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O que você precisa saber sobre a 4ª Conferência Nacional LGBTQIA+

Brasil faz história: o que foi a 4ª Conferência Nacional LGBTQIA+ e como nasce a Política Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+




Por Sergio Viula

Em um momento em que direitos LGBTQIA+ sofrem ataques ao redor do mundo — com a volta da retórica anti-LGBT de Trump nos EUA e com os ecos da intolerância do bolsonarismo no Brasil — uma outra história também está sendo escrita: a da reconstrução democrática e do avanço civilizatório.

Entre 21 e 25 de outubro de 2025, Brasília sediou a 4ª Conferência Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, um evento histórico que reuniu milhares de pessoas, movimentos sociais e representantes do poder público para discutir políticas públicas e fortalecer a cidadania LGBTQIA+.

A Ministra dos Direito Humanos  Macaé Evaristo (de vermelho)



E foi ali, diante de representantes de todo o país, que um passo decisivo ocorreu: a Ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, assinou a Portaria nº 1.825/2025, que institui oficialmente a Política Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+.

Trata-se de um marco histórico. Pela primeira vez, o Brasil organiza uma política nacional permanente para garantir dignidade, proteger vidas e promover oportunidades reais para a população LGBTQIA+.

Agora, o próximo passo está nas mãos do presidente Lula: assinar o decreto que consolida essa política como política de Estado — protegendo-a de retrocessos e garantindo sua continuidade ao longo dos anos.

O que foi a 4ª Conferência Nacional LGBTQIA+

A conferência foi um espaço democrático e participativo para:
  • formular propostas concretas de políticas públicas
  • fortalecer o debate sobre direitos humanos e diversidade
  • ouvir movimentos sociais e especialistas
  • aprovar diretrizes a serem implementadas nacionalmente
O tema foi direto:

“Construindo a Política Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+”

Os debates foram organizados em quatro eixos:
  • Enfrentamento à violência contra pessoas LGBTQIA+
  • Trabalho digno e geração de renda
  • Interseccionalidade e internacionalização dos direitos
  • Institucionalização permanente da política nacional
A mensagem central: direitos LGBTQIA+ não podem depender do humor político de cada governo. Precisam ser garantidos por Estado e sociedade.

Por que essa política importa


A Política Nacional dos Direitos LGBTQIA+ estabelece:
  • diretrizes permanentes
  • metas e ações concretas
  • mecanismos de financiamento público
  • instrumentos de monitoramento e avaliação
  • articulação entre União, estados e municípios
E impacta áreas essenciais, como:
  • combate à violência LGBTfóbica
  • educação inclusiva
  • acesso ao trabalho e renda
  • saúde integral, com atenção às necessidades específicas de pessoas trans
  • cultura, assistência social e direitos civis
  • produção de dados e indicadores públicos
O Brasil se coloca, assim, na contramão da onda global de retrocessos e reafirma que direitos humanos são inegociáveis.


Como essa conquista foi construída
  1. Antes de 2024 — a luta que abriu caminho
  2. Décadas de mobilização do movimento LGBTQIA+
  3. Conferências nacionais anteriores (2008, 2011 e 2016)
  4. Decisões históricas do STF (casamento igualitário, identidade de gênero, adoção, criminalização da LGBTfobia)
  5. Resistência e sobrevivência durante o período de retrocesso institucional (2019–2022)
  6. Reabertura e fortalecimento da agenda de direitos humanos no atual governo
  7. Janeiro de 2024 – Maio de 2025: Conferências municipais - Debates locais, coleta de propostas, eleição de delegadas e delegados
  8. Janeiro de 2024 – Agosto de 2025: Conferências estaduais - Sistematização das propostas dos municípios
  9. Formação das delegações estaduais: Janeiro – Fevereiro de 2025 - Conferências livres - Debates organizados por movimentos, coletivos, universidades, grupos trans, lésbicos, bissexuais, intersexuais, indígenas e quilombolas LGBTQIA+
  10. 21 a 25 de outubro de 2025: 4ª Conferência Nacional em Brasília - Mais de 1.500 participantes
  11. Votação de diretrizes nacionais
  12. Entrega de abaixo-assinado internacional com milhares de assinaturas
  13. Assinatura da Portaria nº 1.825/2025
Próximo passo

