecido durante o dia. Ele foi extremamente compreensivo. Eu havia ficado fora de casa, desde a hora em que acordei até quase a metade do Fantástico.

Meu velho amigo venceu a noite de domingo para segunda à custa de muito esforço médico e, provavelmente, dor dele mesmo. Porém, na segunda-feira, às 16h, ele deixou o ring. Cessou de lutar... Recebi uma ligação de minha ex-mulher avisando. Garanti que daria apoio no dia seguinte, pois seria o dia do enterro - momento mais difícil para quem ama, especialmente para os familiares.

A grande ironia é que ele morre no dia dos namorados e é enterrado no dia em que o Brasil inaugura sua participação na Copa do Mundo. Todos celebrando, e os amigos desse velho amigo chorando. Maior ironia foi o enterro ter sido marcado para a hora do jogo. Num momento em que muita gente está "matando" o pai e a mãe para o chefe, a fim de se liberar do trabalho, eu e a família toda estamos enterrando, de fato, uma das melhores pessoas que eu já conheci.

Adeus, velho Cydnei. Fica a memória... Mas, como diz Ana Carolina, "a vida é um livro de esquecimento". A gente não vai esquecer, mas também não vai estar aqui para lembrar para sempre... Enquanto isso, a bola continua rolando no jogo da vida...

Se só nos resta viver. Sejamos felizes tanto quanto pudermos e não tenhamos medo das lágrimas... Não é à toa que temos glândulas lacrimais... Mas nenhum choro dura a vida toda, e logo teremos outros motivos para sorrir... Ele certamente, bem-humorado como era, sorriria se pudesse.

Obrigado aos que entendem que esse blog não é só para militância e diversão, mas para compartilhamento. Um amigo meu chamado Norton já disse que esse blog parece uma novela. Ele disse que dá vontade de não perder um capítulo. Esse é um capítulo triste, mas faz parte da vida. Obrigado aos que compreendem.

Um abraço a todos

Carpe Diem!!!

Sergio



Sem pai nem mãe

Qualquer versão de governo eclesiástico no cristianismo, seja papado (católico), o patriarcado (ortodoxo) ou o episcopado (protestante) mostra-se tão sanguinária quanto os primitivos judeus que destruíram povos inteiros a fim de submetê-los às suas crenças mosaicas e tomar-lhes as terras e as riquezas. Sim, porque o catolicismo com suas cruzadas e inquisição fez exatamente a mesma coisa. E o islamismo, com sua “jihad”, ou seja, guerra santa e outras estratégias de expansão, idem. Quanto ao protestantismo, que tenta se esquivar da co-autoria desta sanguinolenta história de perseguição e tortura, pode-se dizer que não foi melhor do que o catolicismo, pois destruiu índios norte-americanos aos milhões pelo mesmo motivo que as cruzadas destruíram muçulmanos ou muçulmanos destruíram povos considerados infiéis no norte da África, Oriente Médio e sul da Ásia. Além disso, na Alemanha, Suíça, Inglaterra e outros países protestantes, quem não lesse na cartilha deles era preso e, não raramente, morto.



Parece que o saudosismo dessa era de trevas ainda ronda algumas mentes patologicamente dadas ao prazer de controlar os outros. Parece ser o caso do Sr. Ratzinger, agora renomeado Bento VI. Ele tem atacado quase diariamente os avanços que governos europeus (principalmente) têm feito em relação à legislação civil.



Este Sr. Ratzinger se ressente que as pessoas sejam tratadas igualmente, independentemente de qualquer distinção, inclusive de orientação sexual. Ele gostaria que os homossexuais continuassem vivendo à margem dos direitos civis que são garantidos aos casais heterossexuais. E para isso não poupa esforços. Domingo passado (13 de maio de 2006), no dia em que os católicos se reúnem maciçamente para homenagear sua “mãe” (olha a carência de novo), ele aproveitou para atacar os governos que têm trabalhado para construir uma sociedade mais igualitária e justa.



O governo italiano reagiu dizendo que o papa (título que significa papai... de novo!! P.Q.P.!!!) não pode interferir em assuntos políticos. Bem, se lembrarmos do que aconteceu quando Pio XII deu a destra de comunhão a Hitler... certamente concordaremos com o primeiro ministro da Itália. A menos que sejamos iguaizinhos àquela dupla.



Até quando católicos, judeus e muçulmanos gays terão que amargar a intolerância das lideranças que eles ajudam a sustentar? Até quando não-católicos, não-judeus e não-muçulmanos terão que aturar as idiossincrasias dos líderes destas religiões que fariam um grande favor se falassem dos homens aos seus deuses ao invés de tentar impor seus deuses aos homens? Está na hora de nós, homossexuais, e toda a sociedade esclarecida dizermos um basta a qualquer sinal de discriminação e preconceito. Votemos naqueles candidatos que estão sintonizados com a igualdade plena entre todos os seres humanos, independente de etnia, religião, gênero, orientação sexual, nacionalidade, e qualquer outra etiqueta F.D.P. que os homens inventem para rotular outros homens!!!



FORA todos os que sustentam um discurso homofóbico ou que são demagogos quando confrontados com questões incontornáveis ligadas ao direito dos homossexuais enquanto cidadãos plenos!!!



Outra coisa, ninguém precisa de pai ou mãe do além. Se até as moscas fazem tudo para viver de acordo com sua natureza, para que perder tempo pensando em trás-mundos e se submeter a ditames ridículos de gente ridícula que pensa estar prestando um grande serviço à humanidade, desumanizando-a? Seja homem com todas as letras, não importando se gay ou hétero. Se discordar, esqueça... Não faz diferença.



Agora, se você gostou do que leu, faça uma coisa útil para esclarecer outras pessoas, envie o endereço deste blog para, pelo menos dez amigos, e convide-os a lerem esta mensagem.



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Ficar no armário, sim. Atacar os que ousam sair, não!

Ficar no armário, sim. Atacar os que ousam sair, não!

Existe sempre muita ansiedade envolvida quando se pensa em "sair do armário" (assumir a homossexualidade). Todo mundo tem o direito de sair ou de ficar no armário. O que não pode acontecer é quem sai condenar que fica, ou quem fica atacar quem sai.

Ontem tive qualquer coisa próxima do que se pode chamar perplexidade quando Léo Áquila (drag queen e jornalista famosa por suas entrevistas divertidas, especialmente no programa da Olga Bongiovanni, na Rede Bandeirantes),se encontrou com Ronaldo Ésper, estilista famoso que se apresenta no Super Pop com suas alfinetadas em quem se veste mal.

Ronaldo Ésper foi o entrevistado de segunda-feira. Ele ficou voluntariamente num tipo de berlinda, respondendo perguntas bastante pessoais que os convidados lhe faziam. Um dos convidados foi Léo Áquila. Ele perguntou alguma coisa sobre o que Ronaldo pensava da homossexualidade e este respondeu que não era homossexual, mas não tinha nada contra. Léo Áquila e milhões de telespectadores se espantaram com essa declaração, uma vez que ele tem todas as "ferramentas". Então, Léo continuou questionando Ronaldo, que foi se impacientando à medida que os questionamentos se tornavam mais incisivos.

Ambos foram convidados para um novo encontro na quarta-feira, 16 de março. Compareceram, mas a conversa foi muito ácida. Ronaldo teimando que não era gay, e Léo repudiando a insistência nesse tipo de enrustimento absolutamente sem sentido, uma vez que Ronaldo Ésper parece tão gay quanto Clodovil, que negou a vida inteira que era gay para assumir que, de fato, é gay agora que já passou dos 60 anos de idade. A conversa terminou com alfinetadas bichérrimas por parte de Ronaldo Ésper e confrontações incontornáveis de Léo Áquila. No final, Ronaldo chamou Léo para briga fora do estúdio. Léo não entrou na pilha, e Luciana Gimenez deu o encontro por encerrado ali mesmo.

Apesar de Ronaldo ter todo o direito de ficar no armário, ele jamais poderia atacar os gays assumidos, especialmente drags como Léo Áquila. Se ele não for gay - coisa que continua como hipótese muito distante na opinião de muitos - ele não precisa temer coisa alguma. É só continuar sendo esse garanhão comedor de mulheres gostosas - o que para ele não é difícil, pois convive com modelos o tempo todo.

Léo, justificado em sua indignação para com enrustidos que atacam assumidos só para tentarem manter sua fachada de heterossexualidade cuidadosamente construída, mas absolutamente ineficaz em termos do olhar alheio, não precisa ficar se expondo a esse tipo de confronto. Léo Áquila é muito maior do que isso, mais inteligente, talentoso. Sua coragem deve ser canalizada para a defesa dos direitos e interesses dos que são machos o suficiente para assumirem que são gays.

