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Sobre "curas" e "terapias" para "correção" da orientação sexual e da identidade de gênero de pessoas LGBTI+ no Brasil




Por Sergio Viula


Hoje, dia 30/06/21, recebi da All Out um convite para ler um relatório de pesquisa sobre as chamadas "terapias de conversão" (a famigerada "cura gay"). Esse trabalho é de um valor imenso, pois essas terapias são uma verdadeira violência contra a psiquê das vítimas.

O relatório completo pode ser acessado aqui:

https://s3.amazonaws.com/s3.allout.org/images/All_Out_Instituto_Matizes_Relatorio_Completo_Entre_Curas_E_Terapias.pdf

Também na data de hoje, foi feito um painel com as pessoas que organizaram o relatório. Esse painel pode ser assistido aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=DvGhjGrVKyE

Não deixe de acessar essas informações. Elas são fundamentais para que a nossa capacitação e empoderamento contra essa série de violências contra a pessoa LGBT+, especialmente na infância e na adolescência.

O que elas enfrentam - Mês da Visibilidade Lésbica

Parada LGBTI de Porto Alegre. Foto: Renata Fetzner




Por Sergio Viula



Agosto, 2019: A comunidade lésbica brasileira está comemorando o mês da visibilidade lésbica.



Desde 1996, o Dia da Visibilidade Lésbica é comemorado em 29 de agosto. A escolha foi feita durante o 1° Seminário Nacional de Lésbicas (antigo Senale, hoje Senalesbi), para destacar a existência e a resistência da mulher lésbica.

A palavra lésbica vem do nome de uma ilha grega que ficou famosa por ter sido o local de nascimento da poeta Safo (c.624 a 569 a.C.), cujos textos celebravam o amor entre mulheres. Lesbos, terra-natal da lésbica mais conhecida do mundo, localiza-se no nordeste do mar Egeu, sendo a terceira maior ilha grega e a sétima maior do Mediterrâneo. Atualmente, a ilha é um dos destinos favoritos de turistas lésbicas.

Trecho de um poema de Safo para Átis, uma de suas discípulas e grande amor:


Colares atei para o tenro
Pescoço de Átis; os perfumes
Nos cabelos, os óleos raros


Da sua pele em minha pele!
[…]
Cama macia, o amor nascia
De sua beleza, e eu matava
A sua sede” […}


Portanto, o termo lésbica vem de Lesbos, e o termo lesbofobia indica o preconceito por orientação sexual direcionado às mulheres que amam mulheres.

Como se dá a lesbofobia?



Fetiche machista


A lesbofobia manifesta-se de muitas maneiras. Uma das maneiras mais recorrentes é a fetichização ou objetificação do relacionamento entre mulheres, especialmente por parte de homens machistas que associam o amor entre duas mulheres ao entretenimento sexual apresentado em sites pornôs, ignorando que uma relação afetiva entre duas pessoas, seja qual for o sexo delas, não tem nada a ver com suas esquisitices secretas.

Saúde


Mulheres lésbicas ainda enfrentam dificuldades quando se trata de atendimento médico. Muitos ginecologistas ignoram as especificidades da mulher lésbica no tocante à saúde feminina.


Minha irmã conta que uma vez foi atendida por um ginecologista que a examinava como se ela tinha vida sexual ativa com homens. Ela precisou dizer-lhe: "Doutor, eu nunca transei com homens. Eu sou lésbica." O médico, depois dessa informação, não sabia exatamente o que dizer, mas se ele estivesse melhor instruído, certamente teria sabido o que dizer e o que fazer com essa informação.

Violência


Entre as manifestações mais graves de lesbofobia, encontram-se as agressões físicas e psicológicas, sofridas muitas vezes dentro da própria casa. Em muitos casos, desde a infância.

Sou testemunha de quantas vezes minha irmã foi criticada simplesmente por gostar de brincadeiras geralmente atribuídas aos meninos - o que não é a experiência de todas as lésbicas. Tenho amigas lésbicas que adoram brincar de boneca e detestam qualquer coisa que inclua a competição com base em habilidades físicas. Porém, no caso da minha irmã, eu costumava ouvir parentes e até nossos pais dizendo que isso ou aquilo era brincadeira de menino, que ela devia se comportar como menina, que ela parecia um moleque, etc.

Esse tipo de coisa tem forte impacto negativo sobre a psique de uma criança e inviabiliza qualquer diálogo que ela queria iniciar sobre sua própria sexualidade. Enquanto as meninas que gostam de meninos compartilham com suas mães (ou pais) seus pequenos romances, a menina lésbica se sente clandestina dentro de seu próprio lar e uma estranha para aqueles que deveriam ser seus amigos mais íntimos e confiáveis - os pais.

A falta de diálogo esclarecido e acolhedor coloca a criança ou adolescente em estado de perigosa vulnerabilidade, mas as coisas podem ser ainda piores, pois há famílias que espancam suas meninas lésbicas.

Felizmente, não houve, que eu me lembre, esse tipo de violência doméstica contra minha irmã. Não tenho qualquer memória dela apanhando por não se encaixar nos "padrões" que a família acreditava serem os femininos. Porém, já conversei com adolescentes que sofreram castigos físicos, "exorcismos" e cárcere privado porque suas famílias descobriram que elas estavam apaixonadas por outras meninas.

Uma das formas mais terríveis de violência é o estupro, especialmente aquele praticado contra lésbicas sob o pretexto de "corrigir" seu desejo. Além dos traumas irreparáveis que uma violência dessas causa na psique feminina, a garota ou mulher lésbica vítima de um canalha desses ainda pode engravidar do estuprador, sendo obrigada a escolher entre o aborto e a maternidade indesejada de um filho que carrega o DNA de seu violador. Doenças sexualmente transmissíveis (algumas incuráveis) também podem ser contraídas durante o estupro. Essas mulheres precisam ser protegidas pela família, a sociedade e o Estado, sendo a família sua principal aliada, mas esta muitas vezes é sua maior inimiga, especialmente quando envenenada por crenças religiosas fundamentalistas.

A violência contra lésbicas pode culminar em assassinato.


Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil


Em 2017, um grupo de pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) criou o Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil. Os pesquisadores explicam o que entendem por lesbocídio:

“Definimos lesbocídio como morte de lésbicas por motivo de lesbofobia ou ódio, repulsa e discriminação contra a existência lésbica.”

O nome do grupo de pesquisa é “Lesbocídio – As histórias que ninguém conta”. O dossiê abrange casos que ocorreram no Brasil entre 2014 e 2017, obtidos através do monitoramento de redes sociais, jornais eletrônicos e outras formas de mídia. Os trabalhos são coordenados pela docente Maria Clara Marques Dias e desenvolvidos pela professora Suane Felippe Soares, além da graduanda Milena Cristina Carneiro Peres. A publicação ressalta o crescimento do lesbocídio no Brasil.


