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STF - HOMOFOBIA É RACISMO E DISCURSO DE ÓDIO NÃO É LIBERDADE DE EXPRESSÃO




Por Eduardo Michels 30/08/18
https://www.facebook.com/eduardo.michels.5




STF - HOMOFOBIA É RACISMO E DISCURSO DE ÓDIO NÃO É LIBERDADE DE EXPRESSÃO!


Denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro (RJ), pelo crime de racismo.

Ao comentar as declarações de Bolsonaro sobre homossexuais, Barroso destacou que, segundo relatório do Grupo Gay da Bahia, no ano de 2016, 343 integrantes da comunidade LGBT foram assassinados no Brasil. Em 2017, esse número saltou para 445.


"A homofobia mata e, portanto, não devemos tratar com indiferença discursos de ódio e agressão física em relação a pessoas que já sofrem outras dificuldades e outros constrangimentos. Não se trata de pré-julgamento, não se trata de juízo de culpabilidade, aqui é o momento de mero recebimento da denúncia", disse Barroso.

"O modo como nessas declarações foram tratadas pessoas negras, quilombolas e as pessoas de orientação sexual gay comporta o recebimento da denúncia", concluiu Barroso.


Leia Mais aqui: https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/denuncia-de-bolsonaro-divide-1a-turma-do-stf-mas-julgamento-e-suspenso/

JÁ É NATAL NA LEADER: Manifesto de Natal Leader


Ontem, dia 02/11/14, durante a apresentação do Fantástico na Rede Globo, num dos momentos de comercial, fiquei absolutamente emocionado com esse comercial da Leader Magazine. A mensagem de união, dizendo não a vários tipos de preconceito (homofobia, racismo, preconceito contra a religião alheia), foi extremamente bem colocada, especialmente nesse período do ano e diante de tanta desarmonia que enfrentamos, tanto no mundo real como no mundo virtual das redes sociais.

Parabéns à Leader Magazine por associar sua marca à responsabilidade social e a celebração da diversidade humana.

Se você nunca visitou o site da Leader Magazine, fica aqui o incentivo do Blog Fora do Armário.

LEADER MAGAZINE SITE OFICIAL: 
https://www.leader.com.br/?&utm_source=google_search&gclid=CL3BxrfT3sECFSxk7AodQQUAew




Se houver uma loja física em sua área, dê uma passadinha lá. Vamos apoiar com nossos parabéns e também com nossas compras aquelas marcas que fazem o discurso da paz, da igualdade e do combate aos preconceitos e às discriminações por orientação sexual, gênero, cor da pele, etc.

ASSISTA O VÍDEO:
 

Garoto gay do Reino Unido comete suicídio depois de sofrer bullying sem parar

Garoto gay do Reino Unido comete suicídio depois de sofrer bullying sem parar
 
Um inquérito levantou como foi que um garoto de 14 anos fez 20 queixas de bullying para a direção de sua escola e driblou as configurações de seus computador para pesquisar sobre métodos de suicídio

Com informações do GayStar News 
de artigo escrito por Joe Morgan 
em 18 de novembro de 2013.

Tradução e adaptação: Sergio Viula





Ayden Keenan-Olson, 14 anos, cometeu suicídio despois de sofrer bullying ininterrupto

O garoto britânico Ayden Keenan-Olson, 14, decidiu tirar sua própria vida engolindo uma overdose de comprimidos vendidos sob prescrição médica.

Ele deixou duas notas dizendo que não aguentava mais lidar com o bullying homofóbico e racista em sua escola localizada em Colchester, Essex.

Ele foi encontrado morto em sua cama no dia 14 de março, mas a audiência judicial aconteceu somente essa semana.

Keenan-Olson tinha se assumido para seus pais pouco antes do natal, três meses antes de sua morte.

Sua mãe diz que ‘depois do natal ele parecia um menino diferente - ele podia falar abertamente às pessoas que era gay.’

Ela descreveu o filho como sensível e que desejava iniciar sua própria campanha anti-bullying.

O diretor da Escola Philip Morant confirmou que o garoto havia registrado 20 queixas sobre incidentes de bullying desde que entrou se matriculou em 2010.

Ele já havia tentado suicídio seis meses antes de sua morte.

Ato de repúdio a violência sofrida por Ângela Chaves



Ato de repúdio a violência sofrida por Ângela Chaves

https://www.facebook.com/events/271114696363293/?ref=22


Sexta, 5 de julho de 2013
11:00


Ato para protestar contra a violência sofrida por Angela Chaves, em sua casa, pelo filho do proprietário do Restaurante Coelho's, no bairro Bancários, em João Pessoa (PB). Ela foi vítima de homofobia, racismo, machismo e intolerância religiosa, sendo agredida e ameaçada de morte dentro de sua casa, em frente a seus filhos.

Fotos e entrevista com Luana Piovani na Caminhada por uma Comissão de Direitos Humanos para Todos

A manhã deste domingo, dia 07 de abril de 2013 foi marcada por uma caminhada em Copacabana representando diversos segmentos sociais exigindo a saída de Marco Feliciano da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal. Estiveram presentes representantes de vários grupos de militância por direitos humanos, entre eles o movimento negro, do diálogo interreligioso, das mulheres e LGBT, além de outros. Artistas, como Luana Piovani e Humberto Carrão, também compareceram. Jean Wyllys, Freixo, Chico Alencar, Erika Kokay e outros.


Atualização:
A entrevista não consta mais no YouTube 
porque encerrei o meu canal em 2019.


Manifeste-se! Ponha a boca no trombone. Não seja conivente com o achincalhe da democracia, da diversidade e dos direitos humanos nesse país. Faça a diferença.



Rindo da calúnia dos fundamentalistas que adoram 
chamar o movimento pelos direitos LGBT de ditadura gay. 
A saudação do ditador é o braço do fascismo desmunhecando. (risos)

 Julio Moreira e a equipe do arco-íris presente



 Luana Piovani concede entrevista ao 
blog Fora do Armário e distribui simpatia

 Pessoal da Comunidade Betel pastoreada por Marcio Retamero. 
Ele estava em assembleia na igreja, mas havia um grupo 
representando a comunidade inclusiva.

 Freixo estava lá

 Jean Wyllys, com quem não consegui tirar foto, mas dei um abraço carinhoso e um beijo fraterno.
.
 Eu lá no fundo com a galera do PSOL e com o Dep. Jean Wyllys

 Sacerdotes de religiões afro-brasileiras estiveram presentes

 Ao centro, um bispo e ao redor gente de todas as "cores e sabores"

A mensagem final é: Fora, Feliciano! Fora, Fundamentalismo religioso! Viva o Estado Laico, pluralista e democrático. 

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PROTESTO "FORA, FELICIANO" NO RIO DE JANEIRO

Eu aqui no canto esquerdo, segurando um cartaz e cercado de gente linda e guerreira


Foi hoje, dia 09 de março de 2012, na Cinelândia. A multidão foi crescendo e se manifestando com um megafone franqueado a quem quisesse falar. Tomei a palavra e falei como presidente do Conselho LGBT da LiHS e como cidadão indignado com o achincalhe que a eleição de Marco Feliciano representa para a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Várias pessoas foram se levantando e falando em discursos excelentes. Depois, caminhamos das escadas da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, seguindo pela Av. Rio Branco, até os Arcos da Lapa.


ATENÇÃO: SÁBADO QUE VEM, DIA 16 DE MARÇO, TEM OUTRO PROTESTO NO POSTO 5 DA PRAIA DE COPACABANA. VEM COM A GENTE!

COMPARTILHE! VAMOS TRANSFORMAR ESSE PRIMEIRO PROTESTO NUM MOVIMENTO IMPARÁVEL.



Leia EM BUSCA DE MIM MESMO.

