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Você sonha em publicar seu livro? Cuidado!

Você sonha em publicar seu livro? Cuidado!




Sou um fervoroso incentivador da literatura LGBT, tanto em termos de produção como de consumo. Com isso, quero dizer que gosto de incentivar escritores e leitores. Preciso dizer que ambos coexistem em mim – amo escrever, mas amo ainda mais ler. Isso, porém, não pode nos distrair enquanto navegamos pelo mar de sonhos cujas correntes nos movem para um lado ou pra outro. Existem, sim, alguns perigosos icebergs submersos. Gostaria de enumerar alguns deles para dar uma ideia do que pretendo dizer:

1. Grandes editoras não costumam assumir os custos de produção e distribuição de livros escritos por novos autores. Você provavelmente enviará uma amostra do seu trabalho, mas ela não será sequer lida. A resposta, quando enviada, será padrão, dizendo que seu material não se enquadra na linha editorial daquela casa publicadora.

2. Pequenas editoras estarão dispostas a produzir seu trabalho. Todavia, a maioria delas produz, mas não distribui. Além disso, você terá que arcar com parte dos custos ou com todos os custos. Se a editora contratada não distribuir seu material pelas livrarias físicas, isso significará que seu livro ficará apenas no site da editora. A menos que você mesmo dê seu jeito para vendê-lo. E isso não é nada fácil.

3. Não se iluda com o ‘incentivo’ dos amigos. A maioria não vai comprar seu livro. Isso quer dizer que vender 100 livros será uma missão quase impossível. Se você imprimir 1.000 livros, prepare-se para ter um elefante branco dentro de casa pelos próximos cinco anos. Acredite-me, estou sendo otimista nessa estimativa.

4. Você dificilmente ganhará dinheiro que compense o trabalho. Um livro de 30 reais geralmente não dá lucro maior que três ou quatro reais, no final das contas. Pense nos custos:

a) Editora

b) Envelopes

c) Plásticos

d) Correios

e) Custos com as lojas online (sempre tem comissão)

f) Se ficar no site da editora, ela só repassará um pequeno percentual.

g) Propaganda pode custar muito dinheiro. Só compartilhar com amigos no Facebook não basta. A maioria não dá nem ‘curtir’. Novo compartilhamento, então, é raríssimo.

h) Eventos (custos com livraria, transporte, alimentação para aguentar tanto tempo fora de casa, etc.) 


i) Sem contar todo o tempo que isso leva. Se você tem que trabalhar em outra coisa para sobreviver, poderá não dar conta de ambas as coisas.


j) Para um autor ganhar muito dinheiro com um percentual de 3 reais por livro, ele tem que vender dezenas de milhares de livros. Não conheço um autor LGBT que tenha conseguido tal façanha, infelizmente.

5. Se seu livro tiver erros ortográficos ou defeitos na diagramação, mesmo com uma capa fantástica, a maioria dos compradores ficará insatisfeita e não fará propaganda positiva. Se lançar um segundo livro, provavelmente não esse público não comprará de novo.


Por essas e outras razões, só publique se a escrita for uma paixão ou tiver um propósito para além do ganho financeiro e se você realmente tiver uma boa história. Lembre-se que os pouquíssimos escritores que enriqueceram com suas publicações não eram apenas excelentes escritores – alguns, na verdade, nunca foram e nem serão. Eles geralmente tinham outros motivos, tais como acesso a pessoas e a ambientes que a maioria de nós, pobres mortais, jamais teremos.

Além disso, o mercado editorial está cada vez mais dominado por grandes corporações que fabricam celebridades e best-sellers por meio de estratégias que envolvem muito dinheiro. Vou dar apenas um exemplo. Lembre-se que essa é só a ponta do iceberg. A estrutura é muito maior do que a ponta avistada. Veja:

Para que um livro esteja na prateleira de uma livraria qualquer da sua cidade, a editora precisa desembolsar alguns milhares de reais. Para constar no catálogo daquela livraria famosa, idem. Por isso é que você não vê literatura produzida por autores LGBT, mesmo que sejam bons textos - eles não têm“bala na agulha” ($$$).

Recado ao leitor: Quando você comprar um livro LGBT não se iluda pensando que sua compra está pagando as contas do autor. Se quiser mesmo ajudar o autor a vender o que já publicou, quando gostar do texto, divulgue o livro, o autor e o link para compra. Eu mesmo tenho feito isso, não apenas com meus livros, mas também com as obras de vários escritores, sejam amigos pessoais ou não, porque isso não custa um centavo e pode fazer bem a muita gente.

Recado ao autor: Não se endivide para publicar. Você continuará endividado e ainda poderá descobrir que muito do “incentivo” dos amigos era só fogo de palha. Isso não significa que deva deixar de escrever. Publicando ou não, um bom texto fará bem primeiro a quem escreve, mesmo que ninguém mais o leia. 


Por último, eu gostaria de chamar a atenção de todos para o fato de que o brasileiro lê, em média, quatro livros por ano, sendo que só chegam ao fim de 2,1 livros. A média é péssima, mas piora. A maioria desses leitores lê apenas a Bíblia, livros religiosos em geral e livros didáticos. Outros leem romances, contos, crônicas, etc. Agora, imaginem quantos leitores brasileiros realmente 'consomem' livros com temática LGBT. 

A maioria das pessoas LGBT ou apenas simpatizantes da cultura LGBT nunca leu um livro com essa temática sequer. Felizmente, outras leem vorazmente, como é o meu caso e de alguns dos meus amigos, mas isso não garante que essa ou aquela obra será best-seller, infelizmente, porque são raridade.

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