Crescimento assustador



Enquanto foram registrados apenas dois casos de lésbicas assassinadas no Brasil no ano 2000, esse número saltou para 54 assassinatos de lésbicas em 2017.

57% dos lesbocídios referem-se a lésbicas muito jovens, ou seja, até 24 anos;
65% dos assassinatos foram praticados no interior do país;
83% dos assassinos são homens.

O relatório aponta que:

Em três anos (2014-2017), 126 lésbicas foram assassinadas no país, sendo 54 casos apenas no ano de 2017 — um aumento de mais de 237% em relação a 2014.

O maior número de suicídios de mulheres lésbicas também foi registrado em 2017. Foram 19 no total.

O descaso para com esse tipo de violência fica evidente ao constatar-se que 71% dos crimes aconteceram em espaços públicos - o que parece apontar para uma conivente indiferença por parte da sociedade e do Estado.

Em 57% dos casos, a vítimas conheciam os agressores.

De cada 100 lésbicas assassinadas, 83 foram mortas por homens.

O grupo de estudos destaca que esses números estão longe de refletir a violência lesbofóbica com precisão, isto é, estão abaixo do número real, pois o levantamento foi feito a partir de dados coletados em redes sociais, sites e jornais e outros veículos de mídia, acarretando sub-notificação.

Além disso, as delegacias resistem em registrar os casos de lesbofobia como tal, geralmente enquadrando os crimes em latrocínio, crime passional, assassinato por motivo fútil, entre outros, especialmente antes da decisão do Supremo Tribunal Federal (2019) de equiparar a homofobia e a transfobia ao crime de racismo.

Faça sua parte para a conscientização da sociedade, compartilhe conteúdos sobre o Dia da Visibilidade Lésbica e participe dos eventos realizados em sua região. Isso é o mínimo que toda cidadã e todo cidadão devem fazer.


Acesse o dossiê completo aqui: 

https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/fontes-e-pesquisas/wp-content/uploads/sites/3/2018/04/Dossi%C3%AA-sobre-lesboc%C3%ADdio-no-Brasil.pdf

Grupos identitários e empoderamento



Por Sergio Viula


Quando a gente olha para as redes sociais, especialmente o Facebook, que oferece inúmeras maneiras de compartilhamento e comentários facilmente multiplicados por um sem-número de pessoas, a gente pode tomar três rumos: entrar na dança e fazer a mesma coisa, ignorar tudo isso como uma grande perda de tempo, ou produzir conteúdo na contra-mão dessa onda macabra. É preciso multiplicar as notícias, as imagens e os comentários positivos e construtivos, aqueles que estimulam um viver mais leve e dono de si sem perder de vista o que precisa ser modificado nas estruturas que nos cercam e que nos constituem sem que o percebamos. 

Em outras palavras, não se trata de vivermos em estado de 'Poliana', sempre achando que tudo é bom e faz bem e que inevitavelmente acabará bem. Por outro lado, não podemos fazer a hiena Hardy, personagem dos desenhos infantis que só sabia dizer "Oh, vida! Oh, azar!".

Por isso, procuro equilibrar a participação nos debates dos quais tomo parte com uma atitude que seja ao mesmo tempo firme, mas gentil e até mesmo bem-humorada. Procuro evitar que vozes rancorosas me levem a falar do mesmo jeito. Algumas chegam ao ponto do xingamento para tentar extrair o pior de seus interlocutores. Não vai rolar comigo. 

Ainda que em mim haja bem e mal, como em qualquer um - não como algo metafísico -, não cultivarei o mal para o alimentar a satisfação dos maldosos mordendo a isca (risos). Antes, procurarei promover o que é belo, bom e justo, na medida das minhas forças, para o bem de todos, inclusive daqueles que não percebem que há mais sabedoria em multiplicar o que fortalece uma existência alegre e produtiva, ainda que perpassada por tristezas em alguns momentos, do que fazer o incendiário ou a incendiária que quer mesmo que tudo se exploda.

Claro que a vida não é só alegria, mas se tem uma coisa que torna a vida mais forte e mais gostosa é a alegria. Quando a tristeza se apresenta, sua fonte tem que ser identificada e corrigida no melhor das nossas forças. Nenhum de nós viverá sem experimentar sofrimento, mas não sobreviverá se for dominado pela tristeza.

O sofrimento não dignifica ninguém automaticamente


Esse falando em sofrimento, é importante reconhecer que há sofrimentos que não dependem de nossa vontade ou ação, mas boa parte do que sofremos poderia ser evitado (e tomara que ainda possa ser superado), como é o caso do que sofremos como fruto de decisões ruins, atitudes negativas diante da vida e de outros seres humanos, dos quais dependemos mais do que imaginamos, ou mesmo de mal funcionamento físico e mental. 


Algumas das fontes de sofrimento são constituídas pelo círculo social mais imediato e, graças às redes sociais, pode ser provocado por interações com pessoas que nem conhecemos. 

Felizmente, não dependemos de todas essas pessoas. Por outro lado, não podemos viver absolutamente sós e soberanos. Não somos soberanos nem mesmo sobre nossos desejos, alguns deles facilmente driblados, enquanto outros são praticamente donos de nós mesmos.

Na verdade, a hostilidade e a toxidade que rolam nas redes sociais podem agravar o estado de angústia, ansiedade e depressão em pessoas que são mais suscetíveis a tais sentimentos devastadores.

Em contrapartida, compartilhar coisas boas pode produzir o efeito contrário em muitas pessoas. A felicidade alheia pode ser inspiradora. Todavia, até isso não é tão simples quanto parece. Há quem fique angustiado, ansioso e deprimido por ver a felicidade alheia, muitas vezes porque mede a própria vida pela do outro e pensa que a sua não vai tão bem se a do outro está tão boa. É muita falta de maturidade, mas é mais comum do que imaginamos. Como lidar com gente assim? Se esconder? Não. Para que fingir viver mal ou fingir que está tudo bem para agradar gente neurótica? As duas coisas seriam uma estupidez, para dizer o mínimo.


O que me impressiona é o número de pessoas que ainda têm aquela crença em 'olho gordo', 'inveja', 'olho grande' - seja lá o nome que se dê -, que impede muita gente de vivenciar tranquilamente algum momento especial e até de compartilhá-lo tranquilamente. Fica aquele 'medinho' de que algo possa dar errado se alguém colocar o tal 'olho gordo'. Isso, porém, não passa de superstição - e como todas elas - sem o menor fundamento. 

Não é do olho alheio que o ser humano deve ter receio, mas da língua (a sua própria e a dos outros). Essa, sim, pode destruir muita gente, inclusive sem que o dono da língua mexa um dedo. Basta fomentar o ódio por meio de mentiras e calúnias, pois sempre haverá algum idiota mais suscetível a esse tipo de manipulação disposto a passar a faca no alvo da calúnia e da difamação sem a menor noção de respeito à dignidade alheia. 