Quem quiser ficar no armário, fique. Uma naftalina a mais ou a menos não fará diferença para quem já está acostumado ao sufocamento do armário. Quem quiser sair, saia. Vale a pena pagar o preço da autenticidade e liberdade de auto-expressão. A vida é mais bela do lado de fora do armário. Pelo menos, no que tange à minha própria experiência tem sido assim. Faça a sua própria experiência!!!



O que é a verdade?

Lendo Nietzsche em seu escrito denominado "Sobre a verdade e a mentira num sentido 'extra moral'", senti-me impelido a colocar alguns dos meus próprios pensamentos no papel. Depois, concluí que seria interessante compartilhá-los aqui, ainda que pudessem atingir os sentimentos dos mais religiosos. Ainda que assim seja, vale a pena abrir a mente para pensar diferente, mesmo que depois continuemos pensando do mesmo jeito que pensávamos antes. Portanto, aí vai...

A pergunta de Pilatos que ficou sem resposta da parte de Jesus encontra em Nietzsche uma boa réplica. "Portanto, o que é verdade? Uma multidão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim: uma soma de relações humanas poética e retoricamete potencializadas, transpostas e ornadas e que, depois de longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões sobre as quais se esqueceu tratar-se de metáforas que se tornaram usadas e sem força sensível, moedas que perderam sua impressão e agora são consideradas apenas metal, não mais moedas."

É interessante como o ser humano é um bicho capaz de projeções tão complexas que chegam a convencer até a si mesmo de sua veracidade.

No princípio era o homem, e o homem estava com medo, e do medo vieram os deuses. O medo estava no princípio com o homem. Todos os mitos foram feitos por ele, e, sem ele, nenhum mito se fez. A superstição estava nele, e a superstição obscurecia o entendimento dos homens, mas a razão prevaleceu contra ela.

Houve muitos deuses criados pelos homens à sua própria imagem e semelhança, mas o homem queria alguém maior do que ele, não só em força, beleza, inteligência, mas em "pureza". O homem purificou tanto os deuses de sua semelhança consigo que acabou projetando uma divindade absolutamente isolada de tudo o que fosse natural ou terreno. Depois almejou ser igual ao deus que ele mesmo projetara, e foi se desnaturalizando.

Assim foi que muias religiões começaram a se opor a qualquer traço de "mundanidade" na vida humana. O cristianismo considera virtuosos o jejum (não comer e não beber), a vigília (não dormir), a reclusão (não se divertir ou socializar), a castidade (não transar fora do matrimônio) e o celibato (jamais transar), além de uma série de outras negações do que seja mundano ou corporal.

Ao projetar um deus que é espírito transcendente e que não tolera o menor vestígio de desejos e aspirações humanos à naturalidade (qualidade do que é natural), o ser humano criou um monstro e esqueceu que esse monstro não passa de mera projeção de sua conturbada "psyché". Temendo o monstro que ele mesmo criou, o bicho homem vive tentando amansá-lo com uma série de regras e sacrifícios, e esquece que o grande "barato" da existência humana é a própria vida neste mundo que o cerca e no contexto das possibilidades que o próprio universo lhe oferece. A superstição só serve para impedir a felicidade ou travar o desenvolvimento saudável de nossas mentes e corpos.

O cristianismo não é melhor do que a mitologia dos povos antigos. Alguns judeus, sob influência fortíssima dos gregos e romanos, criaram o deus cristão, com seus trás-mundos (mundos além deste). Em nada diferindo das crenças antigas de vários povos. Nietzsche chega a dizer que o cristianismo é o platonismo para o povo.

Enquanto os crentes de todos os matizes pensam possuir uma revelação especial, ignoram que o cristianismo só se tornou uma religião mundial usando o poder temporal em suas mais sórdidas versões. Os protestantes, então, são os mais iludidos, pois pensam que foi graças ao poder da bíblia e do espírito santo que muitos povos foram convertidos ontem e hoje. No entanto, nenhuma missão foi executada sem a espada do colonizador (invasor, para ser mais exato) que obrigava a conversão à força ou a estimulava através de benefícios especiais. Com o tempo, o próprio povo dominado passava a crer no que lhe impunha o dominador, e assimilava toda aquela superstição como verdade. Muita violência e corrupção de toda espécie foram necessárias para que o mundo chegasse a abrigar mais de um bilhão de cristãos, em nada melhores que quaisquer outros religiosos. Pensam-se separados por deus, quando na verdade não passam de seres angustiados que, movidos pelo medo, esforçam-se em amar a deus; amor no qual muitos deles realmente acreditam e jamais admitiriam traço de falsidade. Mas o que mais motiva a crença do cristão e seu esforço ininterrupto para lutar contra si mesmo, considerando-se seu maior inimigo, é o interesse próprio e o medo. Ambiciona o céu e se apavora ante a menor possibilidade de ir para inferno. Em palavras simples e diretas: quer simplesmente salvar a própria pele e ainda ser condecorado por isso... Não foi o que Paulo mesmo demonstrou ao dizer: "Não sabeis que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas só um leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. Todo atleta em tudo se domina; aqueles para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível... Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado." (I Coríntios 9: 24, 25,27).

Preciso dizer mais? O cara despreza, abomina a própria corporalidade, teme o vexame de fazer qualquer coisa diferente do que prega e se consola diante de todo esse sofrimento com uma esperança trasmundana, ou seja, de um mundo além desse. O pior é que ele é o modelo que a maioria dos cristãos quer seguir. Espelham-se muito mais em Paulo do que em Jesus. O cristianismo deveria chamar-se "paulinismo". Não é à toa que a cristandade veio a ser tão colérica, ressentida, esquizofrênica, autoflagelada em função de dogmas desumanos e antinaturais. Afinal, Paulo - o apóstolo que mais sobressaiu - era o exemplo perfeito de todos esses transtornos.

É uma pena que a maioria das pessoas não se dê o trabalho de examinar suas próprias crenças à luz da razão. E apesar do grau de instrução que algumas pessoas atingem, é comum ver pouca atividade racional por parte desses mesmos indivíduos por causa do medo que silenciosamente nutrem de perderem a fé. Mas não está aí mesmo a maior prova de que a fé é mero obscurantismo?



Dez perguntas sobre a entrevista à Época

DEZ PERGUNTAS COMUMENTE FEITAS PELOS QUE NÃO CAPTARAM O ESPÍRITO DA ENTREVISTA À ÉPOCA

"LIBERTANDO-SE DO ARMÁRIO" (29/11/04)

Recebi mais de uma vez estas mesmas perguntas, fosse por e-mail ou por telefone. Até pessoalmente, algumas pessoas me perguntaram sobre isso. Por isso, decidi colocar aqui as dez perguntas comumente feitas por estas pessoas, com minhas próprias respostas. Veja:

1. Por que dar uma entrevista a uma revista de alcance nacional sobre uma organização que você mesmo ajudou a fundar?

Sergio Viula: Porque o momento pedia. Havia um projeto de lei tramitando na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro que visava investir recursos do Estado em grupos de cura fundamentados em pressupostos anti-científicos e preconceituosos. O Moses havia sido citado pelo próprio autor do projeto de lei como sendo uma organização bem-sucedida nesses "tratamentos". Ninguém melhor do que um dos fundadores do Moses, que havia atuado de diversas maneiras na organização, para expor a falácia desse discurso. Além disso, os movimentos gays, os indivíduos homossexuais e a sociedade de um modo geral tinham o direito de saber a verdade sobre um assunto tão importante, que afeta milhões de pessoas diretamente.

2. Você atacou o cristianismo velada e abertamente em diversos pontos da entrevista. Por quê? Você se decepcionou com alguma coisa na igreja?

A igreja é decepcionante sob diversos aspectos. Ela prega muito e pouco faz... quando faz! A história da igreja é uma das coisas mais podres da humanidade. Os crentes (sejam quais forem) fazem de deus o que bem entendem. Existe uma versão do deus cristão para cada gosto, daí as pregações contraditórias de pastores que pensam diferente dentro de uma mesma igreja. Sem falar na roubalheira de alguns, na boa vida que outros levam às custas dos "fiéis", a pegação sexual dentro da própria igreja, etc. Mas nada disso me faria descartar o falido deus cristão. Eu acreditava de verdade. O deus cristão é absurdo em si mesmo. As promessas de céu para consolar os que sofrem tentando ser fiéis, ou as promessas de inferno para coibir os que pretendem agir ou pensar diferente do que lhes determina o cristianismo, são absurdas em si mesmas. Por isso, denunciei a mitologia do deus cristão. E o máximo que pode acontecer é desencadear a fúria daqueles que vêm ao socorro de um deus que não pode defender a si mesmo.

