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O que a xenofobia judaica tem a ver com a homofobia dos três principais monoteísmos?


O que a xenofobia judaica tem a ver com a homofobia dos três principais monoteísmos?




Por Sergio Viula
Originalmente publicado no AASA

Com vistas a criar e manter uma identidade nacional, os judeus recorreram ao conceito de raça eleita. Entretanto, a simples ideia de que Jeová teria escolhido Abraão, seu filho Isaque e seu neto Jacó para darem origem a um povo separado – significado primordial da palavra santo – já colocava o povo judeu em contraposição a todo e qualquer povo que não fosse judeu, obviamente.
Porque és povo santo ao Senhor teu Deus; e o Senhor te escolheu, de todos os povos que há sobre a face da terra, para lhe seres o seu próprio povo. Deuteronômio 14:2
O desprezo pelo não judeu, ou seja, o gentio, aquele que é de outras gentes da terra, fica claro quando Jeová proíbe que os judeus comam animal que morra espontaneamente, mas permite que os judeus o sirvam como alimento ao estrangeiro ou o vendam a este:
Não comereis nenhum animal morto; ao estrangeiro, que está dentro das tuas portas, o darás a comer, ou o venderás ao estranho, porquanto és povo santo ao Senhor teu Deus. (…) Deuteronômio 14:21
A preocupação dos escritores bíblicos era sempre a de que os judeus agissem de modo diferente, não necessariamente melhor, que os povos ao seu redor. De fato, muitas leis judaicas eram extremamente cruéis e tendenciosas. Mas, Moisés e a classe sacerdotal fazia questão que seus súditos fossem fiéis aos estatutos de Jeová, afinal essa era a garantia de que suas despensas estariam sempre cheias e prole alimentada, uma vez que eles comiam das oferendas feitas no tabernáculo e, mais adiante, no templo de Salomão. O trabalho dos sacerdotes e seus assistentes era intermediar os sacrifícios. E no caso de ofertas pacíficas, ou seja, que não fossem holocaustos, eles ganhavam uma parte. O grifo é meu:
Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel, dizendo: Quem oferecer ao Senhor o seu sacrifício pacífico, trará a sua oferta ao Senhor do seu sacrifício pacífico.
As suas próprias mãos trarão as ofertas queimadas do Senhor; a gordura do peito com o peito trará para movê-lo por oferta movida perante o Senhor. E o sacerdote queimará a gordura sobre o altar,porém o peito será de Arão e de seus filhos. 
Levítico 7:28-31
Sobre a exigência de que os judeus mantivessem hábitos e costumes diferentes dos povos ao redor, Moisés diz o seguinte:
Não fareis segundo as obras da terra do Egito, em que habitastes, nem fareis segundo as obras da terra de Canaã, para a qual vos levo, nem andareis nos seus estatutos. Levítico 18:3
Israel, nome que um anjo supostamente teria dado a Jacó – afinal, era melhor ser chamado de “aquele que luta com Deus e prevalece” (Israel) do que “suplantador”, “usurpador” (Jacó) – veio a ser o nome do povo exclusivo de Deus; exclusividade da qual só os judeus se gabavam. Agora, imagine um povo supostamente santo, ou seja, separado dos demais para a glória de Jeová, cujo nome, cada vez que fosse mencionado, trouxesse à mente a ideia de quem tenta “furar fila”, “passar à frente”, “tomar o lugar de outro”. Não admira que tenham inventado essa história de Jacó lutando com anjo.
Então disse: Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste. Gênesis 32:28
Foi essa mentalidade separatista, um verdadeiro apartheidinternacional e inter-racial, de outros povos que gerou uma moral exterminadora das diferenças na teoria e na práxis judaica. Até, porque Israel não tinha território. As terras que eles estavam para invadir e usurpar (ah, Jacó!) eram de outros povos, instalados ali havia séculos. Vejamos o caso emblemático dos midianitas. Vejam que nenhum daqueles homens sobrou:
E pelejaram contra os midianitas, como o Senhor ordenara a Moisés; e mataram a todos os homens. Números 31:7
Só teve um problema: Os guerreiros de Israel pouparam as mulheres e as crianças. Moisés e o sacerdote Eleazar reprovaram esse ato de “misericórdia”, que não era tão bondoso assim. Na verdade, o interesse era de ordem sexual e escravagista. Mas, de novo, o temor de Moisés e do sacerdote Eleazar era que as mulheres ensinassem os filhos e as filhas de Israel a viverem como os filhos e as filhas de Midiã. Então, a ordem de Moisés foi clara:
Agora, pois, matai todo o homem entre as crianças, e matai toda a mulher que conheceu algum homem, deitando-se com ele. Porém, todas as meninas que não conheceram algum homem, deitando-se com ele, deixai-as viver para vós. Números 31:17-18
Esse “deixai-as viver para vós” significava literalmente que os homens de Israel poderiam desvirginar as meninas midianitas. Será que isso parece humanista o suficiente para você? Bem, não deveria.
O mais irônico é que o próprio Moisés, quando fugia do Egito, casou-se com Zípora, uma mulher midianita, filha de um sacerdote de Midiã chamado Reuel. Nem isso demoveria o sanguinário Moisés de praticar tanta violência contra o povo de sua própria esposa e de seu sogro, a quem ele devia a vida, pois foi ele quem o acolhera no meio do deserto quando fugia do Egito depois de matar um egípcio que maltratava um hebreu. Ah, e só para constar, seu primeiro filho, Gérson, também nasceu na terra de Midiã. (Êxodo 2:1-25)
Esse ato de poupar as virgens para uso próprio colaborou para fortalecer a ideia de que virgindade é símbolo de pureza. Se elas são consideradas mais puras porque são virgens, então, a abstinência sexual é uma forma de santidade. Não demora muito e logo se deriva daí que o ato sexual deve ser praticado dentro de limites muito rígidos e claramente estabelecidos pela lei mosaica. Mas outros aspectos da vida dos judeus não deixavam de ser afetados pela ascese javista: a dieta, a indumentária, a higiene pessoal, a quem a mãe deu à luz – menino ou menina. Sim, porque até isso entrava na lista de impurezas.
Aqui está o que diz Levítico 12:2-8. As partes em colchetes são comentários meus.
Fala aos filhos de Israel, dizendo: Se uma mulher conceber e der à luz um menino, será imunda sete dias, assim como nos dias da separação da sua enfermidade, será imunda.
E no dia oitavo se circuncidará ao menino a carne do seu prepúcio.
[Entenda-se por “dias da separação da sua enfermidade” os dias do seu ciclo menstrual. Vejam que a menstruação era considerada uma terrível impureza e o parto também. Maria fez cumpriu todas essas exigências quando teve Jesus. Era ela imunda? A Igreja Católica diz que ela era virgem antes do parto, permanecendo virgem depois dele – imaculada, ou seja, sem mancha, impureza ou pecado. Contudo, ela seguiu esse procedimento com relação a si mesma e ao menino Jesus, ispis letteris. E agora, José?]
Depois ficará ela trinta e três dias no sangue da sua purificação; nenhuma coisa santa tocará e não entrará no santuário até que se cumpram os dias da sua purificação.
[Mulher em resguardo, assim como a menstruada, não participava de culto, nada de missa, nada de igreja. Você conhece alguma que siga isso hoje? Obviamente, não. Quando ficam em casa, fazem-no por conveniência, não por ascese.]
Mas, se der à luz uma menina será imunda duas semanas, como na sua separação; depois ficará sessenta e seis dias no sangue da sua purificação.
[Ou seja, se a infeliz da parturiente tivesse um filho macho, ficava imunda metade do tempo: uma semana. Mas se tivesse uma fêmea, ficava imunda por duas semanas. As meninas já nasciam rotuladas como sendo um fardo maior que os meninos.]
E, quando forem cumpridos os dias da sua purificação por filho ou por filha, trará um cordeiro de um ano por holocausto, e um pombinho ou uma rola para expiação do pecado, diante da porta da tenda da congregação, ao sacerdote.
[A rola é o pássaro, hein, gente! Não tem nada a ver com a rola do marido. Piadinhas à parte, esses animais eram sacrificados de modo muito semelhante aos costumes de vários povos ao redor, inclusive os africanos que sacrificam aos Orixás. Nisso, Jeová não era tão diferente dos demais Deuses, mas a oferta tinha que ser feita no tabernáculo – em qualquer outro lugar seria abominação – e realizada por um sacerdote da família de Arão, irmão de Moisés, de acordo com as prescrições para esses holocaustos no Levítico. No final das contas, muito furdunço para nada!]
O qual o oferecerá perante o Senhor, e por ela fará propiciação; e será limpa do fluxo do seu sangue; esta é a lei da que der à luz menino ou menina.
[A mulher só se tornava limpa de novo depois desse sacrifício de sangue. Cada vez que uma judia paria, vários animais morriam. O que tem o Flu com as valsas? kkk]
Mas, se em sua mão não houver recursos para um cordeiro, então tomará duas rolas, ou dois pombinhos, um para o holocausto e outro para a propiciação do pecado; assim o sacerdote por ela fará expiação, e será limpa.
[Como Maria e José eram pobres, foi exatamente essa oferta que eles fizeram, como se vê em Lucas 2:21-24: “E, quando os oito dias foram cumpridos, para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora posto antes de ser concebido. E, cumprindo-se os dias da purificação dela, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor (Segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo o macho primogênito será consagrado ao Senhor); e para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: Um par de rolas ou dois pombinhos.” ]
Na tentativa de separar Israel dos outros povos e seus costumes, Moisés chamou de abominação coisas tão díspares quanto comida e sexo, principalmente porque os costumes desses povos estavam geralmente associados ao culto a outros Deuses – e cultuar outros Deuses significava prestar obediência a outros sacerdotes, videntes, oráculos que não os da tribo de Levi, que não por coincidência era justamente a tribo de Moisés, Arão e Miriã – todos filhos de Joquebede, como dizem os livros de Êxodo 6:26 e de Números:
E o nome da mulher de Anrão era Joquebede, filha de Levi, a qual nasceu a Levi no Egito; e de Anrão ela teve Arão, e Moisés, e Miriã, irmã deles. Números 26:59
Vejamos alguns exemplos de abominação segundo a lei mosaica:
Todo o inseto que voa, que anda sobre quatro pés, será para vós uma abominação. Levítico 11:20
[Mas, espere um momento: não existem insetos de quatro patas. Moisés precisava ter prestado mais atenção às aulas de biologia. Pior que ele repetiu isso três versículos adiante, em Levítico 11:23]
Todo o [peixe] que não tem barbatanas ou escamas, nas águas, será para vós abominação. Levítico 11:12
[Filé de cação é abominação, hein, galera!]
Mas todo o que não tem barbatanas, nem escamas, nos mares e nos rios, todo o réptil das águas, e todo o ser vivente que há nas águas, estes serão para vós abominação. Levítico 11:10
[Casquinha de siri, risoto de camarão, moqueca de arraia, entre outras iguarias deliciosas da culinária brasileira, são abominações. Povo capixaba, baiano, carioca, cearense está todo perdido. Amazonense, paraense e outros povos que vivem perto de grandes rios e no pantanal estão lascados, porque o que eles já comeram de peixe sem escama na vida não está no gibi –tudo abominação!]
Também todo o réptil, que se arrasta sobre a terra, será abominação; não se comerá. Levítico 11:41
[Quem já comeu cobra está roubado.]
Não sacrificarás ao SENHOR teu Deus, boi ou gado miúdo em que haja defeito ou alguma coisa má; pois abominação é ao SENHOR teu Deus. Deuteronômio 17:1
[Boi manco, bode cego, só para citar dois exemplos, eram abominação, mas não foi Deus quem os fez assim? Vai entender…]
As imagens de escultura de seus deuses queimarás a fogo; a prata e o ouro que estão sobre elas não cobiçarás, nem os tomarás para ti, para que não te enlaces neles; pois abominação é ao Senhor teu Deus. Deuteronômio 7:25