No Facebook, por exemplo, muita gente está só esperando uma oportunidade para colocar sua má índole em ação em nome dos 'bons costumes', ou da família, ou mesmo de um ou outro grupo minoritário. Sim, existem extremistas em toda parte e não se pode alimentá-los. 

Gente ressentida, recalcada e revoltada vai continuar sendo assim, não importa o que se faça ou o que se diga com a intenção de tornar o mundo menos cinzento, porque o cinza está dentro dessas pessoas. Mas isso não deve nos impedir de vivermos a nossa vida independentemente do que pensam os outros, desde que o nosso modus vivendi não viole os direitos de ninguém.

No meu caso, não tenho medo ou constrangimento de comentar sobre minhas alegrias e tristezas. Claro que há coisas muito pessoais que a gente não compartilha com ninguém ou que só compartilha com aqueles que são escolhidos como muito cuidado para serem nosso amigos com A maiúsculo.



A vida não é só alegria. Mesmo quando a tristeza dura pouco, ela incomoda muito. Ano passado, por exemplo, eu fui demitido de uma empresa onde trabalhei por 10 anos. Não tive o menor problema em compartilhar isso com os amigos, mesmo não sabendo ainda como seria meu futuro mais imediato. 

Mas, em vez de ficar chorando ou de explodir quando recebi o comunicado da demissão, fui buscar minhas coisas na minha sala e transferir alguns arquivos para um pen drive por serem pessoais, apesar de relacionados ao trabalho. 

Ali mesmo, enviei uma carta para uma empresa que já havia demonstrado interesse no meu trabalho uns quatro anos antes. Ou seja, no mesmo dia em que fui demitido de uma, busquei outra e recebi resposta positiva para participar do processo seletivo que começaria dali a alguns dias. Resumindo: Não fiquei desempregado mais do que o mês que já seria meu mês de férias. 

E o que quero dizer com tudo isso? 

Quero dizer que não basta ter qualificação e experiência. É preciso ter iniciativa e inteligência para se mover por esse mercado cada vez mais complexo que configura as relações de trabalho no Brasil.


Qualificação sem iniciativa não garante nada, 
mas iniciativa sem qualificação pode ser extremamente extenuante.


Infelizmente, por causa da discriminação contra LGBT e de outros tipos de preconceitos violentos, muita gente deixa de frequentar a escola e acaba ficando à margem do mercado de trabalho formal. Não podemos fechar os olhos para a necessidade de oferecer a essas pessoas condições reais de conclusão de seus estudos básicos e médios para que possam conseguir um emprego formal e fazer um curso técnico, politécnico ou em nível de bacharelado acadêmico para terem oportunidades melhores. 

Se não houver oportunidade, elas terão muita dificuldade ou até mesmo completa impossibilidade de conquistar um espaço nesse mercado. 

Por outro lado, se houver oportunidade, mas faltar iniciativa, persistência, ambição saudável por parte dessas mesmas pessoas, elas não chegarão a lugar algum. 

Há casos, porém, nos quais as coisas não são tão simples assim. Um morador de rua, mesmo que tenha uma capacitação profissional e esteja de banho tomado e relativamente bem vestido para uma entrevista de emprego não passará se não tiver documentos em dia e residência. Quando lhe perguntarem onde mora, se ele disser "ali embaixo do viaduto tal na avenida tal com a rua tal", esse desabrigado não vai passar nem da primeira fase. Nesses casos, é preciso mais do que apenas vontade de vencer - o que já é raro quando se trata de gente que perdeu tudo há muito tempo e não tem mais esperança. O discurso que chama esse indivíduo de vagabundo é outra forma de ignorância virulenta e violência.

Não somos uma ilha, pois precisamos de uma rede de colaboradores para podermos crescer. Mas também não somos indispensáveis ao funcionamento do mundo. Por isso, não podemos nos dar ao luxo de esperar que o mundo nos carregue no colo. É preciso manter isso em mente. Também é preciso manter em mente que ninguém precisa pisar nos outros para chegar onde deseja - o outro não é pavimento. Eu nunca pisei nem admiti ser pisado por ninguém porque sempre tive em mente que trabalho é, antes de tudo, uma relação de troca e de respeito. Se não for, não vai rolar. E como o mundo é muito grande, ninguém tem que aceitar o chicote para ter acesso ao cocho.

Aqui em casa, por exemplo, os dois trabalham muito, mas a renda familiar está longe de ser grande. Dividimos as despesas mensais e precisamos planejar muito para podermos curtir alguns bons momentos em nosso tempo livre. 

Para cada momento de lazer que a gente curte ou para cada coisa que a gente compra, muita coisa tem que ser deixada para depois. Há divertimentos que muita gente curte todo final de semana (e que não tem nada de errado) que reduzimos e até cortamos totalmente para que pudéssemos fazer o que realmente nos interessa mais. Não dá para ter tudo, mas não precisamos ter tudo para termos o suficiente.

Para se ter alguns pequenos prazeres, será preciso aumentar a renda familiar ou reduzir as despesas que imperceptivelmente vão minando os recursos, afetando até momentos que deveriam ser muito tranquilos, como é o caso das férias.

Andre e eu estivemos em Gramado durante a semana passada. Um dos lugares mais lindos onde almoçamos foi um restaurante todo amadeirado, com lareira acesa, cadeiras de madeira maciça revestidas de peles de carneiro, buffet livre sem qualquer ressalva sobre a quantidade de carne consumida - um luxo! Sabe quanto custou o almoço de cada um de nós nesse lugar fantástico? Meros 26 reais, ou seja, mais barato que um Big Mac com Coca-Cola e fritas, mas incomparavelmente melhor. A pergunta que fica é a seguinte: Será que é preciso gastar muito para se ter qualidade? Não. É preciso ser inteligente e paciente para encontrar o que se deseja pelo preço que se pode pagar, ou simplesmente chegar à conclusão de que não se precisa daquilo e seguir adiante.


Viena Fondue - Gramado-RS


Cito isso como exemplo do que podemos fazer quando planejamos, pesquisamos e nos disciplinamos em termos de gastos financeiros.

É claro que para muitas pessoas, até esse pouco que nos dá tanta alegria ainda é inacessível. E isso é sintoma de vários outros problemas enfrentados por essas pessoas na sociedade. Problemas que podem ser perpassados por restrições baseadas em racismo, homofobia, transfobia, etc.


Lugar de fala ou de falácias?


Antes de tudo, é importante garantir que todos entendam que é preciso ouvir atentamente as pessoas que falam sobre sua identidade e as delícias e dores de ser quem é. Isso, porém, não dá a ninguém o monopólio discursivo sobre o que quer que seja. Tomemos, a título de exemplo, Jean Wyllys e Fernando Holiday. Os dois são gays e são políticos, mas qual dos dois realmente acrescenta algo à comunidade gay e demais comunidades identitárias quando usam seu 'lugar de fala' para discutir assuntos relacionados à comunidade gay? A resposta parece óbvia, mas é possível que nem mesmo aqui estejamos todos de acordo. A pergunta que salta é: Basta ser gay para ter razão no tocante às pautas da comunidade gay?