Assinatura do decreto presidencial para consolidar a política como política de Estado

O que vem depois

Com o decreto presidencial, virão:
  • regulamentação e plano nacional com metas
  • instâncias permanentes de participação social
  • ações transversais entre ministérios
  • monitoramento público e relatórios periódicos
  • implementação articulada com estados e municípios
É o início de uma nova etapa: a do compromisso institucional contínuo com a vida e a dignidade LGBTQIA+.

Farol para o mundo

O Brasil pode ser um farol de esperança pro mundo e referência na defesa dos direitos LGBTQIA+. 

Assine essa petição para que o presidente Lula usa a 4ª Conferência Nacional LGBTQIA+ como base para criar a Política Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+. Vamos fazer pressão e não deixar o que já foi realizado se perder pelo caminho. 


Uma conquista da luta coletiva


Nada disso aconteceu por acaso. É resultado de:
  • décadas de militância
  • movimentos de base
  • mães e familiares na linha de frente
  • ativistas trans e travestis que abriram portas com o próprio corpo
  • articulação política e jurídica
  • participação social ampla durante todo o processo
A construção de políticas públicas para pessoas LGBTQIA+ não começou em 2025 — mas este momento marca sua consolidação como compromisso de Estado.

O futuro que queremos se constrói agora: com memória, com coragem e com políticas reais que garantam vida e dignidade.

O Blog Fora do Armário seguirá acompanhando cada passo, celebrando avanços, denunciando ameaças e defendendo, sem hesitar, que pessoas LGBTQIA+ têm direito de existir plenamente, viver com liberdade e ocupar o país que também é delas.

A história está sendo escrita — e nós seguimos nela, vivos, presentes e inapagáveis.

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Jane Fonda e a Melhor Resposta para Quem Critica a "Wokeness"

Jane Fonda


Jane Fonda e a Melhor Resposta para Quem Critica a "Wokeness"


No último domingo (23 de fevereiro), a lendária atriz e ativista Jane Fonda deu uma verdadeira aula sobre empatia e resistência ao receber o Prêmio pelo Conjunto da Obra no SAG Awards 2025. Com uma carreira de 65 anos e um histórico de luta pelos direitos LGBTQ+, ambientais e feministas, Fonda usou seu discurso para defender a importância da “wokeness” – termo que, apesar de ser usado pejorativamente por setores conservadores, nada mais significa do que se importar com os outros.

"Woke só significa que você se importa com outras pessoas"

Fonda fez questão de desmistificar o termo, muitas vezes usado como ataque por aqueles que tentam deslegitimar pautas progressistas. “Nosso trabalho [como atores] é entender outro ser humano tão profundamente que possamos tocar sua alma”, disse ela. “E não se enganem, empatia não é fraqueza nem ‘woke’. Aliás, ‘woke’ só significa que você se importa com outras pessoas.”

O discurso também foi um recado direto contra a onda reacionária que tenta minar políticas de inclusão e diversidade nos EUA e em outros lugares do mundo. A atriz ressaltou que a guerra contra a “wokeness” não é apenas um debate cultural, mas uma ação política que impacta vidas reais – especialmente das pessoas mais vulneráveis.


Unir forças para resistir


A atriz enfatizou a necessidade de resistência coletiva diante dos retrocessos políticos:

> “Isso é muito sério, pessoal, então sejamos corajosos. Não devemos nos isolar, devemos permanecer em comunidade, ajudar os mais vulneráveis e encontrar maneiras de projetar uma visão inspiradora do futuro. Uma visão que convida e acolhe.”

Em tempos de ataques sistemáticos aos direitos LGBTQ+, às políticas de inclusão e às pautas progressistas, as palavras de Jane Fonda são um chamado à ação. Precisamos estar atentos, solidários e dispostos a lutar por um futuro mais justo e humano.