[Ah, os bons católicos espanhóis que se apoderaram do ouro, da prata e das pedras preciosas que compunham as esculturas de deuses astecas, maias e incas! Eles não imaginavam que até esses metais e pedras preciosas eram abominação. E tem muito desse ouro nas próprias igrejas da Santa Madre, inclusive no Vaticano.]
Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles. Levítico 20:13
[Ah, observem que a palavra abominação que os crentes de hoje tanto gostam de atribuir às relações homossexuais era a mesma usada se referir ao camarão, ao siri e à arraia? Detalhe: Vejam que não há menção às mulheres que se deitam com outras mulheres como se fossem homens. A questão primordial aqui era a homoafetividade (termo que eles desconheciam completamente). A questão era de outra ordem: a preocupação era com o “desperdício” de sêmen. Sobre isso, recomendo a leitura de uma post meu no Blog Fora do Armário - http://www.foradoarmario.net/2014/11/de-onde-vem-o-odio-de-cristaos.html.]
Não trarás o salário da prostituta nem preço de um sodomita à casa do Senhor teu Deus por qualquer voto; porque ambos são igualmente abominação ao Senhor teu Deus. Deuteronômio 23:18
[Aqui a prostituta e o sodomita são postos juntos, porque a única noção que os judeus tinham das relações entre homens era a da prostituição motivada por interesses econômicos ou prostituição ritual, inclusive masculina, durante os cultos aos Deuses da fertilidade. De novo, Jeová não admite concorrentes.]
Nem te deitarás com um animal, para te contaminares com ele; nem a mulher se porá perante um animal, para ajuntar-se com ele; confusão é. Levítico 18:23
[Auto láááá! A palavra para o sexo com animais é simplesmente confusão. O quêêêê??? Vejam o meu grifo lá. Quer dizer que oferecer um bezerro manco é abominação, mas trepar com ele é só confusão?? E tem gente que leva a sério essa joça?]
Bem, voltando à premissa básica desse artigo, tudo o que Israel fez para se diferenciar de outros povos poderia ser considerado hoje como tendo sido motivado por xenofobia. Não foi mero etnocentrismo, porque não se trata apenas de julgar outras culturas a partir da sua, o que já é suficientemente problemático, mas de exterminar todo modo de viver que não se encaixe na paranoia mosaica.
O cristianismo e o islamismo, crias não desejadas do judaísmo, têm seguido essa mesma linha no que diz respeito à sexualidade, especialmente à homossexualidade. Felizmente, percebendo a insensatez das interpretações literais desses textos, com aplicações diretas sobre os direitos civis de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT), muitos rabinos têm tomado uma posição pró-casamento igualitário. Transcrevo abaixo um texto que eu considero muito interessante para essa discussão. O artigo é de autoria de Ivan Paulo Salgado sobre isso, postado no site deconchinha (http://deconchinha.com/index.php/religiao/99-a-homossexualidade-sob-a-perspectiva-do-judaismo):
A ação menos controversa e mais comum tomada pelos reconstrucionistas, conservadores, e os reformistas é apoiar a igualdade civil para gays e lésbicas. O CCAR, Conselho Rabínico Reformista, a partir 1977, passou a descriminalizar o sexo homossexual e acabou com toda a discriminação baseada na orientação sexual.
Mas como contornar a proibição aparentemente inequívoca bíblica contra a homossexualidade? Muitos que procuram estabelecer plenos direitos religiosos para gays e lésbicas apontam a natureza involuntária da homossexualidade. Os halakhic (legalistas) acreditam que como a homossexualidade se refere a alguém que, embora ordenado a fazer algo, realmente não consiga obedecer. Como no judaísmo, só se pode responsabilizar uma pessoa quanto a suas obrigações religiosas se ela pode livremente optar por cumprir. Assim, algumas autoridades judaicas argumentam que a homossexualidade não é escolhida, assim não pode ser proibida.
Na verdade, o movimento da Reforma do Judaísmo não condena o sexo homossexual, e as pessoas abertamente homossexuais são elegíveis para admissão em escolas rabínicas. Além disso, o movimento de Reforma aprova cerimônias rabínicas de casamentos entre pessoas do mesmo sexo. No entanto, eles não consideram o casamento homossexual como equivalente ao casamento heterossexual. Considerando que o casamento heterossexual é referido como Kiddushin (palavra hebraica para santo). Mesmo assim há rabinos que aplicam este termo para relações homossexuais.
Daniel Siegel, o diretor da escola rabínica ALEPH argumenta que Aliança para a Renovação Judaica, aprovou o casamento homossexual especificamente porque que a santidade não deve ser limitada apenas a certas pessoas e a determinadas relações. No Judaísmo reconstrucionista, o casamento homossexual é considerado um valor religioso. Usando esse princípio como ponto de partida, Rebecca Alpert argumentou que a recusa do governo israelense em reconhecer o casamento homossexual viola as liberdades religiosas.
Alguns rabinos do movimento conservador também se apoiam no conceito de que um indivíduo não tem nenhuma escolha real quanto ao sexo homossexual. Em dezembro de 2006, Comitê do Movimento Conservador aprovou duas teshuvot (posições) contraditórias sobre a homossexualidade. Rabinos, sinagogas e outras instituições conservadoras podem não permitir cerimônias de casamento homossexuais e não contratar rabinos ou cantores abertamente gays ou lésbicas. Por outro lado, podem simplesmente optar por fazê-lo. Ambas as posições são consideradas válidas.
Nos últimos anos, tem havido uma maior consciência da presença de gays e lésbicas nas tradicionais comunidades judaicas. Numerosas organizações e grupos de apoio existem para gays que estão interessados em manter um estilo de vida tradicional judaica. Steven Greenberg, rabino ortodoxo, educador e gay escreve e ministra palestras sobre as possibilidades de gays e lésbicas na comunidade ortodoxa. Finalmente, o documentário “Trembling Before G-d” (Tremendo perante Deus), sobre gays judeus ortodoxos, teve um impacto significativo no aumento da consciência sobre a homossexualidade no mundo ortodoxo Judeu.
Gostaria de ressaltar, antes de encerrar, que este movimento pró-revisão e pró-inclusão também está se dando nos dois outros monoteísmos: o cristianismo e o islamismo. Basta, a título de exemplificação, citar a Igreja Anglicana na Inglaterra, a Igreja da Escócia (de linha presbiteriana) e a Igreja Presbiteriana dos EUA. Mas há outras, especialmente aquelas criadas com uma visão inclusiva desde o final da década de 60, como é o caso daMetropolitan Community Church, fundada por Troy Perry.
Entre os islâmicos, esse movimento ainda é muito embrionário, mas sinaliza que há uma demanda interna, muitas vezes silenciada a ferro e fogo. Vejam a reportagem Paris terá primeira mesquita na Europa aberta aos homossexuais (http://www.portugues.rfi.fr/europa/20121129-paris-tera-primeira-mesquita-na-europa-aberta-gays-e-feministas). E também uma postagem de abril de 2012, no Blog Fora do Armário (http://www.foradoarmario.net/2012/04/categorias-artigos-baladas-babados.html) que reproduzia notícia sobre o casamento de dois homens, realizado por um imã numa cerimônia íntima.
Isso acontece porque nenhuma dessas religiões é um bloco monolítico. Existem judeus, cristãos e muçulmanos progressistas e secularizados o suficiente para quererem reformas baseadas em princípios humanistas. Já os literalistas não são sempre tão literalistas assim. Eles ignoram tudo o que consideram conveniente ignorar. Um exemplo interessante é a proibição mosaica de que pessoas com necessidades especiais sejam sacerdotes, pastores ou o que o valha. O legislador foi muito claro em Levítico 21:17-20:
Fala a Arão, dizendo: Ninguém da tua descendência, nas suas gerações, em que houver algum defeito, se chegará a oferecer o pão do seu Deus.
[Oferecer o pão do seu Deus = exercer o sacerdócio no tabernáculo.]
Pois nenhum homem em quem houver alguma deformidade se chegará; como homem cego, ou coxo, ou de nariz chato, ou de membros demasiadamente compridos,
[Homens com necessidades especiais não podem ser sacerdotes, segundo a lei mosaica. Mas, um momento… nariz chato é defeito? Quem é padre ou pastor africano ou afrodescendente, dá um glória a Deus aí! E o que a mulherada está fazendo no pastorado e no sacerdócio de algumas igrejas protestantes? Moisés jamais autorizou mulheres no ministério sacerdotal. Eita, religião machista do cacete, literalmente.]
Ou homem que tiver quebrado o pé, ou a mão quebrada, ou corcunda, ou anão, ou que tiver defeito no olho, ou sarna, ou impigem, ou que tiver testículo mutilado.
[Testículo??? O que isso tem a ver com o exercício do sacerdócio? Pastor com vitiligo também está perdido, porque isso era visto como defeito impeditivo. Ué, anão não pode ser sacerdote ou pastor? Outra coisa, eu conheço pastor corcunda numa igreja neopentecostal que eu frequentei quando era novo convertido. E agora?]
A desculpa que eles usam quando alguém cita essas passagens absurdas é que isso fazia parte da velha aliança. Segundo eles, o sacrifício de Cristo – veja a necessidade de sempre se matar alguém para obter o favor divino, e mesmo que Cristo tenha sido o último, lá está a Eucaristia para renovar o horror da crucificação a cada missa ou culto – aboliu tudo isso ou quase tudo, porque quando se trata de relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo, eles querem manter o veto e expandi-lo para as lésbicas que nem sequer são citadas ali. Além disso, os conceitos contemporâneos de homossexualidade, direitos civis, casamento igualitário e famílias homoparentais são coisas com as quais Moisés nem sonhava, e que pertencem a uma moral e a uma ética que Moisés seria incapaz de conceber.
Todavia, seus sucessores tentam tornar tudo isso menos estúpido num mundo muito mais esclarecido do que aquele em que escravos supersticiosos passaram a invasores inflados pela crença de que eram o povo de propriedade exclusiva de Deus que podia matar, saquear, escravizar e fazer muitas outras coisasnada abomináveis (#sóquenão), desde que fosse para a maior glória de Jeová e para o fortalecimento do único povo portador de sua revelação – os próprios judeus.
De fato, há muita coisa a ser resgatada nesse passado (não tão distante) horripilante e cruel do judaísmo e de seus dois robustos filhotes, o cristianismo e o islamismo, mas eu prefiro deixar os mortos enterrarem seus próprios mortos, porque vive mais leve quem carrega menos peso. E religião, em última análise, é peso morto. Há, contudo, pessoas LGBT que encontram caminhos religiosos não castradores da sexodiversidade ou das identidades transgêneras. Algumas têm trabalhado duro para mudar a cara feia dos três grandes monoteísmos, bem como de religiões animistas ou politeístas que porventura tenham bebido em fontes homofóbicas e transfóbicas ao longo dos séculos.
Na verdade, tudo isso faz parte do direito humano à liberdade de crença e de agremiação. Felizmente, porém, muitas pessoas LGBT cresceram como ateias e assim permanecem, havendo também aquelas que vieram a ser ateias a partir de sua própria experiência religiosa submetida ao crivo incontornável do ceticismo. Pessoalmente, figuro nesse último segmento, valendo dizer que qualquer condescendência minha para com a ideia de que Deus ou Deuses disseram isso ou aquilo se dá apenas para o bem do argumento que norteia esse artigo. Penso que falar com Deus não faz de ninguém um doido, mas se ele responder, procure um psiquiatra.
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Leia Em Busca de Mim Mesmo.
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O que penso quando vejo a figura de Jesus sendo usada para legitimar isso ou aquilo.


