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O que a xenofobia judaica tem a ver com a homofobia dos três principais monoteísmos?


O que a xenofobia judaica tem a ver com a homofobia dos três principais monoteísmos?




Por Sergio Viula
Originalmente publicado no AASA

Com vistas a criar e manter uma identidade nacional, os judeus recorreram ao conceito de raça eleita. Entretanto, a simples ideia de que Jeová teria escolhido Abraão, seu filho Isaque e seu neto Jacó para darem origem a um povo separado – significado primordial da palavra santo – já colocava o povo judeu em contraposição a todo e qualquer povo que não fosse judeu, obviamente.
Porque és povo santo ao Senhor teu Deus; e o Senhor te escolheu, de todos os povos que há sobre a face da terra, para lhe seres o seu próprio povo. Deuteronômio 14:2
O desprezo pelo não judeu, ou seja, o gentio, aquele que é de outras gentes da terra, fica claro quando Jeová proíbe que os judeus comam animal que morra espontaneamente, mas permite que os judeus o sirvam como alimento ao estrangeiro ou o vendam a este:
Não comereis nenhum animal morto; ao estrangeiro, que está dentro das tuas portas, o darás a comer, ou o venderás ao estranho, porquanto és povo santo ao Senhor teu Deus. (…) Deuteronômio 14:21
A preocupação dos escritores bíblicos era sempre a de que os judeus agissem de modo diferente, não necessariamente melhor, que os povos ao seu redor. De fato, muitas leis judaicas eram extremamente cruéis e tendenciosas. Mas, Moisés e a classe sacerdotal fazia questão que seus súditos fossem fiéis aos estatutos de Jeová, afinal essa era a garantia de que suas despensas estariam sempre cheias e prole alimentada, uma vez que eles comiam das oferendas feitas no tabernáculo e, mais adiante, no templo de Salomão. O trabalho dos sacerdotes e seus assistentes era intermediar os sacrifícios. E no caso de ofertas pacíficas, ou seja, que não fossem holocaustos, eles ganhavam uma parte. O grifo é meu:
Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel, dizendo: Quem oferecer ao Senhor o seu sacrifício pacífico, trará a sua oferta ao Senhor do seu sacrifício pacífico.
As suas próprias mãos trarão as ofertas queimadas do Senhor; a gordura do peito com o peito trará para movê-lo por oferta movida perante o Senhor. E o sacerdote queimará a gordura sobre o altar,porém o peito será de Arão e de seus filhos. 
Levítico 7:28-31
Sobre a exigência de que os judeus mantivessem hábitos e costumes diferentes dos povos ao redor, Moisés diz o seguinte:
Não fareis segundo as obras da terra do Egito, em que habitastes, nem fareis segundo as obras da terra de Canaã, para a qual vos levo, nem andareis nos seus estatutos. Levítico 18:3
Israel, nome que um anjo supostamente teria dado a Jacó – afinal, era melhor ser chamado de “aquele que luta com Deus e prevalece” (Israel) do que “suplantador”, “usurpador” (Jacó) – veio a ser o nome do povo exclusivo de Deus; exclusividade da qual só os judeus se gabavam. Agora, imagine um povo supostamente santo, ou seja, separado dos demais para a glória de Jeová, cujo nome, cada vez que fosse mencionado, trouxesse à mente a ideia de quem tenta “furar fila”, “passar à frente”, “tomar o lugar de outro”. Não admira que tenham inventado essa história de Jacó lutando com anjo.
Então disse: Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste. Gênesis 32:28
Foi essa mentalidade separatista, um verdadeiro apartheidinternacional e inter-racial, de outros povos que gerou uma moral exterminadora das diferenças na teoria e na práxis judaica. Até, porque Israel não tinha território. As terras que eles estavam para invadir e usurpar (ah, Jacó!) eram de outros povos, instalados ali havia séculos. Vejamos o caso emblemático dos midianitas. Vejam que nenhum daqueles homens sobrou:
E pelejaram contra os midianitas, como o Senhor ordenara a Moisés; e mataram a todos os homens. Números 31:7
Só teve um problema: Os guerreiros de Israel pouparam as mulheres e as crianças. Moisés e o sacerdote Eleazar reprovaram esse ato de “misericórdia”, que não era tão bondoso assim. Na verdade, o interesse era de ordem sexual e escravagista. Mas, de novo, o temor de Moisés e do sacerdote Eleazar era que as mulheres ensinassem os filhos e as filhas de Israel a viverem como os filhos e as filhas de Midiã. Então, a ordem de Moisés foi clara:
Agora, pois, matai todo o homem entre as crianças, e matai toda a mulher que conheceu algum homem, deitando-se com ele. Porém, todas as meninas que não conheceram algum homem, deitando-se com ele, deixai-as viver para vós. Números 31:17-18
Esse “deixai-as viver para vós” significava literalmente que os homens de Israel poderiam desvirginar as meninas midianitas. Será que isso parece humanista o suficiente para você? Bem, não deveria.
O mais irônico é que o próprio Moisés, quando fugia do Egito, casou-se com Zípora, uma mulher midianita, filha de um sacerdote de Midiã chamado Reuel. Nem isso demoveria o sanguinário Moisés de praticar tanta violência contra o povo de sua própria esposa e de seu sogro, a quem ele devia a vida, pois foi ele quem o acolhera no meio do deserto quando fugia do Egito depois de matar um egípcio que maltratava um hebreu. Ah, e só para constar, seu primeiro filho, Gérson, também nasceu na terra de Midiã. (Êxodo 2:1-25)
Esse ato de poupar as virgens para uso próprio colaborou para fortalecer a ideia de que virgindade é símbolo de pureza. Se elas são consideradas mais puras porque são virgens, então, a abstinência sexual é uma forma de santidade. Não demora muito e logo se deriva daí que o ato sexual deve ser praticado dentro de limites muito rígidos e claramente estabelecidos pela lei mosaica. Mas outros aspectos da vida dos judeus não deixavam de ser afetados pela ascese javista: a dieta, a indumentária, a higiene pessoal, a quem a mãe deu à luz – menino ou menina. Sim, porque até isso entrava na lista de impurezas.