Isso pode ser aplicado a todos os outros grupos identitários e os indivíduos que se inserem neles.

Infelizmente, muitas das pessoas afetadas por esses preconceitos reproduzem as mesmas discriminações sofridas quando se trata do relacionamento com os outros. A internalização do ódio acaba se traduzindo em motivação para odiar também. Se o indivíduo não trabalhar isso em si mesmo, muitas vezes com a ajuda de outras pessoas, entendendo de onde vem seus sentimentos e procurando erradicá-los, superá-los mesmo, ele ainda será escravo daquilo que combate ou do que reclama.

Além disso, a estratégia de usar o jargão 'lugar de fala' para calar o outro só funciona com nossos aliados, não com nossos verdadeiros oponentes. O resultado é que as pessoas que nos ouvem e defendem se calam e as que nos desprezam e atacam continuam falando. 




Quando alguém diz "o grupo X é muito discriminado, por isso temos que ter paciência com algumas atitudes de quem faz parte do grupo X quando se exacerba", eu penso: 

É verdade que o grupo X é discriminado e é verdade que a pessoa que faz parte dele tem razões para estar revoltada, mas não é pelo ataque ao "grupo Y" ou ao "grupo W" que as injustiças praticadas contra o "grupo X" serão resolvidas ou desfeitas. Pelo contrário, praticar injustiça contra outras pessoas, sejam quais forem suas características identitárias, só aumenta os níveis de injustiça e infelicidade de um modo geral, em vez de reduzir os níveis de violência, injustiça e tristeza. E se o "grupo X" é vítima dessas coisas, estará dando um tiro no próprio pé ao promovê-las, ainda que pareça estar levando a melhor em relação a outros naquele determinado momento.

Existe um maniqueísmo horroroso em andamento. É algo que funciona assim: Se ele é heterossexual, deve ser homofóbico; se é homem, deve ser machista; se é branco, deve ser racista; se gay, deve ser transfóbico ou bifóbico; se não é miserável, deve ter culpa pela miséria alheia. Quem adota esse tipo de pensamento presume que todos são culpados até que se prove o contrário - o que é um contrassenso às noções mais básicas do Direito. Não percebem que o que é preciso fazer, na verdade, é modificar as estruturas sociais que perpetuam injustiças, em vez de apedrejar quem luta árdua e honestamente para manter a cabeça fora d'água e ainda encontra tempo e forças para se solidarizar com pessoas de fora de seu próprio grupo identitário. 

Se você ainda tem um emprego e depende dele, você não é um privilegiado, mas um lutador que ainda consegue se manter em pé. De um dia para o outro, você pode estar desempregado e não conseguir sequer alugar um minúsculo quarto na parte mais pobre do bairro. 



Classe média com CLT e salário baixo?

O que é essa tão propalada classe média que os mais desprovidos consideram rica e que, infelizmente, também pode cair no engano de pensar que é realmente rica? Ora, se você não pode ficar desempregado por um ano sem cair na mais absoluta miséria, você não está longe do cara que mora embaixo da ponte. Ele já pode ter estado exatamente no lugar onde você se encontra hoje, enquanto come uma pizza com seu vale-restaurante num shopping center popular. Amanhã, você pode estar no dele. Tudo o que a gente considera muito seguro é muito mais frágil do que a gente pensa. 

Não é preciso ser muito inteligente para perceber que, graças ao racismo existente na cabeça de muitos e nas estruturas sociais, um negro tem menos chances de conseguir um emprego do que um branco com as mesmas qualificações. Às vezes, o negro tem mais qualificações do que o branco, mas, ainda assim, o empregador o dispensa. Isso é racismo, é claro. Mas o candidato branco, apesar de ter levado vantagem, não favoreceria o negro se desistisse da vaga. Mais ainda: Estaria desempregado depois disso sem causar um só arranhão na estrutura racista que ele mesmo repudia. Não se pode culpar esse candidato branco pela não contratação daquele candidato negro, mas também não se pode cruzar os braços e dizer que é assim mesmo. Esses maniqueísmos é que não resolvem o problema.

Esse caso hipotético tão comum poderia ser ilustrado por outros indivíduos: um homem e uma mulher, um homem cis gay e um homem trans, uma mulher cis lésbica e uma trans. As pessoas cis levam vantagem nesse processo, mas isso não as torna inimigas daquelas que são preteridas. Ambas estão sujeitas às mesmas estruturas e relação de forças, cada qual com suas especificidades. E muitas pessoas cis, só para citar um grupo, estão cientes disso e querem oportunidades iguais, mesmo que isso não as afete diretamente. 

Homens e mulheres gays também ficam em desvantagem diante de homens e mulheres heterossexuais na maioria das vezes.

Agora pense numa pessoa de classe média diante de outras que estão em situação de pobreza extrema. Ao contrário do que pensam alguns que repetem jargões sem reflexão mais séria, esse homem ou mulher de "classe média" não é responsável pela miséria daquele que está desabrigado ou sobrevivendo como catador de latinhas ou de papelão. Pelo contrário, muitas vezes são essas pessoas consideradas 'classe-média' que se solidarizam com os que estão na mais absoluta miséria. É mais fácil ver gente de classe média-baixa socorrendo gente que é vítima de calamidades naturais ou de guerra do que gente de classe realmente alta, mas até mesmo entre os super ricos, existem aqueles que se mobilizam em prol de causas humanitárias, como já vimos muitas vezes entre celebridades e grandes empresários. Nenhum de nós é só vítima ou só culpado pelo que acontece no mundo, mas alguns de nós estamos tirando água da canoa, enquanto outros estão perfurando o casco.

É uma falácia pensar que a pobreza não possa ser erradicada ou que para ser erradicada, é preciso atacar quem tem mais. O que é realmente preciso é criar acesso e garantir que todos possam usufruir dos mesmos.

Muitas vezes, as pessoas sabotam a si mesmas. Os motivos são os mais variados, mas a maioria deles tem a ver com falta de educação. Por exemplo, muitas pessoas não se dão conta de coisas tão simples como os custos para se criar um filho. Muita gente pobre acaba tendo três, quatro, cinco filhos! Alguns muito cedo na vida. 


Não romantize tanto a realidade: isso aqui não dura um ano.
Filho é para o resto da vida.


Duvida que filhos custem uma fortuna? Olhe o quadro a seguir:


Fonte: https://www.mongeralaegon.com.br/blog/dinheiro/artigo/quanto-custa-criar-um-filho


Agora, veja só. Em 2016, nasceram no Brasil 2.790.000 bebês. Para 2018, a estimativa do IBGE aponta que o Brasil vai fechar o ano com 3.003.585. Segura o tchan, amarra o tchan

Filho tem que ser programado e já chegar com ninho garantido. Mesmo assim, nada garante que vai ser fácil. Há muitas variáveis - desde o jogo da genética até o desenvolvimento de uma psiquê saudável em meio a uma sociedade tão doente, especialmente doente de fundamentalismos ignóbeis e mortíferos.