Depois da treta sobre a pastora trans
que disse que "Jesus foi o primeiro trans".


Dia desses, eu estava assistindo o Programa Milênio (GloboNews), que geralmente traz interessantes entrevistas de gente que se destaca no mundo da literatura, da filosofia, da política, da economia e de outros campos da atuação humana, e fiquei muito bem impressionado com a fala do filósofo francês Michel Onfray, provocado pelas perguntas da jornalista Elizabeth Carvalho.

Entre as coisas que me chamaram atenção, estava o fato de Onfray ser ateu e de afirmar que o que conhecemos de Jesus é uma construção mítica - "o mito do judeu errante", como destacou a jornalista a partir de um trecho do livro Decadência – Vida e morte do judeo-cristianismo, que já inaugura seu primeiro capítulo dizendo a que veio:

"A civilização judaico-cristã se constrói sobre uma ficção: a de um Jesus que nunca teve uma existência a não ser alegórica, metafórica, simbólica e mitológica.”


Michel Onfray

Reproduzo abaixo um trecho da entrevista em que Michel Onfray discorre a respeito do mito Jesus. A compilação vem do site Consultor Jurídico, que gentilmente a transcreveu.

Fonte:
http://www.conjur.com.br/2017-jun-23/milenio-michel-onfray-filosofo-frances-ateista-militante




O fato desse mito ter prevalecido sobre outros, ou de ícones religiosos serem considerados como um determinado padrão a ser seguido pela multidão de fanáticos, que enchem templos, motivados pelo medo, pela culpa e pela ambição - uma tríade muito bem utilizada por aqueles que se esmeram na arte de manipular mentes - teve e continua tendo várias consequências para o pensamento e para as relações humanas. Mas antes de falar sobre como os mais diferentes tipos ou grupos de pessoas se utilizam desses mitos para atingirem seus objetivos pessoais, gostaria de fazer algumas pontuações sobre esse tripé que sustenta o fanatismo e alimenta, com muito dinheiro e poder, os que se arvoram representantes do divino.

O medo


Muita gente procura os templos religiosos por medo de que algo lhes aconteça nessa vida ou em supostas vidas futuras. Em poucas palavras, é medo do diabo (leia "A face mutante do diabo e sua utilidade para a igreja" - ao final desse post), medo de maldição, medo de olho-grande, medo de ficar doente, medo de perder o marido ou a esposa, medo de ser castigado por alguma coisa que fez, medo de ir para o inferno ou de voltar numa futura encarnação com a cara do cão-chupando-manga, e por aí vai.

O medo, que pode ser útil na preservação da vida diante de um possível perigo, acaba se tornando um instrumento de auto-destruição, de auto-anulação, de renúncia ao pensamento racional, aquele que deve ser baseado nas melhores evidências disponíveis.

É como se o medo se tornasse uma doença auto-imune, ou seja, ele devia ser um mecanismo de proteção, mas acaba se tornando em dispositivo de autodestruição. Para refletir mais sobre isso, leia: "Medo: Do útil ao nocivo": https://www.foradoarmário.com/2024/12/medo-do-util-ao-nocivo.html

A culpa

Há quem diga que a culpa surge da noção de que não atendemos às expectativas do outro ou às nossas próprias expectativas a respeito de nós mesmos. Ela é maximizada quando potencializamos o outro na figura de um ser que vê tudo o tempo todo em todo lugar, inclusive o que pensamos antes de pensarmos. Puta merda! Será que o ser humano já foi capaz de inventar uma figura mais nociva do que essa? Muitos dirão que sim - o diabo. Não. A figura do diabo perto disso não é nada. Ele mesmo teria sido, de acordo com o mito judaico-cristão, uma vítima desse facínora (sim, porque na própria Bíblia, deus mata mais do que o diabo) incherido e debochado que é capaz de perguntar a Adão "Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses?" (Gênesis 3:11), apesar de saber exatamente o que ele havia feito. NOTA: Falo sobre isso como mais um mito ou uma fábula, não mais verdadeira do que as fábulas de Monteiro Lobato. Pelo contrário, considero as fábulas de Lobato muito mais úteis à boa educação dos seres humanos do que as fábulas do rabinato judeu que atribuiu a Moisés coisas que ele talvez nunca tenha sonhado escrever - se é que ele mesmo não é outro mito, ao estilo de Jesus, só que em período bem anterior. Os seres humanos não aprendem mesmo...

Pois bem, feita essa digressão, gostaria de retornar ao ponto e dizer que a culpa é uma ferramenta de manipulação das mais eficazes. Uma vez considerando-se pecador e carente de salvação, o ser humano será capaz de tudo para salvar a própria pele - inclusive atirar aviões de transporte de passageiros contra edifícios civis na esperança de herdar a vida eterna e gozar de prazeres inenarráveis por aquelas paragens. A culpa já foi usada para manipular judeus, cristãos e muçulmanos - os três maiores grupos monoteístas nos últimos séculos da história humana.

A ambição

Mas se o medo e a culpa falharem, os manipuladores de mentes ainda têm uma carta na manga. Trata-se da ambição, esse insaciável desejo humano por mais poder, mais status, mais segurança, mais reconhecimento, e por aí vai. É por meio da manipulação da ambição de seus rebanhos que padres, pastores e gurus de todos os matizes conseguem extrair rios de dinheiro de seus seguidores. Não é porque estes sejam generosos compulsivos. Pelo contrário, é porque são ambiciosos em diversas medidas diferentes - uns mais, outros menos, mas todos ambiciosos. A ideia de semeadura e colheita é uma metáfora muito utilizada por esses aproveitadores de hipócritas: Aproveitam-se da generosidade fingida dos idiotas que acreditam que vão ganhar mais se apostarem nesse jogo. É aquela velha história de dar 10% e prosperar, ou de dar e receber. Chegaram a enfiar um versículo no Novo Testamento, entre muitos outros, para justificarem essa fraude: "Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando vos deitarão no regaço..." (Lucas 6:38) Aí, o "fiel" pensa: "Quanto mais eu der, mais vou receber. Então, vale a pena dar." E tem gente dando casa, carro, o dinheiro do aluguel, a poupança que vinha fazendo para a faculdade do filho, etc.

Só muito tempo depois é que vão perceber a armadilha na qual caíram, mas geralmente tarde demais. E tudo o que poderão fazer quando perceberem isso, será sair daquela igreja ou agremiação de qualquer outro tipo com menos do que tinham quando entraram. E mesmo quando prosperam, não é por uma relação de causa e efeito entre a oferta e a prosperidade, mas por causa de conjunturas sobre as quais nem o ofertante nem aquele que recebe a oferta têm qualquer domínio. Basta ver que a crise atual (refiro-me especificamente a 2016-2017) tem feito esses pastores estrelas que se gabam de prosperar graças à fé encerrarem alguns de seus negócios e até recorrerem a empréstimos porque a fonte que vinha das ovelhas secou. É tudo humano. Nada há de divino nisso tudo porque, no final das contas, divino não há mesmo.
Apropriando-se do mito

Agora, sim, passo a falar do que tinha em mente quando decidi escrever hoje. Prometo não me alongar mais.

É lamentável que as pessoas recorram ao mito Jesus ou a quaisquer outros mitos desse tipo para legitimarem o que consideram importante em suas vidas ou no mundo como um todo.

É gente dizendo que Jesus foi o primeiro hippie para legitimar o movimento hippie. É gente dizendo que Jesus foi o primeiro comunista para legitimar o sistema comunista. É gente dizendo que Jesus foi o maior revolucionário para justificar esta ou aquela revolução. É gente dizendo que Jesus foi o primeiro missionário sustentado pelas ofertas do povo, visto que tinha tesoureiro (Judas) e bolsa na qual se lançavam as ofertas. E por aí vai...

Essa semana soube de uma pastora trans que teria dito que "Jesus foi o primeiro trans". O site do canal Vice registra a fala e traz matéria sobre essa pastora (https://www.vice.com/pt_br/article/8xa943/jesus-cristo-foi-o-primeiro-trans-diz-a-1a-pastora-transgenera-da-america-latina) e vai muito além dessa treta que ganhou volume nas redes sociais. Mas, antes de tudo, quero deixar claro alguns pontos aqui, visto que muita gente pensa muita coisa contra ou a favor de tudo isso que não tem nada a ver com o meu modo de ver as coisas. Vamos lá!

1. Vejo pastores ou pastoras transgêneros (transexuais, travestis, de gênero não binarista, drag queens, transformistas, etc) como tão legítimos quanto pastores ou pastoras cisgêneros (aqueles que não são transgêneros, sejam eles heterossexuais, bissexuais ou homossexuais). A meu ver, qualquer pessoa reconhecida por uma congregação religiosa como sendo capaz de liderá-la pode ser consagrada ao cargo de líder religioso, seja lá que religião for. Dizer que alguém não pode liderar uma congregação porque é trans, é ridículo. Dizer que não pode liderar porque é gay, lésbica ou bissexual, é igualmente ridículo. Uma liderança independe da identidade de gênero ou da orientação sexual de uma pessoa e deve ser considerada benéfica ou maléfica, dependendo de seus fins e de seus meios, mas essa valoração varia dependendo do ponto de vista de quem julga isso. E a prova disso é a existência de tantos casos de inaptidão e até mesmo de abusos cometidos por lideranças consideradas cisgêneras e heterossexuais, muitas vezes até mesmo heteronormativas, ao ponto de serem LGBTfóbicas.