3. É claro que a bíblia fala pouco sobre a homossexualidade, mas sempre que fala é contra. Como você harmoniza isso com a postura que assumiu agora?

Não harmonizo! Não dou a mínima para o que a Bíblia diz hoje. Para mim, ela é um livro como outro qualquer, só que muito inferior à maioria. Tenho mais de um exemplar da bíblia em minha biblioteca e o único objetivo é consultá-la quando for preciso fundamentar as minhas afirmações sobre suas contradições e absurdos. Para mim, o fato de a bíblia ser contra a homossexualidade não é diferente do fato de o hindu ser contra o consumo de carne de vaca. Não me afeta. E não deveria afetar a ninguém que saiba que está acima de tudo isso.

4. Por que você casou se sabia que era gay?

O casamento aconteceu durante um momento da minha vida em que achava que havia superado a homossexualidade. Acreditava que podia contar seguramente com a graça de deus para vencer qualquer dificuldade que pudesse surgir no futuro. Ledo engano. Casei super bem-intencionado, gostando da pessoa que foi minha esposa. Passei anos com ela, mas um dia tive que encarar a realidade: eu não havia superado a homossexualidade, só havia me adequado a uma realidade socialmente mais confortável, especialmente levando-se em conta a família em que nasci. Basta ler o que já escrevi sobre os conflitos que enfrento com eles hoje para imaginar as pressões que eu sofri para ser heterossexual. Quando percebi que continuava gay e que a mudança era uma falsa esperança, fui absolutamente sincero pedindo o divórcio e assumindo as razões para tal.

5. Você acreditava em deus quando era pastor ou foi pastor só por causa dos ganhos decorrentes da função?

Durante maior parte do tempo em que fui pastor, não ganhei salário. E durante o tempo em que fui remunerado recebia pouco. Isso não impedia que eu me dedicasse totalmente à igreja e galgasse novos níveis de conhecimento teológico. Se fosse pelos ganhos, eu não teria sido pastor. Eu acreditava em vocação divina para o ministério. Eu acreditava em deus com todas as forças. Deixei emprego numa companhia petrolífera para ingressar no ministério missionário. Quando retornei, estudei teologia e quase alcancei o mestrado - o que não ocorreu porque abandonei tudo muito perto de concluir o mestrado. Fui pastor, preletor em congressos e seminários de diversos tipos, fundei e atuei no Moses, escrevi artigos, editei um jornal de apologética, etc.etc.etc. Era tão crente que ainda tem muita gente não acredita que eu seja ateu hoje.

6. Você sabia que o discurso do Moses era uma falácia enquanto militava no grupo?

Não. Eu acreditava no que pregava. Mas quando descri, abandonei completamente as atividades do Moses. E só não falei publicamente antes, porque ainda não havia surgido ocasião oportuna. O momento ideal foi aquele em que dei a entrevista.

7. Você ganhou dinheiro ou algum benefício pessoal para dar a entrevista "Libertando-se do Armário" à revista Época?

Não. Só o fiz por uma questão de coerência. Ganhei o benefício psicológico de ter dito a verdade. E o prazer de ver muita gente ser encorajada a ser autêntica e feliz, renunciando às amarras de instituições e indivíduos que se ressentem da liberdade e da felicidade alheias.

8. Qual tem sido a reação dos crentes, especialmente os que o conheciam pessoalmente naqueles tempos em que você ministrava como pastor?

Alguns ficaram furiosos. Outros ficaram decepcionados. Outros, ainda, ficaram curiosos. Outros não concordavam com o que eu disse, mas admiraram minha postura autêntica e sincera. Outros acharam que isso é passageiro. Outros escreveram imprompérios contra mim. Teve gente do Moses tentando fazer parecer que nem me conhecia e que estava surpreso em saber que eu atuei no grupo. E por aí vai. Tem gente da igreja que muda de calçada na rua ou entra na primeira porta aberta que encontra para evitar cruzar meu caminho. Mas existem aqueles que simplesmente conversam comigo sem tocar no assunto (são exeções raríssimas).

9. O abandono da fé tem alguma coisa a ver com o estudo de filosofia?

Não. Eu comecei a rever meus conceitos religiosos um ano antes de ingressar na faculdade de filosofia. E quando deparei com pensadores que questionavam ou reprovavam os pressupostos cristãos, eu me deleitei, pois era o que eu estava procurando. Muitos pensadores, entretanto, foram religiosos e até cristãos. Estudo suas idéias também. Não temo coisa alguma em matéria de pensamento ou conhecimento, mas é óbvio que não aceito qualquer coisa. Tenho um senso crítico apurado, nem sempre suficiente.

10. Como você responde aos que alegam que você "cuspiu no prato em que comeu"?

Digo que só os hipócritas conseguem viver a mentira como se fosse verdade e descobrir seus próprios erros sem o menor desejo de corrigí-los. Preguei enquanto achei que fosse verdade. Corrigí-me e denunciei o erro quando o percebi. Se eu comi alguma coisa no prato da igreja, pode ter certeza que servi muito mais do que comi. E não tenho compromisso maior do que aquele que estabeleci com a minha própria consciência. Sou pela autenticidade e coerência, mesmo que isso incomode os hipócritas e acomodados.







Contra-resposta ao Moses

Segue abaixo a resposta do Moses (escrita por João Luiz Santolin) à entrevista feita pela revista Época comigo, e minha resposta às alegações dele. Ele colocou essa resposta em seu site, e eu me sinto no direito de responder aqui no meu blog. Leia e confira você mesmo!

As palavras do Santolin estão em preto e as minhas respostas em vermelho.

Resposta à entrevista "Libertando-se do armário", de Sergio Viula, à Revista Época de 29.11.04 (nº 341)

MOSES De: Diretoria do MOSES

Para: Gisela Anauate



A Revista Época, considerada por nós do MOSES e pela sociedade brasileira, como um veículo confiável de informações, só ouviu uma das partes envolvidas nas declarações da entrevista "Libertando-se do armário", com Sergio Viula. Sabemos que é praxe no jornalismo investigativo ouvir as partes envolvidas e sabemos, também, que as Leis brasileiras nos garantem direito de resposta. Por isso, resolvemos nos posicionar sobre o que consideramos equívocos e manipulações de informações do entrevistado.



1 - No box do lado esquerdo da foto do entrevistado, ele diz que abandonou o MOSES. Não é verdade. Ele foi afastado do MOSES há cerca de três anos. Depois de descobrirmos que havia clara incoerência entre seu discurso e suas práticas sexuais, conversamos amigavelmente com ele e mostramos que não podia mais continuar em nossa missão, já que temos um Estatuto, baseado na Bíblia, que afirma que é incompatível a prática da homossexualidade para os cristãos membros de igrejas evangélicas e do MOSES;

Todas as vezes em que eu tive qualquer contato homossexual durante minha caminhada com o Moses eu falei com ele. Eu ficava arrasado. Chorava, ficava sem forças para viver. Tudo porque via o fracasso de toda a minha fé e dedicação ir por água abaixo, e onde estava a graça e o milagre de Deus? Tudo o que ele fazia era orar por mim e citar a Bíblia. Em nenhuma vez ele falou com qualquer pessoa sobre o assunto. Talvez por sigilo de aconselhamento, talvez por medo de ficar sozinho e ainda ter que encarar problemas se isso viesse a público.

Quando eu saí (porque eu saí, não fui excluído), fui voluntariamente conversar com ele depois de abrir o jogo com a minha então esposa. Ela mesma me aconselhou a falar com ele. Ele chorou até ficar com a cara inchada. E só depois de ver que eu havia desistido realmente é que ele sugeriu que fizéssemos uma reunião na qual estavam presentes o próprio Santolin, o Pr. Neander Kraul de Miranda Pinto (da Ig. Batista e do Betel), o Pr. Paulo César Pimentel (do Centro de Pesquisas Religiosas) e Liane França que era vice-presidente do Moses na época. Minha ex-mulher estava presente e ouvindo tudo. Isso foi há cerca de 3,5 anos. Depois dessa conversa eu deixei de atuar no Moses, porque decidi sair da igreja e deixar minha esposa. Voltei um mês depois, pensando em tentar de novo. Fui reitegrado à igreja depois de uma confissão pública, voltei a escrever para o Desafio das Seitas (Jornal do Centro de Pesquisas Religiosas) e alguns meses depois (eu fiquei ainda mais 2 anos na igreja) o próprio Santolin me pediu para fazer aconselhamento com um casal do Espírito Santo. O marido estava transando direto com homens, mas a mulher queria "recuperá-lo". Recusei porque não estava em condições, e francamente não acredita que faria diferença alguma. Depois disso ele me pediu para conversar com um dos diretores do Moses que havia transado com o rapaz soropositivo que faleceu (citado na entrevista da Época). Levou-me até o Botafogo Praia Shopping para aconselhar o tal rapaz que ficou emocionalmente devastado depois da morte do rapaz soropositivo que deixou uma viúva (oficial) e um viúvo (extra-oficial). Como é que eu estava UNILATERALMENTE excluído se continuava sendo convidado para fazer tudo isso?