Aqui está o que diz Levítico 12:2-8. As partes em colchetes são comentários meus.
Fala aos filhos de Israel, dizendo: Se uma mulher conceber e der à luz um menino, será imunda sete dias, assim como nos dias da separação da sua enfermidade, será imunda.
E no dia oitavo se circuncidará ao menino a carne do seu prepúcio.
[Entenda-se por “dias da separação da sua enfermidade” os dias do seu ciclo menstrual. Vejam que a menstruação era considerada uma terrível impureza e o parto também. Maria fez cumpriu todas essas exigências quando teve Jesus. Era ela imunda? A Igreja Católica diz que ela era virgem antes do parto, permanecendo virgem depois dele – imaculada, ou seja, sem mancha, impureza ou pecado. Contudo, ela seguiu esse procedimento com relação a si mesma e ao menino Jesus, ispis letteris. E agora, José?]
Depois ficará ela trinta e três dias no sangue da sua purificação; nenhuma coisa santa tocará e não entrará no santuário até que se cumpram os dias da sua purificação.
[Mulher em resguardo, assim como a menstruada, não participava de culto, nada de missa, nada de igreja. Você conhece alguma que siga isso hoje? Obviamente, não. Quando ficam em casa, fazem-no por conveniência, não por ascese.]
Mas, se der à luz uma menina será imunda duas semanas, como na sua separação; depois ficará sessenta e seis dias no sangue da sua purificação.
[Ou seja, se a infeliz da parturiente tivesse um filho macho, ficava imunda metade do tempo: uma semana. Mas se tivesse uma fêmea, ficava imunda por duas semanas. As meninas já nasciam rotuladas como sendo um fardo maior que os meninos.]
E, quando forem cumpridos os dias da sua purificação por filho ou por filha, trará um cordeiro de um ano por holocausto, e um pombinho ou uma rola para expiação do pecado, diante da porta da tenda da congregação, ao sacerdote.
[A rola é o pássaro, hein, gente! Não tem nada a ver com a rola do marido. Piadinhas à parte, esses animais eram sacrificados de modo muito semelhante aos costumes de vários povos ao redor, inclusive os africanos que sacrificam aos Orixás. Nisso, Jeová não era tão diferente dos demais Deuses, mas a oferta tinha que ser feita no tabernáculo – em qualquer outro lugar seria abominação – e realizada por um sacerdote da família de Arão, irmão de Moisés, de acordo com as prescrições para esses holocaustos no Levítico. No final das contas, muito furdunço para nada!]
O qual o oferecerá perante o Senhor, e por ela fará propiciação; e será limpa do fluxo do seu sangue; esta é a lei da que der à luz menino ou menina.
[A mulher só se tornava limpa de novo depois desse sacrifício de sangue. Cada vez que uma judia paria, vários animais morriam. O que tem o Flu com as valsas? kkk]
Mas, se em sua mão não houver recursos para um cordeiro, então tomará duas rolas, ou dois pombinhos, um para o holocausto e outro para a propiciação do pecado; assim o sacerdote por ela fará expiação, e será limpa.
[Como Maria e José eram pobres, foi exatamente essa oferta que eles fizeram, como se vê em Lucas 2:21-24: “E, quando os oito dias foram cumpridos, para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora posto antes de ser concebido. E, cumprindo-se os dias da purificação dela, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor (Segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo o macho primogênito será consagrado ao Senhor); e para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: Um par de rolas ou dois pombinhos.” ]
Na tentativa de separar Israel dos outros povos e seus costumes, Moisés chamou de abominação coisas tão díspares quanto comida e sexo, principalmente porque os costumes desses povos estavam geralmente associados ao culto a outros Deuses – e cultuar outros Deuses significava prestar obediência a outros sacerdotes, videntes, oráculos que não os da tribo de Levi, que não por coincidência era justamente a tribo de Moisés, Arão e Miriã – todos filhos de Joquebede, como dizem os livros de Êxodo 6:26 e de Números:
E o nome da mulher de Anrão era Joquebede, filha de Levi, a qual nasceu a Levi no Egito; e de Anrão ela teve Arão, e Moisés, e Miriã, irmã deles. Números 26:59
Vejamos alguns exemplos de abominação segundo a lei mosaica:
Todo o inseto que voa, que anda sobre quatro pés, será para vós uma abominação. Levítico 11:20
[Mas, espere um momento: não existem insetos de quatro patas. Moisés precisava ter prestado mais atenção às aulas de biologia. Pior que ele repetiu isso três versículos adiante, em Levítico 11:23]
Todo o [peixe] que não tem barbatanas ou escamas, nas águas, será para vós abominação. Levítico 11:12
[Filé de cação é abominação, hein, galera!]
Mas todo o que não tem barbatanas, nem escamas, nos mares e nos rios, todo o réptil das águas, e todo o ser vivente que há nas águas, estes serão para vós abominação. Levítico 11:10
[Casquinha de siri, risoto de camarão, moqueca de arraia, entre outras iguarias deliciosas da culinária brasileira, são abominações. Povo capixaba, baiano, carioca, cearense está todo perdido. Amazonense, paraense e outros povos que vivem perto de grandes rios e no pantanal estão lascados, porque o que eles já comeram de peixe sem escama na vida não está no gibi –tudo abominação!]
Também todo o réptil, que se arrasta sobre a terra, será abominação; não se comerá. Levítico 11:41
[Quem já comeu cobra está roubado.]
Não sacrificarás ao SENHOR teu Deus, boi ou gado miúdo em que haja defeito ou alguma coisa má; pois abominação é ao SENHOR teu Deus. Deuteronômio 17:1
[Boi manco, bode cego, só para citar dois exemplos, eram abominação, mas não foi Deus quem os fez assim? Vai entender…]
As imagens de escultura de seus deuses queimarás a fogo; a prata e o ouro que estão sobre elas não cobiçarás, nem os tomarás para ti, para que não te enlaces neles; pois abominação é ao Senhor teu Deus. Deuteronômio 7:25