Neuroses de estimação são igualmente destrutivas

E falando nas neuroses que caracterizam as relações sociais, está se tornando cada vez mais comum ouvir pessoas contrapondo figuras como 'gay branco de classe média' à 'travesti preta proletária' (ou vice-versa). O que muitos não percebem é que estão falando de uma abstração. Quem são as pessoas rotuladas dessa maneira? Será que o bem-estar de uma exclui o da outra? O que desejam aqueles ou aquelas que pretendem estabelecer antagonismos entre os indivíduos assim rotulados ou relações de causalidade entre a felicidade de um e as dores do outro, seja qual for o grupo identitário (ou social)?

Será que há especificidades em cada caso? Claro que há. Mas para cada grupo que você nomeia como gay, lésbica, bissexual ou transgênero, existem inúmeras variáveis. Nenhum deles é um bloco monolítico. E um não precisa ser minimizado para que o outro seja respeitado, seja quem for.

A quizumba chega a tal ponto que as pessoas ficam querendo controlar até mesmo com quem o outro vai se relacionar. Lésbicas feministas extremistas recriminam lésbicas que amam mulheres trans, alegando que estas são homens disfarçados que desejam violá-las (como assim, Lombardi?). 





Algumas mulheres transexuais que se identificam como trans heterossexuais nutrem rancor contra homens gays, fazendo questão de se distanciar deles ao máximo, muitas vezes, como sintoma das injúrias que sofreram nas mãos de homofóbicos que as chamavam de "viadinhos", reportando-se a noções de masculinidade nelas por parte de gente que não faz diferença entre gênero e orientação sexual, misturando homofobia e transfobia na prática. 

Alguns homens gays são recriminados por outros gays porque amam homens transexuais. Os gays que os recriminam fazem o mesmo que fazem homofóbicos contra todos eles: Focam na genitália. No caso desses gays, a recriminação é porque um homem trans não tem pênis. O mesmo falocentrismo que leva mulheres lésbicas feministas radicais a rejeitarem mulheres trans não operadas age aqui de modo reverso na cabeça dos gays que recriminam o amor entre um gay cis e um trans.

Bissexuais, considerados por alguns gays, lésbicas e transexuais, os quais se identificam como heterossexuais em seu desejo, são considerados enrustidos, covardes, confusos ou promíscuos - nada mais longe da verdade! Bissexuais são apenas pessoas que podem se apaixonar por uma pessoa de um gênero ou de outro, com pênis ou vagina - o que não significa que não possam amar uma pessoa intensa e fielmente em relacionamentos estáveis e satisfatórios para ele(a) e seu parceiro(a). 

Agora, sabe quem adora esse pandemônio todo? Fundamentalistas religiosos, gente ultraconservadora de direita e/ou de esquerda, e pessoas que juram que não estão associadas aos tais, mas que reproduzem os mesmos discursos daqueles e que são incapazes de ouvir os que as alertam sobre esses equívocos.

Mas se engana quem pensa que é todo mundo igual no que diz respeito à ignorância, ao ódio ou à indiferença. A solidariedade entre pessoas de todos esses grupos identitários é visível sob diversas formas. Mulheres lésbicas e homens gays cisgêneros que se solidarizam com mulheres e homens trans, e vice-versa. Pessoas bissexuais cisgêneras ou transgêneras que são abraçadas por mulheres e homens homossexuais cis ou trans. E a força que essa solidariedade produz é muito maior do que muitos imaginam.

Mas é importante que não confundamos amizade, simpatia, empatia e cooperação com a obrigação de ter que dizer 'amém' para tudo que o outro faz por palavras ou atos. Ser amigo, aliado ou simpatizante não dispensa o senso crítico, a coragem e a gentileza de dizer aos amigos/amigas que estão errados quando se equivocarem.

Casal lésbico e preconceito: A resposta do CCBB e os desdobramentos.

Foto da mensagem homofóbica escrita pelo namorado de uma funcionária contra um casal de lésbicas que estava nessa área do Centro Cultural do Banco do Brasil.



Veja o relato das meninas que foram ofendidas e assedias continuamente pelo namorado de uma funcionária, enquanto faziam uma reclamação por escrito ao CCBB:

Reproduzido aqui exatamente como foi publicado por elas.


Ontem por volta das 20:00 da noite fui ao CCBB Rio acompanhada da minha namorada. O espaço da criança criado por conta da exposição Mondrian estava vazio, sentamos lá para assistir o vídeo. No local tinha um quadro imantado para brincadeiras. Pouco tempo depois, uma funcionária do local acompanhada de um homem chegaram. Ele escreveu “MEU PAU” enquanto ela ria (ok, não foi ela que escreveu mas a atitude foi bem inadequada pra alguém que está trabalhando). Quando eles saíram removemos a frase e continuamos lá. Ficamos sem acreditar que funcionários fariam isso (nessa hora estávamos achando q ele também trabalhava lá). O cara que escreveu voltou outras vezes pra nos olhar. Resolvemos sair da sala. Fui ao banheiro e já ia embora. Passamos em frente a sala das crianças e ele estava saindo de lá. Agora o recado era “FORA LÉSBICA”. Dois funcionários foram atenciosos e disseram que podíamos registrar uma reclamação. Depois disso descobrimos que quem escreveu era namorado da funcionária que fica no balcão de informações. Ele tentou me impedir de colocar o papel na caixa tampando o buraco e depois tentando arrancar o papel da minha mão. O tempo inteiro que escrevia a reclamação ele ficou a menos de um metro de mim rasgando os papéis da caixa. Todos presenciaram a cena e nada fizeram mesmo quando pedimos alguma intervenção (ao menos tirar o cara de perto da caixa). O CCBB fechou e o cara continuou lá dentro esperando a namorada largar do trabalho. Enfim, várias coisas me incomodaram. 1. Todo mundo conhecia o cara. 2. Sou hostilizada em vários lugares mas no CCBB acreditava ser um espaço seguro 3. Não teve agressão física mas a tentativa de intimidar e humilhar são claras 4. Falamos com os dois (o cara e a namorada) ele só com cara de “e daí?” e ela falando “o que eu tenho a ver com isso?” 4. Todo dia LGBT é morto e algumas pessoas simplesmente se sentem a vontade pra nos agredir.

Equipe do CCBB fazendo uma manifestação contra a homofobia no mesmo lugar.





Veja a excelente resposta da direção do Centro Cultural do Banco do Brasil.


O Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro manifesta total repúdio ao episódio de homofobia relatado. O fato narrado contraria os valores e o trabalho educativo e afirmativo que a Instituição vem realizando ao longo da sua história contra a intolerância e a favor da diversidade étnica, sexual, de gênero e religiosa.

