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Jean Wyllys fala sobre a repercussão da decisão do STF

Deputado Jean Wyllys


Em entrevista ao R7, o deputado Jean Wyllys explicou a importância da decisão do Supremo, falou de suas expectativas sobre a votação de leis sobre o assunto e listou o que deve mudar na vida dos casais homossexuais a partir de agora. Jean afirmou que, apesar do momento histórico, ainda há muito o que conquistar em benefício dos homossexuais.
- Os direitos não são concedidos, os direitos são conquistados. A conquista desse direito foi uma batalha muito grande do movimento. Não é um direito ainda, a gente conquistou uma jurisprudência, uma decisão do Supremo que vai valer para todo mundo que acessar o Judiciário. O direito vai ser quando a gente conseguir alterar a Constituição. E o direito só pode ser garantido pelo Legislativo. Estou aí para essa batalha.

Leia a íntegra da entrevista com o deputado:

R7 – Como a decisão do Supremo influencia na aprovação das leis, no Congresso, que beneficiam os homossexuais?


Jean Wyllys – Essa decisão tem um impacto enorme no Congresso. Além de ser uma decisão muito boa para a comunidade LGBT e para todos aqueles que pretendem pleitear no Judiciário a união estável, é uma vitoria, um momento histórico. [A decisão do STF] tem um impacto enorme no Congresso no sentido de, primeiro, mostrar que dos Três Poderes, o Legislativo é o que está atrás no sentido de estender a cidadania ao conjunto da população, de garantir cidadania plena. Enquanto o Executivo, através de políticas públicas, e o Judiciário, a partir dessa decisão, fazem isso, o Legislativo fica atrás. Segundo, dá um gás na luta pela PEC [Proposta de Emenda à Constituição] que estou propondo, a PEC do casamento civil. A gente está em um processo de recolhimento de assinaturas. Essa decisão do Supremo estimula alguns deputados [a assinarem a proposta de PEC]. Os argumentos que [os ministros do STF] deram, talvez iluminem as mentes de alguns deputados que ainda estavam com receio de assinar a PEC.

R7 – Existe alguma previsão para votar a sua proposta de emenda à Constituição?

Jean Wyllys – Não posso dar uma previsão. Mas posso dizer que estou em uma batalha árdua, conquistando assinatura por assinatura, de maneira bem pedagógica. Os deputados que têm alguma dúvida me perguntam se a PEC fala em casamento religioso. Eu explico que não, que não queremos o casamento religioso, que o que a gente quer é o direito ao casamento civil. Aquele que é dissolvido pelo divórcio. Acho que, desta maneira, vou conquistar o número necessário de assinaturas e acho que ainda nessa legislatura a gente consiga votar. Se não, fica para uma próxima, mas a batalha é para que ainda nessa legislatura a gente consiga votar.

R7 – Como a frente parlamentar vai atuar, a partir de agora, para aprovar as leis que estão paradas?

Jean Wyllys – A partir dessa decisão do Supremo, vamos montar uma estratégia para defender a PEC do casamento civil na Câmara e no Senado. A frente existe para propor leis, para propor projetos de lei que garantam, que estendam as cidadanias ao gays. A frente pode se articular para barrar projetos que tentam impedir essa cidadania, que existem muitos [projetos no Congresso] tramitando.

R7 – Recentemente tivemos vários casos de violência contra homossexuais. O senhor teme que, por causa do posicionamento favorável à união estável entre pessoas do mesmo sexo, haja mais preconceito e violência?

Jean Wyllys
- Esses últimos episódios em que ficou evidente um certo recrudescimento da homofobia ou manifestações homofóbicas mais violentas, são a contrapartida da própria conquista de visibilidade da LGBT. Na medida em que os LGBT conquistam visibilidade, espaço de representação, inclusive de representação política, vide a minha presença no Congresso, é óbvio que os setores mais conservadores da sociedade vão reagir de maneira mais violenta. Além da decisão do Supremo, se a gente conseguir aprovar a PEC, isso tem um impacto enorme na vida das pessoas, nas relações. Alguma discriminação social sempre vai haver. [...] Porém, o que não pode haver em hipótese alguma, é a discriminação no acesso a direitos. Isso não pode existir. Toda briga do movimento LGBT brasileiro e a minha batalha no Congresso, que sou um cara que defende os direitos humanos, é exatamente para deixar isso claro. Nós temos que salvaguardar a diversidade cultural da sociedade brasileira, mas não podemos permitir desigualdade nos direitos.