[Ah, os bons católicos espanhóis que se apoderaram do ouro, da prata e das pedras preciosas que compunham as esculturas de deuses astecas, maias e incas! Eles não imaginavam que até esses metais e pedras preciosas eram abominação. E tem muito desse ouro nas próprias igrejas da Santa Madre, inclusive no Vaticano.]
Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles. Levítico 20:13
[Ah, observem que a palavra abominação que os crentes de hoje tanto gostam de atribuir às relações homossexuais era a mesma usada se referir ao camarão, ao siri e à arraia? Detalhe: Vejam que não há menção às mulheres que se deitam com outras mulheres como se fossem homens. A questão primordial aqui era a homoafetividade (termo que eles desconheciam completamente). A questão era de outra ordem: a preocupação era com o “desperdício” de sêmen. Sobre isso, recomendo a leitura de uma post meu no Blog Fora do Armário - http://www.foradoarmario.net/2014/11/de-onde-vem-o-odio-de-cristaos.html.]
Não trarás o salário da prostituta nem preço de um sodomita à casa do Senhor teu Deus por qualquer voto; porque ambos são igualmente abominação ao Senhor teu Deus. Deuteronômio 23:18
[Aqui a prostituta e o sodomita são postos juntos, porque a única noção que os judeus tinham das relações entre homens era a da prostituição motivada por interesses econômicos ou prostituição ritual, inclusive masculina, durante os cultos aos Deuses da fertilidade. De novo, Jeová não admite concorrentes.]
Nem te deitarás com um animal, para te contaminares com ele; nem a mulher se porá perante um animal, para ajuntar-se com ele; confusão é. Levítico 18:23
[Auto láááá! A palavra para o sexo com animais é simplesmente confusão. O quêêêê??? Vejam o meu grifo lá. Quer dizer que oferecer um bezerro manco é abominação, mas trepar com ele é só confusão?? E tem gente que leva a sério essa joça?]
Bem, voltando à premissa básica desse artigo, tudo o que Israel fez para se diferenciar de outros povos poderia ser considerado hoje como tendo sido motivado por xenofobia. Não foi mero etnocentrismo, porque não se trata apenas de julgar outras culturas a partir da sua, o que já é suficientemente problemático, mas de exterminar todo modo de viver que não se encaixe na paranoia mosaica.
O cristianismo e o islamismo, crias não desejadas do judaísmo, têm seguido essa mesma linha no que diz respeito à sexualidade, especialmente à homossexualidade. Felizmente, percebendo a insensatez das interpretações literais desses textos, com aplicações diretas sobre os direitos civis de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT), muitos rabinos têm tomado uma posição pró-casamento igualitário. Transcrevo abaixo um texto que eu considero muito interessante para essa discussão. O artigo é de autoria de Ivan Paulo Salgado sobre isso, postado no site deconchinha (http://deconchinha.com/index.php/religiao/99-a-homossexualidade-sob-a-perspectiva-do-judaismo):
A ação menos controversa e mais comum tomada pelos reconstrucionistas, conservadores, e os reformistas é apoiar a igualdade civil para gays e lésbicas. O CCAR, Conselho Rabínico Reformista, a partir 1977, passou a descriminalizar o sexo homossexual e acabou com toda a discriminação baseada na orientação sexual.
Mas como contornar a proibição aparentemente inequívoca bíblica contra a homossexualidade? Muitos que procuram estabelecer plenos direitos religiosos para gays e lésbicas apontam a natureza involuntária da homossexualidade. Os halakhic (legalistas) acreditam que como a homossexualidade se refere a alguém que, embora ordenado a fazer algo, realmente não consiga obedecer. Como no judaísmo, só se pode responsabilizar uma pessoa quanto a suas obrigações religiosas se ela pode livremente optar por cumprir. Assim, algumas autoridades judaicas argumentam que a homossexualidade não é escolhida, assim não pode ser proibida.
Na verdade, o movimento da Reforma do Judaísmo não condena o sexo homossexual, e as pessoas abertamente homossexuais são elegíveis para admissão em escolas rabínicas. Além disso, o movimento de Reforma aprova cerimônias rabínicas de casamentos entre pessoas do mesmo sexo. No entanto, eles não consideram o casamento homossexual como equivalente ao casamento heterossexual. Considerando que o casamento heterossexual é referido como Kiddushin (palavra hebraica para santo). Mesmo assim há rabinos que aplicam este termo para relações homossexuais.
Daniel Siegel, o diretor da escola rabínica ALEPH argumenta que Aliança para a Renovação Judaica, aprovou o casamento homossexual especificamente porque que a santidade não deve ser limitada apenas a certas pessoas e a determinadas relações. No Judaísmo reconstrucionista, o casamento homossexual é considerado um valor religioso. Usando esse princípio como ponto de partida, Rebecca Alpert argumentou que a recusa do governo israelense em reconhecer o casamento homossexual viola as liberdades religiosas.
Alguns rabinos do movimento conservador também se apoiam no conceito de que um indivíduo não tem nenhuma escolha real quanto ao sexo homossexual. Em dezembro de 2006, Comitê do Movimento Conservador aprovou duas teshuvot (posições) contraditórias sobre a homossexualidade. Rabinos, sinagogas e outras instituições conservadoras podem não permitir cerimônias de casamento homossexuais e não contratar rabinos ou cantores abertamente gays ou lésbicas. Por outro lado, podem simplesmente optar por fazê-lo. Ambas as posições são consideradas válidas.
Nos últimos anos, tem havido uma maior consciência da presença de gays e lésbicas nas tradicionais comunidades judaicas. Numerosas organizações e grupos de apoio existem para gays que estão interessados em manter um estilo de vida tradicional judaica. Steven Greenberg, rabino ortodoxo, educador e gay escreve e ministra palestras sobre as possibilidades de gays e lésbicas na comunidade ortodoxa. Finalmente, o documentário “Trembling Before G-d” (Tremendo perante Deus), sobre gays judeus ortodoxos, teve um impacto significativo no aumento da consciência sobre a homossexualidade no mundo ortodoxo Judeu.