E você, o que achou do discurso de Jane Fonda? Deixe seu comentário e compartilhe essa mensagem!

Menino que sofria bullying homofóbico se mata na Califórnia

Ronin Shimizu 


The Advocate
https://www.advocate.com/bullying/2014/12/05/bullied-calif-boy-commits-suicide


O site The Advocate publicou ontem que um menino que morava no norte da Califórnia cometeu suicídio depois de ser vítima de bullying por ser o único garoto na torcida organizada da escola. Nos EUA, as meninas são famosas como torcedoras, enquanto os meninos exibem sua força e dureza nas quadras de futebol americano. Novamente, o binarismo de gênero reforçando estigmas.

Ronin Shimizu tirou sua própria vida na quarta-feira, conforme reportagem do The Sacramento Bee. Ele tinha doze anos e estava na sétima série.

“Eu ouvia pessoas chamando ele de gay porque ele era um líder de torcida,” disse um amigo a uma afiliada da CBS em Sacramento: https://www.cbsnews.com/sacramento/news/family-friends-remember-12-year-old-boy-who-committed-suicide/

Daniel Thigpen, o porta-voz da Folsom Cordova Unified School District, onde o menino estudava, disse ao Bee que houve vários relatos de que Shimizu era assediado e que os oficiais do distrito “investigaram cada um deles completamente e tomaram as ações devidas para cada caso.” Ele acrescentou que a escola tem um progama anti-bullying muito amplo,

Os amigos de Shimizu, entretanto, disseram à afiliada da CBS que o bullying continuava e que o jovem simplesmente não aguentou mais.

 
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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO

 
O caso fez esse blogueiro pensar em diversas coisas:

1º) A Califórnia tem leis contra o bullying escolar, mas as escolas continuam falhando em grande medida;

2º) Dizer que isso é de menina e aquilo de menino só reforça o binarismo de gênero, fortalecendo preconceitos sempre que alguém não se enquadra nessas convenções arbitrariamente (para não dizer estupidamente) estabelecidas;

3º) Alunos, professores e outros membros da comunidade escolar precisam ser abordados sempre que praticarem bullying, educados, corrigidos, e se não houver outro jeito, punidos com suspensão, transferência ou demissão (no caso de professores e outros funcionários);

4º) Todas as crianças devem ser ensinadas a ver a homossexualidade, a bissexualidade e a transgeneridade como características tão pessoais e moralmente neutras quanto a cor da pele, a classe social, as origens familiares;

5º) Crianças lésbicas, gays, bissexuais ou transgêneras devem entender que não valem menos que qualquer outra e que devem ter orgulho de si mesmas. Crianças que sofrem por simplesmente serem LGBT são geralmente aquelas que aprenderam a se odiar já em casa. E quando são alvo de bullying na rua ou na escola, acreditam que não têm valor, porque foi isso que seus pais lhe disseram direta ou indiretamente.

6º) Pais e outros responsáveis por crianças LGBT não devem ter vergonha de agir em favor do filho ou da filha em função de sua possível homossexualidade, bissexualidade ou transgeneridade. Brigue por ele (pelos meios lícitos) como brigaria se o xingassem por qualquer outra característica pessoal.

Criar filhos e educar alunos e colegas de trabalho para uma vida mais feliz – isso é o que interessa. E isso nunca será uma realidade se não aprendermos a nos amar, respeitar os outros e preferir o silêncio à fofoca e a palavra amiga à indiferença.

