Mostrando postagens com marcador sergipe. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador sergipe. Mostrar todas as postagens

Crônica - Latrocínios homofóbicos: afetos, prazeres e cidadania subtraídos?




Crônica - Latrocínios homofóbicos:
afetos, prazeres e cidadania subtraídos?



Por Mário de Carvalho Leony
Delegado de Polícia Civil de Sergipe
Coordenador do GT de Segurança Pública para LGBT da SSP/SE
Membro da Rede Nacional de Operadores de Segurança Pública LGBT (RENOSP LGBT)
Especialista em Ciências Criminais
Especialista em Gestão Estratégica em Segurança Pública




Sábado triste, o arco íris em degradê de cinzas, mais um local de crime na labuta do departamento de homicídios, mais um homossexual barbaramente assassinado dentro da sua morada. Um corpo despido onde apenas lençóis ganham vida, tingidos por um rubro escarlate. Cadeiras quebradas, objetos em desalinho, gritos sufocados numa madrugada infinda, copos, cerveja e um punhal sobre a mesa; tudo revirado e forçosamente, dramaticamente, as portas do armário foram abertas.

Um computador, um DVD... cadê? Um abraço, um sorriso, um momento de prazer... quedê?

Muitos se ressentem quando os delegados de polícia, ao serem entrevistados sobre esses recorrentes episódios, elidem a homofobia e tratam tais assassinatos como meros latrocínios. Sim, ainda existe muito pudor por parte dos nossos investigadores em perquirir a homossexualidade e a motivação homo(trans)fóbica; outras vezes falta informação e/ou interesse nesse debruçar. Famílias também se constrangem (bom seria que desde cedo a vergonha cedesse ao respeito, ao orgulho afetuoso, ao sentimento elevado de dignidade pessoal).

Um latrocínio pode ser considerado homo(trans)fóbico sempre que o ódio contra LGBT’s caminha lado a lado, revelado na brutalidade de sua prática, na assinatura deixada pelo algoz, no entendimento que lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais seriam criaturas desprezíveis, cidadã(o)s de 2ª, de 3ª classe.

Aqueles focados apenas no aspecto da punição encontrarão alento no caráter patrimonialista do nosso ordenamento jurídico, que pune mais exemplarmente os roubos qualificados pela morte (latrocínios) que os homicídios simples. Ademais o julgamento ficaria a cargo do juiz singular e não do tribunal do júri composto por leigos, em tese mais propensos a serem contaminados pelo discurso higienista e machista teatralizado pela defesa. Isso se houver um réu onde a regra ainda é a criminalidade dentro do armário.

Atentemos, contudo, para o puritanismo às avessas em muitas retóricas sempre que as investigações policiais apontam para um comportamento de risco, em especial por parte dos gays e das travestis, realidade que precisa ser enfrentada e prevenida através de políticas públicas afirmativas. Não sejamos maniqueístas ou românticos, a vitimologia vem demonstrar que a vítima, relegada ao ostracismo no nosso sistema penal, não é assim tão passiva, neutra, fungível e por vezes contribui para a dinâmica do crime, o que se aplica àqueles delitos não motivados exclusivamente pelo ódio homo(trans)fóbico. Por óbvio não deve existir juízo de valor “moral” nessa constatação.

O Departamento de Saúde americano concluiu que os jovens gays seriam três vezes mais propensos à prática de suicídios. Dado este levado para o palco dos hediondos assassinatos evidenciam o quanto a comunidade LGBT padece de baixa autoestima e autoimagem por conta da homo(trans)fobia social. Comumente os algozes são michês e não seriam eles, por vezes homossexuais egodistônicos, vítimas da homofobia internalizada ao desfigurarem os rostos de suas vítimas, como um espelho estilhaçado, na busca desesperada de amainar a fúria da sua não aceitação?

Característica recorrente desses latrocínios é a clandestinidade de sua prática. A cultura heterossexista impele suas vítimas a encontros casuais, fortuitos, em lugares ermos, altas horas da noite ou madrugadas. Muitos negligenciam sua orientação sexual, contexto que torna difícil e desafiadora a elucidação desses crimes.

O Grupo Gay da Bahia, atento não apenas à publicação do relatório anual de assassinatos, está debruçado no aspecto da prevenção através de campanhas de resgate da autoestima e dicas de prevenção, a exemplo da cartilha intitulada “Gay vivo não dorme com o inimigo”, importante contribuição da sociedade civil organizada.