Gostaria de ressaltar, antes de encerrar, que este movimento pró-revisão e pró-inclusão também está se dando nos dois outros monoteísmos: o cristianismo e o islamismo. Basta, a título de exemplificação, citar a Igreja Anglicana na Inglaterra, a Igreja da Escócia (de linha presbiteriana) e a Igreja Presbiteriana dos EUA. Mas há outras, especialmente aquelas criadas com uma visão inclusiva desde o final da década de 60, como é o caso daMetropolitan Community Church, fundada por Troy Perry.
Entre os islâmicos, esse movimento ainda é muito embrionário, mas sinaliza que há uma demanda interna, muitas vezes silenciada a ferro e fogo. Vejam a reportagem Paris terá primeira mesquita na Europa aberta aos homossexuais (http://www.portugues.rfi.fr/europa/20121129-paris-tera-primeira-mesquita-na-europa-aberta-gays-e-feministas). E também uma postagem de abril de 2012, no Blog Fora do Armário (http://www.foradoarmario.net/2012/04/categorias-artigos-baladas-babados.html) que reproduzia notícia sobre o casamento de dois homens, realizado por um imã numa cerimônia íntima.
Isso acontece porque nenhuma dessas religiões é um bloco monolítico. Existem judeus, cristãos e muçulmanos progressistas e secularizados o suficiente para quererem reformas baseadas em princípios humanistas. Já os literalistas não são sempre tão literalistas assim. Eles ignoram tudo o que consideram conveniente ignorar. Um exemplo interessante é a proibição mosaica de que pessoas com necessidades especiais sejam sacerdotes, pastores ou o que o valha. O legislador foi muito claro em Levítico 21:17-20:
Fala a Arão, dizendo: Ninguém da tua descendência, nas suas gerações, em que houver algum defeito, se chegará a oferecer o pão do seu Deus.
[Oferecer o pão do seu Deus = exercer o sacerdócio no tabernáculo.]
Pois nenhum homem em quem houver alguma deformidade se chegará; como homem cego, ou coxo, ou de nariz chato, ou de membros demasiadamente compridos,
[Homens com necessidades especiais não podem ser sacerdotes, segundo a lei mosaica. Mas, um momento… nariz chato é defeito? Quem é padre ou pastor africano ou afrodescendente, dá um glória a Deus aí! E o que a mulherada está fazendo no pastorado e no sacerdócio de algumas igrejas protestantes? Moisés jamais autorizou mulheres no ministério sacerdotal. Eita, religião machista do cacete, literalmente.]
Ou homem que tiver quebrado o pé, ou a mão quebrada, ou corcunda, ou anão, ou que tiver defeito no olho, ou sarna, ou impigem, ou que tiver testículo mutilado.
[Testículo??? O que isso tem a ver com o exercício do sacerdócio? Pastor com vitiligo também está perdido, porque isso era visto como defeito impeditivo. Ué, anão não pode ser sacerdote ou pastor? Outra coisa, eu conheço pastor corcunda numa igreja neopentecostal que eu frequentei quando era novo convertido. E agora?]
A desculpa que eles usam quando alguém cita essas passagens absurdas é que isso fazia parte da velha aliança. Segundo eles, o sacrifício de Cristo – veja a necessidade de sempre se matar alguém para obter o favor divino, e mesmo que Cristo tenha sido o último, lá está a Eucaristia para renovar o horror da crucificação a cada missa ou culto – aboliu tudo isso ou quase tudo, porque quando se trata de relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo, eles querem manter o veto e expandi-lo para as lésbicas que nem sequer são citadas ali. Além disso, os conceitos contemporâneos de homossexualidade, direitos civis, casamento igualitário e famílias homoparentais são coisas com as quais Moisés nem sonhava, e que pertencem a uma moral e a uma ética que Moisés seria incapaz de conceber.
Todavia, seus sucessores tentam tornar tudo isso menos estúpido num mundo muito mais esclarecido do que aquele em que escravos supersticiosos passaram a invasores inflados pela crença de que eram o povo de propriedade exclusiva de Deus que podia matar, saquear, escravizar e fazer muitas outras coisasnada abomináveis (#sóquenão), desde que fosse para a maior glória de Jeová e para o fortalecimento do único povo portador de sua revelação – os próprios judeus.
De fato, há muita coisa a ser resgatada nesse passado (não tão distante) horripilante e cruel do judaísmo e de seus dois robustos filhotes, o cristianismo e o islamismo, mas eu prefiro deixar os mortos enterrarem seus próprios mortos, porque vive mais leve quem carrega menos peso. E religião, em última análise, é peso morto. Há, contudo, pessoas LGBT que encontram caminhos religiosos não castradores da sexodiversidade ou das identidades transgêneras. Algumas têm trabalhado duro para mudar a cara feia dos três grandes monoteísmos, bem como de religiões animistas ou politeístas que porventura tenham bebido em fontes homofóbicas e transfóbicas ao longo dos séculos.
Na verdade, tudo isso faz parte do direito humano à liberdade de crença e de agremiação. Felizmente, porém, muitas pessoas LGBT cresceram como ateias e assim permanecem, havendo também aquelas que vieram a ser ateias a partir de sua própria experiência religiosa submetida ao crivo incontornável do ceticismo. Pessoalmente, figuro nesse último segmento, valendo dizer que qualquer condescendência minha para com a ideia de que Deus ou Deuses disseram isso ou aquilo se dá apenas para o bem do argumento que norteia esse artigo. Penso que falar com Deus não faz de ninguém um doido, mas se ele responder, procure um psiquiatra.
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Leia Em Busca de Mim Mesmo.
https://www.amazon.com.br/Busca-Mim-Mesmo-Sergio-Viula-ebook/dp/B00ATT2VRM