Leitura refrescante em tempos de fundamentalismo religioso e embates heroicos em prol das liberdades civis. Veja como aqui:

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Novo Código Penal endurecerá contra discriminação




Discriminar uma pessoa por ser mulher, homossexual ou nordestina pode virar crime inafiançável. A Comissão Especial de Juristas encarregada de elaborar proposta para um novo Código Penal aprovou na última sexta-feira (25) a alteração do artigo 1º da Lei 7.716/1989, conhecida como Lei do Racismo, para proibir a discriminação também por gênero, opção sexual e procedência regional. O texto já prevê a punição para "discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional".

A proposta leva para o anteprojeto de revisão do Código Penal a criminalização da homofobia, prevendo para este tipo de prática as mesmas penas já existentes para a discriminação de raça ou de cor. Se a proposta for aprovada pelo Congresso Nacional, passa ser prática criminosa, por exemplo, impedir um travesti de entrar em um estabelecimento comercial ou um aluno transexual de frequentar uma escola.

Também ficam proibidas as incitações ao preconceito e as manifestações ofensivas através de meios de comunicação, como a internet. A proposta tornaria claro o que fazer em relação a casos como o da estudante Mayara Petruso, condenada este mês a um ano e meio de prisão por ter divulgado ofensas contra nordestinos em redes sociais. As penas previstas para esses crimes continuam as mesmas expressas na lei, variando de um a cinco anos de prisão.

Mercado de trabalho


O novo texto trata de outro assunto delicado: a discriminação da mulher no mercado de trabalho. Ao incluir o preconceito de gênero entre os previstos na lei, as empresas públicas e privadas ficam proibidas de demitir, deixar de contratar ou dar tratamento diferente em função de cor, raça, gênero, procedência ou opção sexual.

A medida beneficia diretamente a atuação das mulheres no mercado de trabalho, onde elas ainda esbarram em vários tipos de distinção, principalmente salarial. A inclusão expressa da diferença salarial na lei chegou a ser discutida entre os juristas, mas acabou rejeitada sob o argumento de que criminalizar a diferença salarial entre homem e mulher poderia acabar prejudicando a contratação da mão de obra feminina.

Drogas e crimes eleitorais

A comissão especial volta a se reunir na próxima segunda-feira (28) para discutir a legislação sobre drogas e também sobre crimes eleitorais. Para o relator da comissão, o procurador da República Luiz Carlos Gonçalves, a maior polêmica prevista para a próxima semana será a criação de nova prática processual: a "barganha". A intenção é permitir que um processo judicial já em curso possa ser encerrado em caso de acordo entre as partes acusador e acusado, com cumprimento de pena.

Atualmente, tal possibilidade só existe em alguns poucos tipos de crime e mesmo assim antes de o processo ser instaurado. Uma vez iniciado o trâmite judicial, ainda que haja acordo entre Ministério Público e acusado, não é possível interromper ou encerrar o processo.

Fonte: Senado Federal

O insustentável preconceito do ser! - por Rosana Jatobá




O insustentável preconceito do ser!


Era o admirável mundo novo! Recém-chegada de Salvador, vinha a convite de uma emissora de TV, para a qual já trabalhava como repórter. Solícitos, os colegas da redação paulistana se empenhavam em promover e indicar os melhores programas de lazer e cultura, onde eu abastecia a alma de prazer e o intelecto de novos conhecimentos.

Era o admirável mundo civilizado! Mentes abertas com alto nível de educação formal. No entanto, logo percebi o ruído no discurso:

- Recomendo um passeio pelo nosso "Central Park", disse um repórter. Mas evite ir ao Ibirapuera nos domingos, porque é uma baianada só!

-Então estarei em casa, repliquei ironicamente.

-Ai, desculpa, não quis te ofender. É força de expressão. Tô falando de um tipo de gente.

-A gente que ajudou a construir as ruas e pontes, e a levantar os prédios da capital paulista?

-Sim, quer dizer, não! Me refiro às pessoas mal-educadas, que falam alto e fazem "farofa" no parque.

-Desculpe, mas outro dia vi um paulistano que, silenciosamente, abriu a janela do carro e atirou uma caixa de sapatos.

-Não me leve a mal, não tenho preconceitos contra os baianos. Aliás, adoro a sua terra, seu jeito de falar....

De fato, percebo que não existe a intenção de magoar. São palavras ou expressões que , de tão arraigadas, passam despercebidas, mas carregam o flagelo do preconceito. Preconceito velado, o que é pior, porque não mostra a cara, não se assume como tal. Difícil combater um inimigo disfarçado.

Descobri que no Rio de Janeiro, a pecha recai sobre os "Paraíba", que, aliás, podem ser qualquer nordestino. Com ou sem a "Cabeça chata", outra denominação usada no Sudeste para quem nasce no Nordeste.

Na Bahia, a herança escravocrata até hoje reproduz gestos e palavras que segregam. Já testemunhei pessoas esfregando o dedo indicador no braço, para se referir a um negro, como se a cor do sujeito explicasse uma atitude censurável.

Numa das conversas que tive com a jornalista Miriam Leitão, ela comentava:

-O Brasil gosta de se imaginar como uma democracia racial, mas isso é uma ilusão. Nós temos uma marcha de carnaval, feita há 40 anos, cantada até hoje. E ela é terrível. Os brancos nunca pensam no que estão cantando. A letra diz o seguinte:

"O teu cabelo não nega, mulata

Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata
Mulata, quero o teu amor".

"É ofensivo", diz Miriam. Como a cor de alguém poderia contaminar, como se fosse doença? E as pessoas nunca percebem.

A expressão "pé na cozinha", para designar a ascendência africana, é a mais comum de todas, e também dita sem o menor constrangimento. É o retorno à mentalidade escravocrata, reproduzindo as mazelas da senzala.

O cronista Rubem Alves publicou esta semana na Folha de São Paulo um artigo no qual ressalta:

"Palavras não são inocentes, elas são armas que os poderosos usam para ferir e dominar os fracos. Os brancos norte-americanos inventaram a palavra 'niger' para humilhar os negros. Criaram uma brincadeira que tinha um versinho assim:

'Eeny, meeny, miny, moe, catch a niger by the toe'...que quer dizer, agarre um crioulo pelo dedão do pé (aqui no Brasil, quando se quer diminuir um negro, usa-se a palavra crioulo).

Em denúncia a esse uso ofensivo da palavra , os negros cunharam o slogan 'black is beautiful'. Daí surgiu a linguagem politicamente correta. A regra fundamental dessa linguagem é nunca usar uma palavra que humilhe, discrimine ou zombe de alguém".
Será que na era Obama vão inventar "Pé na Presidência", para se referir aos negros e mulatos americanos de hoje?

A origem social é outro fator que gera comentários tidos como "inofensivos" , mas cruéis. A Nação que deveria se orgulhar de sua mobilidade social, é a mesma que o picha o próprio Presidente de torneiro mecânico, semi-analfabeto. Com relação aos empregados domésticos, já cheguei a ouvir:

- A minha "criadagem" não entra pelo elevador social !

E a complacência com relação aos chamamentos, insultos, por vezes humilhantes, dirigidos aos homossexuais ? Os termos bicha, bichona, frutinha, biba, "viado", maricona, boiola e uma infinidade de apelidos, despertam risadas. Quem se importa com o potencial ofensivo?

Mulher é rainha no dia oito de março. Quando se atreve a encarar o trânsito, e desagrada o código masculino, ouve frequentemente:

- Só podia ser mulher! Ei, dona Maria, seu lugar é no tanque!

Dependendo do tom do cabelo, demonstrações de desinformação ou falta de inteligência, são imediatamente imputadas a um certo tipo feminino:

-Só podia ser loira!

Se a forma de administrar o próprio dinheiro é poupar muito e gastar pouco:

- Só podia ser judeu!

A mesma superficialidade em abordar as características de um povo se aplica aos árabes. Aqui, todos eles viram turcos. Quem acumula quilos extras é motivo de chacota do tipo: rolha de poço, polpeta, almôndega, baleia ...