Lançado o recurso "Melhor Prática" para famílias mórmons com filhos LGBT



Lançado o recurso "Melhor Prática" para famílias mórmons com filhos LGBT 


O recurso tem por objetivo a prevenção de suicídio na Igreja Mórmon

Por mais de uma década, o Family Acceptance Project (FAP - Projeto Aceitação Familiar) na SF State University tem estudado o impacto da aceitação e da rejeição familiar sobre a saúde, a saúde mental e o bem-estar de jovens lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) e desenvolvido ferramentas baseadas em pesquisas, recursos  intervenções para ajudar famílias da diversidade a apoiar seus filhos LGBT.  Isso inclui desenvolver culturalmente e linguisticamente recursos apropriados para prevenir resultados negativos como o suicídio, HIV e o abandono às ruas e promover o bem-estar, ajudando a famílias a equilibram valores e crenças profundamente arraigados com o amor por seus filhos LGBT. O primeiro desses recursos educativos para famílias de fé -  Supportive Families, Healthy Children: Helping Latter-day Saint Families with Lesbian, Gay, Bisexual & Transgender Children - foi publicado hoje pelo Family Acceptance Project.


Read more: http://www.sfgate.com/cgi-bin/article.cgi?f=/g/a/2012/06/16/prweb9607411.DTL#ixzz1y0ooszeF

A recém-lançada versão do Supportive Families, Healthy Children for Latter-Day Saint Families está disponível para download no site da FAP: familyproject.sfsu.edu/publications - http://familyproject.sfsu.edu/publications  

Você também pode contatar fap@sfsu.edu.com para obter versões impressas e informação sobre aconselhamento e treinamento (em inglês).

Informações sobre as melhores práticas para prevenção ao suicídio aqui (em inglês):  http://www.sprc.org/bpr/section-III/supportive-families-healthy-children-helping-families-lesbian-gay-bisexual-transgend

Sobre o Projeto de Aceitação Familiar (Family Acceptance Project):

O Projeto de Aceitação Familiar é pesquisa, intervenção, educação e iniciativa de políticas designadas a:


1) Aprimorar a saúde, saúde mental e bem estar de filhos adolescentes LGBT;

2) fortalecer e ajudar etnicamente e religiosamente famílias da diversidade a apoiar seus filhos LGBT;

3) ajudar jovens LGBT a permanecer em seus lares e evitar o abandono nas ruas e a necessidade de custódia em casas de apoio e do sistema penal juvenil; 

4) informar políticas públicas e políticas familiares;

5) desenvolver uma novo modelo de família, bem-estar, prevenção e cuidado para promover o bem-estar e diminuir o risco para jovens LGBT. Para maiores informações, visite: http://familyproject.sfsu.edu/
                                      
CONTATO: Cathy Renna (escrever em inglês)
cathy@rennacommunications.com

Para a versão original no site PRWeb, visite: 
www.prweb.com/releases/prweb2012/6/prweb9607411.htm




Read more: http://www.sfgate.com/cgi-bin/article.cgi?f=/g/a/2012/06/16/prweb9607411.DTL&ao=2#ixzz1y0oa9fUu

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EM BUSCA DE MIM MESMO

Surpreenda-se!



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Palavra do Secretário Geral da ONU, Ban Ki-Moon


Uma convocação ao reconhecimento mútuo das liberdades civis de todos e todas!



Veja! Dispensa comentários deste blogueiro, que ficou sem palavras de tanto contentamento!


Leia EM BUSCA DE MIM MESMO. 

Feliz Dia dos Professores, colegas de classe. ^^

Tradução: De volta à escola


Professor é fundamental para a formação de uma sociedade plural, equilibrada e bem relacionada.

Bom momento para ouvir esses profissionais falando de sua própria experiência com a diversidade sexual no ambiente escolar. Escola não é só prédio. Pensar escola é pensar gente, e gente é variada, diversificada, diferente.

Infelizmente, muitos dos políticos eleitos nunca assistiram essa aula... Mas, nós podemos e devemos fazer nosso trabalho com excelência e paixão, apesar da ignorância que reina até nas esferas mais altas do poder.