Enquanto isso o governo federal mantêm a suspensão da distribuição de material educativo nas escolas. No mesmo diapasão o veto à campanha de prevenção à AIDS voltada aos jovens gays e o fechamento do Grupo de Trabalho de Segurança Pública para LGBT da Secretaria Nacional de Segurança Pública. O governo federal está de joelhos para os conservadores e fundamentalistas e esta orquestração vem na contramão de muitas nações democráticas cujas lideranças têm assumido o compromisso público em favor da plena cidadania LGBT.

Nossos jovens não são educados para o respeito à diversidade, ao que parece fizeram intercâmbio cultural no Oriente Médio. Parafraseando os doces bárbaros: “O Irã é aqui, o Irã não é aqui”. A realidade não rima e nada resta senão comentá-la, um desabafo urgente e crônico, quando na madrugada de 1º de junho de 2013, num país onde a cidadania LGBT tem sido constantemente aviltada e usada como moeda de troca, mais uma vida foi subtraída.


Aracaju/Se, 02 de Junho de 2013.

Aracaju terá I Semana da Consciência LGBT


Aracaju-Sergipe (foto Internet)

Aracaju terá I Semana da Consciência LGBT
De 22 de novembro a 6 de dezembro em Aracaju
Fonte: INFONET
A abertura da I Semana da Consciência LGBT vai acontecer no Centro de Criatividade. A solenidade de abertura será no dia 22 de novembro, às 19h, com a participação de lideranças e personalidades LGBT. Já nos dias 4 e 6 de dezembro às 19h e às 14h, na Sociedade Semear, situada na rua Vila Cristina, acontecerá, respectivamente, a entrega do troféu Dr. Eduardo Costa e palestra e lançamento do livro “Viagem Solidária – Memórias de um transexual 30 anos depois” de autoria do professor João Nery.De 22 de novembro a 6 de dezembro, Aracaju terá a I Semana da Consciência LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis) de Sergipe. O evento é promovido pela Associação de Defesa Homossexual de Sergipe (Adhons) e marca a celebração do Dia Mundial do Orgulho LGBT. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) por meio do Programa Municipal e DST, Aids e Hepatites Virais é parceira do evento, que também traz na programação a promoção da saúde e a prevenção.

O evento é gratuito, segundo afirma o organizador Marcelo Lima, presidente da Associação de Defesa Homossexual de Sergipe (Adhons). “Com caráter inovador e com o objetivo de conscientizar não só a população de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis (LGBT), pretendemos também acolher a comunidade acadêmica a exemplo estudantes de Direito e Psicologia e também a comunidade heterossexual”, destaca.

Do evento acontecerão homenagens ao professor João Nery e o coordenador Programa Municipal de DST, Aids e Hepatites Virais, Andrey Lemos.

Inscrições

As inscrições acontecem na sede da Adhons (rua Santo Amaro, 59, sala 16, Centro), de segunda a sexta-feira, das 14h às 18h. Informações e dúvidas podem ser esclarecidas através dos números 9142-9266, 8112-2212, 9894-9398, 8816-0162 e 8832-0900.

Sergipe contra a homofobia

Aracajú - SE


O Governo do Estado de Sergipe, através da Secretaria de Segurança Pública (SSP), firmou com o Governo Federal na última terça-feira, 22, um termo de cooperação técnica que visa a articulação e implementação de políticas de enfrentamento à homofobia no Brasil. O secretário adjunto da SSP, João Batista Santos Júnior, esteve presente na solenidade representando o secretário João Eloy de Menezes.

O evento contou com as presenças do ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo e da ministra chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário Nunes. De acordo com João Batista, o estado de Sergipe, através da SSP, já vem buscando bons resultados nessa política de enfretamento através dos trabalhos desenvolvidos pelo Centro de Combate à Homofobia e pelo Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV), que trabalham tanto no apoio e prevenção como no combate aos crimes relativos a população LGBT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais).

“A assinatura deste termo significou um grande avanço no combate aos crimes homofóbicos. O evento contou com a presença de representantes de vários estados do País e traz uma perspectiva de mão dupla entre os governos Federal e Estadual no sentido de incrementar mais ações, buscando um padrão nacional com a troca de experiências e informações”, destacou João Batista.

A iniciativa possibilitará atrair repasse de recursos para serem aplicados nas políticas públicas desenvolvidas em Sergipe relativas aos crimes de homofobia. “Outro detalhe interessante é que a partir de agora o Governo Federal poderá acompanhar de perto o trabalho desenvolvido nos Estados e com isso fiscalizar melhor, construindo dados estatísticos confiáveis que serão importantes para o planejamento nacional de combate a esse tipo de modalidade criminosa”, finalizou João Batista.


Fonte: http://www.ssp.se.gov.br/modules/news/article.php?storyid=8024

Postagens mais visitadas