Homofobia: Henry Sobel e seu humanismo parcial

Por Sergio Viula

Henry Sobel morre de câncer aos 75 anos (novembro de 2019)


Todos lamentamos a morte de Henry Sobel, mas poucos sabem da homofobia que caracterizava suas crenças e pensamentos. 

Via Eduardo Michels: Foi em junho de 2003, que os ministros do Supremo Tribunal Federal em um julgamento histórico, sobre o caso de racismo contra o povo judeu, afirmaram que nenhuma forma de discriminação ou discurso de ódio, pode ser camuflado como liberdade de expressão, inclusive a HOMOFOBIA.... este julgamento abriu caminho para a criminalização da homofobia este ano. https://www.youtube.com/watch?v=rp7dI7K_pvE

A revista citada, na qual Sobel expressou sua homofobia motivada por crença religiosas, é a Ultimato.

Veja aqui: https://www.ultimato.com.br/revista/artigos/254/homossexualismo-na-versao-do-rabino-henry-sobel

LEIA: A HOMOSSEXUALIDADE É RACIONALMENTE JUSTIFICÁVEL?
https://www.foradoarmário.com/2019/06/a-homossexualidade-e-racionalmente.html

Alma imoral - imperdível filme baseado em texto de Nilton Bonder

Rabino Nilton Bonder, autor do livro que virou peça, filme e série de documentário



Por Sergio Viula

Era dia dos pais. Havíamos nos reunido, eu e Andre, com meu pai, minha mãe e meu filho para o almoço. Durante os preparativos, cedo de manhã, ouvimos a rádio JB anunciar o filme Alma imoral, baseado no livro do rabino Nilton Bonder e dirigido por Silvio Tendler, e não tivemos dúvidas - assistiríamos o lançamento naquele mesmo dia no Shopping Downtown, à noite. A sessão começava às 19:50. 

O almoço transcorreu normalmente e foi excelente. Pudemos incluir minha filha, graças a uma vídeo-conferência que, encurtando mais de 7 mil quilômetros de distância, colocou Larissa em nossa sala de jantar ao mesmo tempo que nos transportou a todos para o apartamento dela. No final da tarde, convidei meu filho Isaac para ir conosco (eu e Andre) ao cinema para assistirmos o filme de Nilton Bonder. Ele topou na hora. Era a sessão de estreia do filme. 

Foi unânime a nossa reação ao filme: deslumbrante, provocativo, rico em conhecimento, revolucionário! 

Aviso aos navegantes: o filme não é a peça filmada. Alma imoral esteve no teatro e foi um sucesso, mas o filme é absolutamente diverso, ainda que baseado no mesmo texto. 