Entrevista com Jean Wyllys na Carta Capital

A trincheira de Jean Wyllys


Jean Wyllys


Leandro Fortes
20 de abril de 2011 às 18:10h


Na Câmara dos Deputados, Jean Wyllys, 36 anos, baiano de Alagoinhas, tornou-se a cara da luta contra a homofobia no Brasil, justamente num momento em que se discute até a criminalização do bullying. Por Leandro Fortes. Foto: Agência Câmara

Jean Wyllys de Matos Santos é um sujeito tranquilo, bem humorado, que defende idéias sem alterar a voz, as mais complexas, as mais simples, baiano, enfim. Ri, como todos os baianos, da pecha da preguiça, como assim nomeiam os sulistas um sentimento que lhes é desconhecido: a ausência de angústia. Homossexual assumido, Jean cerra fileiras no pequeno e combativo PSOL, a única trincheira radical efetivamente ativa na política brasileira. E é justamente no Congresso Nacional que o deputado Jean Wyllys, eleito pelos cidadãos fluminenses, tem se movimentado numa briga dura de direitos civis, a luta contra a homofobia.

Cerca de 200 homossexuais são assassinados no Brasil, anualmente, exclusivamente por serem gays. Entre eles, muitos adolescentes.

Mas o Brasil tem pavor de discutir esse assunto, inclusive no Congresso, onde o discurso machista une sindicalistas a ruralistas, em maior ou menor grau, mas, sobretudo, tem como aliado as bancadas religiosas, unidas em uma cruzada evangélica. Os neopentecostais, como se sabe, acreditam na cura da homossexualidade, uma espécie de praga do demônio capaz de ser extirpada como a um tumor maligno. O mais incrível, no entanto, não é o medievalismo dessa posição, mas o fato de ela conseguir interditar no Parlamento não só a discussão sobre a criminalização da homofobia, mas também o direito ao aborto e a legalização das drogas. Em nome de uma religiosidade tacanha, condenam à morte milhares de brasileiros pobres e, de quebra, mobilizam em torno de si e de suas lideranças o que há de mais lamentável no esgoto da política nacional.

Jean Wyllys se nega a ser refém dessa gente e, por isso mesmo, é odiado por ela. Contra ele, costumam lembrar-lhe a participação no Big Brother Brasil, o inefável programa de massa da TV Globo, onde a debilidade humana, sobretudo a de caráter intelectual, é vendida como entretenimento. Jean venceu uma das edições do BBB, onde foi aceito por ser um homossexual discreto, credenciado, portanto, para plantar a polêmica, mas não de forma a torná-la um escândalo. Dono de um discurso política bem articulado, militante da causa gay e intelectualmente superior a seus pares, não só venceu o programa como ganhou visibilidade nacional. De repórter da Tribuna da Bahia, em Salvador, virou redator do programa Mais Você, de Ana Maria Braga, mas logo percebeu que isso não era, exatamente, uma elevação de status profissional.

Na Câmara dos Deputados, Jean Wyllys, 36 anos, baiano de Alagoinhas, tornou-se a cara da luta contra a homofobia no Brasil, justamente num momento em que se discute até a criminalização do bullying. Como se, nas escolas brasileiras, não fossem os jovens homossexuais o alvo principal das piores e mais violentas “brincadeiras” perpetradas por aprendizes de brucutus alegremente estimulados pelo senso comum. Esses mesmos brucutus que, hoje, ligam para o gabinete do deputado do PSOL para ameaçá-lo de morte.

Abaixo, a íntegra de uma carta escrita por Jean ao Jornal do Brasil, por quem foi acusado, por um colunista do JB Wiki (seja lá o que isso signifique), de “censurar cristãos”. O texto é uma pequena aula de civilidade e História. Vale à pena lê-lo:

Em primeiro lugar, quero lembrar que nós vivemos em um Estado Democrático de Direito e laico. Para quem não sabe o que isso quer dizer, “Estado laico”, esclareço: O Estado, além de separado da Igreja (de qualquer igreja), não tem paixão religiosa, não se pauta nem deve se pautar por dogmas religiosos nem por interpretações fundamentalistas de textos religiosos (quaisquer textos religiosos). Num Estado Laico e Democrático de Direito, a lei maior é a Constituição Federal (e não a Bíblia, ou o Corão, ou a Torá).