Gosto muito do provérbio bíblico, legado do Cristianismo: "O mal não é o que entra, mas o que sai da boca do homem". Invoco também a doutrina da Física Quântica, que confere às palavras o poder de ratificar ou transformar a realidade. São partículas de energia tecendo as teias do comportamento humano.

A liberdade de escolha e a tolerância das diferenças resumem o Princípio da Igualdade, sem o qual nenhuma sociedade pode ser Sustentável. O preconceito nas entrelinhas é perigoso, porque , em doses homeopáticas, reforça os estigmas e aprofunda os abismos entre os cidadãos. Revela a ignorancia e alimenta o monstro da maldade.

Até que um dia um trabalhador perde o emprego, se torna um alcoólatra, passa a viver nas ruas e amanhece carbonizado:

-Só podia ser mendigo!

No outro dia, o motim toma conta da prisão, a polícia invade, mata 111 detentos, e nem a canção do Caetano Veloso é capaz de comover:

-Só podia ser bandido!

Somos nós os responsáveis pela construção do ideal de civilidade aqui em São Paulo, no Rio, na Bahia, em qualquer lugar do mundo. É a consciência do valor de cada pessoa que eleva a raça humana e aflora o que temos de melhor para dizer uns aos outros.

PS: Fui ao Ibirapuera num domingo e encontrei vários conterrâneos.

Rosana Jatobá - jornalista, graduada em Direito e Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, e mestranda em gestão e tecnologias ambientais da Universidade de São Paulo

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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO

O texto é ótimo, mas faltaram os LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, transgêneros, travestis e intersexuais).

Então, darei minha singela contribuição aqui.

Semana passada, primeiro dia de aula para um grupo de crianças com idade média de 13 anos, coloquei uma palavra inglesa no quadro e pedi que eles me dessem palavras que começassem sempre com a última letra da palavra anterior. A coisa funcionava assim:

table - elephant - teacher - rug - gay (sugeriu um dos meninos).

A turma deu uma risadinha. Eu disse: 'gay? ótimo! Por que não?' E continuamos. Eles contribuíram com quase 50 palavras nesse encadeamento.

Depois eu pedi que eles escolhessem três palavras de sua preferência para fazerem três frases diferentes que espelhassem alguma coisa real em relação a eles ou a pessoas que eles conhecessem. Alguns fizeram frases tipo: 'I saw an elephant at the Zoo yesterday. ' (Eu vi um elefante no zoológico ontem). Beleza.

Um garoto (não o que sugeriu a palavra gay) escreveu: 'I have a gay friend' (Eu tenho um amigo gay).

Gostei da frase, e disse: Que bom que você tem um amigo gay. Isso mostra que você é uma pessoa sem preconceito. De onde ele é?

O garoto respondeu:

- Da escola, mas ele não é meu amigo, não. Eu só o vejo na escola, mas eu não gosto de gays. (grifo meu)

Pronto! O preconceito veio à tona. Ele poderia dizer não gosto dele, porque ele é brigão. Não gosto dele, porque ele é chorão. Não gosto dele, porque não faz o trabalho e assume o crédito. Mas, ele disse 'não gosto de gays.'

Foi aí que eu fiz uma intervenção, e disse que a gente não pode rotular pejorativamente as pessoas a partir de características como orientação sexual, cor da pele, gênero, região de origem, etc. E dei um exemplo:

Vocês sabiam que casamento entre negros e brancos nos EUA era crime até 1967? Ou seja, se um negro casasse com uma branca, ele era preso sob acusação de estupro presumido? A mulher podia dizer que o amava, que casou com ele porque quis, mas ele seria preso assim mesmo. O negro ia preso; não o branco. Hoje, a gente olha para isso e pensa: 'Que absurdo!'. Amanhã, se a pessoas souberem que um dia dissemos 'não gosto dele porque é gay', ficarão tão estupefatas quanto nós ficamos quando ouvimos coisas como a criminalização do casamento interracial nos EUA.

Eles ficaram muito impressionados com essa 'revelação' e seguimos em frente com outras frases.

Para não deixar o garoto que soltou aquela 'pérola' deslocado, perguntei imediatamente sobre o time dele (ele estava de camisa de clube), e pedi que ele fizesse uma frase sobre o time com alguma palavra do quadro. Ele fez. Fiz um comentário divertido sobre futebol, e seguimos em frente.

Esse episódio, porém, revela como o preconceito contra a orientação sexual (e contra o gênero) é plantado desde cedo na cabeça dessas crianças, a partir do que ouvem em casa, na igreja e na escola.

Detalhe: ele estava falando mal de um garoto gay sem perceber que o professor dele também é gay. Talvez, se tivesse percebido, nunca tivesse dito. E é assim que muitas vezes temos a impressão de que, pelo menos ao nosso redor, não há preconceito. Duvide, meu amigo/minha amiga. Duvide...

Podemos, contudo, ir expurgando esse sentimento irracional de um ou outro quando chamamos suas mentes à razão. Tomara que tenha com esse menino e sua turma tenha funcionado...

Estudantes expulsam Bolsonaro de palestra por conta de seu racismo e homofobia


Estudantes expulsam Bolsonaro de Universidade no Rio


19/09/2011


O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) teve de sair escoltado da Universidade Federal Fluminense (UFF). Bolsonaro participava de uma palestra na UFF quando estudantes e ativistas dos direitos LGBT iniciaram protesto contra a sua presença.

Pra esquentar o clima, os vereadores Renatinho (PSOL) e Leonardo Giordano (PT) entregaram uma moção de repúdio aprovada pela Câmara Municipal de Niterói. Bolsonaro rasgou a moção de repúdio, os protestos avançaram e a palestra teve de ser interrompida.

A moção de repúdio se deu por conta das declarações "homofóbicas e racistas" que Bolsonaro deu ao programa "CQC.

Homofobia e Racismo: A luta pela igualdade começa no direito de ser

Jair Bolsonaro: Orgulha-se de suas declarações homofóbicas. Deixou escapar seu racismo ao responder a uma pergunta da Preta Gil. Com medo das leis atuais contra o racismo, desmentiu que tenha sido racista. 


 
Triângulo rosa: marca distintiva de prisioneiros levados para os campos de concentração nazistas pelo simples motivo de serem homossexuais. 



Ku Klus Klan: organização racista baseada em "princípios cristãos". Espancavam e matavam negros nos EUA e geralmente passavam impunes. Havia muita gente de áreas de comando na sociedade.

Julho de 2010: Jovens negros espancados por skinheads. Motivo: Estavam incomodados com a presença de negros na sociedade.


2007: Jovem brutalmente surrado na Av. Paulista por homofóbicos



Pai tem orelha cortada em feira agropecuária


Julho de 2011: Pai tem orelha decepada depois de ser agredido. Ele e o filho foram confundidos com um casal gay em feira agropecuária de Campinas, SP

Um negro só precisa afirmar seu direito de ser num mundo racista. Um homossexual só precisa afirmar seu direito de ser num mundo homofóbico. Não é a negritude ou a homossexualidade que pretendem supremacia. Ambas exigem apenas o legítimo direito de serem e de permanecerem como tais.

Os supremacistas é que não toleram a igualdade, porque seu projeto é justamente o oposto: manter as desigualdades, desde que eles estejam no topo da pirâmide. Isso, porém, não é bom para ninguém, nem mesmo para aqueles que estão fora dos grupos aos quais os supremacistas atacam, conforme demonstrado pelo caso do pai e do filho agredidos em Campinas.

De repente, ficaram mudos os que dizem que os gays inventam, exageram, alardeiam casos isolados de violência urbana para falarem de homofobia. Ainda que fossem isolados, esses casos deveriam ser tratados com a severidade da lei. Mas como acusar pai e filho de estarem promovendo uma bandeira que nem é a deles? Por isso, estão calados os agentes da má-fé que mascara a realidade para manter dogmas que deveriam ter sido abandonados há muito tempo.

A minimização de sofrimentos tão intensos e recorrentes, graças ao preconceito e à falta de punição adequada aos criminosos, é a mais descarada demonstração de hipocrisia por parte daqueles que desprezam coisa tão séria.