2. Não sinto a menor falta e nem vejo a menor necessidade de religião ou crença, sejam elas quais forem, e me pergunto porque tanta gente alimenta esses sistemas, gastando tempo, dinheiro, energia corporal (física/mental), quando poderiam fazer tanta coisa melhor com tudo isso. E quando digo tanta coisa melhor, é difícil encontrar alguma coisa pior do que religião, para falar a verdade.


3. Não vejo porque uma pessoa transexual precisaria de Jesus para validar a si mesma. Na verdade, sua construção identitária é muito mais real do que o próprio suposto filho de deus.


4. Não considero, como o fazem os fanáticos, ser uma blasfêmia dizer que Jesus foi o primeiro trans. Considero uma pobreza querer legitimar a transexualidade de quem quer que seja usando como ícone um cabra que não passa de um mito, e tentar dar uma nova conformação a esse mito para que a própria pessoa trans se sinta menos divergente do que é de fato. E bendita seja a divergência, a diferença, a diversidade, a inconformação, a subversão, a trans-forma-ação! E isso tudo é o que os manipuladores de mentes mais detestam. Eles gostam de conformação, uniformização, fascismos castradores das liberdades de ir e vir (trans-itar). Dizer que Jesus foi o primeiro trans não dá às pessoas trans mais dignidade, mas a Jesus mais primazia. Deixem o cadáver desse mito carcomido onde o encontraram e sigam adiante sem o peso de quem morreu sem jamais ter vivido. 


5. E mesmo que Jesus tivesse existido de fato, que diferença faria se ele era isso ou aquilo? Que diferença faria se Maomé era isso ou aquilo? Que diferença faria se Oxalá era isso ou aquilo? Que diferença faria se Krishna era isso ou aquilo? E por aí vai, passando por Buda, Confúcio, Seth, Zeus, Thor, etc. Que diferença faz se eles comeram ou foram comidos, se eles se vestiam de calça ou de vestido, se eles gemiam quando gozavam ou rangiam os dentes por falta de orgasmo? Fodam-se todos eles! Não fazem a menor diferença para quem está livre da manipulação que os sacerdotes e profetas desses ícones cadavéricos fazem a partir do medo, da culpa e da ganância.


Em resumo, uma pessoa livre de crenças religiosas não pode ser manipulada por esses líderes religiosos, metidos a donos da verdade, profetas do engano. Poderá ser perseguida ou até morta por esses ensandecidos seguidores de discursos construídos sobre o vento - aquela calculada corrente de ar que faz vibrar as pregas vocais e que produz as mais libertadoras ou as mais opressoras ferramentas já inventadas pelo homem: as palavras! E quando são escritas podem ser ainda mais perigosas. Leia: Os 10 grandes problemas da Bíblia, e veja por que ela é um dos mais nocivos livros já escritos até hoje. Não é o único, mas além de ser ruim em si mesmo, já inspirou incontáveis outros tão nocivos quanto ela mesma. Querer legitimar qualquer coisa a partir da Bíblia não é uma elevação, mas um rebaixamento, uma alienação de todo o bom senso.


TRABALHEMOS POR UM MUNDO
NO QUAL PREDOMINEM

A RACIONALIDADE, NÃO A CRENÇA;
A ARTE, NÃO A RELIGIÃO;

A FILOSOFIA, NÃO A TEOLOGIA;
A CIÊNCIA, NÃO O MITO;

A LIBERDADE, NÃO O FASCISMO;
A IGUALDADE NA DIVERSIDADE,

NÃO A UNIFORMIZAÇÃO
EM DETRIMENTO DA DIFERENÇA.


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A face mutante do Diabo e sua utilidade para a igreja
24/01/2016 / - por Sergio Viula


Satanás
Recorte do Saltério de Winchester, uma pintura da Idade Média


Compartilho hoje um excelente documentário da BBC sobre as representações do Diabo, introduzidas e modificadas ao longo do tempo no imaginário popular por artistas que compuseram alguns dos mais incríveis mosaicos, pinturas e textos na Europa.

O Diabo, como o pensam hoje as massas, não foi sempre imaginado do mesmo jeito. E mesmo nas escrituras cristãs, não existe uma descrição clara de sua criação e queda. O que o cristão mediano supõe ser um relato de sua criação e queda são originalmente passagens que falam da Babilônia e do rei de Tiro (respectivamente, Isaías 14:11-23 e Ezequiel 28:11-19). Portanto, para início de conversa, não existe qualquer passagem bíblica clara e exclusivamente dedicada a descrever a origem e a suposta queda de satanás. apesar de existirem citações sobre satanás, diabo e demônios, como veremos adiante.

Ao que parece, a igreja cristã precisava desesperadamente de um bode expiatório para explicar a origem do mal, e satanás era a opção mais conveniente. Dizer que Deus criou o mal seria colocar em dúvida a qualidade de seu caráter. Isso, porém, não resolve o problema, porque se Deus é onisciente, ele sabia o que aconteceria se criasse o tal anjo. E se Deus é onipotente (o que inclui dizer que é livre para fazer o que deseja), poderia nem ter criado esse querubim que viria a ser o diabo, para início de conversa.

De qualquer modo, a caracterização de Satanás como um poderoso rival de Deus servia (e serve) bem ao propósito de controlar as massas através do terror. À figura do diabo, está associada a ideia de inferno como um lugar ou estado de sofrimento eterno, bem como a ideia de pecado, seja como um ato de rebelião contra Deus ou como um estado de corrupção e decadência. A tríade diabo-pecado-inferno rendeu extraordinariamente mais poder, dinheiro e grandeza ao clero católico e protestante, do que a ideia de um Jesus meigo, bondoso e acolhedor.

Só para se ter uma ideia de como a centralidade de Satanás no discurso de pastores e padres hoje passa longe do lugar que ele ocupava nas escrituras cristãs, vale a pena tomarmos alguns números relacionados aos termos que se referem ao Diabo, bem como aos termos que se referem a Jeová, Jesus ou ao Espírito Santo. O termo “Deus” foi deixado de lado por poder se referir tanto ao Deus dos judeus e dos cristãos como aos Deuses dos gentios e dos pagãos. O nome de Jeová, porém, foi usado nessa pesquisa, porque era o mais usado para se referir a Deus no Velho Testamento.A palavra Senhor também foi incluída nessa busca, porque ela era usada para se referir a Deus judaico-cristão, mas não aos Deuses gentílicos ou pagãos pelos escritores da Bíblia.  A busca foi feita através do site Bíblia Online, que utiliza a tradução de João Ferreira de Almeida – a preferida pelos protestantes no Brasil. E isso foi o que encontrei:

A palavra diabo aparece 20 vezes no Velho Testamento e 135 no Novo Testamento (total 155).

A palavra satanás aparece 15 vezes no Velho Testamento e 73 no Novo Testamento (total 88).

A palavra demônio aparece 04 vezes no Velho Testamento e 104 no Novo Testamento (total: 108).

O termo “espírito imundo” se referindo aos demônios aparece somente no Novo Testamento – 25 vezes (total: 25).

O termo “espírito maligno” (ou espírito mau) aparece 09 vezes no  Velho Testamento e 08 vezes no Novo Testamento (total: 17).

O nome de Jeová é mencionado 5.817 vezes no Velho Testamento e nenhuma no Novo Testamento (Total 5.817).

O termo Senhor, atribuído a Deus, aparece 6.932 vezes no Velho Testamento e 954 vezes no Novo Testamento, atribuído a Deus, a Jesus ou ao Espírito Santo (total: 7.886)

O nome de Jesus é mencionado 1438 vezes no Novo Testamento (total: 1438).

A palavra Cristo é mencionada 570 vezes no Novo Testamento (total: 570).

O termo Espírito Santo aparece 03 vezes no Velho Testamento e 98 vezes no Novo Testamento (total: 101).

O termo Espírito de Deus aparece 22 vezes no Velho Testamento e 20 vezes no Novo Testamento (total: 42).

MORAL DA HISTÓRIA:

Os temos que se referem ao “inimigo” de Deus totalizam 393 ocorrências;
As palavras que se referem a Jeová, a Jesus  ou ao Espírito Santo totalizam 15.854 ocorrências.

Isto quer dizer que os termos referentes a Jeová, Jesus e o Espírito Santo  ocorrem 40 vezes mais frequentemente do que termos referentes a Satanás e aos demônios. No entanto, a igrejas têm uma fascinação pelo diabo que parece torná-lo uma figura muito mais presente em seus cultos, pregações, artigos e representações do que jamais imaginaram os autores bíblicos nos 66 livros que compõem a Bíblia protestante ou nos 73 livros que figuram na Bíblia católica. Ah, sim, porque os cristãos não têm consenso sequer sobre quais livros devem compor a Bíblia!

E por que será que isso acontece? Por que Satanás é tão popular na boca desses pregadores? Duas hipóteses são as seguintes:

Porque o Diabo na boca dos pastores e padres é reconhecidamente um excelente instrumento de controle do povo pelo medo – o que significa governar seus corpos, suas carteiras, seus votos e seus pensamentos. Os crédulos serão contra tudo aquilo que o pastor e o padre lhes dizem ser do Diabo e serão a favor de tudo daquilo que o pastor diz ser de Deus.

E também porque quanto pior for Satanás na pregação desses líderes religiosos, mais indispensáveis serão eles. Os “ungidos” serão vistos como verdadeiros heróis na fictícia luta contra o diabo. Mas nada disso sem um custo ($$$) elevadíssimo, “absolutamente justificado” pela “nobreza” da função que exercem.

E será que o diabo existe mesmo? Sim, ele existe tanto quanto a Cuca e o Saci Pererê. Quero dizer que o Diabo judaico-cristão existe de modo semelhante ao das míticas figuras do folclore brasileiro, as quais também infligiam medo sobre as mentes ingênuas dos antigos moradores do interior do nosso país. O Diabo e seus demônios – figuras míticas do judaísmo e do cristianismo – também infligem pavor sobre as mentes dos crédulos, mas são tão imaginários quanto os personagens do nosso folclore.

Mas, sabe o que é pior? Os crédulos dirão que iniciativas como a de escrever esse texto são obra do Capiroto com o objetivo de enganar os néscios. Dirão também que – se possível fosse – enganariam até os escolhidos. É fácil perceber onde isso vai dar. Para provar que é um escolhido, o ‘cabra’ tem que rejeitar qualquer questionamento sobre a validade de suas crenças. Caso contrário, ele colaborará com Satanás. Assim, está garantido o ofício e os ganhos dos que se alimentam das tesourarias desse desperdício de espaço e de tempo a que chamamos igreja, exceto por aquelas que são verdadeiras obras de arte e que poderiam ser transformadas em peças de museu muito bem preservadas e sem a menor relevância, senão a de preservar uma parte de nossa história e da arte produzida nesse período. Mas, isso só seria possível se as pessoas fossem mais céticas do que costumam ser. O problema é que crer parece mais fácil do que pensar. Deslumbrar-se é mais confortável do que analisar criticamente o que se vê.  