R7 – E qual é o impacto que a decisão sobre a união estável vai ter na vida dos casais homossexuais?

Jean Wyllys – O acesso ao casamento civil, estender o casamento civil aos homossexuais, é promover a igualdade no acesso ao direito. Isso terá um impacto enorme nas relações sociais. Se você garante o casamento civil, automaticamente o estatuto da família vai ter que mudar, o Código Civil vai ter que mudar. As relações conjugais homossexuais passam a ser tratadas como entidade familiar, o direito à adoção é conquistado automaticamente. Os filhos dessas adoções vão poder frequentar as mesmas escolas, vão ser protegidos pelo Estado da mesma maneira. Isso cria um espaço de convivência e de tolerância, que vai criar uma sociedade muito mais solidária e respeitosa com as diferenças.

Fonte: http://noticias.r7.com/brasil/noticias/jean-wyllys-diz-que-decisao-do-stf-reforca-luta-para-que-casamento-gay-vire-lei-20110508.html?question=0

Entrevista com Jean Wyllys na Carta Capital

A trincheira de Jean Wyllys


Jean Wyllys


Leandro Fortes
20 de abril de 2011 às 18:10h


Na Câmara dos Deputados, Jean Wyllys, 36 anos, baiano de Alagoinhas, tornou-se a cara da luta contra a homofobia no Brasil, justamente num momento em que se discute até a criminalização do bullying. Por Leandro Fortes. Foto: Agência Câmara

Jean Wyllys de Matos Santos é um sujeito tranquilo, bem humorado, que defende idéias sem alterar a voz, as mais complexas, as mais simples, baiano, enfim. Ri, como todos os baianos, da pecha da preguiça, como assim nomeiam os sulistas um sentimento que lhes é desconhecido: a ausência de angústia. Homossexual assumido, Jean cerra fileiras no pequeno e combativo PSOL, a única trincheira radical efetivamente ativa na política brasileira. E é justamente no Congresso Nacional que o deputado Jean Wyllys, eleito pelos cidadãos fluminenses, tem se movimentado numa briga dura de direitos civis, a luta contra a homofobia.

Cerca de 200 homossexuais são assassinados no Brasil, anualmente, exclusivamente por serem gays. Entre eles, muitos adolescentes.

Mas o Brasil tem pavor de discutir esse assunto, inclusive no Congresso, onde o discurso machista une sindicalistas a ruralistas, em maior ou menor grau, mas, sobretudo, tem como aliado as bancadas religiosas, unidas em uma cruzada evangélica. Os neopentecostais, como se sabe, acreditam na cura da homossexualidade, uma espécie de praga do demônio capaz de ser extirpada como a um tumor maligno. O mais incrível, no entanto, não é o medievalismo dessa posição, mas o fato de ela conseguir interditar no Parlamento não só a discussão sobre a criminalização da homofobia, mas também o direito ao aborto e a legalização das drogas. Em nome de uma religiosidade tacanha, condenam à morte milhares de brasileiros pobres e, de quebra, mobilizam em torno de si e de suas lideranças o que há de mais lamentável no esgoto da política nacional.

Jean Wyllys se nega a ser refém dessa gente e, por isso mesmo, é odiado por ela. Contra ele, costumam lembrar-lhe a participação no Big Brother Brasil, o inefável programa de massa da TV Globo, onde a debilidade humana, sobretudo a de caráter intelectual, é vendida como entretenimento. Jean venceu uma das edições do BBB, onde foi aceito por ser um homossexual discreto, credenciado, portanto, para plantar a polêmica, mas não de forma a torná-la um escândalo. Dono de um discurso política bem articulado, militante da causa gay e intelectualmente superior a seus pares, não só venceu o programa como ganhou visibilidade nacional. De repórter da Tribuna da Bahia, em Salvador, virou redator do programa Mais Você, de Ana Maria Braga, mas logo percebeu que isso não era, exatamente, uma elevação de status profissional.

Na Câmara dos Deputados, Jean Wyllys, 36 anos, baiano de Alagoinhas, tornou-se a cara da luta contra a homofobia no Brasil, justamente num momento em que se discute até a criminalização do bullying. Como se, nas escolas brasileiras, não fossem os jovens homossexuais o alvo principal das piores e mais violentas “brincadeiras” perpetradas por aprendizes de brucutus alegremente estimulados pelo senso comum. Esses mesmos brucutus que, hoje, ligam para o gabinete do deputado do PSOL para ameaçá-lo de morte.