Recomendo o filme sem reservas. Só alerto para o seguinte: não se precipite ao ver a abertura. Pode parecer que você terá apenas uma aula sobre narrativas míticas judaicas, mas não. O filme literalmente transcende à tradição judaica sem deixar de dialogar com ela. Ele vai muito além da repetição de tradições, apesar de tê-las como pano de fundo. Pessoas de qualquer tribo tirarão proveito dessa experiência de mergulho nas dinâmicas de nossa própria sobrevivência enquanto seres que ousam mudar.

Ao final da sessão, o rabino Nilton Bonder conversou com os interessados. Foi muito bom! A conversa se deu do lado de fora da sala de projeção porque uma segunda sessão começava imediatamente após a primeira, sem intervalo algum. Bonder é uma pessoa extremamente cativante, para dizer o mínimo. Pude dar um abraço nele e parabenizá-lo pelo trabalho quando pedimos licença para sairmos antes da reunião terminar. Já era bem tarde e estávamos longe de casa. 

Hoje, buscando mais informações na Internet para esse post, descobri que o Canal Curta transformou a obra cinematográfica numa série com cinco episódios. Se você assina o canal, poderá assistir a série lá ou nesse endereço aqui: 
https://canalcurta.tv.br/series/serie.aspx?serieId=571




Se você é do Rio de Janeiro, não perca o filme no Shopping Downtown. Saiba mais aqui: 
https://www.cinemark.com.br/filme/alma-imoral



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Alma Imoral
5 Episódios | Duração média dos eps. 52 min.

O documentário “Alma Imoral”, dirigido pelo cineasta Silvio Tendler, reflete sobre os conceitos de corpo e alma, tradição e transcendência, obediência e ruptura, através do livro “A Alma Imoral”, publicado pelo rabino Nilton Bonder. O filme questiona o que acontece quando o “corpo moral” - normalmente apontado como instrumento importante para a preservação da espécie humana - se torna estreito e passa a ser um obstáculo ao futuro da humanidade. Como se dá esse processo imoral de transcendência, de transgressão, para que fronteiras sejam ampliadas? Capaz de romper com os padrões e com a moral, a alma é o componente consciente da necessidade de evolução e resgata a verdadeira possibilidade de imortalidade. Vamos estabelecer pontes entre histórias de personagens da Bíblia que romperam com as tradições em busca de uma nova ordem - como Eva, Abraão, Moisés - e transgressores do nosso tempo em vários campos, como comportamento, ciência, política. Entrevistamos israelenses que lutam pela paz ao lado de palestinos, rabinos gays, cientistas que defendem teorias controversas, entre outras histórias que expandem as fronteiras da nossa consciência e produzem a possibilidade de evolução.


ASSISTA AQUI:

https://www.youtube.com/watch?v=SWlpdgFa2iE


Ficha Técnica

Produção: Cynthia Lamas
Maycon Almeida 

Produção Executiva: Ana Rosa Tendler 

Empresa(s) produtora(s): Caliban Produções Cinematográficas 

Direção de Fotografia: Lúcio Kodato 

Mixagem: Deborah Colker 

Roteiro: Silvio Tendler 

Edição: Ricardo Moreira 

Direção de Arte: Renato Vilarouca
Rico Vilarouca 

Edição de som: Deborah Colker 

Narração: Bel Kutner
Júlia Lemmertz
Letí­cia Sabatella
Mateus Solano
Osmar Prado 

Assistente de Direção: Patricia Francisco
Vladimir Seixas 

Videografismo: Renato Vilarouca
Rico Vilarouca 

Pesquisa: Alessandra Schimite 

Entrevistados: Alejandro Téllez
Etgar Keret
Franz Krajcberg
Michael Lerner
Michael Meeropol
Noam Chomsky
Rebecca Goldstein
Robert Meeropol
Sami Awad
Susannah Heschel
Zalman Schachter-Shalomi 
Fotografia adicional: 
Maycon Almeida
Tao Burity
Vitor Foguel
Vladimir Seixas 

Argumento: Silvio Tendler 

Coordenação de Pós-Produção: Tao Burity 



Assista no canal CURTA: 
https://canalcurta.tv.br/series/serie.aspx?serieId=571

Judeus ateus estão aí muito antes de Cristo

Por Sergio Viula



A presunção dos crentes, especialmente dos neo-pentecostais não tem limite mesmo. Dia desses, topei com um link que dizia que a novela Os 10 Mandamentos, produzida pela Rede Record de TV, a emissora do Macedo, e o seu subproduto, o filme, conquistaram até ateus. (WTF?) Não sei de onde tiraram essa ideia. Que pesquisa fizeram para verificar esse dado?

Meus pais acompanhavam essa novela – ou seria essa estratégia proselitista? Sempre que eu ia à casa deles, e eles estavam assistindo o que eu considero “uma pobreza no campo da criatividade” na televisão contemporânea (não é o único exemplo de pobreza cultural na TV), eu era obrigado a assistir aquele caleidoscópio de xenofobia, machismo, subserviência ao sacerdócio, ignorância e por aí vai.

Enquanto via o desfile de preconceitos glamourizados na novela, só conseguia lamentar a empolgação deles, porque não era como as emoções que sinto quando vejo Batman, sabendo que o cavaleiro negro é mero exercício de imaginação; eles acreditam que sejam fatos. Quanta ingenuidade.