O Centro Cultural está apurando internamente o fato e tomará todas as medidas legais e judiciais cabíveis com a firmeza que a situação descrita exige. Lamenta que o caso tenha acontecido em suas dependências e reafirma o compromisso de atuar em prol do respeito às diferenças, repudiando toda e qualquer manifestação de preconceito. #CCBBcontraHomofobia

ATUALIZAÇÃO: A funcionária que foi conivente com as atitudes do namorado foi afastada. A notícia é da Revista IstoÉ: 
http://istoe.com.br/casal-de-lesbicas-denuncia-homofobia-no-ccbb-rio-instituicao-afasta-funcionaria/


E o CCBB não engavetou o caso mesmo, não. Veja mais esse comunicado deles sobre os desdobramentos do caso:


Informamos que o #CCBBRJ fez registro de ocorrência na 1ª Delegacia de Polícia Centro Rio, relatando discriminação sofrida por duas frequentadoras na sexta-feira, 30, para apuração e responsabilização do autor.

O CCBB pede desculpas à Éri Éri por esse fato lamentável ter ocorrido em nossos espaços e reforça o repúdio a qualquer tipo de preconceito.

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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO

Parabéns ao casal por se colocar tão corajosa e educadamente. Orgulho lésbico é não deixar atos como os desses indivíduo serem ignorados.

Parabéns ao CCBB pela resposta justa, rápida e solidária. Eu, particularmente, não esperava nada diferente disso, visto que o CCBB sempre foi uma instituição inclusiva, promovendo encontros lindos com a diversidade cultural, étnica, racial, sexual e de gênero através de suas atividades.

Uma lição deve se tirar disso tudo: O que a família e a escola não conseguem (ou não querem) transformar precisa ser corrigido pelo delegado e pelo juiz. Tolerância zero com a LGBTfobia e qualquer outra forma de discriminação. 

As empresas precisam treinar seus funcionários com vistas a criar ambientes amistosos e receptivos à comunidade LGBT e, havendo resistência, utilizar os mecanismos disciplinares internos legalmente cabíveis para corrigir tal comportamento. Em último caso, a demissão pode se fazer necessária. O que não se pode admitir é que prestadores de serviço pratiquem atos discriminatórios ou promovam segregação e insegurança nos ambientes nos quais atuam.



Veja o manual da ONU sobre os direitos das pessoas LGBT no mundo do trabalho: http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---americas/---ro-lima/---ilo-brasilia/documents/publication/wcms_421256.pdf



Não são números, eles têm rostos: Os mortos na Pulse em Orlando

Por Sergio Viula

Sempre que falamos em números nos referindo a pessoas corremos o risco de perder algo da humanidade por trás deles. Muita gente falou nos que morrem no atentado homofóbico contra os frequentadores da boate Pulse em Orlando, mas você não imagine quantas semelhanças existem entre eles e você.

Esses rostos não podem ser esquecidos. As pessoas LGBT e seus amigos e parentes que estavam na boate são mais do que números frios ou nomes numa lista. Na verdade, elas eram mais do que essas fotos, mas se tem alguma coisa que as representa melhor do que números e nomes, são as imagens que ficaram, sejam fotos, vídeos ou recordações na memória dos que as conheceram.

Pelo fim da violência LGBTfóbica, diga não ao preconceito e à discriminação e trabalhe seus próprios preconceitos mais velados até que não sobre nem sinal deles.



Diga não a homofobia, lesbofobia, bifobia e transfobia.

Diga não à violência!


251,285

Médica nega atendimento a um bebê de 4 meses de um casal de mulheres

Bebê de 4 meses, filha de casal lésbico, teve atendimento negado pela médica


Fonte: Pink News
https://www.thepinknews.com/2015/02/19/doctor-refuses-to-treat-4-month-old-baby-because-she-has-lesbian-parents/

Tradução: Sergio Viula


Uma médica recusou tratamento a um bebê de 4 meses de idade, dizendo que sua religião a impedia de fazê-lo, porque os "pais" da criança são lésbicas.

Bay Windsor nasceu do casal de Michigan Krista e Jami Contreras. Depois de se cadastrarem e agendarem consulta com a Dra. Vesna Roi, o casal chegou ao hospital.

Na chegada, elas foram recebidas pelo Dr. Karam, que disse: “Eu serei seu médico, eu cuidarei de vocês hoje porque a Dra. Roi orou sobre isso esta manhã e decidiu que não poderá cuidar de Bay", lembra-se o casal.

De acordo com o casal, a Dra. Roi nem sequer compareceu ao hospital naquele dia, de modo a evitar vê-las.

“Foi embaraçoso, foi humilhante e aqui estamos, novos pais tentando protegê-la", disse Jami.

“E sabemos que isso acontece no mundo e estamos completamente preparadas quando isso acontecer em outros lugares. Mas não em nossa consulta de rotina [N.T.: elas dizem de bem-estar] com seis dias de idade."

“Até onde sabemos, Bay não tem uma orientação sexual ainda, então não estou certa de que importância tem isso", Jami continua. "Não somos suas pacientes – ela é sua paciente. E o fato é que seu trabalho é manter bebês saudáveis e você não pode manter um bebê saudável que tenha pais gays?”

Ao buscarem novos pediatras, o casal disse que sentiu como se tivessem que anunciar que são um casal do mesmo sexo primeiro, para evitar essa situação de novo.

Depois que sua história pegou força nas mídias sociais, e alguns ligaram para o hospital em protesto, elas finalmente receberam uma explicação da Dra. Roi.

A carta para o casal dizia: “Depois de muita oração seguindo o seu pré-natal, eu senti que não poderia desenvolver um relacionamento paciente-médico como normalmente falo com meus pacientes.”

“Não mantemos informação pré-natal depois dos nossos encontros, então eu não tinha como contactar vocês."

Tentado se desculpar, ela disse: “Eu deveria ter falado com vocês diretamente naquele dia... por favor, saibam que eu acredito que Deus nos deu livre arbítrio e eu nunca julgaria ninguém baseado no que eles fazem desse livre arbítrio."


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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO

É desumano não atender pessoas, seja qual for a profissão, por discriminação sexual, de gênero, de raça, de religião, etc. Imaginem se prestadores de serviço e comerciantes simplesmente decidirem que só atenderão aqueles que se enquadrem em seu pequeno mundo conceitual pessoal! Médico católico não faria parto de mulher muçulmana, padeiro comunista não atenderia cliente capitalista, professor ateu se recusaria a ensinar o aluno religioso, hóspedes alemães seriam deixados na rua por hotéis administrados por judeus, e por aí vai. Isso é simplesmente absurdo demais para ser considerado uma questão de liberdade pessoal. Isso seria a própria implosão da sociedade.

Essa médica e seu fanatismo é mais uma demonstração de como a cegueira religiosa pode ser perigosa. Tomara que o órgão que supervisiona o trabalho dos médicos tome providências. Ela agiu com a mais absoluta falta de ética profissional.

E é isso aí pais gays, mães lésbicas e qualquer outra combinação entre orientação e de gênero que seja a de vocês, continuem ocupando seus espaços. É direito de vocês e de seus filhos e filhas!