Abaixo, a íntegra de uma carta escrita por Jean ao Jornal do Brasil, por quem foi acusado, por um colunista do JB Wiki (seja lá o que isso signifique), de “censurar cristãos”. O texto é uma pequena aula de civilidade e História. Vale à pena lê-lo:

Em primeiro lugar, quero lembrar que nós vivemos em um Estado Democrático de Direito e laico. Para quem não sabe o que isso quer dizer, “Estado laico”, esclareço: O Estado, além de separado da Igreja (de qualquer igreja), não tem paixão religiosa, não se pauta nem deve se pautar por dogmas religiosos nem por interpretações fundamentalistas de textos religiosos (quaisquer textos religiosos). Num Estado Laico e Democrático de Direito, a lei maior é a Constituição Federal (e não a Bíblia, ou o Corão, ou a Torá).

Logo, eu, como representante eleito deste Estado Laico e Democrático de Direito, não me pauto pelo que diz A Carta de Paulo aos Romanos, mas sim pela Carta Magna, ou seja, pelo que está na Constituição Federal. E esta deixa claro, já no Artigo 1º, que um dos fundamentos da República Federativa do Brasil é a dignidade da pessoa humana e em seu artigo 3º coloca como objetivos fundamentais a construção de uma sociedade livre, justa e solidária e a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. A república Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos princípios da prevalência dos Direitos Humanos e repúdio ao terrorismo e ao racismo.

Sendo a defesa da Dignidade Humana um princípio soberano da Constituição Federal e norte de todo ordenamento jurídico Brasileiro, ela deve ser tutelada pelo Estado e servir de limite à liberdade de expressão. Ou seja, o limite da liberdade de expressão de quem quer que seja é a dignidade da pessoa humana do outro. O que fanáticos e fundamentalistas religiosos mais têm feito nos últimos anos é violar a dignidade humana de homossexuais.

Seus discursos de ódio têm servido de pano de fundo para brutais assassinatos de homossexuais, numa proporção assustadora de 200 por ano, segundo dados levantados pelo Grupo Gay da Bahia e da Anistia Internacional. Incitar o ódio contra os homossexuais faz, do incitador, um cúmplice dos brutais assassinatos de gays e lésbicas, como o que ocorreu recentemente em Goiânia, em que a adolescente Adriele Camacho de Almeida, 16 anos, que, segundo a mídia, foi brutalmente assassinada por parentes de sua namorada pelo fato de ser lésbica. Ou como o que ocorreu no Rio de Janeiro, em que o adolescente Alexandre Ivo, que foi enforcado, torturado e morto aos 14 anos por ser afeminado.

O PLC 122 , apesar de toda campanha para deturpá-lo junto à opinião pública, é um projeto que busca assegurar para os homossexuais os direitos à dignidade humana e à vida. O PLC 122 não atenta contra a liberdade de expressão de quem quer que seja, apenas assegura a dignidade da pessoa humana de homossexuais, o que necessariamente põe limite aos abusos de liberdade de expressão que fanáticos e fundamentalistas vêm praticando em sua cruzada contra LGBTs.

Assim como o trecho da Carta de Paulo aos Romanos que diz que o “homossexualismo é uma aberração” [sic] são os trechos da Bíblia em apologia à escravidão e à venda de pessoas (Levítico 25:44-46 – “E, quanto a teu escravo ou a tua escrava que tiveres, serão das gentes que estão ao redor de vós; deles comprareis escravos e escravas…”), e apedrejamento de mulheres adúlteras (Levítico 20:27 – “O homem ou mulher que consultar os mortos ou for feiticeiro, certamente será morto. Serão apedrejados, e o seu sangue será sobre eles…”) e violência em geral (Deuteronômio 20:13:14 – “E o SENHOR, teu Deus, a dará na tua mão; e todo varão que houver nela passarás ao fio da espada, salvo as mulheres, e as crianças, e os animais; e tudo o que houver na cidade, todo o seu despojo, tomarás para ti; e comerás o despojo dos teus inimigos, que te deu o SENHOR, teu Deus…”).

A leitura da Bíblia deve ensejar uma religiosidade sadia e tolerante, livre de fundamentalismos. Ou seja, se não pratica a escravidão e o assassinato de adúlteras como recomenda a Bíblia, então não tem por que perseguir e ofender os homossexuais só por que há nela um trecho que os fundamentalistas interpretam como aval para sua homofobia odiosa.