Mas, lembre-se: a próxima vítima pode ser você. E não adianta jurar que você não tem nada a ver com isso.

Espanha proíbe expressamente insultos homofóbicos no exército



Espanha proíbe expressamente insultos homofóbicos no exército


Um projeto de lei aprovado na Espanha torna contravenção penal quaisquer expressões ou manifestações de desprezo pela razão de nascimento, origem racial ou étnica, gênero, orientação sexual, ou qualquer outra condição ou circunstância pessoal ou social no exército do país.

Além das palavras, quaisquer atos que envolvam as discriminações citadas também serão punidos. Em manifestações orais, as punições variam de advertência a suspensão por dez dias. Já se o militar praticar alguns desses atos discriminatórios, ele pode ser suspenso por até 30 dias em regime de detenção e até ser expulso das Forças Armadas.


Fonte: Central de Notícias Gays

https://centraldenoticiasgays.blogspot.com/2011/06/espanha-proibe-expressamente-insultos.html

Bolsonaro e Fascismo: Leia esse texto



Blog do Chico


Livre pensar, direitos humanos e transformação social


sexta-feira, 1 de abril de 2011

JAIR BOLSONARO É PORTA-VOZ DE MUITOS BRASILEIROS


O silêncio pode em algumas situações significar perigosa conivência. Por essa razão, não penso ser desejável e adequado simplesmente ignorar o episódio apenas com intuito de não jogar mais holofotes sobre alguém que pretende se alimentar dessas luzes da audiência. Ao contrário: há algumas reflexões importantíssimas que merecem ser feitas, a partir das lamentáveis e criminosas declarações feitas pelo capitão-deputado federal Jair Bolsonaro (PP/RJ) ao programa CQC, exibido pela TV Bandeirantes na segunda-feira, dia 28 de março.

Ao responder a questionamento da cantora Preta Gil sobre a possibilidade de um filho dele namorar uma negra e vociferar, em horário nobre, que "não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente como, lamentavelmente, é o teu", Bolsonaro explicitou - e não pela primeira vez - duas ordens de preconceitos, simultaneamente: homofobia e racismo. Ardiloso, não demorou a avisar que "não havia entendido a pergunta" e tentou desculpar-se com o movimento negro, intensificando no entanto as investidas intolerantes contra homossexuais.

A estratégia é pensada: racismo, no Brasil, é crime inafiançável e tipificado pela Lei 7716, de 5 de janeiro de 1989. A pena pode chegar a cinco anos de prisão. A homofobia, ao contrário, ainda não é juridicamente considerada um crime. Daí a necessidade premente de aumentar a pressão sobre o Senado Federal em favor da aprovação do Projeto de Lei 122/2006, que criminaliza as práticas homofóbicas e as iguala ao crime de racismo.

No início do ano, por iniciativa da senadora Marta Suplicy (PT/SP), a proposta foi desarquivada e deverá ser analisada pela comissão de Direitos Humanos da casa, antes de chegar ao plenário. Aprová-la representaria, na avaliação do Movimento Não à Homofobia, "colocar o Brasil na vanguarda da América Latina, assim como o Caribe, como um país que preza pela plenitude dos direitos de todos seus cidadãos, rumo a uma sociedade que respeite a diversidade e promova a paz".

Liberdade de expressão???

Diante das reações imediatas e intensas dos movimentos sociais e dos setores progressistas da sociedade, e mais uma vez ardiloso, Bolsonaro apelou para o desgastado argumento do "estou sendo censurado, quero ter garantido meu direito à liberdade de expressão". Falso. O capitão-deputado mistura, no dito popular, alhos com bugalhos e procura confundir para tentar convencer. No limite, trocando em miúdos, o que ele faz é reivindicar o direito de ter preconceitos e de manifestá-los pública e impunemente. Estapafúrdio, um contra-senso. Uma atrocidade e aberração.

Porque certamente a Constituição Federal estabelece, em seu capítulo primeiro, artigo quinto, inciso nono que "é livre a expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independente de censura ou licença". No entanto, como bem lembra o advogado Rogério Faria Tavares em artigo publicado pelo Observatório da Imprensa, "o cidadão que, no ato de expressar-se, violar a integridade de qualquer outro membro do referido elenco de direitos, não está resguardado por qualquer garantia constitucional: incorre em flagrante desrespeito à Carta de 88 e deve sofrer as consequências correspondentes". O especialista completa: "quando o ato de expressar-se se dá fora do contexto jurídico apropriado, sua qualificação é outra: "abuso," "infração" ou "crime".

Direitos estão associados a deveres e a responsabilidades. A liberdade de expressão, pilar fundamental e insubstituível da democracia, uma das razões de ser do regime democrático, não é absoluta e deve estar conectada harmonicamente a outros preceitos constitucionais também importantíssimos para o funcionamento do Estado de Direito. A prerrogativa de dizer não pode atentar contra a dignidade de outro ser humano. Para construir uma analogia e guardadas as diferenças e devidas proporções: admitir que, em nome da liberdade de expressão, Bolsonaro pode vir a público para manifestar intolerâncias contra negros e homossexuais seria como aceitar que Hitler estava correto ao professar em seus discursos agressões contra os judeus, ciganos, imigrantes, mulheres, portadores de deficiência física, negros e homossexuais... Pois é...

Estimular o debate????

Não procede também a "justificativa" anunciada pelo CQC para convidar o capitão-deputado para a entrevista: o programa alegou que, por ser uma figura polêmica e sem papas na língua, Bolsonaro ajudaria a enfrentar tabus e a incentivar o debate. O "confundir para explicar" se manifesta novamente. Não há dúvidas que, em democracias, pluralidade e contraditório precisam ser fomentados, mas dentro dos marcos constitucionais e civilizatórios, da legítima e desejável divergência racionalizada, sem que representem apologia da intolerância, do preconceito e, no limite, do crime. É isso: debater significa apresentar ideias e argumentos - não incitar ou cometer crimes.

Lembra o jornalista Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania, que "toda vez em que você critica pessoas publicamente por suas características intrínsecas, tais como cor da pele, origem geográfica, crença religiosa ou comportamento sexual, entre outros, está, sim, discriminando, pondo à parte e condenando pessoas por uma faceta delas que não têm como mudar".

E eu recordo cá com meus botões que, em 1992, ao apoiar a decisão da escola Ursa Maior, na capital paulista, de recusar a matrícula da aluna Sheila Carolina de Oliveira, 5 anos, por ser portadora do vírus da Aids, o então presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (SEMESP), José Aurélio de Camargo, afirmou sem pudores que "a criança aidética já nasce com atestado de óbito assinado e portanto não precisa estudar". Abjeto, de embrulhar o estômago. Recuou em seguida, lamentando "o mal-entendido e dizendo que apenas desejava incentivar o debate sobre a doença". Cinismo leviano levado às últimas consequências. A propósito: o argumento do CQC ao explicar o espaço oferecido a Bolsonaro é de natureza bastante semelhante, não?

É preciso considerar ainda mais uma confusão deliberadamente incentivada pelo programa. Não raro, os professores nos deparamos em sala de aula com falas do tipo "você viu a reportagem feita pelo CQC? Ficou boa aquela entrevista feita pelo CQC, não?". Ora, entrevista e reportagem são conceitos e técnicas pertencentes ao campo do jornalismo (que faz pensar e incentiva reflexões); o CQC é um programa de entretenimento (que espetaculariza, provoca sensações e cutuca os instintos mais primitivos). Espertamente, o programa movimenta-se para se apropriar da chancela de credibilidade e reconhecimento sociais de que o jornalismo ainda dispõe. Faz humor (e nem vou entrar no mérito do tipo e da qualidade do humor que faz), mas alega informar. Mais uma vez, é preciso estar atento e saber separar o joio do trigo.