Lésbica condenada à morte a ponto de ser deportada para seu país de origem. Veja como apoia-la.

Aderonke, condenada à morte na Nigéria por ser lésbica.


A família de Aderonke foi assassinada e ela foi presa, torturada e sentenciada à morte na Nigéria por ser lésbica. No momento, ela está segura no Reino Unido.

Porém, eles estão querendo manda-la de volta, apesar do perigo. Aderonke, como dezenas de outros LGBT buscando asilo, está parada num processo que o governo do Reino Unido já admitiu ser humilhante e abusivo. Na verdade, ele não funciona para proteger quem quer que seja.

Mas, se milhares de nós falarmos agora mesmo, poderemos fazer com que o Home Office dê mais um passo e pare com as deportações. Você poderia assinar a petição para a Secretaria Theresa May do Home Office agora mesmo?

A petição está apenas em inglês, mas você pode assina-la rápida e facilmente aqui:

https://www.allout.org/en/actions/aderonke

Obrigado.

Por um mundo igualitário!

UGANDA APROVA LEI QUE AUMENTA A REPRESSÃO CONTRA GAYS NO PAÍS

Yoweri Museveni, presidente de Uganda


Fonte da imagem: All Voices


O presidente de Uganda, Yoweri Museveni, promulgou nesta segunda uma lei que aumenta a repressão contra gays no país. A homossexualidade é considerada crime em Uganda desse 2009.

As condenações previstas pela nova lei vão de 14 anos de prisão (para réus primários) até prisão perpétua para os que forem considerados praticando atos “com agravo”, definidos como a prática de sexo gay consentida entre adultos e também a que envolve menores, deficientes e pessoas contaminadas com o HIV.


Saiba mais sobre esse absurdo aqui: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2014/02/1416884-presidente-de-uganda-promulga-lei-antigay.shtml

Depois da carta da filha lésbica, pai bilionário retira a recompensa para o homem que 'transformasse' a filha em heterossexual

Cecil Chao, o bilionário de Hong Kong, retira a recompensa para tornar sua filha heterossexual


The Huffington Post | By James Nichols

Posted: 01/30/2014

Traduzido por Sergio Viula



Cecil Chao


Um bilionário de Hong Kong que esperava mudar a sexualidade de sua filha oferecendo recompensa financeira a qualquer homem que conseguisse torna-la heterossexual - e supostamente deixar sua vida atual - parece ter rescindido a oferta.

De acordo com a CNN, o bilionário Cecil Chao retirou os 130 milhões de dólares da mesa. "Se Gigi disse que é isso que ela quer, então está acabado", disse ele.



Porém, o fim da oferta de Chao não significa necessariamente que ele esteja aceitando a vida atual de sua filha - ou que não vá tentar fazer essa horrível oferta de novo em algum ponto do futuro.

"Eu posso dizer que estou feliz com a escolha dela", disse ele. "Se esta é a escolha dela, então é para ela... eu não tenho intenção de misturar minha vida com a vida dela. Mas se é isso que ela quer, então respeito a escolha dela..."

Ele também declarou que a oferta está acabada "por enquanto... até que ela mude de ideia".

A mudança de ideia de Chao vem apenas alguns dias depois que a filha dele permitiu que o South China Morning Post publicasse uma carta que ela havia escrito para o pai dela a respeito de seu plano nada ortodoxo.

Carta: https://www.scmp.com/news/hong-kong/article/1415791/dear-daddy-you-must-accept-im-lesbian-gigi-chao-pens-plea-open-letter


Veja matéria sobre a carta que ela escreveu aqui:
https://www.xn--foradoarmrio-kbb.com/2014/01/carta-de-uma-filha-lesbica-ao-pai.html

VXII Parada Livre 2013 e VII Marcha Lésbica - 17 de novembro de 2013


DOMINGO, 18 DE NOVEMBRO - 14:30


Visite o grupo no Facebook e confirme sua presença:

http://www.facebook.com/events/665360463495984/?ref_newsfeed_story_type=regular&source=1


PORQUE LUTAR AINDA É PRECISO

A Parada Livre é um evento cultural e político que marca a luta por direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais na cidade de Porto Alegre. E, este ano, mais uma vez, estaremos no Parque da Redenção dando nosso close e reafirmando nosso espaço e nossa cidadania: uma resposta à onda de retrocessos sociais que tem ameaçado às liberdades.

Um país que se pretende democrático não pode aceitar a existência de cidadãos e cidadãs sendo considerados seres de segunda categoria. Da mesma forma, não pode ser governado por dogmas e princípios religiosos, deixando que fundamentalistas imponham seus pensamentos moralistas, comprometendo diretamente o princípio de um Estado laico, onde religião e política não devem se misturar.

Buscando dialogar com esta realidade e enfrentar o preconceito derivado dela, a 17ª Parada Livre elegeu o slogan: "AJOELHA E REZA! LIBERTA-TE DO PRECONCEITO" que, este ano, se soma à 7ª Marcha Lésbica de POA, trazendo em suas bandeiras o enunciado: "Tirem suas doutrinas de nossas vaginas! Tirem seus rosários de nossos ovários”.

No dia 17 de Novembro, sairemos às ruas com irreverência e criatividade para dizer que não abriremos mão dos nossos direitos e que não ficaremos calados enquanto a liberdade de ser o que se é, do jeito que se quer, for ameaçada.

Organização

17ª. Parada Livre 2013 | 7a. Marcha Lésbica


PROGRAMAÇÃO:

DIA 08/11 (SEXTA)

III Seminário Diversidade Sexual, Relações de Gênero e

Políticas Públicas (NUPSEX/UFRGS)

Local: Auditório da Escola de Enfermagem da UFRGS – Rua São Manoel, 963 | Informações: 3308 5458

Mesa I: Laicidade, Direito e Políticas Públicas (9h):

Asa Heuser (LIHS), Mario Pecheny (Universidade de Buenos Aires) e

Roger Raupp Rios (NUPSEX / PPG Direitos Humanos Uniritter)

Mesa II: Liberdade Religiosa e Liberdade Sexual (14h):

Ana Naiara Malavolta (LBL/SUL), André Musskopf (EST), Fernando Seffner (GEERGE / FACED / UFRGS) e

Marco Antônio Torres (UFOP)

DIA 12/11 (TERÇA) - 19h:

Seminário da Parada Livre

Tema: Para que servem as paradas, qual seu significado político?

Debate com Movimentos Sociais de Diversidade Sexual

Local: auditório da Faculdade de Direito da UFRGS - Av. João Pessoa, 80

DIA 17/11 (DOMINGO):

17a. PARADA LIVRE & 7a. MARCHA LÉSBICA

14h: 1ª. parte da Mostra artística com atrações de Música, Dança e Arte Transformista.