Não declarei guerra aos cristãos. Declarei meu amor à vida dos injustiçados e oprimidos e ao outro. Se essa postura é interpretada como declaração de guerra aos cristãos, eu já não sei mais o que é o cristianismo. O cristianismo no qual fui formado – e do qual minha mãe, irmãos e muitos amigos fazem parte – valoriza a vida humana, prega o respeito aos diferentes e se dedica à proteção dos fracos e oprimidos. “Eu vim para que TODOS tenham vida; que TODOS tenham vida plenamente”, disse Jesus de Nazaré.

Não, eu não persigo cristãos. Essa é a injúria mais odiosa que se pode fazer em relação à minha atuação parlamentar. Mas os fundamentalistas e fanáticos cristãos vêm perseguindo sistematicamente os adeptos da Umbanda e do Candomblé, inclusive com invasões de terreiros e violências físicas contra lalorixás e babalorixás como denunciaram várias matérias de jornais: é o caso do ataque, por quatro integrantes de uma igreja evangélica, a um centro de Umbanda no Catete, no Rio de Janeiro; ou o de Bernadete Souza Ferreira dos Santos, Ialorixá e líder comunitária, que foi alvo de tortura, em Ilhéus, ao ser arrastada pelo cabelo e colocada em cima de um formigueiro por policiais evangélicos que pretendiam “exorcizá-la” do “demônio”.

O que se tem a dizer? Ou será que a liberdade de crença é um direito só dos cristãos?

Talvez não se saiba, mas quem garantiu, na Constituição Federal, o direito à liberdade de crença foi um ateu Obá de Xangô do Ilê Axé Opô Aforjá, Jorge Amado. Entretanto, fundamentalistas cristãos querem fazer uso dessa liberdade para perseguir religiões minoritárias e ateus.

Repito: eu não declarei guerra aos cristãos. Coloco-me contra o fanatismo e o fundamentalismo religioso – fanatismo que está presente inclusive na carta deixada pelo assassino das 13 crianças em Realengo, no Rio de Janeiro.

Reitero que não vou deixar que inimigos do Estado Democrático de Direito tente destruir minha imagem com injúrias como as que fazem parte da matéria enviada para o Jornal do Brasil. Trata-se de uma ação orquestrada para me impedir de contribuir para uma sociedade justa e solidária. Reitero que injúria e difamação são crimes previstos no Código Penal. Eu declaro amor à vida, ao bem de todos sem preconceito de cor, raça, sexo, idade e quaisquer outras formas de preconceito. Essa é a minha missão.

Jean Wyllys (Deputado Federal pelo PSOL Rio de Janeiro)


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Leandro Fortes

Leandro Fortes é jornalista, professor e escritor, autor dos livros Jornalismo Investigativo, Cayman: o dossiê do medo e Fragmentos da Grande Guerra, entre outros. Mantém um blog chamado Brasília eu Vi. 
https://brasiliaeuvi.wordpress.com/

JEAN WYLLYS fala a revista QUEM sobre as ameaças de morte que recebeu pela internet

Marcha contra a homofobia em São Paulo


Jean Wyllys: “A injúria nunca desaparece na vida de um homossexual”

Deputado federal fala a QUEM sobre as ameaças de morte que recebeu pela internet


Por Carla Passi


O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) relatou à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados ter sofrido ameaças de morte por meio de sua página no Twitter e de seu blog na internet. A denúncia foi feita na reunião da comissão na quarta-feira (23).

Em entrevista a QUEM, nesta quinta-feira (24), de seu gabinete em Brasília, Jean afirmou que as agressões, feitas entre sexta-feira (18) e sábado (19), tinham conteúdo homofóbico e são de autoria de grupos de extremistas religiosos. Nos próximos dias ele apresentará um dossiê à polícia.

“Quanto mais público torno isso, mais protegido estarei. As pessoas de bem da sociedade têm que tomar partido. Não vou deixar de caminhar em Copacabana, ir à padaria comprar meu pão”, disse ele.

A principal plataforma do jornalista, gay assumido, que participou da quinta edição do “Big Brother Brasil”, é uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que autoriza o casamento civil entre homossexuais.

O deputado anunciou, em primeira mão, que essa causa será reforçada por uma campanha com artistas, que deverá começar em meados de abril. Jean também é parte da Frente Parlamentar Mista pela Cidadania GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgênero), que será lançada na Câmara na terça-feira (29).


QUEM: Qual era o conteúdo dessas injúrias?

JW: Uma dizia: ‘Aviso que não saia de casa, porque você pode não voltar’. No sábado (19), recebi outra ameaça, pelo meu site: ‘Não vou lhe matar, não preciso, porque todo viado nojento morre de AIDS’. Outras usavam o nome de Deus. Eram injúrias muito violentas, odiosas e constrangedoras, calcadas na homofobia.