Ventos do fascismo

Não menos importante: Jair Bolsonaro cumpre atualmente o seu sexto mandato como deputado federal e recebeu em 2010, na última disputa, 120.646 votos, alcançando o posto de décimo-primeiro mais votado no Rio de Janeiro. "Logo, tem adeptos fiéis. Conta com financiadores perseverantes", reforça Saul Leblon, na Agência Carta Maior. Sugiro exercício bem simples: acompanhar cartas sobre o assunto que têm sido publicadas pelos jornais, nas seções dos leitores. Boa parte delas tece elogios à postura de Bolsonaro. Cuidado: o capitão-deputado está longe de ser uma caricatura; ao contrário, publiciza, reverbera e amplifica aquilo que muita gente no Brasil infelizmente pensa e defende: extermínio de pobres, perseguição às minorias, pena de morte, tortura, racismo, homofobia, ditadura...

Bolsonaro funciona como porta-voz de setores representativos e significativos da sociedade brasileira (só para lembrar, ao abrir a caixa de Pandora na eleição presidencial de 2010, José Serra conquistou cerca de 44% dos votos no segundo turno). O comportamento do capitão-deputado e as falas dele - e o respaldo social que recebem - nos levam a duas importantes reflexões finais. Primeiro: conseguimos, os setores progressistas, vencer a disputa presidencial nas três últimas eleições - mas estamos certamente falhando na construção de hegemonia de valores e princípios. Segundo (e como consequência da anterior): os ventos do fascismo insistem em soprar despudoradamente por aqui.

Jean Wyllis: Bolsonaro é “covarde”

Jean Wyllis: Bolsonaro é “covarde”

Bolsonaro é demente ou está debochando, diz Jean Wyllys


Foto: Internet


por André Mascarenhas, no Estadão
30 de março de 2011 


O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) classificou de “estratégia” o fato de Jair Bolsonaro (PP-RJ) ter recuado da declaração de que seria “promiscuidade” se seu filho se apaixonasse por uma negra, dada ao programa CQC da TV Bandeirantes. Bolsonaro afirmou não ter entendido a pergunta de Preta Gil, mas Wyllys vê cálculo político na justificativa do colega.

“É preciso desmascarar a tentativa dele de se safar do crime de racismo. É deboche à inteligência das pessoas dizer que ele se confundiu. Não dá pra confundir mulher negra com homossexual como ele está querendo dizer. Ou ele é demente ou está debochando”, afirmou o deputado do PSOL ao Radar Político.

Wyllys, que é homossexual assumido, afirmou serem naturais as novas declarações de Bolsonaro atacando os homossexuais. Nessa quarta-feira, durante o velório do ex-vice-presidente José Alencar, Bolsonaro afirmou que estava “se lixando” para o movimento gay.

“Ele está invocando essa homofobia odiosa porque sabe que a violência contra homossexual goza de mais aceitação pela sociedade. Ele sabe que foi traído pela língua e que pode ser cassado pelo racismo, então ele está tentando dizer que é ‘só’ homofóbico. Ele está com medo e é covarde”, disse Wyllys.

O deputado do PSOL lamentou ainda as manifestações favoráveis a Bolsonaro em rede sociais na internet e chegou a comparar a atitude do deputado com a propaganda nazista. “Há precedente na história de essas ideias terem eco na sociedade porque as pessoas têm ódios adormecidos. Temos sempre que lembrar que parte da Alemanha foi conivente com o Holocausto e a máquina nazista de assassinar judeus e homossexuais. Temos que lutar contra essas declarações porque isso desperta o que há de pior nas pessoas.”

Fonte: https://www.viomundo.com.br/voce-escreve/jean-wyllis-bolsonaro-e-covarde.html

Sobre a Carnavalização do Racismo - carta aberta a Ziraldo



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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO


Escrita por Ana Maria Gonçalves, essa carta aberta endereçada ao cartunista Ziraldo é extremamente esclarecedora do racismo que tipifica a sociedade brasileira de um modo geral e mais especificamente o escritor Monteiro Lobato, que tantos conhecem apenas graças ao Sítio do Pica-Pau Amarelo, mas que foi um racista inveterado. Agora, Ziraldo cria uma ilustração para camisas em que Lobato está pulando carnaval abraçado a uma mulata: o próprio objeto de seu ódio. Isso, como Ana Maria Gonçalves demonstra na carta, é um achincalhe ao negros e seus descendentes.


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Carta aberta ao Ziraldo


Caro Ziraldo,

Olho a triste figura de Monteiro Lobato abraçado a uma mulata, estampada nas camisetas do bloco carnavalesco carioca "Que merda é essa?" e vejo que foi obra sua. Fiquei curiosa para saber se você conhece a opinião de Lobato sobre os mestiços brasileiros e, de verdade, queria que não. Eu te respeitava, Ziraldo. Esperava que fosse o seu senso de humor falando mais alto do que a ignorância dos fatos, e por breves momentos até me senti vingada. Vingada contra o racismo do eugenista Monteiro Lobato que, em carta ao amigo Godofredo Rangel, desabafou: "*(...)Dizem que a mestiçagem liquefaz essa cristalização racial que é o caráter e dá uns produtos instáveis. Isso no moral - e no físico, que feiúra! Num desfile, à tarde, pela horrível Rua Marechal Floriano, da gente que volta para os subúrbios, que perpassam todas as degenerescências, todas as formas e má-formas humanas - todas, menos a normal. Os negros da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão, vingaram-se do português de maneira mais terrível - amulatando-o e liquefazendo-o, dando aquela coisa residual que vem dos subúrbios pela manhã e reflui para os subúrbios à tarde. E vão apinhados como sardinhas e há um desastre por dia, metade não tem braço ou não tem perna, ou falta-lhes um dedo, ou mostram uma terrível cicatriz na cara. "Que foi?" "Desastre na Central." Como consertar essa gente? Como sermos gente, no concerto dos povos? Que problema terríveis o pobre negro da África nos criou aqui, na sua inconsciente vingança!..." (em "A barca de Gleyre". São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1944. p.133).*

Ironia das ironias, Ziraldo, o nome do livro de onde foi tirado o trecho acima é inspirado em um quadro do pintor suíço Charles Gleyre (1808-1874), Ilusões Perdidas. Porque foi isso que aconteceu. Porque lendo uma matéria sobre o bloco e a sua participação, você assim o endosse:* "Para acabar com a polêmica, coloquei o Monteiro Lobato sambando com uma mulata. Ele tem um conto sobre uma neguinha que é uma maravilha. Racismo tem ódio. Racismo sem ódio não é racismo. A ideia é acabar com essa brincadeira de achar que a gente é racista". *A gente quem, Ziraldo? Para quem você se (auto) justifica? Quem te disse que racismo sem ódio, mesmo aquele com o "humor negro" de unir uma mulata a quem grande ódio teve por ela e pelo que ela representava, não é racismo? Monteiro Lobato, sempre que se referiu a negros e mulatos, foi com ódio, com desprezo, com a certeza absoluta da própria superioridade, fazendo uso do dom que lhe foi dado e pelo qual é admirado e defendido até hoje. Em uma das cartas que iam e vinham na barca de Gleyre (nem todas estão publicadas no livro, pois a seleção foi feita por Lobato, que as censurou, claro) com seu amigo Godofredo Rangel, Lobato confessou que sabia que a escrita *"é um processo indireto de fazer eugenia, e os processos indiretos, no Brasil, 'work' muito mais eficientemente". *