Agora a pergunta que pode surgir é: Por que foi que eu aceitei fazer esse último aconselhamento? A resposta é: Porque João Luiz Santolin insistiu muito e convenceu minha esposa a me pedir para ir.

João Luiz Santolin quer dar uma aparência de isenção ao Moses e a si mesmo. Na verdade, pedi desligamento do Moses dois anos antes de me separar definitivamente, quando assumi pela primeira vez que não acreditava mais em mudança. Até então João Luiz era meu confidente e eu sempre falava com ele sobre meus desejos. Ele soube de quase todas as vezes em que eu me relacionei com alguém durante toda a nossa amizade. Fomos amigos por cerca de 16 anos. Portanto, ele não descobriu nada; eu disse. E não me afastou coisa nenhuma; eu é que me cansei do discurso homofóbico e das promessas sem concretude do Moses e seus correligionários.

2 - O subtítulo da entrevista usado pela repórter Gisela Anauate afirma que o MOSES é um "grupo que defende a ‘cura’ da homossexualidade" e usa a palavra "tratamento". Não é verdade. Não falamos de cura da homossexualidade, pois não encaramos a homossexualidade como doença. Encaramos a homossexualidade como a Palavra de Deus a encara: um pecado como qualquer outro que precisa de arrependimento (ver as declarações do apóstolo Paulo em 1 Co 6.9 a 11) e para o qual há perdão e restauração. Como qualquer pecador (o mentiroso, o caluniador, o inventor de males, o adúltero, o idólatra etc), o homossexual que, de fato, se converte Cristo, começa a ser restaurado em várias áreas de sua vida: sua vida espiritual, seu caráter, sua sexualidade, sua vida emocional e psicológica. Portanto, também não fazemos tratamento. Propagamos a salvação, a libertação, a transformação e a restauração em Cristo;

Como eu disse na entrevista, não tem cura (nem poderia, pois não é doença). O Moses é apenas mais um grupo sectarista e proselitista tentando ganhar adeptos para a sua causa. Os gays que passam por lá perdem tempo, exceto quando descobrem que tudo não passa de uma falácia. Assim, ficam livres de uma vez dessa sedução.



3 - No lide, a repórter afirma acertadamente que o MOSES "dá auxílio a pessoas que desejam abandonar a homossexualidade". O apoio é, de fato, para quem deseja voluntariamente. Porém, afirma que o entrevistado "conhece como poucos os métodos dos grupos de ‘reorientação’ sexual" e "sabe que não funcionam". Se o entrevistado, enquanto no MOSES, conheceu "métodos de reorientação sexual" que não passem pelo crivo da gloriosa Palavra de Deus, ele não compartilhou conosco. Graças a Deus, ficou só com ele. Como se vê pela vida do entrevistado esses "métodos" não funcionam mesmo! Nós do MOSES não precisamos de método de reorientação sexual nenhum! Já temos a santa e bendita Palavra de Deus, que é poder para a restauração dos que crêem nela. Talvez tenha sido por isso que para ele não funcionou: ele rejeitou o que de melhor o Deus cristão preparou para os seus filhos, que é a comunhão diária sincera com Ele, com sua palavra e com os irmãos em Cristo;

Até parece que o Santolin não conviveu comigo por 16 anos!!! Como poucos, ele conheceu minha fé e dedicação sincera a deus e ao ministério. Estivemos juntos em todos os tipos de ação e devoção cristã. Se o Moses tem tanta certeza de que a Bíblia funciona, por que ele está fazendo tudo para colocar o ônus da impotência dela e do cristianismo sobre mim, tentando vender a idéia de eu fui apenas um "passante" pela igreja e pelo Moses? É duro para o fanatismo enxergar o fracasso de seu próprio projeto e a inverdade de seus próprios pressupostos.



4 - Não pode ser homofóbico e cruel o discurso que afirma que as pessoas podem abandonar o estilo de vida que lhes causa desconforto emocional, físico, psicológico e espiritual, se isso pode ser alcançado pela fé em Cristo. Homofóbico e cruel seria esconder essa verdade dos homossexuais, obrigando-os a viverem uma vida sem esperança de mudança;

Homossexuais que tentam deixar de ser gays é que enfrentam os maiores desconfortos. E não existe verdade alguma em dizer que gays podem mudar de orientação sexual. Portanto, não estou escondendo verdade alguma. Eles é que estão inventando uma. E o pior é que isso não é como acreditar em papai noel, em duendes, ou em um deus. Isso faz muita diferença, pois afeta destrutivamente a saúde mental de qualquer homossexual que se entregue de fato a esse discurso.

5 - Quem é o "rapaz soropositivo, que chegou a ser da Diretoria do MOSES" e morreu? De onde o entrevistado tirou essa informação? O rapaz soropositivo foi um mal-intencionado que se dizia ex-gay e que nunca foi da Diretoria do MOSES. Porém, lançou seu veneno em dois dos nossos. Morreu precocemente logo depois como conseqüência dos seus próprios erros, como afirma o apóstolo Paulo em Romanos 1.27. Porém, o membro da Diretoria reconheceu seu erro e foi afastado de seu cargo;

O rapaz soropositivo era casado e morou com a esposa na mesma casa que o João Luiz em Brás de Pina, onde João continua até hoje. Aliás, ele não transou só com um dos diretores do Moses, transou também com um jovem, que vivia buscando aconselhamento com o João em casa. A transa foi na própria casa em que os três moravam. E detalhe: não era esse rapaz que procurava os outros dois; eram eles que não saiam da casa dele.

O falecido chegou a dirigir o Moses com o João por pouco tempo, mas foi ético para pedir que não fosse registrado oficialmente porque sabia que não havia sido transformado coisa nenhuma. Ele não era nenhum monstro como o Santolin quer fazer parecer, era somente alguém que sofria tentando ser heterossexual quando teria sido muito mais feliz sendo simplesmente homossexual, pois era assim que ele era. Se a AIDS é castigo de deus como alega o João Santolin, esse deus é um absurdo total, pois criancinhas têm morrido com AIDS, contaminadas a partir de pais heterossexuais na maioria das vezes. Se Deus é soberano e AIDS é um juízo dele, por que ele não criou um vírus que só contaminasse os culpados? E o que tem o amor gay ou hetero a ver com juízos divinos???

Não estou dizendo que o diretor do Moses que pranteou o falecido não fosse um crente absolutamente comprometido, convivendo e trabalhando com o Moses, mas que nunca deixou de ser gay - o que confirma a minha tese de que eu não sou o único.

Fico pasmo com a falta de amor por parte de quem diz que serve a Deus (que para ele não é mito) quando fala do sofrimento de um homem em sua soropositividade cujo único erro foi ter tentado ser heterossexual quando poderia ter sido feliz sendo ele mesmo. Pena que ele não tenha se protegido, mas parece-me que quando ele pegou AIDS a síndrome ainda era relativamente desconhecida pela população.

6 - O entrevistado afirma que sabia que era gay desde os 16 anos de idade. Só que deve ter guardado isso para si durante muitos anos. Porém, quando resolveu voluntariamente falar de sua homossexualidade, durante os anos que envolveu-se com o MOSES, dizia-se ex-gay e não gay, como afirma hoje. Como o entrevistado era maior de idade, nada constando que aparentemente depusesse contra sua sanidade mental, tinha uma profissão, era casado e pai de dois filhos, aluno de curso superior e sendo membro de uma igreja evangélica, acreditamos em seu discurso até que toda a verdade sobre suas inverdades veio à tona;

João sabe que eu sou gay há muitos anos e eu não me envolvi com O Moses; eu ajudei a fundar e organizar o Moses. Nunca houve Moses até então. Ele conhecia a minha vida melhor do que meus pais, esposa e igreja. Agora quer tirar o corpo fora tentando me fazer passar por um impostor ou falso crente.