Apresentação: Gloria Crystal,

Lady Cibele e Laurita Leão – com convidad@s

17h30min: CAMINHADA NO ENTORNO DO PARQUE

Após a caminhada: 2ª. parte da Mostra artística

Local: Parque da Redenção

DIA 19/11 (TERÇA)

EXPOSIÇÃO: 22 anos do nuances

Com jornais e materiais gráficos que registram a trajetória da ONG.

Abertura: 19/11, às 19h, no 2o. andar

do Memorial do RS - - Praça da Alfândega

Visitação: De 19 a 30/11 - das 9h às 18h

Memorial do RS - Praça da Alfândega

Senegal prende cinco mulheres que supostamente violaram a lei anti-gay do país

Senegal


Fonte: GayStar News


Na última segunda-feira de manhã (11 de novembro), a cinco mulheres encontraram-se para uma festa de aniversário num restaurante de Dakar conhecido como sendo um ponto para as pessoas LGBT.

A polícia entrou no restaurante e imediatamente manteve as mulheres sob detenção na delegacia.

Entre elas estava Sene Dienge, de 31 anos, uma diretora assistente no Women's Smile (Sorriso do Mulher_ - um grupo lésbico.

Um jornal alegou que as detentas haviam sido pegas ' ometendo' atos homossexuais em público.

Defensores dos direitos gays suspeitam que alguém tenha trabalhado no restaurante disfarçado e tenha dado a dica à polícia sobre o papel que Dienge desempenha na comunidade.

Ndeye Kebe, a presidente do grupo ativista, disse que as mulheres não têm condições de pagar um advogado.

Um dos únicos defensores LGBTI no país, Kebe, disse que mulheres suspeitas de serem lésbicas têm enfrentado crescente pressão em função de diversos escândalos.

Anteriormente, esse ano, um homem divorciado descobriu um vídeo de sua namorada de 18 anos beijando outra mulher.

Quando ele postou isso online, e isso o fato foi espalhado através de tabloides, sua namora foi forçada a fugir do país.

"No Senegal, quando falamos sobre homossexualidade, gera,mente falamos de homens,, e nos esquecemos das mulheres, disse Kebe, conforme relatado pela Associated Press.

‘Mas as pessoas agora estão à caça das lésbicas.’

Se condenadas, as cinco mulheres enfrentarão cinco anos de cadeia e multas de até 1,5 milhão de francos senegaleses (cerca de 8.200 reais, ou 3900 dólares, ou 2300 euros).

Movimento Mães pela Igualdade discute avanços nas políticas em defesa da população LGBT

Brasília


Movimento Mães pela Igualdade discute avanços nas políticas em defesa da população LGBT

04/10/2013 

Cidadania

Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil


Brasília - Onze anos após a morte do filho, brutalmente assassinado em Montes Claros (MG) por ser homossexual, Marlene Xavier comemora a condenação do réu, ocorrida em agosto deste ano. Ela lamenta, no entanto, que muitas pessoas continuam sofrendo violência física e discriminação pelo mesmo motivo.

Ao participar, hoje (4), da abertura do 1º Encontro Nacional do Movimento Mães pela Igualdade, em Brasília, Marlene defendeu avanços mais rápidos nas políticas públicas voltadas a essa parcela da população. Até domingo (6), dezenas de mães de homossexuais e especialistas vão discutir, durante o evento, a diversidade sexual em vários contextos e trocar experiências.

"As coisas mudaram muito pouco [desde a morte de Igor Xavier, aos 29 anos, morto ao ser baleado com cinco tiros], mas aos poucos a gente vai avançando. As pessoas precisam entender que a homossexualidade não é doença e que os homossexuais são pessoas absolutamente normais", disse.

Graça Cabral, uma das fundadoras do Movimento Mães pela Igualdade, explicou que a partir dos debates que ocorrerão nos próximos dias será elaborada uma carta pública com propostas concretas, entre elas a garantia de alteração do registro civil para homossexuais. O documento será encaminhado a parlamentares e representantes dos três níveis de governo.

Mãe de um rapaz homossexual, ela também manifestou preocupação em relação à violência contra lésbicas,gays, bissexuais e transgêneros [LGBT]. "Quando meu filho vai a uma festa, eu ligo no dia seguinte. Se ele não atende, já fico imaginando o que poderá ter acontecido. Nós, pais e mães de homossexuais, vivemos uma tensão diária porque a discriminação é assustadora e infelizmente ocorre, muitas vezes, dentro das próprias famílias", disse. Ela enfatizou que um dos objetivos do grupo, criado em 2011, é sensibilizar as famílias que vivem esse tipo de preconceito.

O advogado Luis Arruda, de 36 anos, não enfrenta esse problema em casa, onde é reconhecido e valorizado independentemente de sua orientação sexual. Ele lamentou, no entanto, que sua situação ainda seja exceção entre seus amigos gays. "Muitos deles vivem situações de constrangimento dentro de casa, o que é horrível. Precisam, por exemplo, chamar seus namorados de amigos eternamente", disse o rapaz, filho de Lília Arruda, de 73 anos, integrante do Movimento Mães pela Igualdade.

Ainda durante o encontro, promovido em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o secretário nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos da pasta, Biel Rocha, declarou que a Constituição de 1988, que amanhã (5) completa 25 anos desde a promulgação, trouxe pela primeira vez um conjunto de medidas de proteção ao direito de grupos vulneráveis. Em sua opinião, as discussões dos próximos dias servirão para nortear políticas públicas.

"A Constituição, que amanhã completa 25 anos, estabeleceu um mapa de proteção aos direitos fundamentais para assegurar a dignidade humana de diversos grupos vulneráveis, como indígenas, quilombolas, crianças e idosos. [No caso dos homossexuais] ainda falta muito, mas tenho certeza que esse diálogo é fundamental para buscarmos inspiração e sugestões para as nossas políticas", disse.

A violência contra a população LGBT no mundo foi discutida, pela primeira vez, no fim do mês passado, por ministros durante um evento da Organização das Nações Unidas (ONU). Na ocasião, foi adotada a Declaração Ministerial sobre a Eliminação da Violência e da Discriminação contra indivíduos com base em sua orientação sexual e identidade de gênero, endossada pela Argentina, pelo Brasil, pela Croácia, por El Salvador, pelos Estados Unidos, pela França, por Israel, pelo Japão, pela Noruega, Nova Zelândia, pelos Países Baixos e pela União Europeia.

No Brasil, os dados da violência contra homossexuais ainda são imprecisos, o que levou a presidenta Dilma Rousseff a determinar, no Dia Mundial do Orgulho LGBT, em 28 de junho, que o governo busque dados estatísticos mais exatos sobre o assunto. O levantamento feito pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), no entanto, indicam que foram mortos, no ano passado, 338 integrantes do grupo LGBT. Desde 2005, quando foram registrados 81 casos, o número aumentou mais de 300%. Criado em 1980, o GGB é a mais antiga organização de defesa de homossexuais no país.


Edição: Aécio Amado
Fonte: Agência Brasil

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