Mas o que é que vemos, senão as obras dos próprios homens, já que Deus mesmo nunca deu as caras? Ah, mas os teólogos terão mil motivos para esse ocultamento… Sim, os teólogos, essas estranhas criaturas que pensam o impensável, dizem o indizível e descrevem o invisível. Não são por isso mesmo ainda mais extraordinárias? Chegam a ser mais incríveis do que o Deus a quem supõem conhecer. Mas, eu me pergunto quantos deles creem realmente em tudo o que dizem.  Ninguém sabe… NINGUÉM mesmo. 

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Leia no site da BBC
Como o Diabo ficou vermelho e ganhou cifres
https://www.bbc.com/portuguese/geral/2016/05/160508_diabo_vermelho_chifres_rb
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O que a xenofobia judaica tem a ver com a homofobia dos três principais monoteísmos?

https://aasaoficial.wordpress.com/2015/01/04/o-que-a-xenofobia-judaica-tem-a-ver-com-a-homofobia-dos-tres-principais-monoteismos/ 



Leia essa e outras matérias sobre sexualidade e religião aqui:

https://www.xn--foradoarmrio-kbb.com/p/wicca-e-sexodiversidade-por-sergio.html

Catolicismo e Sexualidade

Texto do antigo blog ainda na UOL



A visão católica de sexualidade e, consequentemente de casamento, é a de que a união sexual visa tão-somente a reprodução. Mas, o que dizer dos milhares (talvez milhões) de casais que não procriam ou das inúmeras relações sexuais que um casal realiza sem a mínima possibilidade de procriar?

Os mais tradicionalistas alegam que a Bíblia fala contra a homossexualidade, mas geralmente eles concentram-se em cinco ou seis passagens que têm diversas outras conotações. No Levítico, por exemplo, a passagem que diz que um homem não se deitará com outro homem está no mesmo capítulo que passagens que falam contra a mistura de sementes diferentes numa mesma lavoura, uso de roupas que combinem tecidos diferentes, proibição de que mulheres em seu período menstrual entrem no templo ou se aproximem de outras pessoas, sob a alegação de que são imundas etc. Dá para levar isso a sério depois de todo o "Esclarecimento" do século XIX, XX e já iniciado XXI?

De fato, a defesa bíblica à escravidão é mais forte do que suas contradições à homossexualidade, e ninguém mais apela à Bíblia para justificar a escravidão. O Vaticano, inclusive, chegou a ser uma voz contrária à escravidão num dado momento da história, apesar de ter se beneficiado da escravidão direta ou indiretamente. Paulo, que muita gente admira foi um dos mais soberbos e cínicos apóstolos [na verdade, autoproclamado apóstolo, uma vez que não fazia parte dos doze] - esse mesmo Paulo que tantos admiram corroborava a escravidão em suas cartas: "Escravos, obedecei a vossos senhores terrenos com temor e tremor, com um coração puro, como obedeceis a Cristo...". Agora isso é coisa que se leve à serio tomando chicote no lombo e sendo tolhido em toda a sua dignidade? É fácil para o burguesinho, versado em judaísmo e helenismo, falante de várias línguas, e sustentado pela boa vontade de um bando de cristãos do primeiro século...

Mas a escravidão não foi a única loucura a ser abolida. O mesmo se deu com o antissemitismo, a proibição de que as mulheres falassem na igreja, etc. Tudo isso foi usado em nome da Bíblia e depois abandonado em nome do bom senso. Por isso, a sexualidade é a próxima fronteira a ser derrubada para que haja verdadeira justiça no trato da igreja com os clérigos e leigos que comungam com ela, bem como com os não-religiosos.

Pedir que os homossexuais suprimam sua identidade sexual é uma violência, uma crueldade. Quanto mais aprendemos sobre a sexualidade humana, mais chegamos à conclusão de que a atração pelo mesmo gênero é algo que nasce com o ser humano ou que se desenvolve tão cedo que não é o que a maioria de nós consideraria como uma "escolha" manipulável mais do que nascer negro, judeu ou mulher.

O celibato católico NÃO é tão velho quanto a igreja. Durante oito séculos a igreja não teve nenhuma determinação papal contra o casamento dos clérigos. De fato, pelo menos três papas tiveram filhos que os sucederam no trono papal. Portanto, foi por motivos políticos e econômicos - não escriturísticos - que a igreja estabeleceu a regra celibatária. O ponto é que que a privação de companheiro(a) devidamente reconhecido e aceito leva à clandestinidade, e essa clandestinidade pode levar a comportamento nocivo, seja hétero ou homossexual. A igreja precisa reconhecer a legitimidade do amor em qualquer modalidade, desde que sejam legalmente responsáveis por si mesmas as partes envolvidas.

Quanto às mulheres, se a igreja não reconhecê-las como sacerdotisas - gays ou heterossexuais - sofrerá perdas ainda maiores. Donald Cozzens cita um prognóstico feito por um vigário-geral aposentado: "A redução de sacerdotes não será resolvida orando por mais vocações. As mulheres são as que identificam e nutrem vocações, e elas não estão fazendo mais isso. Elas dizem: 'Uma igreja que não aceita minhas filhas não vai levar meu filho.".

Agora, por que um ateu como eu está interessado nesse assunto eclesiástico? Obviamente, porque não é meramente eclesiástico, mas social, político, cultural. Que a igreja sofra solução de continuidade não me preocupa mais do que se o presidente americano George Bush comeu bacon com ovos no café da manhã. Mas que homossexuais crentes em sua religião possam ver-se integralmente e naturalmente envolvidos no ministério para o qual se sentem vocacionados é uma questão que não exige fé, mas bom senso! Agora que a religião é essencialmente motivada pelo binômio culpa-medo, disso não duvido e, por isso, preferiria que as pessoas resolvessem seus dilemas existenciais - ou que pelo menos convivessem com eles - sem se submeterem a outros.

Entendo que para alguns bons seres humanos - e eu sou amigo, filho, pai, neto, sobrinho etc de alguns deles - a ideia de que não haja um deus lá em cima com agentes visíveis (padres, pastores, rabinos, pais-de-santo etc) e invisíveis (seus anjos e mensageiros espirituais) aqui em baixo parece assustadora. É o velho medo que os indefesos seres humanos - diante de um universo misterioso e grandioso em todos os seus fenômenos - nutrem. Medo esse que foi acrescido de culpa no dia em que alguém surgiu com a ideia de que talvez fenômenos como doenças, inundações e secas seriam vingança de uma divindade irada contra os pobres mortais por causa de alguma "querela sagrada" do tipo: não coma isso, não faça aquilo, não pense ou deseje aquiloutro.

Esse medo do desconhecido presente ou futuro e essa culpa, como se houvesse sempre algo a ser confessado, são as poderosas forças que mantém as igrejas abertas e abarrotadas ainda hoje, pois mesmo naquelas em que o interesse seja tão-somente a prosperidade financeira, o que paira na mente do indivíduo é o medo - neste caso, medo da desgraça financeira num mundo que muda o tempo todo.

Mas como os homens não podem viver sem ilusão alguma. a religião se torna esse último galho ao qual muitos se agarram tentando evitar a correnteza do rio da vida. Todos temos ilusões em alguma medida, mas nenhuma pode ser tão castradora de individualidade quanto aquela que em nome de um deus ordena que eu deixe de ser homem. Sim, porque com suas proibições de ordem sexual, incentivo ao jejum, à vigília, à penitência, à supressão do desejo, à negação de mim mesmo para ser semelhante a um pai celestial ou seu filho igualmente divino, o cristianismo me impõe limites insuportáveis enquanto ser humano, ser terreno, ser de afecções, de memória, de razão, e dono de uma corporalidade bela e pujante.

Prefiro dizer não à castração absolutamente desnecessária, despropositada e inútil da religião de um modo geral e dizer sim a tudo o que for belo, virtuoso e vital à minha própria humanidade e à humanidade dos meus semelhantes. Sou contra aquilo que vilipendie o ser humano e, por isso, sou contra o abuso sexual ou moral de qualquer ordem. Sou contra a exploração financeira que o homem ocidental sofre a cada dia. Sou contra o que oprime o homem, não contra o que o liberta!!! Adoro ser gente, ser humano, mesmo sendo tão frágil.

Não preciso nem dizer aos que amam a si mesmos, à vida e a alguns [é impossível amar todos] outros seres humanos que aproveitem o dia... mas só para não perder o costume: Carpe Diem!!!

O lobo, a embusteira e o guarda-roupa




Autor: Walter Silva, PB.

Esse artigo foi postado no site de Andrea Freitas (fonte abaixo) e chegou a mim via Benjamim, listeiro do Yahoo e ativista. Recomendo muito a leitura.

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25/11/2011


O lobo, a embusteira e o guarda-roupa


A dignidade inerente e a igualdade de cada indivíduo é um axioma fundamental dos direitos humanos internacionais.

Não é, portanto de surpreender que o direito internacional condene afirmações que negam a igualdade de todos os seres humanos.

A Declaração Universal dos direitos humanos, adotada e proclamada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 1948, considera que:

" Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação'' (artigo sétimo)

Na contramão das leis internacionais está o ativismo dos discursos de ódio.

O discurso de ódio não encontra proteção junto ao direito de livre expressão na maioria dos países democráticos, inclusive caindo freqüentemente na categoria da Difamação, que consiste em atribuir falsamente a alguém determinado fato ofensivo à sua reputação (artigo 139 do código penal).

A agenda política e religiosa antigay particularmente é pródiga na arte da difamação.

Desde que Anita Bryant, cantora Gospel americana, ajudou a fundar o movimento contra os direitos civis de homossexuais a mais de 30 anos, que a direita reacionária e religiosa busca formas de demonizar os gays na sociedade, apelando tanto para a mentira descarada, quanto para a teoria da conspiração, se valendo de táticas de manipulação semântica e da retórica da "conseqüência desastrosa''.

Um exemplo recente dessas práticas perniciosas pode ser encontrado no pueril artigo intitulado `'Estatuto gay, ditadura gay ou estatuto da superioridade gay?'' redigida por Marisa Lobo, evangélica caricata e nova musa dos ativistas de ódio do neo pentecostalismo.

Marisa, que se proclama "psicóloga cristã'' sugerindo aí sub-repticiamente uma bizarra e estreita relação entre a atividade psicoterápica e as fronteiras insidiosas da superstição, dirigiu toda sua fúria uterina contra o projeto do Estatuto da Diversidade, cuja principal meta consiste em'' promover a inclusão de todos, combater a discriminação e a intolerância por orientação sexual ou identidade de gênero e criminalizar a homofobia, de modo a garantir a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos individuais, coletivos e difusos''.

O curioso artigo de Marisa foi escrito sob a forma de réplica aos pontos destacados pelo Estatuto, e redigido em linguagem simplória, recheado de erros de sintaxe e acentuação gráfica, em tom de clamor, quiçá expressando o íntimo desejo da autora em imitar o hipócrita gesto Luterano das 95 teses fixadas outrora na porta da capela de Wittemberg.