O que a xenofobia judaica tem a ver com a homofobia dos três principais monoteísmos?

https://aasaoficial.wordpress.com/2015/01/04/o-que-a-xenofobia-judaica-tem-a-ver-com-a-homofobia-dos-tres-principais-monoteismos/ 



Leia essa e outras matérias sobre sexualidade e religião aqui:

https://www.xn--foradoarmrio-kbb.com/p/wicca-e-sexodiversidade-por-sergio.html

RELIGIÃO: Judeus Conservadores começam a pensar em cerimônias de casamento gay



RELIGIÃO: Judeus Conservadores começam a pensar em cerimônias de casamento gay


Terça-feira, 29 Novembro 2011 
by PortugalGay.pt (Portugal)


Os Judeus Conservadores começam agora a preparar um modelo para cerimónias de casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas os rabinos têm recebido algumas críticas por seguirem demasiado de perto o modelo heterossexual.

Este ramo mais moderado do judaísmo abraçou os direitos LGB em 2006 com o reconhecimento das uniões entre pessoas do mesmo sexo.

Entretanto três rabinos têm começado a preparar o figurino da cerimónia para casais de gays e lésbicas, seguindo de perto a tradição de casais de sexo diferente, justificando que a ideia é que ambas as cerimónias sigam as mesmas normas sagradas.

O problema é que, segundo activistas LGBT, algumas das passagens das cerimónias são sexistas e criticam a falta de capacidade dos rabinos para "aproveitarem esta oportunidade para criar um liturgia mais contemporânea e menos problemática" disse Jay Michaelson do grupo LGBT judaico Nehirim em declarações ao Jewish Daily Forward.

Nas cerimónias tradicionais de casamento, ou kiddushin, o homem é descrito como sendo o dono da mulher. E alguns gays e lésbicas querem aproveitar esta ocasião para promoverem uma linguagem mais equalitária para todos e todas.

Os três rabinos estão a preparar um documento que deverá ser votado numa reunião de rabinos em 2012.

Entretanto casais de gays e lésbicas vão realizando as suas próprias cerimónias de casamento dentro do judaísmo. E muitas vezes esbarram com a forma como kiddushin trata de forma muito diferente o noivo e a noiva na cerimónia.

E também diversos rabinos mostraram cepticismo relativamente à forma como a cerimónia trata das questões de género, incluindo algumas preocupações de rabinos que não querem a cerimónia para casais do mesmo sexo igual à de casais de sexo diferente.

Os rabinos estão agora a trabalhar num guião suplementar que possa ser usado pelos casais que não se revêem na cerimónia mais tradicional.

O ramo conservador é um ramo mais moderado do judaísmo, com o judaísmo reformista o mais liberal (e que já há muito acolheu gays e lésbicas) e do movimento ortodoxo que tem mais problemas de base com as questões LGBT.

Deus no banco dos réus... Chupa essa manga! ;)


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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO

Brilhante análise feita pelo principal interlocutor, mas com um detalhe importantíssimo: Ele não conseguiu livrar-se da idéia de que há um deus. Apenas chegou à conclusão de que este deus não pode ser bom... Já é um começo: ousar questionar o caráter de alguém que os crentes (os que crêem - e ele era um deles) consideram todo-poderoso já é um grande passo. Entretanto, para um ateu, isso é apenas metade da caminhada. É preciso fazer a caminhada toda. E porque fizeram o percurso todo, posso dizer:

Felizes os ateus, porque já se livraram desse fantasma que assombra a humanidade desde seus tempos mais primitivos, tendo sido considerado como um elemento da natureza, uma energia imanente, diversos deuses encarregados de cada coisa no mundo, um deus só responsável por tudo, enfim... o fantasma ganhou diversas formas, mas sua real origem foi sempre o medo. A humanidade teme. Ela teme a natureza, o futuro, outros seres humanos e constrói seus "amigos imaginários", mas tais figuras fantasmagóricas não passam de fruto da imaginação da incrivelmente imaginativa mente humana.

Filme polêmico “PECADO DA CARNE”



O filme "Pecado da Carne" (Einaym Pkuhot, título original em hebraico, que significa "Olhos Abertos" em inglês: Eyes Wide Open) é um drama israelense dirigido por Haim Tabakman, que estreou em 2010 no Brasil, em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Brasília. A obra causou polêmica por abordar a homossexualidade em um ambiente religioso extremamente conservador.

✡️ Enredo

O filme se passa no tradicional e ultraortodoxo bairro Meah Shearim, em Jerusalém. O protagonista, Aaron Fleishman (interpretado por Zohar Strauss), é um judeu devoto, pai de quatro filhos, que herda o açougue kosher do pai. A rotina e o equilíbrio da sua vida religiosa e familiar são abalados com a chegada de Ezri (vivido pelo galã israelense Ran Danker), um jovem estudante que Aaron acolhe como ajudante.

O envolvimento emocional e físico entre os dois cresce aos poucos, carregado de tensão, silêncio e desejo contido. A relação coloca Aaron em confronto direto com os valores de sua comunidade, sua fé e sua própria identidade. Quando descoberto, o relacionamento causa escândalo e violência por parte da vizinhança religiosa, levando a um impasse trágico.

🎬 Destaques e Repercussão

  • O filme foi exibido na mostra "Un Certain Regard" do Festival de Cannes 2009, voltada a obras de estilo mais autoral e inovador.

  • O ator Zohar Strauss recebeu o prêmio de melhor ator no Jerusalem Film Festival, pelo seu desempenho contido e poderoso.

  • O roteiro de Merav Doster trata com sensibilidade e sem maniqueísmo os dilemas internos dos personagens.