Lobato estava certo. Certíssimo. Até hoje, muitos dos que o leram não vêem nada de errado em seu processo de chamar negro de burro aqui, de fedorento ali, de macaco acolá, de urubu mais além. Porque os processos indiretos, ou seja, sem ódio, fazendo-se passar por gente boa e amiga das crianças e do Brasil, "work" muito bem. Lobato ficou frustradíssimo quando seu "processo" sem ódio, só na inteligência, não funcionou com os norte-americanos, quando ele tentou em vão encontrar editora que publicasse o que considerava ser sua obra prima em favor da eugenia e da eliminação, via esterilização, de todos os negros. Ele falava do livro O presidente negro ou o choque das raças" que, ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos, país daquele povo que odeia negros, como você diz, Ziraldo, foi publicado no Brasil. Primeiro em capítulos no jornal carioca A Manhã, do qual Lobato era colaborador, e logo em seguida em edição da Editora Companhia Nacional, pertencente a Lobato. Tal livro foi dedicado secretamente ao amigo e médico eugenista Renato Kehl, em meio à vasta e duradoura correspondência trocada pelos dois:* "Renato, tu és o pai da eugenia no Brasil e a ti devia eu dedicar meu Choque, grito de guerra pró-eugenia. Vejo que errei não te pondo lá no frontispício, mas perdoai a este estropeado amigo. (...) Precisamos lançar, vulgarizar estas idéias. A humanidade precisa de uma coisa só: póda. É como a vinha".*

Impossibilitado de colher os frutos dessa poda nos EUA, Lobato desabafou com Godofredo Rangel: * "Meu romance não encontra editor. [...]. Acham-no ofensivo à dignidade americana, visto admitir que depois de tantos séculos de progresso moral possa este povo, coletivamente, cometer a sangue frio o belo crime que sugeri. Errei vindo cá tão verde. Devia ter vindo no tempo em que eles linchavam os negros." *Tempos depois, voltou a se animar: *"Um escândalo literário equivale no mínimo a 2.000.000 dólares para o autor (...) Esse ovo de escândalo foi recusado por cinco editores conservadores e amigos de obras bem comportadas, mas acaba de encher de entusiasmo um editor judeu que quer que eu o refaça e ponha mais matéria de exasperação. Penso como ele e estou com idéias de enxertar um capítulo no qual conte a guerra donde resultou a conquista pelos Estados Unidos do México e toda essa infecção spanish da América Central. O meu judeu acha que com isso até uma proibição policial obteremos - o que vale um milhão de dólares. Um livro proibido aqui sai na Inglaterra e entra boothegued como o whisky e outras implicâncias dos puritanos".* Lobato percebeu, Ziraldo, que talvez devesse apenas exasperar-se mais, ser mais claro em suas ideias, explicar melhor seu ódio e seu racismo, não importando a quem atingiria e nem por quanto tempo perduraria, e nem o quão fundo se instalaria na sociedade brasileira. Importava o dinheiro, não a exasperação dos ofendidos. 2.000.000 de dólares, ele pensava, por um ovo de escândalo. Como também foi por dinheiro que o Jeca Tatu, reabilitado, estampou as propagandas do Biotônico Fontoura.

Você sabe que isso dá dinheiro, Ziraldo, mesmo que o investimento tenha sido a longo prazo, como ironiza Ivan Lessa: *"Ziraldo, o guerrilheiro do traço, está de parabéns. Finalmente o governo brasileiro tomou vergonha na cara e acabou de pagar o que devia pelo passe de Jeremias, o Bom, imortal personagem criado por aquele que também é conhecido como "o Lamarca do nanquim". Depois do imenso sucesso do calunguinha nas páginas de diversas publicações, assim como também na venda de diversos produtos farmacêuticos, principalmente doenças da tireóide, nos idos de 70, Ziraldo, cognominado ainda nos meios esclarecidos como "o subversivo da caneta Pilot", houve por bem (como Brutus, Ziraldo é um homem de bem; são todos uns homens de bem - e de bens também) vender a imagem de Jeremias para a loteca, ou seja, para a Caixa Econômica Federal (federal como em República Federativa do Brasil) durante o governo Médici ou Geisel (os déspotas esclarecidos em muito se assemelham, sendo por isso mesmo intercambiáveis)".*

No tempo em que linchavam negros, disse Lobato, como se o linchamento ainda não fosse desse nosso tempo. Lincham-se negros nas ruas, nas portas dos shoppings e bancos, nas escolas de todos os níveis de ensino, inclusive o superior. O que é até irônico, porque Lobato nunca poderia imaginar que chegariam lá. Lincham-se negros, sem violência física, é claro, sem ódio, nos livros, nos artigos de jornais e revistas, nos cartoons e nas redes sociais, há muitos e muitos carnavais. Racismo não nasce do ódio ou amor, Ziraldo, sendo talvez a causa e não a consequência da presença daquele ou da ausência desse. Racismo nasce da relação de poder. De poder ter influência ou gerência sobre as vidas de quem é considerado inferior. *"Em que estado voltaremos, Rangel,"* se pergunta Lobato, ao se lembrar do quadro para justificar a escolha do nome do livro de cartas trocadas, "*desta nossa aventura de arte pelos mares da vida em fora? Como o velho de Gleyre? Cansados, rotos? As ilusões daquele homem eram as velas da barca - e não ficou nenhuma. Nossos dois barquinhos estão hoje cheios de velas novas e arrogantes, atadas ao mastro da nossa petulância. São as nossas ilusões".*Ah, Ziraldo, quanta ilusão (ou seria petulância? arrogância; talvez? sensação de poder?) achar que impor à mulata a presença de Lobato nessa festa tipicamente negra, vá acabar com a polêmica e todos poderemos soltar as ancas e cada um que sambe como sabe e pode. Sem censura. Ou com censura, como querem os quemerdenses. Mesmo que nesse do *Caçadas de Pedrinho *a palavra censura não corresponda à verdade, servindo como mero pretexto para manifestação de discordância política, sem se importar com a carnavalização de um tema tão dolorido e tão caro a milhares de brasileiros. E o que torna tudo ainda mais apelativo é que o bloco aponta censura onde não existe e se submete, calado, ao pedido da prefeitura para que não use o próprio nome no desfile. Não foi assim? Você não teve que escrever "M*" porque a palavra "merda" foi censurada? Como é que se explica isso, Ziraldo? Mente-se e cala-se quando convém? Coerência é uma questão de caráter.

O que o MEC solicita não é censura. É respeito aos Direitos Humanos. Ao direito de uma criança negra em uma sala de aula do ensino básico e público, não se ver representada (sim, porque os processos indiretos, como Lobato nos ensinou, "work" muito mais eficientemente) em personagens chamados de macacos, fedidos, burros, feios e outras indiretas mais. Você conhece os direitos humanos, inclusive foi o artista escolhido para ilustrar a Cartilha de Direitos Humanos encomendada pela Presidência da República, pelas secretarias Especial de Direitos Humanos e de Promoção dos Direitos Humanos, pela ONU, a UNESCO, pelo MEC e por vários outros órgãos. Muitos dos quais você agora desrespeita ao querer, com a sua ilustração, acabar de vez com a polêmica causada por gente que estudou e trabalhou com seriedade as questões de educação e desigualdade racial no Brasil. A adoção do *Caçadas de Pedrinho* vai contra a lei de Igualdade Racial e o Estatuto da Criança e do Adolescente, que você conhece e ilustrou tão bem. Na página 25 da sua Cartilha de Direitos Humanos, está escrito: *"O único jeito de uma sociedade melhorar é caprichar nas suas crianças. Por isso, crianças e adolescentes têm prioridade em tudo que a sociedade faz para garantir os direitos humanos. Devem ser colocados a salvo de tudo que é violência e abuso. É como se os direitos humanos formassem um ninho para as crianças crescerem."* Está lá, Ziraldo, leia de novo: "crianças e adolescentes têm prioridade". Em tudo. Principalmente em situações nas quais são desrespeitadas, como na leitura de um livro com passagens racistas, escrito por um escritor racista com finalidades racistas. Mas você não vê racismo e chama de patrulhamento do politicamente correto e censura. Você está pensando nas crianças, Ziraldo? Ou com medo de que, se a moda pega, a "censura" chegue ao seu direito de continuar brincando com o assunto? "Acho injusto fazer isso com uma figura da grandeza de Lobato", você disse em uma reportagem. E com as crianças, o público-alvo que você divide com Lobato, você acha justo? Sim, vocês dividem o mesmo público e, inclusive, alguns personagens, como uma boneca e pano e o Saci, da sua Turma do Pererê. Medo de censura, Ziraldo, talvez aos deslizes, chamemos assim, que podem ser cometidos apenas porque se acostuma a eles, a ponto de pensar que não são, de novo chamemos assim, deslizes.