Logo, eu, como representante eleito deste Estado Laico e Democrático de Direito, não me pauto pelo que diz A Carta de Paulo aos Romanos, mas sim pela Carta Magna, ou seja, pelo que está na Constituição Federal. E esta deixa claro, já no Artigo 1º, que um dos fundamentos da República Federativa do Brasil é a dignidade da pessoa humana e em seu artigo 3º coloca como objetivos fundamentais a construção de uma sociedade livre, justa e solidária e a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. A república Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos princípios da prevalência dos Direitos Humanos e repúdio ao terrorismo e ao racismo.

Sendo a defesa da Dignidade Humana um princípio soberano da Constituição Federal e norte de todo ordenamento jurídico Brasileiro, ela deve ser tutelada pelo Estado e servir de limite à liberdade de expressão. Ou seja, o limite da liberdade de expressão de quem quer que seja é a dignidade da pessoa humana do outro. O que fanáticos e fundamentalistas religiosos mais têm feito nos últimos anos é violar a dignidade humana de homossexuais.

Seus discursos de ódio têm servido de pano de fundo para brutais assassinatos de homossexuais, numa proporção assustadora de 200 por ano, segundo dados levantados pelo Grupo Gay da Bahia e da Anistia Internacional. Incitar o ódio contra os homossexuais faz, do incitador, um cúmplice dos brutais assassinatos de gays e lésbicas, como o que ocorreu recentemente em Goiânia, em que a adolescente Adriele Camacho de Almeida, 16 anos, que, segundo a mídia, foi brutalmente assassinada por parentes de sua namorada pelo fato de ser lésbica. Ou como o que ocorreu no Rio de Janeiro, em que o adolescente Alexandre Ivo, que foi enforcado, torturado e morto aos 14 anos por ser afeminado.

O PLC 122 , apesar de toda campanha para deturpá-lo junto à opinião pública, é um projeto que busca assegurar para os homossexuais os direitos à dignidade humana e à vida. O PLC 122 não atenta contra a liberdade de expressão de quem quer que seja, apenas assegura a dignidade da pessoa humana de homossexuais, o que necessariamente põe limite aos abusos de liberdade de expressão que fanáticos e fundamentalistas vêm praticando em sua cruzada contra LGBTs.

Assim como o trecho da Carta de Paulo aos Romanos que diz que o “homossexualismo é uma aberração” [sic] são os trechos da Bíblia em apologia à escravidão e à venda de pessoas (Levítico 25:44-46 – “E, quanto a teu escravo ou a tua escrava que tiveres, serão das gentes que estão ao redor de vós; deles comprareis escravos e escravas…”), e apedrejamento de mulheres adúlteras (Levítico 20:27 – “O homem ou mulher que consultar os mortos ou for feiticeiro, certamente será morto. Serão apedrejados, e o seu sangue será sobre eles…”) e violência em geral (Deuteronômio 20:13:14 – “E o SENHOR, teu Deus, a dará na tua mão; e todo varão que houver nela passarás ao fio da espada, salvo as mulheres, e as crianças, e os animais; e tudo o que houver na cidade, todo o seu despojo, tomarás para ti; e comerás o despojo dos teus inimigos, que te deu o SENHOR, teu Deus…”).

A leitura da Bíblia deve ensejar uma religiosidade sadia e tolerante, livre de fundamentalismos. Ou seja, se não pratica a escravidão e o assassinato de adúlteras como recomenda a Bíblia, então não tem por que perseguir e ofender os homossexuais só por que há nela um trecho que os fundamentalistas interpretam como aval para sua homofobia odiosa.

Não declarei guerra aos cristãos. Declarei meu amor à vida dos injustiçados e oprimidos e ao outro. Se essa postura é interpretada como declaração de guerra aos cristãos, eu já não sei mais o que é o cristianismo. O cristianismo no qual fui formado – e do qual minha mãe, irmãos e muitos amigos fazem parte – valoriza a vida humana, prega o respeito aos diferentes e se dedica à proteção dos fracos e oprimidos. “Eu vim para que TODOS tenham vida; que TODOS tenham vida plenamente”, disse Jesus de Nazaré.