7 - Quanto à célula a que o entrevistado se refere, não era de Terapia em grupo, já que não fazemos terapia, mas aconselhamento bíblico. Isso aconteceu bem no início do MOSES, há cerca de sete anos, e foi resultado dos pedidos de algumas pessoas que diziam-se desejosas de deixar as práticas homossexuais que, segundo elas mesmas, eram antinaturais e escravizantes e, também, porque sentiam-se isoladas. Assim que percebemos que duas ou três pessoas confundiram as coisas, terminamos o grupo (que também era uma experiência nova para nós) e passamos a nos reunir no salão de uma igreja próxima, o que durou cerca de seis meses somente. Para a igreja só foram os que realmente tinham compromisso com Deus e sua palavra. E vários deles são hoje cristãos maduros, dão fruto no reino de Deus e na sociedade e podem testemunhar disso publicamente. Aliás, qualquer pessoa que tem raciocínio, pelo menos, razoável, sabe que existem recaídas na vida daqueles que se submetem voluntariamente a processos de mudança. Dizer que há recaídas na vida de pessoas que passam pelo MOSES, por outros ministérios de ajuda semelhantes e pela igreja cristã de uma forma geral não é novidade nenhuma. É lugar comum! É falta de misericórdia para com os que se reconhecem fracos e carecem de ajuda. Graças a Deus, o cristianismo é uma religião de perdão e recomeço. Por isso somos apaixonados por Jesus Cristo: ele nos ama apesar de nossas fraquezas e sempre nos dá Sua mão para começarmos de novo. Porém, quanto ao problema do joio no meio ao trigo, dos hipócritas entre os sinceros, Deus mesmo se encarregará de resolvê-lo. Cristo nos advertiu sobre isso!

Práticas homossexuais ditas como antinaturais e escravizantes é o discurso do Moses e da igreja. As pessoas que chegam a dizer isso sendo homossexuais são aquelas que já foram tão profundamente afetadas pela repetição de ensinos preconceituosos e homofóbicos. Elas não precisam de mais discursos homofóbicos, precisam é de auto-aceitação e auto-estima. Precisam de um pouco de orgulho próprio!!! E isso o cristianismo odeia, porque tira as pessoas de sua área de alcance. É preciso convencer o homem de que ele é pecador, para depois vender-lhe um salvador. Os pastores são muito bem instruídos sobre isso nos seminários.

Ele fala em processos de mudança acima, contrariando o que ele disse antes. É só se render a Cristo ou existem processos, terapias e tratamentos envolvidos? Mesmo que seja uma série de aconselhamentos já é um processo, um método. Então Cristo não basta! É preciso lavagem cerebral.

Ele diz que desmascarar essa farsa é falta de misericórdia, mas falta de misericórdia é o modo como ele falou do ex-integrante do Moses (o rapaz que morreu), vice-presidente oficioso durante o tempo em que João e Liane estavam indispostos por causa do rompimento do noivado deles. E ele só não foi efetivado legalmente no cargo, porque não quis. O João estava ansioso para que aceitasse.

8 - Quanto à reunião do Exodus em Viçosa, MG, há cerca de seis anos, alguns de nós do MOSES participamos. A ex-esposa do Sergio também. Vários pastores, padres, psicólogos, profissionais liberais e cristãos em geral. Pesa sobre o entrevistado a responsabilidade de provar o que está afirmando, já que ninguém que conhecemos e que participou desse evento viu gays lá se envolvendo, paquerando e ficando juntos como ele afirma ter visto. Não teria sido isso projeção e fantasia da mente do entrevistado naquela época, já que ele não pode provar essa afirmação e tem inúmeras testemunhas contra ele? Ou será que porque viu cristãos sinceros se abraçarem publicamente, o que é normal e saudável entre homens cristãos, confundiu as coisas e erotizou tudo? Cada cabeça é um mundo, que pode ser imundo...

Seria ridículo da minha parte expor terceiros por causa de um desafio ridículo desses. O próprio João e outros do nosso grupo comentaram sobre o modo como alguns rapazes se comportavam. Como é que ele pode dizer que eu estava erotizando o abraço entre amigos? Esse cara deve estar muito desesperado para tentar me enquadrar numa mentalidade dessas!!! Logo eu que adoro abraçar as pessoas de um modo espontâneo e fraterno!!! Quem me conhece sabe disso.



9 - Quanto aos conselhos que o entrevistado acha que devemos dar às famílias dos gays, não precisamos de nenhum conselho que não venha de um coração submisso a Jesus Cristo, o Deus vivo! Enquanto existir, O MOSES vai continuar a orientar os homossexuais e suas famílias com os conselhos que recebe do Deus da Bíblia e de sua Santa Palavra;

É pura presunção pensar que ele e o Moses têm a última palavra sobre o que quer que seja, graças a um punhado de versículos bíblicos.



Apesar de ter participado da fundação do MOSES, o entrevistado deve lembrar que sua participação nunca foi constante enquanto esteve na instituição e que sempre foi fragmentada por lacunas de tempo até o dia em que foi afastado, há três anos. Uma prova disso é que sempre arrumou justificativas para não participar da Diretoria.

Participei intensamente do ministério do Moses, mas tinha outros ministérios que me consumiam tempo. Era pastor batista, editor do Jornal Desafio das Seitas, tradutor, professor de seminário, etc. Não podia ficar o dia inteiro no Moses e nem precisava, pois não havia tanta demanda assim. Estive, porém, evangelizando em todas as passeatas menos uma. Organizei e participei de vários evangelismos, inclusive nas proximidades das boates gays do Rio. Aluguei um ônibus e levei um monte de gente da minha igreja para evangelizar com o Moses no Miss Brazil Gay, em Juiz de Fora. Fiz diversos aconselhamentos dentro e fora do Moses. Participei do I Seminário do Moses no Rio dando duas palestras. Ajudei a escrever folhetos e matérias para o Moses, como a matéria Teologia Gay publicada na revista Defesa da Fé, do Instituto Cristão de Pesquisas (ICP) em São Paulo. Minha igreja em Caxias colaborava financeiramente o Moses todo mês infalivelmente. O primeiro folheto do Moses só foi impresso porque eu consegui o patrocínio junto a um pastor amigo meu. O título era "Tem bicha que morre mas não vira purpurina" (testemunho de conversão do João Luiz). Isso só para enumerar algumas das coisas que eu costumava fazer no Moses ou para ele.



Quando ele diz que o Deus cristão é um mito, ele usurpa o lugar de Deus e perde os referenciais e as coordenadas para a própria vida. A História tem sido a maior testemunha de que, quando os homens perdem suas coordenadas e referenciais, o fim deles é trágico.

Como usurpar o lugar de quem não existe e que, portanto, não pode ocupar lugar algum? Quem disse que eu perdi os referenciais? Eu simplesmente parei de usar um referencial baseado na imaginação mítica para buscar outros mais concretos. Estou tão bem que não entendo como pude passar tanto tempo perdendo tempo na igreja e no Moses. E isso irrita profundamente aqueles que se ressentem da felicidade terrena e do gozo de todas as faculdades que a natureza nos conferiu.



Se os valores cristãos significam um armário para alguns, aqueles que querem se libertar do "armário" desses valores, certamente entrarão na gaiola da loucura niilista.

É muita ignorância pensar que quem não é crente é niilista. Será que ele sabe o que é niilismo ou só ouviu alguém mencionar o termo associando-o à incredulidade daqueles que não dão o braço aos pregadores de plantão? Eu sou pela vida e pela vida aqui e agora, plenamente vivida. Como um pássaro encontra a realização de si mesmo ao cantar, acasalar e fecundar as flores, eu encontro a minha sendo eu mesmo e vivendo plenamente os meus potenciais. Enquanto isso, eles só podem se lamentar e tentar disfarçar o que veio à tona depois que eu decidi colocar um basta em tanto besteirol!



OBS.: O texto acima segue por fax na próxima segunda-feira, dia 06 de novembro de 2004, para a redação da Revista Época, A/C de Gisela Anauate, em papel timbrado e assinado pelo Presidente do Movimento pela Sexualidade Sadia (MOSES), Sr. João Luiz Santolin.

Endereço (URL): http://www.moses.org.br/artigos/mostra_artigo.asp?ID=1000 Escrito e publicado no site do Moses por João Luiz Santolin, presidente do Moses e respondido por Sergio Viula em 13/12/04













Dá pra levar a sério esse papo de abominação?

CARTA A UM FUNDAMENTALISTA

Estou publicando um e-mail enviado por um aluno e amigo meu. Será bom para todos pensar um pouco sobre o que seria do mundo se fôssemos adotar o literalismo fundamentalista que tantos pregam sem terem a mínima noção da extensão e das consequências a que posturas radicais baseadas na Bíblia podem conduzir.

CARTA A UM FUNDANTALISTA:

E-mail enviado por um estudante de teologia de Boston para Laura Schlessinger, uma personalidade do rádio americano que distribui conselhos para pessoas que ligam para seu show.

Recentemente ela disse que a homossexualidade é uma abominação de acordo com Levíticos 18:22 e não pode ser perdoada em qualquer circunstância.