Marisa saiu do anonimato empunhando a bandeira da "moralização do Conselho federal de Psicologia'' acusando o presidente do conselho de perseguição religiosa e "denunciando'' o apoio do conselho "ao Kit (sic) gay'' nas escolas, que fazia exposição de `'cenas obscenas'' (outra mentira difamatória amplamente divulgada), coisa que ela, "como mãe e psicóloga'' não pode admitir.

Além disso, Marisa é fundadora do "Corpo de Psicólogo (sic) Pró Família'' entidade que segundo ela deve promover o debate de assuntos tais como "ditadura gay'', "kit gay'', "pedofilia'' e "preconceito''.

PSICOLOGIA CRISTÃ?

No ataque atabalhoado ao Estatuto da diversidade Marisa faz uso das populares táticas de demonização, insistindo na paranóia da "teoria da conseqüência desastrosa'', deixando claro que a adoção de leis de inclusão para minorias sexuais irá provocar a "destruição'' das famílias (sem explicar exatamente como).

A embusteira cristã não possui nem o traquejo malandro de Bolsonaro nem a verve pestilenta de Silas Malafáia, mas já aprendeu direitinho o caminho das pedras.

Autopromoção baseada em ativismo de ódio é um negócio podre, mas em alguns casos bastante rentável; prova disso é destaque entusiasmado dado a Marisa pela imprensa gospel, inclusive elevando-a à categoria de "doutora'' (site notícias gospel prime).

Não é para menos.

Na sua `'análise'' do estatuto da diversidade, que contou com a ajuda de um certo "Dr. Matheus Sathler'', advogado especialista em distorção e elucubrações fantasiosas, Marisa se revela uma promissora versão tupiniquim de Anita Bryant.

A primeira lição no manual dos difamadores é a `'manipulação semântica''; trocando "diversidade'' por "ditadura'', ou "inclusão'' por "privilégio'' por exemplo, produz-se a inversão de valores, onde o oprimido se transforma em opressor.

É tão clichê que eu me pergunto como é que ainda funciona.

Dado que o impacto emotivo das palavras geralmente é mais importante que o contexto objetivo, ainda que haja um conflito entre a idéia expressa e a forma, isso passará despercebido com facilidade.

Marisa sabe das coisas, é "psicóloga'' e "doutora'', ainda por cima, é "cristã''.

Não obstante, é risível a farsa da adulteração dos princípios do estatuto.

Logo de entrada, o manipulador de mamulengo que fala pela boca do "dr. Sathler'' diz:

"O que tenho a dizer sobre o 'Estatuto da superioridade gay' é que os homossexuais mostraram as suas intenções nefastas e espúrias de uma só vez a toda população brasileira''

Eis aí sem maiores delongas a difamação.

E aqui ele revela o propósito do discurso de ódio e da propaganda difamatória:

"Esse Estatuto nos deu a legitimidade que precisávamos para derrubarmos todo o avanço gay já realizado com a nossa, até então, apatia e indiferença''

É tal, pois, o objetivo único da difamação; a supressão dos direitos e garantias fundamentais do indivíduo LGBT, explicitado sem grandes pudores.

Mais adiante o sinistro e misterioso "Dr. Sathler'' faz uma esquisita exegese do artigo 71:

"Art. 71 – O poder público adotará programas de formação profissional, de emprego e de geração de renda voltadas a homossexuais, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis, transexuais e intersexuais, para assegurar a igualdade de oportunidades na inserção no mercado de trabalho''

Art. 71º – "Cria cursos de aperfeiçoamento em prostituição com recursos e funcionários públicos para capacitar homossexuais que queiram se "aperfeiçoar profissionalmente" Dr. Matheus Sathler

Francamente, alguém que consegue extrair da frase "programa de formação profissional'' o equivalente a "programa de aperfeiçoamento em prostituição'' por princípio não deveria ser levado à sério, excusando-se a situação onde essa atitude fosse objeto de escrutínio médico.

Com efeito, a sanha perversa em oprimir minorias e distorcer medonhamente a realidade transformando-a em um irreconhecível monumento ao desespero deveria ser objeto de estudo das neurociências.

Dr Sathler continua a explanação.

O artigo 86 parece ser motivo especial de contrariedade:

"86 – O encarceramento no sistema prisional deve atender à identidade sexual do preso, ao qual deve ser assegurada cela separada SE HOUVER RISCO à sua integridade física ou psíquica''

"O gay não poderá sofrer os transtornos físicos e psíquicos dos presídios superlotados" Dr. Matheus Sathler

Doutora Marisa, psicóloga e cristã, complementa:

"Ora bolas se estão lá presos é porque cometeram crimes e devem ser punidos como qualquer ser humano com o rigor da lei porque para os gays teriam essas regalias?''

"Isso é o que chamamos de instituir e legalizar o preconceito em nosso Brasil''

Doutora Marisa entende que estupro, tortura e outras violências físicas e emocionais correspondem a "punição''; pior, doutora Marisa, numa demonstração cristã tão peculiar de "amor ao próximo'' interpretou "proteção à integridade física e mental'' como "regalia''.

O festival de abobrinhas continua, mas estes exemplos bastam para provar o que digo; o ativismo de ódio da direita religiosa é um apanhado de mentiras sórdidas, técnicas de retórica, distorção da realidade e difamação pura e simples. (grifo deste blogueiro)

Em algumas entrevistas Marisa espertamente mostra-se arredia ao abordar o tema da "terapia da reorientação sexual'' (curandeirismo cristão), mas no seu site pessoal exibe farta documentação a este respeito, numa clara apologia da prática de terrorismo conhecida por "terapia de reversão''.

O post "Homossexualidade masculina - está resolvido?'' assinado por um tal de Luciano Garrido (provavelmente outro fantoche igual o "Dr.Sathler'') é uma colagem lamentável de uma série de trechos de artigos escritos por charlatães profissionais, onde a apologia à "terapia reparativa'' é inequívoca e escancarada.

O engraçado é que no final da compilação é a própria Marisa quem assina a postagem.

De acordo com a resolução do CFP, os psicólogos "não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades". A Resolução determina ainda que "os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica".

Doutora Marisa assim como outros da mesma laia segue comendo pelas beiradas, porém.

É realmente uma pena que ela não dê a seus pacientes a chance de ver o outro lado das terapias de reversão da homossexualidade, a exemplo do atual escândalo das clínicas de abuso sexual e tortura de mulheres lésbicas no Equador.

Doutora Marisa não age movida por zelo profissional.

Por trás de seu ativismo evangélico repugnante existe uma agenda política, um discurso manjado e desgastado da extrema direita caquética, repetido à exaustão tanto aqui quanto no exterior somado à demanda incansável da indústria de fabricação de falsos "especialistas em homossexualidade''.

Assim é que nas colagens de Marisa o fundador da NARTH (instituição antigay) Josefh Nicolosi, conhecido nos EUA por suas idéias malucas tais como encorajar os clientes a beber Gatorade compulsivamente, a fim de tornar-se "menos gay'', aparece citado como `'autoridade'' no assunto.

As terapias "reparadoras'' promovidas pela NARTH são alvo de repúdio e consideradas prejudiciais pela Associação Americana de Psicologia, pela Associação Americana de Psiquiatria e pela Associação Americana de Medicina.

Nicolosi também foi acusado de distorcer dados acadêmicos deliberadamente na pesquisa sobre orientação sexual da Dra Lisa Diamond da universidade do Utah.

Dona Marisa, por seu turno, resolveu assumir para si a representação da farsa maniqueísta própria do alto escalão no gabinete do demônio, um papel que lhe cai pessimamente, entretanto; faltam-lhe os elementos essenciais do Ofício.

Inteligência escassa, pouca cultura e nenhuma intimidade com a retórica dão a ela somente o grau de neófita em papagaiação.

"Psicóloga'' de profissão, Cristã por mérito e embusteira por vocação, é também o prenúncio do ressurgimento do grande lobo negro do ativismo de ódio, ávido de sangue e morte, lobo travestido com a pele da ovelha vitimista.

Trata-se inclusive de mais uma tentativa patética das forças reacionárias para empurrar todos os LGBT de volta ao armário e sufocar sua identidade dentro do incômodo guarda roupa da heteronormatividade compulsória.

Por Walter silva

Fonte: http://andreafreitas.wordpress.com/2011/11/25/o-lobo-a-embusteira-e-o-guarda-roupa/


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DICA DESTE BLOGUEIRO


A melhor resposta que você vai obter contra os argumentos e práticas desses movimentos anti-gays atualmente vem exatamente de alguém que já esteve entre os principais ativistas dessa falácia, e que, por isso mesmo, desperta o ódio dessa gente que fica sem palavras diante de sua própria nudez.

10 Grandes Problemas da Bíblia


Texto escrito por Sergio Viula para o Blog Fora do Armário

Muita gente acha que a Bíblia é inerrante, ou seja, não contém erro de qualquer espécie; que ela é infalível, ou seja, todas as suas profecias se cumprem; e que isso se deve ao suposto fato de que ela é inspirada por Deus. Se assim é, a Bíblia deveria ser testemunho de belas e boas obras de Deus e fonte de inspiração para os sentimentos mais nobres entre os homens. Não é isso que acontece, porém. Vejam apenas 10 dos grandes problemas da Bíblia aqui. Lógico que existem passagens bonitas e nobres na Bíblia, talvez não muitas, mas existem. O que provoca injustiça, violência, separatismo no mundo não são as partes que falam, por exemplo, que Deus é amor, mas aquelas que demonstram o contrário e que são sistematicamente usadas por crentes e pregadores para justificar atos desumanos em nome da fé. Vejamos alguns:



OBS: Sempre que eu disser Deus disse, Deus fez, Deus quis ou coisas semelhantes não é porque eu pense que haja um Deus que realmente disse, fez ou quis. É apenas a repetição do relato que é apresentado pela Bíblia, caso contrário um linha se tornaria um parágrafo inteiro só para justificar o uso das expressões.



I. Xenofobia (ódio a outros povos)

Desde o Gênesis, Deus já diz para Abraão que ele vai ser pai de um povo especial, eleito por Deus para ser seu povo especial. Ele também recebe promessas de que seu povo (Israel) terá o direito de invadir, matar, saquear e dominar as terras de outros povos. Para demonstrar na própria carne que Israel seria um povo à parte, Deus manda Abraão praticar a circuncisão de todos os homens e meninos. Assim, um pedaço de pele que cobre a cabeça do pênis, arrancado à faca, seria a prova de que Israel era propriedade de Jeová.

Daí em diante, odiar outros povos era somente consequência da crença nessas supostas promessas divinas. A aliança de Deus com Abraão significava que os dias de muitos povos e culturas estavam contados. Veja apenas algumas das passagens em questão:



E estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência depois de ti em suas gerações, por aliança perpétua, para te ser a ti por Deus, e à tua descendência depois de ti.

E te darei a ti e à tua descendência depois de ti, a terra de tuas peregrinações, toda a terra de Canaã em perpétua possessão e ser-lhes-ei o seu Deus.