Não, eu não persigo cristãos. Essa é a injúria mais odiosa que se pode fazer em relação à minha atuação parlamentar. Mas os fundamentalistas e fanáticos cristãos vêm perseguindo sistematicamente os adeptos da Umbanda e do Candomblé, inclusive com invasões de terreiros e violências físicas contra lalorixás e babalorixás como denunciaram várias matérias de jornais: é o caso do ataque, por quatro integrantes de uma igreja evangélica, a um centro de Umbanda no Catete, no Rio de Janeiro; ou o de Bernadete Souza Ferreira dos Santos, Ialorixá e líder comunitária, que foi alvo de tortura, em Ilhéus, ao ser arrastada pelo cabelo e colocada em cima de um formigueiro por policiais evangélicos que pretendiam “exorcizá-la” do “demônio”.

O que se tem a dizer? Ou será que a liberdade de crença é um direito só dos cristãos?

Talvez não se saiba, mas quem garantiu, na Constituição Federal, o direito à liberdade de crença foi um ateu Obá de Xangô do Ilê Axé Opô Aforjá, Jorge Amado. Entretanto, fundamentalistas cristãos querem fazer uso dessa liberdade para perseguir religiões minoritárias e ateus.

Repito: eu não declarei guerra aos cristãos. Coloco-me contra o fanatismo e o fundamentalismo religioso – fanatismo que está presente inclusive na carta deixada pelo assassino das 13 crianças em Realengo, no Rio de Janeiro.

Reitero que não vou deixar que inimigos do Estado Democrático de Direito tente destruir minha imagem com injúrias como as que fazem parte da matéria enviada para o Jornal do Brasil. Trata-se de uma ação orquestrada para me impedir de contribuir para uma sociedade justa e solidária. Reitero que injúria e difamação são crimes previstos no Código Penal. Eu declaro amor à vida, ao bem de todos sem preconceito de cor, raça, sexo, idade e quaisquer outras formas de preconceito. Essa é a minha missão.

Jean Wyllys (Deputado Federal pelo PSOL Rio de Janeiro)


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Leandro Fortes

Leandro Fortes é jornalista, professor e escritor, autor dos livros Jornalismo Investigativo, Cayman: o dossiê do medo e Fragmentos da Grande Guerra, entre outros. Mantém um blog chamado Brasília eu Vi. 
https://brasiliaeuvi.wordpress.com/

Excelente campanha portuguesa de inclusão




A Rede Ex Aequo de Portugal lançou uma excelente campanha de inclusão nas escolas portuguesas. Eles têm um site muito bom.

Dentre os diversos materiais que eles disponibilizam, eu gostaria de destacar os seguintes e incentivar a leitura dos interessados na área de educação inclusiva:

Para professores:
https://rea.pt/arquivo/professores.pdf


Perguntas e respostas sobre orientação sexual e identidade de gênero:
https://rea.pt/arquivo/perguntas.pdf


Para mais informações sobre o projeto, envie email para inclusao@rea.pt

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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO


O Brasil não pode perder a oportunidade de desenvolver projetos inclusivos de qualidade, como é o caso do Projeto Escola sem Homofobia. Tem muita gente ignorante, que nada sabe de pedagogia, psicologia, política (no sentido filosófico do termo), sociologia, e mesmo assim fica dando pitaco homofóbico. Só por aí, já se vê a necessidade da educação inclusiva. Essa gente mal educada não consegue enxergar o valor da boa educação: aquela que constrói uma sociedade igualitária, diversificada, pacífica e produtiva. Traduzindo: uma sociedade justa e feliz!

Deputados, Senadores, Ministros do Supremo Tribunal Federal e Presidente Dilma, é hora de reunir os três poderes e fazer valer a inclusão e a paz nas escolas. Mostrem que os senhores foram bem educados, não só nos conhecimentos específicos de suas áreas de atuação, mas em humanidades também. Aprovem o Projeto Escola sem Homofobia. Não deixem a superstição e a ignorância falarem mais alto do que o Direito.

Portugal está dando um banho de inclusão comparado com o Brasil...

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