O texto abaixo é uma carta aberta para Dra. Laura, escrita por um cidadão americano e também disponibilizada na Internet.

__________________________________

Cara Dra. Laura

Obrigado por ter feito tanto para educar as pessoas no que diz respeito à Lei de Deus. Eu tenho aprendido muito com seu show, e tento compartilhar o conhecimento com tantas pessoas quantas posso.

Quando alguém tenta defender o homossexualismo, por exemplo, eu simplesmente o lembro que Levítico 18:22 claramente afirma que isso é uma abominação.

Fim do debate.

Mas eu preciso de sua ajuda, entretanto, no que diz respeito a algumas leis específicas e como seguí-las:

a) Quando eu queimo um touro no altar como sacrifício, eu sei que isso cria um odor agradável para o Senhor (Levítico 1:9). O problema são os meus vizinhos. Eles reclamam que o odor não é agradável para eles. Devo matá-los por heresia?

b) Eu gostaria de vender minha filha como escrava, como é permitido em Êxodo 21:7. Na época atual, qual você acha que seria um preço justo por ela?

c) Eu sei que não é permitido ter contato com uma mulher enquanto ela está em seu período de impureza menstrual (Levítico 15:19-24). O problema é: como eu digo isso a ela ? Eu tenho tentado, mas a maioria das mulheres toma isso como ofensa.

d) Levíticos 25:44 afirma que eu posso possuir escravos, tanto homens quanto mulheres, se eles forem comprados de nações vizinhas. Um amigo meu diz que isso se aplica a mexicanos, mas não a canadenses. Você pode esclarecer isso? Por que eu não posso possuir canadenses?

e) Eu tenho um vizinho que insiste em trabalhar aos sábados. Êxodo 35:2 claramente afirma que ele deve ser morto. Eu sou moralmente obrigado a matá-lo eu mesmo?

f) Um amigo meu acha que mesmo que comer moluscos seja uma abominação (Levítico 11:10), é uma abominação menor que a homossexualidade. Eu não concordo. Você pode esclarecer esse ponto?

g) Levíticos 21:20 afirma que eu não posso me aproximar do altar de Deus se eu tiver algum defeito na visão. Eu admito que uso óculos para ler. A minha visão tem mesmo que ser 100%, ou pode-se dar um jeitinho?

h) A maioria dos meus amigos homens apara a barba, inclusive o cabelo das têmporas, mesmo que isso seja expressamente proibido em Levíticos 19:27. Como eles devem morrer?

i) Eu sei que tocar a pele de um porco morto me faz impuro (Levítico 11:6-8), mas eu posso jogar futebol americano se usar luvas? (as bolas de futebol americano são feitas com pele de porco)

j) Meu tio tem uma fazenda. Ele viola Levítico 19:19 plantando dois tipos diferentes de vegetais no mesmo campo. Sua esposa também viola Levítico 19:19, porque usa roupas feitas de dois tipos diferentes de tecido (algodão e poliester). Ele também tende a xingar e blasfemar muito. É realmente necessário que eu chame toda a cidade para apedrejá-los (Levítico 24:10-16)? Nós não poderíamos simplesmente queimá-los em uma cerimônia privada, como deve ser feito com as pessoas que mantêm relações sexuais com seus sogros (Levítico 20:14)?

Eu sei que você estudou essas coisas a fundo, então estou confiante que possa ajudar. Obrigado novamente por nos lembrar que a palavra de Deus é eterna e imutável.

Seu discípulo e fã ardoroso.





Eu tenho uma filha assim!



Uma das experiências mais fascinantes que eu já tive na vida, talvez a mais emocionante de todas, foi ser pai de dois filhos. Minha primeira filha é uma pessoa extremamente especial! Ela tem 12 anos. É uma princesa. Linda, inteligente, amável e me reserva um lugar todo especial no seu coração teen, assim como eu neste meu coração que, aos 35, continua batendo como se tivesse 23, época em que ela deu o ar de sua graça no hospital Sírio-Libanês, na Tijuca.

Há cerca de duas semanas (três sextas-feiras atrás), Larissa esteve lá em casa. Ela queria me dizer que o colégio estava para apresentar o filme Cazuza. Fiquei admirado com a empolgação dela. Conversamos um pouco sobre ele (leia meu texto "Cazuza, essa delícia de homem livre") e depois a conversa tomou um rumo em que começamos a falar da minha separação da mãe dela. Ela demonstrou interesse em saber o real motivo, perguntei se ela tinha alguma ideia. Ela disse que suspeitava. Eu percebi que era hora de ter uma conversa franca e amigável sobre a minha homossexualidade. Comecei a explicar brevemente as razões pelas quais casei, para depois poder explicar por quê separei. Duas lágrimas rolaram face abaixo. Abracei-a. Depois, coloquei-a no meu colo e expliquei que ser gay não é nenhum absurdo, é tão natural quanto ser heterossexual, só que diferente. Expliquei que algumas ideias que as pessoas fazem da homossexualidade e do homossexual são equivocadas e expliquei que tipo de homossexual eu sou, uma vez que existem tantas variantes. Ela foi se tranquilizando e muito compreensiva disse que me amava.

Emprestei a ela um livro que já indiquei aqui antes: "O Amor não Escolhe Sexo", da Editora Moderna. Ela leu o livro todo de um dia para o outro e me devolveu o mesmo com um bilhete: "Pai, adorei ler este livro. Valeu mesmo. 1.000.000 de beijos. Larissa". O livro mostra como um adolescente começa a se descobrir gay em meio às pressões da família e dos amigos para que fosse o típico heterossexual, malhado, namorando, com uma carreira do tipo radical (piloto de caça), etc. É um livro extremamente equilibrado e, ao mesmo tempo, belo.

Mais tarde a mãe soube que tínhamos conversado e me perguntou. Expliquei tudo isso a ela, e ela também se tranquilizou. No fundo, deve ter pensado que eu fiz a coisa certa na hora certa. E a paz entre a gente reina. Agora mesmo eu escrevo esta mensagem de uma lan house, com Larissa numa sala de bate-papo no computador aqui ao lado.

Tudo tem seu tempo e seu lugar. É só não se precipitar e nem adiar determinadas decisões.

Espero que aqueles que leiam este relato extraiam dele força para serem autênticos sem deixarem de ser discretos.

Um beijo a todos os pais e mães gays deste país, os quais são muito mais numerosos do que se imagina! Enquanto isso, eu me orgulho de ser gay, de ser pai, e principalmente de ter uma filha assim!





Liberdade e Alteridade



Ser livre é, ao mesmo tempo uma aspiração e um risco para todo ser humano. Aspiração porque as pessoas desejam pensar, dizer e fazer aquilo que lhes dá prazer, mas um risco porque o preço pode ser bem alto. No entanto, sem que o perceba todo ser humano nasce livre. E sendo livre, muitas vezes escolhe (justamente por ser livre) não agir como gostaria de agir para não pagar o preço que suas ações podem lhe custar, especialmente pela incompreensão ou intolerância dos outros. Mas ao considerarmos o que pensariam, diriam ou fariam os outros, entramos no campo da alteridade.


Alteridade se refere àquilo que tem a ver com o outro. Ninguém é uma ilha. Estamos cercados de gente por todos os lados. Por isso, precisamos aprender a conviver com os outros, apesar de nem sempre os outros estarem dispostos a conviver bem conosco. Eis o maior desafio à individualidade: a alteridade, que desemboca em outro conceito o de coletividade, pois quando muitos "outros" se juntam, eis aí uma coletividade! O paradoxo é que ao mesmo tempo em que eu quero afirmar minha individualidade na coletividade, eu só me reconheço único porque todos os outros não são eu, e eu não sou nenhum deles.


Será que é possível viver intensa e autenticamente minha individualidade, mesmo inserido numa coletividade: uma variedade de alteridades reunidas num mesmo ponto espacial e temporal? Certamente que sim, mas não sem atrito. E aqui se encontram dois conceitos que devem andar sempre juntos: liberdade e respeito. Estes dois conceitos têm se constituído meu lema de vivência e convivência.


Por liberdade, entendo o conceito de agir como ser autônomo em dado contexto e levando em consideração determinadas motivações para escolher entre diversas possibilidades. Afinal, é sempre possível fazer as mesmas coisas de modo diferente ou outras coisas do mesmo modo, ou simplesmente não fazer nada – o que já é fazer alguma coisa.


Por respeito, entendo a capacidade de permitir ao outro a mesma liberdade que usufruo e, concordando ou discordando de seu modo de ser, permanecer capaz de conviver pacificamente, ainda que promovendo ideias diferentes ou até mesmo refutando aquelas que ele defende.