A gente se acostuma, Ziraldo. Como o seu menino marrom se acostumou com as sandálias de dedo:* "O menino marrom estava tão acostumado com aquelas sandálias que era capaz de jogar futebol com elas, apostar corridas, saltar obstáculos sem que as sandálias desgrudassem de seus pés. Vai ver, elas já faziam parte dele" *(ZIRALDO, 1986,p. 06, em O Menino Marrom ). O menino marrom, embora seja a figura simpática e esperta e bonita que você descreve, estava acostumado e fadado a ser pé-de-chinelo, em comparação ao seu amigo menino cor-de-rosa, porque *"(...) um já está quase formado e o outro não estuda mais (...). Um já conseguiu um emprego, o outro foi despedido do quinto que conseguiu. Um passa seus dias lendo (...), um não lê coisa alguma, deixa tudo pra depois (...). Um pode ser diplomata ou chofer de caminhão. O outro vai ser poeta ou viver na contramão (...). Um adora um som moderno e o outro - Como é que pode? - se amarra é num pagode. (...) Um é um cara ótimo e o outro, sem qualquer duvida, é um sujeito muito bom. Um já não é mais rosado e o outro está mais marrom"* (ZIRALDO, 1986, p.31). O menino marrom, ao crescer, talvez virasse marginal, fado de muito negro, como você nos mostra aqui: *"(...) o menino cor-de-rosa resolveu perguntar: por que você vem todo o dia ver a velhinha atravessar a rua? E o menino marrom respondeu: Eu quero ver ela ser atropelada" *(ZIRALDO, 1986, p.24), porque a própria professora tinha ensinado para ele a diferença e a (não) mistura das cores. Então ele pensou que *"Ficar sozinho, às vezes, é bom: você começa a refletir, a pensar muito e consegue descobrir coisas lindas. Nessa de saber de cor e de luz (...) o menino marrom começou a entender porque é que o branco dava uma idéia de paz, de pureza e de alegria. E porque razão o preto simbolizava a angústia, a solidão, a tristeza. Ele pensava: o preto é a escuridão, o olho fechado; você não vê nada. O branco é o olho aberto, é a luz!*" (ZIRALDO, 1986, p.29), e que deveria se conformar com isso e não se revoltar, não ter ódio nenhum ao ser ensinado que, daquela beleza, pureza e alegria que havia na cor branca, ele não tinha nada. O seu texto nos ensina que é assim, sem ódio, que se doma e se educa para que cada um saiba o seu lugar, com docilidade e resignação: *"Meu querido amigo: Eu andava muito triste ultimamente, pois estava sentindo muito sua falta. Agora estou mais contente porque acabo de descobrir uma coisa importante: preto é, apenas, a ausência do branco"* (ZIRALDO, 1986, p.30).

Olha que interessante, Ziraldo: nós que sabemos do racismo confesso de Lobato e conseguimos vê-lo em sua obra, somos acusados por você de "macaquear" (olha o termo aí) os Estados Unidos, vendo racismo em tudo. "Macaqueando" um pouco mais, será que eu poderia também acusá-lo de estar "macaqueando" Lobato, em trechos como os citados acima? Sem saber, é claro, mas como fruto da introjeção de um "processo" que ele provou que "work" com grande eficiência e ao qual podemos estar todos sujeitos, depois de sermos submetidos a ele na infância e crescermos em uma sociedade na qual não é combatido. Afinal, há quem diga que não somos racistas. Que quem vê o racismo, na maioria os negros, que o sofrem, estão apenas "macaqueando". Deveriam ficar calados e deixar dessa bobagem. Deveriam se inspirar no menino marrom e se resignarem. Como não fazem muitos meninos e meninas pretos e marrons, aqueles que são a ausência do branco, que se chateiam, que se ofendem, que sofrem preconceito nas ruas e nas escolas e ficam doídos, pensando nisso o tempo inteiro, pensando tanto nisso que perdem a vontade de ir à escola, começam a tirar notas baixas porque ficam matutando, ressentindo, a atenção guardadinha lá debaixo da dor. E como chegam à conclusão de que aquilo não vai mudar, que não vão dar em nada mesmo, que serão sempre pés-de-chinelo, saem por aí especializando-se na arte de esperar pelo atropelamento de velhinhas.

Racismo é um dos principais fatores responsáveis pela limitada participação do negro no sistema escolar, Ziraldo, porque desvia o foco, porque baixa a auto-estima, porque desvia o foco das atividades, porque a criança fica o tempo todo tendo que pensar em como não sofrer mais humilhações, e o material didático, em muitos casos, não facilita nada a vida delas. E quando alguma dessas crianças encontra um jeito de fugir a esse destino, mesmo que não tenha sido através da educação, fica insuportável e merece o linchamento público e exemplar, como o sofrido por Wilson Simonal. Como exemplo, temos a sua opinião sobre ele:* "Era tolo, se achava o rei da cocada preta, coitado. E era mesmo. Era metido, insuportável".* Sabe, Ziraldo, é por causa da perpetuação de estereótipos como esses que às vezes a gente nem percebe que eles estão ali, reproduzidos a partir de preconceitos adquiridos na infância, que a SEPPIR pediu que o MEC reavaliasse a adoção de *Caçadas de Pedrinho*. Não a censura, mas a reavaliação. Uma nota, talvez, para ser colocada junto com as outras notas que já estão lá para proteger os direitos das onças de não serem caçadas e o da ortografia, de evoluir. Já estão lá no livro essas duas notas e a SEPPIR pede mais uma apenas, para que as crianças e os adolescentes sejam "colocados a salvo de tudo que é violência e abuso", como está na cartilha que você ilustrou. Isso é um direito delas, como seres humanos. É por isso que tem gente lutando, como você também já lutou por direitos humanos e por reparação. É isso que a SEPPIR pede: reparação pelos danos causados pela escravidão e pelo racismo.

Assim você se defendeu de quem o atacou na época em que conseguiu fazer valer os seus direitos: "*(...) Espero apenas que os leitores (que o criticam) não tenham sua casa invadida e, diante de seus filhos, sejam seqüestrados por componentes do exército brasileiro pelo fato de exercerem o direito de emitir sua corajosa opinião a meu respeito, eu, uma figura tão poderosa".*Ziraldo, você tem noção do que aconteceu com os, citando Lobato, *"negros da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão"*, e do que acontece todos os dias com seus descendentes em um país que naturalizou e, paradoxalmente, nega o seu racismo? De quantos já morreram e ainda morrem todos os dias porque tem gente que não os leva a sério? Por causa do racismo é bem difícil que essa gente fadada a ser pé-de-chinelo a vida inteira, essas pessoas dos subúrbios, que perpassam todas as degenerescências, todas as formas e má-formas humanas - todas, menos a normal, - porque nelas está a ausência do branco, esse povo todo representado pela mulata dócil que você faz sorrir nos braços de um dos escritores mais racistas e perversos e interesseiros que o Brasil já teve, aquele que soube como ninguém que um país (racista) também de faz de homens e livros (racistas), por causa disso tudo, Ziraldo, é que eu ia dizendo ser quase impossível para essa gente marrom, herdeira dessa gente de cor que simboliza a angústia, a solidão, a tristeza, gerar pessoas tão importantes quanto você, dignas da reparação (que nem é financeira, no caso) que o Brasil também lhes deve: respeito. Respeito que precisou ser ancorado em lei para que tivesse validade, e cuja aplicação você chama de censura.