QUEM: Como reagiu?

JW: Levei um baque e respondi de imediato no Twitter: ‘Fanáticos religiosos estão me ameaçando de morte. Qualquer coisa que aconteça comigo, direta ou diretamente, as pessoas serão responsabilizadas e principalmente os mentores dessas pessoas’. Daí, me bloquearam e não pude mais responder àqueles perfis. Um quarto perfil escreveu: ‘Se esse país se respeitasse, sua cabeça e de seus iguais estariam penduradas no poste’. Intensificaram-se os ataques violentos a mim em blogs de líderes religiosos fanáticos. Começou uma campanha para me transformar em inimigo da comunidade cristã e não em inimigo da intolerância, como sempre fui.


QUEM: Tomou algum cuidado no seu dia a dia, passou a andar com seguranças particulares?


JW: Não pedi seguranças e nem pedirei. Isso mostraria que estou intimidado. Decidi trazer isso a público porque quero deixar claro que há um movimento para me silenciar, me neutralizar aqui dentro (na Câmara). Há uma ação orquestrada de líderes religiosos para me silenciar.


QUEM: Está com medo?

JW: Ler essas agressões dá uma dor profunda. Dói pensar que alguém nutre ódio por você. E ainda mais em nome de um Deus que deveria ser um Deus de amor. Essas agressões têm efeito amedrontador, mas me fortalecem. Não vou dar uma de durão. Isso me dói e num primeiro momento me desestabiliza, mas reacende a chama dentro de mim de que estou no caminho certo.


QUEM: Como sua família reagiu?


JW: Minha mãe e meu irmão ficaram muito assustados, pois leram sobre as ameaças na internet. Eles me ligaram imediatamente. Eu pedi para que não se preocupassem, pois nada vai acontecer.


QUEM: O que te dá essa certeza, Jean?

JW: Nada. Mas tenho certeza de que quanto mais público torno isso, mais protegido estarei. As pessoas de bem da sociedade têm que tomar partido. Não vou deixar de caminhar em Copacabana, ir à padaria comprar meu pão.


QUEM: Já procurou a polícia?

JW: Estamos preparando um dossiê, imprimindo todos os ataques. Vou encaminhar uma cópia a Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) (presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara) para que ela leve ao Presidente da Câmara (Marco Maia PT-RS). Nos próximos dias, vou encaminhar à delegacia de crimes virtuais.


QUEM: Antes de virar deputado, você já havia sofrido tamanha demonstração de homofobia?

JW: A homofobia é algo que acompanha o gay desde muito cedo. A primeira vez que sofri uma injúria foi aos 6 anos. Morava na periferia de Alagoinhas, na Bahia. Minha mãe me deu dinheiro para que eu comprasse pão na venda. Estendi a mão sobre o balcão e pedi seis pães. Falei com a concordância correta e o homem me perguntou: ‘Você é viado ou estudado?’. Todos riram e fiquei muito constrangido, voltei para casa tremendo. Foi a primeira vez que ouvi palavra ‘viado’ e percebi pelas risadas que ‘viado’ era algo que eu não deveria ser, que não era certo. Aos 12 anos, ainda em Alagoinhas, estava indo vender algodão doce e um cara me deu um murro. Eu sempre tive esse jeito, era um menino delicado. Fui conquistando meu espaço à custa de muita informação. A injúria é um horizonte que nunca desaparece na vida de um homossexual. Fico feliz de a novela das 8 (“Insensato Coração”) colocar a homofobia como marketing social.


QUEM: Como está articulando a aprovação do casamento civil entre homossexuais?

JW: Convidei as duas deputadas que conseguiram a aprovação do projeto de lei na Argentina que garantiu o casamento civil e também o vereador Pedro Zerolo, da Espanha, para uma grande campanha que meu gabinete está articulando. Está rolando em paralelo ao meu PEC um movimento da sociedade civil para uma campanha de artistas favoráveis ao casamento civil homossexual. Convidamos grandes artistas – homo e heterossexuais – para se juntar à causa, pois isso funcionou muito bem na Argentina. Wagner Moura já se colocou à disposição. Quero convidar Adriana Calcanhotto e Susana Moraes, pois as admiro, embora respeite a discrição delas. Chamarei também os casais André Piva e Carlos Tufvesson e Bruno Chateaubriand e André Ramos. Tem gente do primeiro time da Globo. Quando levantarmos fundos, vamos gravar uma campanha de TV, internet e fazer camisetas. Vamos soltar isso em meados de abril.