Vejo, também, que a liberdade sem respeito é puro egoísmo, mas respeito sem liberdade é mera conformação. A meu ver, e posso não estar vendo nada, a liberdade é a único meio de ser eu mesmo, de ser aquilo que escolhi ser, mesmo quando escolho ser diferente de tudo o que já fui; e o respeito é o que preciso receber para poder concretizar o que livremente escolhi sem grandes atritos. Obviamente, tudo isso vale para o outro, que é livre e a quem devo respeitar. E nada disso tem qualquer coisa a ver com o certo ou o errado perante uma divindade ou religião. É simplesmente inteligente e conveniente que assim seja, e ponto.


O homem está "condenado" à liberdade, mesmo quando se escolhe escravo. Aqueles que têm se submetido ao jugo das religiões e das ideias moralistas ou totalitárias escolheram livremente se submeter ao outro para não sofrer a angústia das escolhas pessoais que precisam ser feitas por si mesmos a todo o momento. Contudo, perderam a alegria de fazerem de si aquilo que melhor poderiam ser e que mais prazer poderia lhes dar. Contentam-se com migalhas quando poderiam se fartar, e ainda mentem para si mesmos e para os outros dizendo-se fartos, satisfeitos, sem necessidade de coisa alguma. Por isso não toleram o outro quando o outro não escolhe ser exatamente igual a eles, vivendo aquela mentalidade de rebanho: frágeis e estúpidas ovelhas seguindo alguém a quem entendem como protetor e guia, quando na verdade tudo que ele deseja delas é a lucrativa lã e a deliciosa carne que hoje pasta tranquilamente sem saber que amanhã vai ser o prato principal. São pessoas que vivem a morte diariamente e acreditam que foram criadas e predestinadas para tal.

Dói-me ver tal coisa, principalmente por ter vivido assim durante muito tempo; tempo suficiente para compreender a falsidade de tudo aquilo que ali era chamado de verdade.


Sou livre, assumo minha liberdade e o custo que advém dela. Sou livre, desfruto minha liberdade e todo o prazer que ela me confere. Sou eu para mim mesmo e sou o outro para os outros. Cada um deles é um em si mesmo e outro para mim. E no encontro com o outro encontro dor e prazer, pois sendo igualmente livre o outro é imprevisível: pode amar-me, ignorar-me, ou odiar-me. Tenho encontrado as três coisas no outros. Uns me amam, outros me desprezam, outros me odeiam... e eu me escolho livre todo dia para retribuir ou não o amor, a indiferença ou o ódio, mesmo sem estar ciente o tempo todo de que amo, desprezo e odeio no outro aquilo que amo, desprezo e odeio em mim mesmo. E da mesma maneira, o outro para comigo. Mas, o respeito – essa atitude disciplinada de dar ao outro o espaço de que ele precisa para exercer sua própria liberdade – é exatamente o que desejo, mesmo quando minhas escolhas não agradam a maioria. Por que então não seguir aquele simples e despretensioso conselho: "Live and let live!" (Viva e deixe viver!)?

Durante muito tempo desejei ser livre sem saber que já o era. O que eu queria mesmo era refazer-me para ser algo diferente de quase tudo o que me havia tornado. Eu havia escolhido corresponder a certas motivações, frutos das expectativas da família, dos colegas, da igreja, das instituições sociais ao meu redor. Associados a todas essas expectativas estavam os meus próprios temores e ansiedades. Gritava silenciosamente o que Fred Mercury cantava a plenos pulmões: "I want to be free! I want to get free!" Por isso me atraiu a mensagem daquele que disse : "Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres." Mentira! Nunca fui tão tolhido, cerceado, reprimido como quando me submeti às palavras de um defunto de 2000 anos e seus discípulos igualmente defuntos. Acabei descobrindo que sempre fui livre. Prometeram-me o que eu já tinha. Simplesmente nunca usara minha liberdade para escolher o que mais desejava, senão somente para reafirmar o que outros esperavam de mim. Um dia decidi mandar todo mundo tomar no C-U, porque eu já estava cansado de tomar no meu. Kkk Tudo bem que não tenha dito isso tão francamente, mas aquelas duas palavrinhas separadas por um hífen, que expressam tão bem uma série de sentimentos, eram o que me vinha a mente o tempo todo: F-o-d-a--se! F-o-d-a--se deus, f-o-d-a--se a igreja, f-o-d-a--se a minha reputação artificialmente construída, f-o-d-a-m--se os meus temores.

Finalmente, libertei-me do jugo das expectativas e juízos alheios e dei aos meus semelhantes (ou dessemelhantes) uma motivação a mais para fazerem a mesma coisa. O que ninguém sabe é quantos deles (se é que algum deles) vão escolher o caminho da autenticidade ou se vão continuar enfiados na ostra do dogma. Isso é tão imprevisível, porque a imprevisibilidade é precisamente o que caracteriza a liberdade. E qual é o ser humano que não é livre?



A FALÁCIA DE QUE OS IGUAIS SEMPRE SE REPELEM

É interessante como as pessoas tomam exemplos do cotidianos, ao gosto do senso comum, para justificar seus pontos de vista, especialmente aqueles que não encontram justificação em lugar algum. Pessoas homofóbicas adoram repetir que os opostos se atraem e os iguais se repelem. Estão pensando no fenômeno da imantação, no qual polo negativo de um ímã atrai o polo positivo de outro, mas os dois positivos ou os dois negativos se repelem. Parece verdadeiro apenas por parecer lógico, mas essa demonstração é insuficiente e sua premissa absurda e preconceituosa em se tratando de seres humanos. É verdade que a luz repele a sombra, a água repele o fogo, o frio repele o calor, e para todos eles vale o contrário. Entretanto, quando se trata de seres humanos, o que une as pessoas não são as diferenças ou contrariedades, mas as afinidades. Seja nos esportes, nos negócios, nas amizades, no casamento (hetero ou homo), etc.

Revezar-se nas experiências sexuais, no caso dos homossexuais, é uma forma de construir reciprocidade, mutualidade, cumplicidade e, ao mesmo tempo, permite a exploração de possibilidades de prazer entre os parceiros ou parceiras. Nada é errado entre duas pessoas que disponham de iguais faculdades, estando as duas livre e espontaneamente de acordo, restringindo-se todos os efeitos aos envolvidos.

Quero dizer em linguagem simples e jocosa: Se duas pessoas em iguais condições físicas e mentais decidem em comum acordo empurrar a pamonha ou dar o cural, sendo a pamonha e o cural deles, dentro do arraial deles, não tem xerife que possa (por pretexto de direito, dever ou capricho) interromper, impedir ou punir os sinhozinhos ou as sinhazinhas. Aliás fica aqui a sugestão para os gays mais empreendedores. Por que não fazer um grande arraial gay no Rio? Quem sabe nas capitais de cada estado onde o povo gosta de festa junina? Quanto babado iria rolar...

Os iguais podem se atrair e combinar tão bem quanto em outros casos podem se repelir. Essa é a diferença entre homo e heterossexual. Cada um na sua. Viva e deixe viver!



A FALÁCIA DE QUE OS IGUAIS SEMPRE SE REPELEM

É interessante como as pessoas tomam exemplos do cotidianos, ao gosto do senso comum, para justificar seus pontos de vista, especialmente aqueles que não encontram justificação em lugar algum. Pessoas homofóbicas adoram repetir que os opostos se atraem e os iguais se repelem. Estão pensando no fênomeno da imantação, no qual polo negativo de um ímã atrai o polo positivo de outro, mas os dois positivos ou os dois negativos se repelem. Parece verdadeiro apenas por parecer lógico, mas essa demonstração é insuficiente e sua premissa absurda e preconceituosa em se tratando de seres humanos. É verdade que a luz repele a sombra, a água repele o fogo, o frio repele o calor, e para todos eles vale o contrário. Entretanto, quando se trata de seres humanos, o que une as pessoas não são as diferenças ou contrariedades, mas as afinidades. Seja nos esportes, nos negócios, nas amizades, no casamento (hetero ou homo), etc.

Revezar-se nas experiências sexuais, no caso dos homossexuais, é uma forma de construir reciprocidade, mutualidade, cumplicidade e, ao mesmo tempo, permite a exploração de possibilidades de prazer entre os parceiros ou parceiras. Nada é errado entre duas pessoas que disponham de iguais faculdades, estando as duas livre e espontaneamente de acordo, restringindo-se todos os efeitos aos envolvidos.

Quero dizer em linguagem simples e jocosa: Se duas pessoas em iguais condições físicas e mentais decidem em comum acordo empurrar a pamonha ou dar o cural, sendo a pamonha e o cural deles, dentro do arraial deles, não tem xerife que possa (por pretexto de direito, dever ou capricho) interromper, impedir ou punir os sinhôzinhos ou as sinházinhas. Aliás fica aqui a sugestão para os gays mais empreendedores. Por que não fazer um grande arraial gay no Rio? Quem sabe nas capitais de cada estado onde o povo gosta de festa junina? Quanto babado iria rolar...