Disse mais Deus a Abraão: Tu, porém, guardarás a minha aliança, tu, e a tua descendência depois de ti, nas suas gerações.

Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de ti: Que todo o homem entre vós será circuncidado.

E circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal da aliança entre mim e vós.

O filho de oito dias, pois, será circuncidado, todo o homem nas vossas gerações; o nascido na casa, e o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da tua descendência.

Com efeito será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; e estará a minha aliança na vossa carne por aliança perpétua.

E o homem incircunciso, cuja carne do prepúcio não estiver circuncidada, aquela alma será extirpada do seu povo; quebrou a minha aliança.  (
Gênesis 17:7-14)

Veja que Deus diz a Israel que vai lhes dar cidades que já existiam, construídas por outros povos, e que se esses povos os influenciassem a seguir seus costumes, eles deveriam ser impiedosamente destruídos. Mesmo que apenas uns poucos homens destes povos houvessem agido assim, o povo inteiro seria trucidado. Um ataque desse tipo é igualmente violento seja no caso do Vietnã (foto) ou de qualquer cidade antiga. A diferença é que a tecnologia que os americanos (um país formado por protestantes, e que se gaba de ser uma "nação sob Deus") conquistaram maior poder destrutivo. Veja:

Quando ouvires dizer, de alguma das tuas cidades que o SENHOR teu Deus te dá para ali habitar:

Uns homens, filhos de Belial, que saíram do meio de ti, incitaram os moradores da sua cidade, dizendo: Vamos, e sirvamos a outros deuses que não conhecestes;

Então inquirirás e investigarás, e com diligência perguntarás; e eis que, sendo verdade, e certo que se fez tal abominação no meio de ti;

Certamente ferirás, ao fio da espada, os moradores daquela cidade, destruindo a ela e a tudo o que nela houver, até os animais.

E ajuntarás todo o seu despojo no meio da sua praça; e a cidade e todo o seu despojo queimarás totalmente para o SENHOR teu Deus, e será montão perpétuo, nunca mais se edificará.

Também não se pegará à tua mão nada do anátema, para que o SENHOR se aparte do ardor da sua ira, e te faça misericórdia, e tenha piedade de ti, e te multiplique, como jurou a teus pais; (Deuteronômio 13:12-17)





A ideia de que Israel é povo especial de Deus é reforçada em várias passagens, e essa mesma ideia de superioridade nacional e racial foi adotada por ditadores como Hitler (ao lado de Mussolini) na foto acima. Temos o testemunho da História de quanta desgraça pode fazer uma nação que se considera especial, acima das demais, e que não tolera a existência das demais. Israel continua sendo intolerante (vide a situação dos Palestinos), e o mesmo fazem aqueles povos do Oriente Médio, os quais têm sido influenciados através dos séculos por essa mentalidade messiânica:
Porque povo santo és ao SENHOR teu Deus; o SENHOR teu Deus te escolheu, para que lhe fosses o seu povo especial, de todos os povos que há sobre a terra. (Deuteronômio 7:6)


Por isso, destruíram cidades inteiras, culturas inteiras, povos inteiros. O que os crentes tanto se gabam a respeito de Jericó é um absurdo total. Se tivesse acontecido em qualquer cidade contemporânea teria desencadeado as mais diversas reações - de reprovação à vingança. Veja o que Israel fez com o povo de Jericó, que nunca os havia provocado, sequer conhecido. Nem criança, velho ou animal escapou:

E tudo quanto havia na cidade destruíram totalmente ao fio da espada, desde o homem até à mulher, desde o menino até ao velho, e até ao boi e gado miúdo, e ao jumento. (Josué 6:21)

E aí vem o livro de Salmos bajular Israel, sim porque esse versículo não diz respeito a povo nenhum, nação nenhuma, além dos judeus, os quais tinham por Deus Jeová e haviam supostamente sido escolhidos para serem sua propriedade especial. É isso o que quer dizer o verso abaixo:

Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o SENHOR, e o povo ao qual escolheu para sua herança. (Salmos 33:12)

II. Machismo (em termos gerais, a ideia de que o homem é superior à mulher)





Muita gente acha que os problemas da Bíblia estão todos no Velho Testamento, e que depois de Jesus, tudo fica lindo, suave, amoroso nas Escrituras. Engano de quem pensa assim. O machismo é defendido no Novo e no Velho Testamentos.


Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo.
(1 Coríntios 11:3-4)


O homem, Cristo e Deus são a cabeça de alguém. A mulher não é cabeça de ninguém. Fica estabelecida a superioridade do homem. Machismo! E tem mais:

O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem.

Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem.

Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem.
(1 Coríntios 11:7-9)

Aqui, então, fica muito claro o machismo neotestamentário:

A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição.

Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio.

Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva.

E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão.

Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação.
(1 Timóteo 2:11-15)




Por causa desse reforço do machismo, a Bíblia dá margem para a dominação da mulher pelo homem, inclusive com violência, porque quando a mulher se recusa a submeter-se, o homem acha que Deus está do lado dele na exigência de submissão e age até agressivamente. Sem contar, que o machismo além de afetar as mulheres, torna a vida dos homens um inferno, porque ele se sente obrigado a agir de um modo chauvinista, mesmo quando isso não condiz com sua personalidade. E outro problema é que os homens que exibem feminilidade em algum grau acabam sendo alvo de preconceito e perseguição por homens que pretendem manter a hegemonia do macho como forma de dominação. O machismo extremado já causou o espancamento e a morte de muita gente, principalmente mulheres.




III. Escravidão (Deus não tem nada contra e ainda fornece regras para que ela seja praticada)

Quando Deus fala sobre a circuncisão como sinal de aliança entre ele e o povo de Israel, ele manda circuncidar até o escravo (o comprado por dinheiro), ou seja, nenhum problema em ter escravo desde que seu pênis não tenha a pele do prepúcio preservada. E veja que Israel diz ter sido escravizado no Egito (há muitas dúvidas sobre isso historicamente falando), mas escraviza sem o menor escrúpulo.

O filho de oito dias, pois, será circuncidado, todo o homem nas vossas gerações; o nascido na casa, e o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da tua descendência.

Com efeito será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; e estará a minha aliança na vossa carne por aliança perpétua.
 (Gênesis 17:12-13)


Espancar o escravo pode; matar não. Se ele for espancado e sobreviver, tudo bem, porque Deus diz que é dinheiro do dono do escravo, portanto ele tem o direito de agredi-lo. Quantos escravos foram espancados, violentados, torturados sem que seus donos tivessem pena deles, porque Deus nunca disse uma palavra contra a escravidão...



Se alguém ferir a seu servo, ou a sua serva, com pau, e morrer debaixo da sua mão, certamente será castigado;

Porém se sobreviver por um ou dois dias, não será castigado, porque é dinheiro seu.
(Êxodo 21:20-21)




IV. Governo de Ungidos (Sacerdotes influenciando ou controlando Governantes)

Veja nos versos abaixo que Samuel (profeta que agia como sacerdote) declara que Saul é o rei escolhido por Deus e que Samuel escreve um livro sobre como o reino funcionaria, ou seja, uma espécie de Constituição escrita por um líder religioso para servir de cartilha para um governo de um país inteiro.



Então disse Samuel a todo o povo: Vedes já a quem o SENHOR escolheu? Pois em todo o povo não há nenhum semelhante a ele. Então jubilou todo o povo, e disse: Viva o rei!

E declarou Samuel ao povo o direito do reino, e escreveu-o num livro, e pô-lo perante o SENHOR; então despediu Samuel a todo o povo, cada um para sua casa.
(1 Samuel 10:24-25)





O mesmo procedimento será feito por Samuel na escolha do substituto de Saul. Ele foi à casa de Jessé, pai de Davi, e ali o ungiu rei para ficar no lugar de Saul.



Disse mais Samuel a Jessé: Acabaram-se os moços? E disse: Ainda falta o menor, que está apascentando as ovelhas. Disse, pois, Samuel a Jessé: Manda chamá-lo, porquanto não nos assentaremos até que ele venha aqui.

Então mandou chamá-lo e fê-lo entrar (e era ruivo e formoso de semblante e de boa presença); e disse o SENHOR: Levanta-te, e unge-o, porque é este mesmo.

Então Samuel tomou o chifre do azeite, e ungiu-o no meio de seus irmãos; e desde aquele dia em diante o Espírito do SENHOR se apoderou de Davi; então Samuel se levantou, e voltou a Ramá. 
(1 Samuel 16:11-13)




Com esse tipo de pensamento em mente é que muitos pastores e padres tentam tirar proveito da política para seus projetos pessoais e para as ambições de suas igrejas por poder. Ao invés de agirem como cidadãos que desejam o engrandecimento da democracia e de uma sociedade plural com direitos iguais, eles procuram manter as segregações que aprenderam com seus Deuses. O Estado Laico é uma das maiores conquistas no campo da política e do direito, portanto devemos fazer o melhor que pudermos para mantê-lo livre de sacerdotalismos.



V. Segregação (Deus é separatista. Ele segrega pelos mais absurdos motivos)

1. Leprosos: Não estamos falando apenas de Hanseníase, a qual assustou a humanidade por muito tempo e que, graças à ciência, não à fé, tem cura hoje. Não era só por causa de hanseníase que as pessoas eram segregadas. Qualquer mancha na pele ou secreção poderia ser considerada lepra. Quem fazia o diagnóstico não era obviamente um médico. Eram os sacerdotes. Agora, imaginem esses homens que não conheciam nada sobre o diagnóstico de hanseníase tentando definir quem era leproso ou não naquela época. Muita gente com uma simples impinge foi lançada em colônia de leprosos e exposta a todo tipo de infecção por absoluta falta de higiene do local. Levítico 13 é um capítulo inteiro sobre como deve proceder o sacerdote em relação à lepra, por isso coloco só os três primeiros versículos que oferecem um resumo do que depois é desdobrado:


Falou mais o SENHOR a Moisés e a Arão, dizendo:

Quando um homem tiver na pele da sua carne, inchação, ou pústula, ou mancha lustrosa, na pele de sua carne como praga da lepra, então será levado a Arão, o sacerdote, ou a um de seus filhos, os sacerdotes.

E o sacerdote examinará a praga na pele da carne; se o pêlo na praga se tornou branco, e a praga parecer mais profunda do que a pele da sua carne, é praga de lepra; o sacerdote o examinará, e o declarará por imundo. 
(Levítico 13:1-3)



2. Mulheres (eram consideradas imundas no período menstrual e no pós-parto)

A) Menstruação:

Mas a mulher, quando tiver fluxo, e o seu fluxo de sangue estiver na sua carne, estará sete dias na sua separação, e qualquer que a tocar, será imundo até à tarde.

E tudo aquilo sobre o que ela se deitar durante a sua separação, será imundo; e tudo sobre o que se assentar, será imundo.

E qualquer que tocar na sua cama, lavará as suas vestes, e se banhará com água, e será imundo até à tarde.

E qualquer que tocar alguma coisa, sobre o que ela se tiver assentado, lavará as suas vestes, e se banhará com água, e será imundo até à tarde.