Nota Oficial da ABGLT em solidariedade ao Deputado Federal Jean Wyllys

Deputado Jean Wyllys



A ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, em nome de suas 237 organizações afiliadas, vem a público se solidarizar com o Deputado Federal Jean Wyllys, que no dia 18 de março recebeu três ameaças de morte em seu Twitter.

É lamentável que uma pessoa seja ameaçada de morte – ainda em nome de deus – porque defende a igualdade de direitos da população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT).

Vimos em uma democracia regida por uma constituição. Não vivemos em uma teocracia regida por um livro sagrado. Uma democracia é por definição um sistema em que todos e todas têm direitos e deveres, incluindo o direito à vida e o dever de não praticar crimes, entre muitos outros.

O Deputado Jean Wyllys está apenas procurando fazer cumprir os artigos 3º e 5º da constituição, que estabelecem, respectivamente , que não haverá discriminação, e que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Pois a população LGBT sofre discriminação – comprovada através de diversos estudos científicos conduzidos por instituições de renome – e ainda não goza plenamente da igualdade perante a lei em vários quesitos, entre eles o reconhecimento da união estável entre casais do mesmo sexo.

A ABGLT pede que as autoridades competentes investiguem o caso, identifiquem e apliquem as penas apropriadas aos autores desses atos covardes.

A ABGLT solicita ao Deputado Federal Jean Wyllys não se deixe ser intimidado pelas ameaças e que siga dando um belo exemplo de um parlamentar a serviço de seu eleitorado, cumprindo seu mandato com ética e conforme os princípios constitucionais.


21 de março de 2011

ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais

Deputado Jean Wyllys: Primeiro Pronunciamento na Câmara

DISCURSO HISTÓRICO!

O primeiro feito por um parlamentar 
assumidamente gay ressaltando a
importância do respeito à diversidade sexual
no horizonte da produção legistativa.


Primeiro deputado assumidamente gay na Câmara dos Deputados, 
Jean Wyllys faz um  discurso incisivo e emocionante com todas as suas cores.





Transcrição do discurso do deputado Jean Wyllys:


Nota: Descato em negrito os momentos em que ele se referiu
 diretamente à diversidade sexual e de gênero.


Senhor Presidente, senhoras deputadas, senhores deputados, brasileiros e brasileiras que assistem à TV Câmara,

Em especial, dirijo-me aos generosos eleitores do Rio de Janeiro que me trouxeram até aqui, que me deram seu voto de confiança. Ciente de que hoje seria minha estreia neste Parlamento, ontem, enquanto preparava este breve discurso, rememorei minha vida até aqui como se fosse um filme.

Muitos de vocês sabem que a injúria, os xingamentos, as piadas infames, o escárnio entre dentes, a fofoca e as violências físicas contra os homossexuais provocam, quase sempre, danos irreparáveis à subjetividade, à alma da pessoa. Agora, imaginem essa injúria combinada à pobreza extrema em que minha família e eu vivíamos na periferia de Alagoinhas, interior da Bahia, onde sequer havia água e sanitário nas casas de aluguel em que morávamos.

Não bastasse a miséria – e talvez mesmo por conta dela – meu pai enfrentava problemas com alcoolismo e, por isso, não conseguia se manter nos subempregos que, vez ou outra, lhe permitiam trazer comida para casa. Minha mãe trabalhava como lavadeira para não nos deixar morrer de fome. Para ajudá-la nessa tarefa nobre, aos 10 anos de idade, entrei no mercado de trabalho informal: trabalhava em um turno e estudava no outro.

Aos sábados e domingos, eu e meus irmãos nos dedicávamos às atividades do Centro Comunitário da Baixa da Candeia. Diante das dificuldades, minha mãe queria que abandonássemos a escola para nos dedicarmos mais ao trabalho. Para ela, era importante que fôssemos honestos e respeitássemos o que era dos outros, mas estudar não lhe parecia essencial – em sua cabeça, dedicação aos estudos era coisa de gente rica.

Acontece que eu sempre gostei de aprender e de ler. Sempre gostei da escola e, para lá, eu ia mesmo nos dias em que não havia absolutamente nada para comer em casa. Aos sábados e domingos, passava horas na biblioteca da casa paroquial lendo livros – livros que me deram valores humanistas e uma preocupação com o outro, típicos do cristianismo.