Junto com outros grandes nomes da literatura infantil brasileira, como Ana Maria Machado e Ruth Rocha, você assinou uma carta que, em defesa de Lobato e contra a censura inventada pela imprensa, diz: *"Suas criações têm formado, ao longo dos anos, gerações e gerações dos melhores escritores deste país que, a partir da leitura de suas obras, viram despertar sua vocação e sentiram-se destinados, cada um a seu modo, a repetir seu destino. (...) A maravilhosa obra de Monteiro Lobato faz parte do patrimônio cultural de todos nós - crianças, adultos, alunos, professores - brasileiros de todos os credos e raças. Nenhum de nós, nem os mais vividos, têm conhecimento de que os livros de Lobato nos tenham tornado pessoas desagregadas, intolerantes ou racistas. Pelo contrário: com ele aprendemos a amar imensamente este país e a alimentar esperança em seu futuro. Ela inaugura, nos albores do século passado, nossa confiança nos destinos do Brasil e é um dos pilares das nossas melhores conquistas culturais e sociais."* É isso. Nos livros de Lobato está o racismo do racista, que ninguém vê, que vocês acham que não é problema, que é alicerce, que é necessário à formação das nossas futuras gerações, do nosso futuro. E é exatamente isso. Alicerce de uma sociedade que traz o racismo tão arraigado em sua formação que não consegue manter a necessária distância do foco, a necessário distância para enxergá-lo. Perpetuar isso parece ser patriótico, esse racismo que* "faz parte do patrimônio cultural de todos nós - crianças, adultos, alunos, professores - brasileiros de todos os credos e raças."* Sabe o que Lobato disse em carta ao seu amigo Poti, nos albores do século passado, em 1905? Ele chamava de patriota o brasileiro que se casasse com uma italiana ou alemã, para apurar esse povo, para acabar com essa raça degenerada que você, em sua ilustração, lhe entrega de braços abertos e sorridente. Perpetuar isso parece alimentar posições de pessoas que, mesmo não sendo ou mesmo não se achando racistas, não se percebem cometendo a atitude racista que você ilustrou tão bem: entregar essas crianças negras nos braços de quem nem queria que elas nascessem. *Cada um a seu modo, a repetir seu destino*. Quem é poderoso, que cobre, muito bem cobrado, seus direitos; quem não é, que sorria, entre na roda e aprenda a sambar.

Peguei-o para bode expiatório, Ziraldo? Sim, sempre tem que ter algum. E, sem ódio, espero que você não queira que eu morra por te criticar. Como faziam os racistas nos tempos em quem ainda linchavam negros. Esses abusados que não mais se calam e apelam para a lei ao serem chamados de "macaco", "carvão", "fedorento", "ladrão", "vagabundo", "coisa", "burro", e que agora querem ser tratados como gente, no concerto dos povos. Esses que, ao denunciarem e quererem se livrar do que lhes dói, tantos problemas criam aqui, nesse país do futuro. Em uma matéria do Correio Braziliense você disse que* "Os americanos odeiam os negros, mas aqui nunca houve uma organização como a Ku Klux Klan. No Brasil, onde branco rico entra, preto rico também entra. Pelé nunca foi alvo de uma manifestação de ódio racial. O racismo brasileiro é de outra natureza. Nós somos afetuosos". *Se dependesse de Monteiro Lobato, o Brasil teria tido sua Ku-Klux-Klan, Ziraldo. Leia só o que ele disse em carta ao amigo Arthur Neiva, enviada de Nova Iorque em 1928, querendo macaquear os brancos norte-americanos: *"Diversos amigos me dizem: Por que não escreve suas impressões? E eu respondo: Porque é inútil e seria cair no ridículo. Escrever é aparecer no tablado de um circo muito mambembe, chamado imprensa, e exibir-se diante de uma assistência de moleques feeble-minded e despidos da menos noção de seriedade. Mulatada, em suma. País de mestiços onde o branco não tem força para organizar uma Kux-Klan é país perdido para altos destinos. André Siegfred resume numa frase as duas atitudes. "Nós defendemos o front da raça branca - diz o sul - e é graças a nós que os Estados Unidos não se tornaram um segundo Brasil". Um dia se fará justiça ao Kux-Klan; tivéssemos aí uma defesa dessa ordem, que mantém o negro no seu lugar, e estaríamos hoje livres da peste da imprensa carioca - mulatinho fazendo o jogo do galego, e sempre demolidor porque a mestiçagem do negro destroem (sic) a capacidade construtiva." *Fosse feita a vontade de Lobato, Ziraldo, talvez não tivéssemos a imprensa carioca, talvez não tivéssemos você. Mas temos, porque, como você também diz,* "o racismo brasileiro é de outra natureza. Nós somos afetuosos."*Como, para acabar com a polêmica, você nos ilustra com o desenho para o bloco quemerdense. Olho para o rosto sorridente da mulata nos braços de Monteiro Lobato e quase posso ouvi-la dizer: "Só dói quando eu rio".

Com pesar, e em retribuição ao seu afeto,


Ana Maria Gonçalves

Negra, escritora, autora de *Um defeito de cor*.

Se dependesse dos conservadores...


Se dependesse dos conservadores...


Se dependesse dos conservadores, o mundo ainda estaria preso ao passado — acorrentado por dogmas, preconceitos e privilégios seletivos. Nada de ciência, nada de igualdade, nada de diversidade. Se eles tivessem vencido todas as batalhas que travaram contra o progresso, veja só em que tipo de mundo estaríamos vivendo:

1. A Terra ainda seria o centro do universo.
Galileu teria sido silenciado para sempre e a Igreja ainda estaria ditando o que é ou não é verdade científica. A teoria da evolução de Darwin seria heresia, e escolas ensinariam que o mundo tem seis mil anos e foi feito em seis dias. O avanço científico estaria de joelhos diante da teologia.

2. Os negros ainda seriam escravizados.
Os conservadores se opuseram ferozmente à abolição da escravidão. A luta pela liberdade dos povos negros foi vencida apesar deles, não com a ajuda deles. E mesmo após a abolição, foram os conservadores que tentaram impedir cada passo rumo à igualdade racial: do voto à educação, do direito à moradia digna ao combate à violência policial.

3. As mulheres estariam caladas e em casa.
O direito ao voto feminino? Eles foram contra. Direito de estudar, trabalhar, usar anticoncepcionais, decidir sobre o próprio corpo? Contra também. Se dependesse dos conservadores, mulheres ainda seriam propriedade dos maridos, sem autonomia, sem voz, sem vez.

4. Pessoas LGBT+ estariam presas, “internadas” à força ou mortas.
Homossexualidade ainda seria crime. Travestis e pessoas trans seriam internadas compulsoriamente. Casamento igualitário jamais teria sido aprovado, e a adoção por casais homoafetivos seria considerada uma “aberração”. Eles tentaram (e tentam até hoje) barrar cada conquista LGBT+, sempre com os mesmos argumentos bíblicos reciclados e a mesma cara de pau moralista.

5. O Estado ainda seria teocrático.
A laicidade — essa base fundamental da democracia moderna — seria descartada em favor de um “Estado cristão”, com leis baseadas em interpretações religiosas ao gosto do freguês da vez. E a diversidade de crenças? Silenciada. Ateus, umbandistas, espíritas, judeus, muçulmanos? Marginalizados.

6. A liberdade de expressão seria privilégio dos iguais.
Conservadores têm dificuldade em lidar com vozes divergentes. Se dependesse deles, livros seriam censurados, artistas calados, professores vigiados e manifestações reprimidas. Eles chamam de “ideologia” tudo o que desafia seus dogmas — e de “ameaça” tudo que não entendem.

Felizmente, não dependeu — e não depende — só deles.
Foi a luta de mulheres, negros, pessoas LGBT+, cientistas, ativistas e sonhadores que empurrou o mundo pra frente. Cada conquista foi arrancada com suor, coragem e resistência. E cada direito garantido precisa ser defendido com firmeza — porque os conservadores seguem tentando voltar com tudo que já se foi.

Se dependesse deles, você não estaria lendo este texto. Eu não estaria escrevendo. E o Fora do Armário nem existiria.

Mas existimos. E resistimos.

Com orgulho. Com raiva quando precisa. E com memória — pra nunca esquecer quem tentou (e ainda tenta) nos calar.

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