  • A direção de Haim Tabakman é sóbria, cuidadosa e emocionalmente envolvente, com um ritmo lento, mas profundamente simbólico.

🎭 Temas centrais

  • Conflito entre fé e desejo

  • Identidade sexual em ambientes repressivos

  • O peso da tradição e do controle social

  • A busca por autenticidade e amor verdadeiro

🏳️‍🌈 Relevância para o público LGBTQIA+

"Pecado da Carne" é uma obra intensa e tocante para quem se interessa por histórias de autoaceitação, resistência e amor proibido, especialmente dentro de contextos religiosos opressivos. Sem cair em clichês ou melodramas, o filme mostra como a repressão pode ser devastadora, e como o amor — mesmo quando condenado — pode revelar o que há de mais vivo e humano em alguém.


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🌈 Resenha – "Pecado da Carne" (Einaym Pkuhot)

Quando o desejo desafia a fé: um amor proibido no coração de Jerusalém

Em tempos em que o amor ainda precisa ser justificado, o filme Pecado da Carne, do diretor israelense Haim Tabakman, surge como um sopro de coragem — ou, talvez, um sussurro aflito de quem vive entre dois mundos que parecem inconciliáveis: o da fé e o do desejo.

Ambientado no bairro ultraortodoxo de Meah Shearim, em Jerusalém, o longa retrata com uma beleza melancólica e silêncio eloquente a história de Aaron Fleishman (Zohar Strauss), um açougueiro kosher, pai de quatro filhos, que leva uma vida religiosa aparentemente tranquila — até a chegada de Ezri (Ran Danker), um jovem estudante que entra na sua vida como um raio de luz num quarto escuro.

Aos poucos, os dois homens constroem uma relação marcada pela contenção, pela tensão, pela delicadeza e pela inevitável força de um amor que não ousa dizer seu nome dentro daquela comunidade. Não há discursos inflamados nem cenas exageradas. O filme aposta no olhar, no toque que hesita, no peso do silêncio — e é justamente isso que o torna tão poderoso.

Aaron, até então considerado um exemplo de devoção, passa a ser perseguido por sua comunidade religiosa. O escândalo não se resume a fofocas: há ameaças, violência, exclusão. Quando confrontado, ele resume sua dor em uma frase simples e brutal: "Antes de Ezri, eu estava morto." Essa sentença ecoa como um grito sufocado de tantos que vivem aprisionados por dogmas, tradições e medo.

Pecado da Carne não tenta resolver o dilema. Não oferece saídas fáceis, nem finais felizes. Ao contrário, apresenta o drama de quem ousa amar onde o amor é proibido, e nos obriga a encarar: quantas vezes já dissemos "não" ao nosso verdadeiro eu apenas para caber no molde dos outros?

O filme conquistou prêmios, foi exibido na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes, e é uma obra obrigatória para quem se interessa por temas LGBTQIA+ dentro de contextos religiosos, culturais e sociais complexos.

É impossível sair ileso dessa história. Porque ela é a nossa história — a de tantos que já viveram (ou ainda vivem) o dilema entre pertencer e ser.


Para assistir de coração aberto — e olhos também.
📍 Estreou em 2010 no Brasil, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Brasília.
🎥 Direção: Haim Tabakman | Roteiro: Merav Doster | Elenco: Zohar Strauss, Ran Danker, Tzahi Grad


Sinagoga da Flórida oferece Pacto de Amor para Gays

Sinagoga judaica da Flórida oferece
Pacto de Amor para casais gays


Entrada do templo Shalon, em Pompano: 
primeiro da linha conservadora a admitir uniões gays

🕍 Amor sob a bênção do rabino: 

Sinagoga na Flórida realiza cerimônias para casais gays


A Sinagoga Templo Shalom, localizada à beira-mar em Pompano, na Flórida, está dando um passo importante em direção à inclusão e ao reconhecimento do amor entre pessoas do mesmo sexo. Ela passou a oferecer aos seus fiéis uma cerimônia chamada "Pacto de Amor" — voltada especialmente para casais gays que desejam celebrar sua união com significado espiritual.

Essa iniciativa faz do Templo Shalom a primeira sinagoga a realizar esse tipo de cerimônia desde que, em 2006, o Comitê do Movimento Conservador de Leis e Padrões Judaicos decidiu dar liberdade de conduta aos rabinos em temas como a união homoafetiva. Ou seja: cada rabino pode, com base em sua própria consciência, escolher realizar ou não casamentos religiosos para casais do mesmo sexo.

Embora a Flórida não reconheça o casamento gay, eu sinto que os homossexuais têm esse direito”, afirmou o rabino Mark David, responsável pela sinagoga. “As pessoas se apaixonam e devem ser capazes de expressar esse amor em um estabelecimento público. Acredito que a religião deve fazer as pessoas se unirem”, completou ele.

A cerimônia do “Pacto de Amor” não é um casamento religioso oficial e, portanto, não inclui um certificado de casamento judaico. Ainda assim, é um momento simbólico de grande significado, que inclui a troca de alianças, recitação de votos e o tradicional quebrar do vidro, gesto que representa a fragilidade do amor e a importância de cuidar da relação com zelo.

Em tempos em que discursos de ódio ainda encontram espaço, iniciativas como essa são um verdadeiro sopro de esperança e um lembrete poderoso de que fé e amor podem — e devem — caminhar juntos.

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