Sim, porque se, por um lado, o cristianismo fundamentalista que vigora no Congresso Nacional e sua ameaça ao Estado laico e democrático de direito nos apavoram, por outro, é inegável que foi o cristianismo livre de fundamentalismo que nos trouxe essa ideia de que o que torna um homem virtuoso são seus atos. Ou seja, para o verdadeiro cristianismo, um ser humano é virtuoso quando age em favor do bem comum.

Mas voltando aos livros: foram eles que me levaram ao movimento pastoral da Igreja Católica. Engajei-me na Pastoral da Juventude Estudantil, na Pastoral da Juventude do Meio Popular e no trabalho das Comunidades Eclesiais de Base. A família de meu pai sempre foi ligada ao candomblé, mas só me aproximei e me aprofundei nessa religião de matriz africana depois dos 20 anos, já homem feito.

A leitura me fez ver a televisão com outros olhos – televisão que só chegou à minha casa quando eu tinha 11 anos. Os livros me fizeram escapar dos destinos imperfeitos aos quais ainda estão condenados as meninas e meninos dos bolsões de pobreza deste país.

Formei-me em informática no ensino médio, em uma instituição de excelência voltada para alunos de escolas públicas do Nordeste que estivessem acima da média – a Fundação José Carvalho. Entrei no mercado formal de trabalho bem remunerado. No mesmo ano, prestei vestibular para jornalismo na Universidade Federal da Bahia, onde me formei. Trabalhei anos como jornalista e, depois do mestrado, passei a me dedicar mais ao ensino superior.

Deixei os anos de miséria para trás. Fiz a tal da mobilidade social sem contar com ajuda financeira dos meus pais, que, ao contrário, dependiam de mim – nem com apadrinhamentos de qualquer tipo. Eu, que poderia ter morrido de fome ou por falta de serviço público de saúde, que poderia ter sucumbido a uma bala de revólver da polícia ou dos bandidos, ou mesmo à homofobia que vigora nas comunidades, transformei a minha vida e a de minha família para melhor.

E poderia me contentar com isso e apenas olhar para a frente. Mas… e os que ficaram para trás?

Aqueles que, abandonados pelo Estado à própria sorte, não tiveram força de vontade para resistir e sobreviver à miséria? E aqueles que ficariam para trás, fadados a morrer vítimas das guerras entre quadrilhas ou nas mãos da polícia corrupta, como aconteceu a muitos dos meus colegas da Baixa da Candeia?

E aquelas crianças homossexuais que não sobreviveriam ao ambiente de hostilidade homofóbica?

Como é possível viver contente se seus semelhantes ainda são vítimas de injustiças? Pode haver gente egoísta no mundo, mas eu não faço parte dela. De verdade.

Ter uma vida confortável, relativamente segura, e trabalhar por meio da educação superior, do jornalismo e dos movimentos sociais pelos direitos humanos não me impediu de reconhecer que isto é pouco. Sei que posso fazer muito mais para melhorar a vida dos outros. E que esse "muito mais" passa, necessariamente, pela política institucional.

Por isso, depois de alguma relutância, decidi aceitar o convite da combativa Eloí Helena, então presidente do PSOL, para me candidatar a deputado federal pelo Rio de Janeiro – estado que me acolheu de braços e coração abertos há seis anos.

Durante a campanha eleitoral – feita com pouquíssimo dinheiro, por meio das redes sociais e de comícios domiciliares, de modo ecologicamente correto, sem o uso de placas, cartazes ou adesivos –, eu disse que o norte do meu mandato seria a promoção da justiça social e a defesa dos direitos humanos.

Isso inclui a defesa dos direitos das mulheres, das crianças e adolescentes, especialmente daqueles em situação de risco social, dos idosos, dos negros e dos adeptos das religiões de matriz africana. E, principalmente, a defesa dos direitos e liberdades civis de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, que veem em mim seu primeiro representante legítimo no Congresso Nacional.

Sou o primeiro homossexual assumido, sem homofobia internalizada e ligado ao movimento LGBT, a se eleger deputado federal.

E esse será o norte do meu mandato.

Mas quero deixar claro que não se trata de um discurso romântico ou abstrato sobre justiça social e direitos humanos. Vou me dedicar a enfrentar o que considero as principais fontes de injustiça social e de violações de direitos humanos no Brasil:

A ausência de recursos suficientes para as áreas sociais;

A elevada tributação indireta e demais distorções do modelo tributário, que retiram recursos das camadas mais pobres e garantem privilégios aos mais ricos;

O crescente problema do endividamento público, cuja auditoria, prevista na Constituição de 1988, nunca foi realizada.