Se também tocar alguma coisa que estiver sobre a cama ou sobre aquilo em que ela se assentou, será imundo até à tarde.

E se, com efeito, qualquer homem se deitar com ela, e a sua imundícia estiver sobre ele, imundo será por sete dias; também toda a cama, sobre que se deitar, será imunda. 
(Levítico 15:19-24)




B) Pós-Parto (até nisso tem machismo, pois o período considerado imundo para filhos homens é metade do tempo que para filhas)

Falou mais o SENHOR a Moisés, dizendo:

Fala aos filhos de Israel, dizendo: Se uma mulher conceber e der à luz um menino, será imunda sete dias, assim como nos dias da separação da sua enfermidade, será imunda.

E no dia oitavo se circuncidará ao menino a carne do seu prepúcio.

Depois ficará ela trinta e três dias no sangue da sua purificação; nenhuma coisa santa tocará e não entrará no santuário até que se cumpram os dias da sua purificação.

Mas, se der à luz uma menina será imunda duas semanas, como na sua separação; depois ficará sessenta e seis dias no sangue da sua purificação. 
(Levítico 12:1-5)

3. Homens (ejaculação involuntária)

Também o homem, quando sair dele o sêmem da cópula, toda a sua carne banhará com água, e será imundo até à tarde.

Também toda a roupa, e toda a pele em que houver sêmem da cópula se lavará com água, e será imundo até à tarde. 
(Levítico 15:16-17)





VI. Homofobia (ódio aos homossexuais)


Muita gente não sabe, mas o verso abaixo que fala sobre um homem se deitando com outro, como se fosse com mulher, não ocupa nenhum lugar especial, como se fosse uma categoria terrível de "pecado". Não. A palavra abominação usada aqui no Levítico, é utilizada para falar até de comer camarões, ostras, mexilhões. Porém, quando interpretada por mentes desequilibradas, essa passagem pode dar margem para perseguição aos homossexuais, especialmente quando reforçada pelo imaginário do conto de Sodoma e Gomorra, e pelo rancor de Paulo na carta aos Romanos. A homofobia apresentada aqui deve ser vista como mais um sintoma do machismo exacerbado dos judeus que escreveram a Bíblia. 

Detalhe: TODOS os escritores da Bíblia eram judeus.

Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles. (Levítico 20:13)

Então o SENHOR fez chover enxofre e fogo, do SENHOR desde os céus, sobre Sodoma e Gomorra;

E destruiu aquelas cidades e toda aquela campina, e todos os moradores daquelas cidades, e o que nascia da terra. 
(Gênesis 19:24-25)


Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza.

E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.
(Romanos 1:26-27)


Graças ao marketing negativo que as igrejas mais fanáticas fazem de passagens como essas, a impressão que o leigo em Bíblia tem é que a Bíblia realmente dá muita ênfase negativa à homossexualidade, mas isso nem se compara com os incentivos que ela dá à xenofobia, ao machismo, à guerra santa, e outras coisas que os homens mais racionais reprovam, condenam e trabalham para erradicar. O mesmo precisa ser feito com a homofobia: erradicação completa por meio da educação, das leis e da vigilância da própria sociedade sobre aqueles que praticam ou estimulam atos homofóbicos.



VII. Pena de Morte (pelo motivos mais banais)

Veja bem essa lei sobre o estupro. Se a mulher não gritar (e sabe lá por que não gritou; poderia estar amordaçada, com um faca na garganta), ela é condenada à morte junto com o estuprador:


Quando houver moça virgem, desposada, e um homem a achar na cidade, e se deitar com ela,

Então trareis ambos à porta daquela cidade, e os apedrejareis, até que morram; a moça, porquanto não gritou na cidade, e o homem, porquanto humilhou a mulher do seu próximo; assim tirarás o mal do meio de ti. 
(Deuteronômio 22:23-24)



Apedrejamento na Somalia recentemente. O país segue o Islamismo. Maomé copiou a ideia de apedrejamento da tradição judaica.




Médiuns como Chico Xavier não teriam tido a menor chance. E é por isso que os crentes também perseguem pais-de-santo, mães-de-santo e tudo o que tenha a ver com os cultos de matriz africana:

Quando, pois, algum homem ou mulher em si tiver um espírito de necromancia ou espírito de adivinhação, certamente morrerá; serão apedrejados; o seu sangue será sobre eles. (Levítico 20:27)



É muito feio um filho xingar ou amaldiçoar os pais. Mas, veja sé é motivo para pena de morte? Um simples "Vai pro inferno" na hora da raiva poderia desencadear a morte do filho, mas não há nenhuma proibição quanto aos pais amaldiçoarem os filhos, e vários personagens bíblicos fizeram isso (Noé e Jacó são dois grandes [maus] exemplos de pais que amaldiçoaram filhos) :

Quando um homem amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe, certamente morrerá; amaldiçoou a seu pai ou a sua mãe; o seu sangue será sobre ele. (Levítico 20:9)



Incesto por livre e espontânea vontade entre adultos dava pena de morte:



Quando também um homem se deitar com a sua tia descobriu a nudez de seu tio; seu pecado sobre si levarão; sem filhos morrerão.
(Levítico 20:20)




E por aí vai...

VIII. Culpa e Expiação (A ideia de que se há culpa, há castigo)


A ideia de culpa e castigo acabou gerando a ideia de expiação, que seria um meio de escapar do castigo. 


O problema é que como os castigos divinos são associados a tragédias, qualquer movimento da natureza que oferecesse perigo aos seres humanos já era considerado castigo divino. Por isso, os culpados deviam ser punidos. Assim, já se matou mulheres, gays, os próprios judeus, ciganos, etc. com a intenção de aplacar a ira de Deus ou de preveni-la. 


Deus vincula o sucesso à obediência cega a seus mandamentos, e o fracasso a qualquer falha em fazer o que ele quer, o que inclui todos os sete absurdos discutidos anteriormente.



Guardai, pois, todos os mandamentos que eu vos ordeno hoje, para que sejais fortes, e entreis, e ocupeis a terra que passais a possuir;

E para que prolongueis os dias na terra que o SENHOR jurou dar a vossos pais e à sua descendência, terra que mana leite e mel.

Porque a terra que passas a possuir não é como a terra do Egito, de onde saíste, em que semeavas a tua semente, e a regavas com o teu pé, como a uma horta.

Mas a terra que passais a possuir é terra de montes e de vales; da chuva dos céus beberá as águas;

Terra de que o SENHOR teu Deus tem cuidado; os olhos do SENHOR teu Deus estão sobre ela continuamente, desde o princípio até ao fim do ano.

E será que, se diligentemente obedecerdes a meus mandamentos que hoje vos ordeno, de amar ao SENHOR vosso Deus, e de o servir de todo o vosso coração e de toda a vossa alma,

Então darei a chuva da vossa terra a seu tempo, a temporã e a serôdia, para que recolhais o vosso grão, e o vosso mosto e o vosso azeite.

E darei erva no teu campo aos teus animais, e comerás, e fartar-te-ás.

Guardai-vos, que o vosso coração não se engane, e vos desvieis, e sirvais a outros deuses, e vos inclineis perante eles;

E a ira do SENHOR se acenda contra vós, e feche ele os céus, e não haja água, e a terra não dê o seu fruto, e cedo pereçais da boa terra que o SENHOR vos dá.

Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma, e atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por frontais entre os vossos olhos.

E ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te;

E escreve-as nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas;

Para que se multipliquem os vossos dias e os dias de vossos filhos na terra que o SENHOR jurou a vossos pais dar-lhes, como os dias dos céus sobre a terra.

Porque se diligentemente guardardes todos estes mandamentos, que vos ordeno para os guardardes, amando ao SENHOR vosso Deus, andando em todos os seus caminhos, e a ele vos achegardes,
Também o SENHOR, de diante de vós, lançará fora todas estas nações, e possuireis nações maiores e mais poderosas do que vós.

Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé será vosso; desde o deserto, e desde o Líbano, desde o rio, o rio Eufrates, até ao mar ocidental, será o vosso termo.

Ninguém resistirá diante de vós; o SENHOR vosso Deus porá sobre toda a terra, que pisardes, o vosso terror e o temor de vós, como já vos tem dito.

Eis que hoje eu ponho diante de vós a bênção e a maldição;

A bênção, quando cumprirdes os mandamentos do SENHOR vosso Deus, que hoje vos mando;

Porém a maldição, se não cumprirdes os mandamentos do SENHOR vosso Deus, e vos desviardes do caminho que hoje vos ordeno, para seguirdes outros deuses que não conhecestes.

(Deuteronômio 11:8-28)



IX. Oposição deliberada ao conhecimento "profano" (não-sagrado na opinião dos escritores bíblicos)

Até hoje existem movimentos cristãos fanáticos que se opõem ao conhecimento científico em nome de crenças ultrapassadas, fábulas e mitos religiosos. Isso já atrasou, mas não impediu o avanço da ciência que nos deu as vacinas, os remédios, os instrumentos cirúrgicos, o conhecimento sobre o corpo humano, o planeta terra, o espaço exterior. 


Há muito para se descobrir e inventar, mas grandes avanços já foram feitos. Agora precisamos usar esses conhecimentos para o bem da humanidade e não para disputas idiotas em cima de riquezas e territórios. Isso os cristãos, os judeus e os muçulmanos já fizeram por muito tempo.


Ninguém se engane a si mesmo. Se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio.

Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia.

E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos.

(1 Coríntios 3:18-20)



X. A ideia de que a felicidade dever ser adiada para o mundo vindouro em nome da fé.



Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna.  (João 12:25)

Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.  (1 Coríntios 9:27)

Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará.  (Marcos 8:35)


Ele parece pobre?

O líder máximo do catolicismo mora num palácio riquíssimo, veste roupas suntuosas e exclusivas, come da mão dos melhores gourmets, tem os melhores médicos do mundo, sua segurança pessoal envolve até exército sob seu comando... E tudo isso sustentado pela fé dos outros, da mesma maneira que os pastores evangélicos que exploram  milhões de brasileiros. E tudo isso começa com a ideia de que Deus existe, tem um livro, um filho e um bando de homens escolhidos para "guiarem" homens e mulheres que nasceram livres, mas orgulham-se se viver sob uma escravidão mental que afeta tudo em suas vidas e até mesmo as vidas de outros (muitos outros!!!), como testemunham a história antiga, recente, e o jornal de hoje.

Para que as igrejas deixem de ser agentes de segregação e ódio, elas precisam abandonar completamente os pressupostos acima, fazer uma reavaliação humanista de suas crenças e mudar seu discurso e sua prática em relação à liberdade e dignidade humana. Caso contrário, ela viverá hipocritamente o que alguns extremistas têm a coragem de assumir:


Igreja Batista de Wesboro

Nas placas: "Deus odeia você"; "Você está indo para o inferno".

Na camisa: "Deusodeiaviados.com"


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Leia EM BUSCA DE MIM MESMO.

Leitura refrescante em tempos de fundamentalismo religioso e embates heroicos em prol das liberdades civis. 
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