Os iguais podem se atrair e combinar tão bem quanto em outros casos podem se repelir. Essa é a diferença entre homo e heterossexual. Cada um na sua. Viva e deixe viver!



Absurdos que crentes e outros tais costumam dizer



É incrível a quantidade de tolices que uma pessoa pode dizer por não usar a razão adequadamente. Eu tenho o "privilégio" de ouvir muita coisa ridícula. Às vezes fico pensando se só acontece comigo, mas acho que não. O senso comum costuma ser incoerente, irracional e obstinado no erro.

Dia desses trabalhando com uma turma de adultos ouvi uma aluna minha soltar uma "pérola" quando citei Aristóteles ressaltando um determinado ponto sobre a ética na sua filosofia. Ela sequer avaliou se a tese aristotélica era verdadeira ou se fazia algum sentido. A homofobia costuma se sobrepor à razão e antecipar-se a qualquer discurso legítimo. Por isso, ela que sofre de homofobia crônica, foi logo dizendo que não gostava de filosofia porque todos os filósofos eram gays. O que ela não sabia é que estava diante de um professor que é, por coincidência, estudante de filosofia e gay.

Só por aí já se vê como um juízo preconceituoso e precipitado pode ser um tiro pela culatra. Já imaginou se eu fosse um militante esperando apenas pela oportunidade de processar alguém por preconceito para dar visibilidade à causa? E não estaria errado, porque a palavra dela foi realmente preconceituosa e não foi a primeira. Ela já disse outras bobagens relacionadas à homossexualidade. Ela está "pedindo" para ser processada. Mas eu não tomei a coisa como pessoal, porque ela não imagina que eu seja gay e ignora completamente a minha paixão pela filosofia. Portanto, não foi um ataque pessoal. Decidi manter a questão no campo da discussão de idéias.

Comecei dizendo que não podemos chamar os filósofos de gays. Primeiro, porque os gregos não se classificavam como gays ou heterossexuais. Eles tinham famílias e ao mesmo tempo amavam outros homens, geralmente rapazes. Não era bem vista a relação entre dois homens maduros. Além disso, nem todo filósofo é grego. Há filósofos medievais, modernos e contemporâneos. E a maioria deles jamais se relacionou com outros homens.

Sem falar que o mundo ocidental deve muito do seu desenvolvimento à filosofia, que com sua insistência em ser racional conduziu o ocidente à emancipação dos mitos. E mesmo ainda existindo muita superstição no senso comum, as sociedades ocidentais avançaram muito científica, tecnológica e culturalmente, graças à ousadia dos filósofos em pensarem mesmo quando a maioria se restringia a crenças religiosas ou dogmas que nada ofereciam ao homem senão um perigoso lenitivo existencial que o lançava em ignorância cada vez maior.

O problema é que o conhecimento avança, a história se desenvolve, o ser humano muda, mas sempre existe um conflito entre o antigo e o novo. E, apesar de me admirar com uma declaração tão gravemente equivocada como aquela da minha aluna, eu sei que dependendo do que (e de como) uma pessoa leia ou ouça, sua razão poderá ser aguçada ou embotada. E no caso dessa aluna, seu mundo se restringe à leitura da Bíblia (uma leitura evangélica), à pregação de pastores (às vezes sabem menos do que ela) e à convivência com as pessoas da igreja (contentes com seu mundinho e acreditando que não exista vida inteligente de decente fora das paredes da igreja).

Pessoas que se dedicam muito à igreja e seguem fielmente tudo o que é dito geralmente são pessoas que precisam de certezas para viver, mesmo que não sejam certezas, mesmo que estas certezas sejam absolutamente incoerentes e inconsistentes. Elas precisam de respostas prontas e preferem acreditar que exista algo de tão confiável no mundo que não possa ser questionado de modo algum (no caso dos cristãos, a Bíblia). O problema é que a Bíblia não resiste ao menor exame racional. É por isso que ela exige fé incondicional da parte de seus leitores e seguidores.

A Bíblia já foi usada para todos os fins, porque suas contradições permitem diversas interpretações, ao gosto do cliente. Ela já foi usada para justificar a escravidão, o etnocentrismo, o domínio do clero sobre as consciências humanas, o extermínio em nome de Deus, o imperialismo de potências mundiais com base na eleição divina, a castração de sentimentos absolutamente naturais e saudáveis no ser humano em nome de conceitos absurdos de santidade, etc.

Foi a propaganda judaica e depois cristão que fizeram com que os escritos judaico-cristãos viessem a ser considerados como palavra de deus. E se é de deus, quem pode questionar? É aqui que a igreja finca seu pé e não arreda. Os crentes não percebem que ninguém é mais deslumbrado com o poder e o controle das massas do que a igreja e ela tem conseguido manter grande parte desse controle por séculos a fio. Tudo porque um grande número de pessoas prefere entregar suas consciências e razão a quem lhe venda idéias aparentemente seguras, que não possam ser questionadas e que façam a vida parecer mais significativa ao nosso redor. Essa é a base do fundamentalismo e é por isso que quanto mais desesperadora a realidade, maior o número de fundamentalistas e mais intenso o fundamentalismo deles. Existe exemplo melhor do que os países do eixo Norte-da-África-Oriente-Médio-Sul-da-Ásia?

Mas não é só em casos de guerra, fome ou epidemias que o fundamentalismo floresce. Ele também surge e prolifera em situações de transformação social aparentemente súbita e profunda, como acontece nos EUA, onde a sociedade originalmente formada por puritanos está cada vez mais secularizada e liberal. Ali também a direita evangélico-católica se mobiliza em torno de seu ridículo fundamentalismo para combater a liberação da sociedade.

É tragicômico que George Bush, esse estranho presidente metido a cowboy global, tenha começado uma campanha contra o casamento gay para agradar à direita conservadora, que faz muito barulho nos EUA, mas tenha enviado tropas ao Iraque que estão sodomizando muçulmanos à força. Onde está o barulho da direita agora? Por que esperneiam quando dois adultos, consentindo mutuamente e desejando igualmente, se entregam à paixão sexual, mas não dizem nada quando homens são violentamente forçados a ter sexo entre si só para divertir as tropas que supostamente deveriam representar a democracia numa região de regimes totalitários? George Bush, que pretendia livrar o mundo do terrorismo, está ele mesmo financiando conscientemente ou não o terror americano em terras iraquianas, afligindo mulheres, crianças e homens que não têm nada a ver com o jogo do poder. Onde estão os fundamentalistas nostálgicos pelos tempos puritanos? Por que não se manifesta? Certamente pelo mesmo motivo de sempre: o fundamentalismo religioso está mais comprometido com o poder e seu projeto de dominação do que com os conteúdos e motivos por traz de palavras e ações da parte dos que governam.

Foi a mesma coisa no Brasil em tempos de ditadura. A igreja convenientemente calada, consentindo com todos os abusos do governo contra a sociedade civil. A igreja nunca se pronunciou abertamente contra as ditaduras fossem latino-americanas ou mesmo européias, como o nazismo e o fascismo no século XX. Sem contar o imperialismo napoleônico muito antes disso. Ela só combateu os regimes comunistas, porque era o único sistema que não entrava em conchavo com ela. Agora, o interessante é que quando o poder muda de mãos, ela também muda de lado, sempre com um discurso demagógico.

Seja o catolicismo e o protestantismo histórico e pentecostal com seus conchavos políticos, sejam algumas comunidades menores com sua alienação político-social, o cristianismo é fundamentalista e conservador, e se dependesse dele ainda estaríamos pensando que a terra fosse quadrada e plana, com monstros marinhos preparados para tragar a primeira embarcação que se aventurasse a desafiar essa crença tentando navegar ao redor do mundo. Foram homens que ousaram pensar e pôr em dúvida as assertivas eclesiásticas que nos levaram adiante no curso da história.

Portanto, deixe de ser crente para ser pensante, ou pelo menos suspenda a crença momentaneamente enquanto pensa. Não vá acreditando nas coisas instantaneamente. Questione, duvide, pense, faça as perguntas que não querem calar e não tenha medo de descobrir seus próprios equívocos. Você pode ser livre. Use a razão com categorias legítimas. Melhor do que ter certezas erradas é fazer as perguntas certas, mesmo que elas jamais encontrem respostas definitivas.



Abaixo o fundamentalismo! Viva a liberdade!

Se desejar pensar mais sobre essas questões de fé e razão, sugiro o bom site: Sociedade da Terra Redonda (http://www.str.com.br)

































































































































































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