Por isso, escolhi integrar, aqui na Câmara, a Comissão de Finanças e Tributação, além de ocupar uma vaga de suplente na Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Estou certo de que a injustiça fiscal aprofunda a injustiça social e aniquila a garantia dos direitos humanos.

Quero fazer desta legislatura uma de justiça social, defesa das liberdades civis e dos direitos humanos.

Devo isso ao povo brasileiro.

Devo isso à minha mãe – mãe coragem.

Muito obrigado!

Jean Wyllys fala à revista Época sobre a Frente GLBT

Foto: Internet




ÉPOCA | BRASIL

19/02/2011


Jean Wyllys: "O movimento GLBT chegou"

O deputado estreante pretende propor o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, uma evolução da união civil


Por Ana Aranha


ÉPOCA - Qual é a pauta da Frente GLBT?

Jean Wyllys
- A defesa do projeto Escola Sem Homofobia. Também vou protocolar o projeto do casamento civil (entre pessoas do mesmo sexo). Não é "casamento gay". Isso provoca equívoco quanto à noção do sacramento. O Estado é laico, e o casamento é um direito civil. Se os homossexuais têm todos os deveres civis, então têm de ter todos os direitos. E tem o projeto que criminaliza a homofobia, desarquivado pela senadora Marta Suplicy, parte da Frente no Senado.


ÉPOCA - Como é a reação a suas ideias?

Wyllys - Meu Facebook foi tirado do ar em uma ação orquestrada. É natural que minha presença na Câmara provoque uma reação. O movimento GLBT chegou ao Congresso.


ÉPOCA - Como vê a reação contra o programa que combate a homofobia na escola?

Wyllys - É uma ignorância que persiste por má-fé. O material não ameaça os valores cristãos. Pelo contrário, ele assegura algo que é valoroso para os verdadeiros cristãos: o valor da vida e o respeito ao outro. Quem fala o contrário, fala por má-fé, porque não quer ver seus espaços de poder ameaçados.


ÉPOCA - O deputado Bolsonaro diz que o material incentiva a homossexualidade.


Wyllys - Bolsonaro é a caricatura de um deputado nostálgico de tempos sombrios de ditadura e repressão às liberdades. Às vezes penso que nem ele acredita no que diz. É mais para produzir um efeito midiático e despertar o que há de pior nas pessoas para ter ganho eleitoral. Ele faz uso da ignorância popular e dos preconceitos que são reproduzidos e dos quais as pessoas não se livram exatamente porque não há um projeto sério que radicalize na defesa dos direitos humanos no país.

🏳️‍🌈 Jean Wyllys é eleito deputado federal e faz história no Congresso Nacional



🏳️‍🌈 Jean Wyllys é eleito deputado federal e faz história no Congresso Nacional


Outubro de 2010 — O Brasil acaba de dar um passo histórico em direção à diversidade e aos direitos humanos: Jean Wyllys (PSOL-RJ) foi eleito deputado federal, tornando-se o primeiro parlamentar abertamente gay a conquistar uma vaga na Câmara dos Deputados com uma campanha centrada na defesa dos direitos da população LGBTQ+.

Ex-professor universitário, escritor e conhecido nacionalmente por sua participação no reality show Big Brother Brasil, Jean usou sua visibilidade para construir uma candidatura corajosa e comprometida com causas sociais. Com pouco tempo de TV, recursos escassos e enfrentando ataques homofóbicos, sua eleição representa uma vitória simbólica contra o conservadorismo e uma esperança de maior representatividade política para a comunidade LGBTQ+.

Durante a campanha, Jean defendeu abertamente pautas como o casamento civil igualitário, a criminalização da homofobia e a implementação de políticas públicas voltadas à inclusão e proteção de minorias. Sua plataforma dialogou diretamente com movimentos sociais, juventudes progressistas e setores acadêmicos engajados na luta por direitos humanos.

A chegada de Jean Wyllys ao Congresso marca o início de uma nova fase para a política brasileira — uma fase em que a diversidade começa, ainda timidamente, a ocupar espaços institucionais. Sua eleição não apenas quebra tabus, mas também sinaliza que há espaço para uma política mais plural, representativa e comprometida com a dignidade de todos os cidadãos e cidadãs.

Agora, a expectativa é ver como será sua atuação no Legislativo, onde enfrentará resistências, mas também encontrará aliados dispostos a construir uma agenda de inclusão e justiça social.

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